sábado, março 31, 2007

Lisboa: beleza e segurança de mãos dadas num túnel que tem sido uma criança problemática

Cartinha aberta ao Menino Túnel


Meu querido Túnel do Marquês,
Sei que ainda nem nasceste e que a tua gestação tem sido problemática a vários títulos. Mas já és um bébé adorável. Soube hoje que és lindo, lindo. Não que já te tenha visto. Melhor: não que já te tenha atravessado. Não que pelas fotos deduza isso. Mas acredito no que me dizem. Tanto quanto percebo dos comentários e dos elogios, deves ser mesmo apetecível.

Querido Túnel,
Noto que, depois de muitos problemas de concepção e após algum silêncio de quem te quis dar à luz, acabaste por ter vários candidatos a pais. Primeiro foi só um. Depois, outro. Depois, todos se calaram durante muitas luas. Agora, parece que a tua paternidade tem de ser objecto de análise de ADN. Tens aí vários candidatos perfilados. Mas não são pais biológicos. Não. São apenas pais afectivos. Ou adoptivos, de última hora, sei lá.

Bichaninho,
Soube também que o teu pai biológico, hoje um pouco renegado pela família, te declarou muito seguro. O mais seguro. Naquele seu habitual tom sem tom nem som que costuma usar para não dizer nada mas que ocupa sempre muitos pixels em ecrãs e muitos caracteres em muitos jornais impressos, esse então foi grandiloquente: «É o túnel mais seguro da Europa». Prontos. Se ele o diz… E nem sequer é engenheiro civil. A propósito de «não ser» «engenheiro civil»: parece, aliás, que este teu pai biológico não é o único que o não é. (De repente deu o mal-de-murcho aos engenheiros civis em Portugal, é? Sabes alguma coisa sobre isso, tu, que todos os dias deves contactar com vários que o são mesmo?)

Coisinha fofa de seus papás,
Outro dos teus presuntivos pais, mas agora dos que o são apenas afectivos, veio também dizer-me que dentro das tuas belas entranhas nem sequer é possível ter o prazer de morrer, de ter sequer um acidente a sério. Basta experimentar – é o aparente convite que me fazem nos jornais de hoje: nem pensar em bater a sério no carro da vizinha da frente: é-se logo desviado para a sua própria faixa. Tudo informatizado, imagino. Mas isto, que parece uma vantagem, a mim soou-me a ameaça. Logo agora que eu estava disposto a experimentar bater de frente num pilarzinho e ter os meus 15 minutos de fama (até já me disseram que desistisse dessa maluqueira de querer morrer ali como aconteceu à Princess lá em Paris. Ná. Aqui, nada. Procure outra forma séria de morrer…)

Queridíssimo, Beleza, Tunelzinho «mais bonito do mundo» (esta tem direitos de autor, tem de ir entre aspas...),
Termino esta missiva com uma declaração que te vai agradar: no primeiro dia em que estiveres de entranhas oficialmente escancaradas, não vou fazer mais nada: só passear-me em ti, para cá e para lá, para cá e para lá, das Amoreiras para a Fontes Pereira de Melo e daqui para as Amoreiras…

Deste que te vai adorar,
Um admirador secreto,
Declaradamente sensibilizado pela tua segurança,

Rendido à tua Beleza única,

JCM.

2 comentários:

Anónimo disse...

Acabei de descobrir este blogue e, como me agradou o seu conteúdo, tomei a liberdade de o inserir na lista dos links do Ondas. Votos de continuação de bom trabalho. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)

Anónimo disse...

(...) uns anos mais tarde, e depois de muitas horas de 'play station', diz para o(s) pai(s):P agora é que vai ser acelerar (sem parar, sem parar!...)
AB