sexta-feira, março 30, 2007

BAIRRO ISLÂMICO DO CASTELO ABRE AO PÚBLICO

Uma equipa de arqueólogos descobriu, no decurso de escavações no Castelo de São Jorge, em Lisboa, a estrutura de um bairro islâmico de meados do século XI, numa área que abrirá ao público em finais de Outubro. O início das escavações remonta a 1996, numa altura em que se pretendia construir no local um parque de estacionamento. Face aos vestígios descobertos durante as escavações, a construção do parque seria suspensa e começou a intervenção de uma equipa de arqueólogos no terreno. De então para cá, as escavações têm avançado e parado, mas no total já perfazem dois anos de trabalho.

Em Janeiro último, ao abrigo de um protocolo celebrado entre a Câmara Municipal de Lisboa (através da empresa municipal de gestão de equipamentos e animação cultural - EGEAC) e o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), as escavações recomeçaram com novo fôlego. No terreno, está uma equipa de seis arqueólogos, um desenhador e dois técnicos de conservação e restauro. Alexandra Gaspar e Ana Gomes são as arqueólogas que chefiam esta equipa, que está a trabalhar na "musealização" (preservação e exposição) do espaço, junto a uma das muralhas do castelo e à igreja de Santa Cruz. Foram encontrados três grandes núcleos de diferentes épocas: um da Idade do Ferro (século VI a.C.), um núcleo islâmico (o principal) e um núcleo medieval. Os achados ajudam a reconstituir a história da cidade ao longo dos tempos.

"A estrutura do bairro islâmico, pela dimensão das casas (algumas com 200 metros quadrados) e pelas ruas a elas associadas (que servem várias casas) mostram que há um projecto urbanístico para este espaço a partir de meados do século XI, é a datação que conseguimos a partir dos materiais encontrados", afirmou à Lusa a arqueóloga Ana Gomes. Por outro lado, foram descobertos vários objectos - potes, tigelas, saladeiras, candeias - associados às casas, que pelas dimensões se crê terem sido habitadas por gente importante. "Num outro núcleo podem ver-se as sucessivas evoluções do Paço dos Bispos", apontou a mesma arqueóloga.

Os documentos da época e os achados indicam que no espaço onde foram descobertas cinco casas islâmicas, existiu, depois da expulsão dos mouros e até ao século XV, o Paço dos Bispos, uma importante residência eclesiástica, segundo as explicações das duas arqueólogas. A partir de 1500 e até ao século XVIII o paço terá dado lugar ao palácio dos condes de Santiago, mas, depois do terramoto de 1755, o terreno onde agora decorrem as escavações ficou desabitado e tornou- se um parque de merendas. Duas das casas do bairro islâmico, réplicas de objectos nelas encontrados e os vestígios (contíguos) da construção do Paço dos Bispos serão mostrados aos visitantes do castelo, uma vez concluídas as intervenções em curso. "Os trabalhos na zona islâmica e na zona medieval ficarão concluídos até 25 de Outubro", data prevista para a inauguração, indicou Ana Gomes.

A nível mais profundo do solo foram encontrados também vestígios da Idade do Ferro que ficarão igualmente a descoberto. "Este terceiro núcleo também será mostrado, mas ainda está numa fase inicial (de pesquisa), o que implicará mais alguns trabalhos arqueológicos", adiantou a mesma investigadora, que tem acompanhado as escavações desde 1996. O Castelo de São Jorge é um dos monumentos mais visitados de Lisboa.

Fonte: Lusa

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