segunda-feira, março 26, 2007

O futebol nacional e o fim do marxismo

Ausente no estrangeiro durante grande parte desta semana, regresso a Lisboa e fico a saber que um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça poderá vir a revolucionar o futebol português e a escravidão em que vivem os trabalhadores futebolistas: os clubes deixariam de ter bases legais para segurarem os jogadores e as cláusulas de rescisão poderiam vir a desaparecer na sequência desse acórdão.
Pela minha parte só vejo uma saída: há que transformar os trabalhadores futebolistas em empresários por conta própria!
As empresas que se dedicam hoje à industria do futebol, ou seja, todos os antigos clubes, como o Porto, o Sporting ou o Águias de Alpiarça, passariam a estabelecer contractos de prestação de serviços com estes novos empresários, sendo que nada impediria que numa das cláusulas contratuais ficassem acordados uns quantos milhões em caso de rescisão por parte dos ditos empresários por conta própria.
Como podem imaginar, esta solução empresarial é verdadeiramente genial e poderíamos até torná-la extensiva, por exemplo, ao funcionalismo público. Se todos os trabalhadores da FP passassem a empresários por conta própria e sempre que um deles se quisesse desvincular, o Estado-Empresa receberia então uma choruda indemnização desse empresário individual, tal como aconteceria (ou continuará a acontecer) com os seus congéneres da indelével leveza do esférico.
Vou mais longe: imaginem a tripla vantagem que existiria se todos os trabalhadores portugueses passassem a ter o estatuto de empresários por conta própria: em primeiro lugar o Estado-empresa passaria a arrecadar, não só o IRS, mas também IRC de todos esses milhões de jovens empresários –e adeus défice orçamental; depois e dentro desta lógica, assistiríamos ao desaparecimento dos incómodos sindicatos e finalmente meteríamos de vez o Marx na gaveta por inexistência de trabalhadores assalariados!
E o maldito marxismo não teria saída: é que recriar a luta de classes, fazendo confrontar empresários por conta própria (vulgo pequenos capitalistas pobres, ou desempregados capitalistas) contra os grandes empresários do capital, não seria marxismo, mas sim um “aprofundamento” do neoliberalismo europeu que, para nossa desgraça, temos que aturar.

Luís Coimbra

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu tenho uma sugestão, eusinho!!!

Em vez de haver esta confusão total com jogadores emprestados, outros que mudam de clube a meio da época, passes detidos só parcialmente, ordenados pagos em parte por um clube e em parte por outro, o caraças, era melhor assim:

Havia um entreposto de jogadores e os clubes contratavam livremente quem queriam e pelo período que quisessem.

Assim o jogador X podia jogar dois jogos por um clube, depois uns três ou quatro por outro (da mesma ou de outra «divisão»), e por aí fora. Até podia ser contratado para jogar a segunda parte ou os 5 minutos finais, ou para marcar os penaltis.

Simples e prático, como se vê.

Remexido disse...

Caro anónimo,
A sua ideia parece-me razoável, desde que as empresas/ex-clubes sejam previamente reconhecidas como "stakeholders" ("detentores do bife") e autorizadas a celebrar com os tais empresários individuais/ex-jogadores um "PPP" (Public-Private Partnership). Ora parece-me que tal não vai acontecer, até porque os ex-clubes, longe de possuírem um bife do lombo, já só aparentam ter espinhas e restos de fogos de artifício de outros tempos.
Daí que a grande questão implícita no meu texto a propósito do Acórdão do STJ, tenha sido também a de, uma vez enterrado o marxismo (e o futebol), indiciar novas oportunidades para a modernização de Lisboa, ao possibilitar-se - num contexto neoliberal e futebolístico totalizantes - a reconversão de alguns importantes espaços livres da cidade para empreendimentos hoteleiros ou condominios fechados.
Seria o caso dos estádios de Alvalade, Restelo e Tapadinha (*). E todo este processo, está bem de ver, teria como pano de fundo a previsível falência dessas empresas privadas/ex-clubes e, para compensar, a maximização das receitas municipais, evitando-se até desta forma mais subidas astronómicas no IMI.
No fundo tratar-se-ia de aplicar à jovem "industria do futebol" a mesma prática que historicamente é utilizada pelos nossos clubes de consultores urbanísticos os quais, como sabe, tanto atacam pela ala direita como pela ala esquerda dos relvados municipais.
Receba um abraço do
Luís Coimbra
(*) Não faço propositadamente referência à reconversão do estádio empresarial em frente ao CC Colombo, visto ele ser ao que me dizem, propriedade da privadíssima EPUL: ela terá sempre o seu futuro assegurado através dos sólidos apoios financeiros e políticos que recebe.

Anónimo disse...

Obrigado pela reposta.

A minha sugestão, mais irónica que outra coisa, era apenas uma manifestação de desagrado (digamos assim) por aquelas situações que descrevo.

Por exemplo, causa-me algum espanto que nos jogos do mesmo campeonato (na mesma época) entre dois clubes, um jogador possa jogar na primeira volta por um e na segunda pelo outro.

Mas eu ao assunto «futebol» já deixei praticamente de ligar.

Anónimo disse...

we stake the steak stock for you...with superbock! (o slogan a adoptar pela futura associação destes empresários sob o stress, perdão, patrocínio de uma conhecida marca de cervejas, com sede alugada naquele arraial pós-moderno, reconhecível pelas cores abrasileiradas, chamado Alvaláxia XXI!)
AB

Anónimo disse...

uma curiosidade que tenho e que ha muito quero saber,e que pode parecer nao ter importancia,mas de facto tem e sobretudo para a propria.
De que clube é que é a joana amaral dias?