sábado, junho 30, 2007

Portela, Ota, TGV e Lisboa em campanha

Foto: skyscrapercity. Av. Brasil, segundos antes da aterragem

«Três cavadelas, três minhocas» em Lisboa

Quando eu era pequeno, os adultos usavam esta expressão para dizer que um tipo falhava tudo aquilo em que se metia: «Cada cavadela, sua minhoca». É uma imagem bem rural, daquelas que eu adoro mesmo no nosso povo profundo.
Pois hoje lembrei-me disso, quando recapitulava a semana de apontamentos para uma resenha aqui no nosso bem vivaço «O Carmo e a Trindade».
E decidi deitar o resto fora e ficar-me por esta constatação aborrecida: alguns apoiantes de António Costa parecem apostados em falhar os tiros todos – ou seja: parece que estão mesmo apostados em criar escolhos no caminho do candidato. E entram em contradição aberta com ele, chegando mesmo a chamar a atenção para essas contradições – não fôssemos nós não dar por elas…
Cito três casos que conheço.

1
Saldanha Sanches
Avisa que apesar de ser o mandatário financeiro de Costa, (paciência!) discorda dele em matérias tão inócuas como estas duas que são estratégicas: empresas municipais e portagens para os carros que entrem em Lisboa. Leia você mesmo: «O mandatário financeiro da candidatura do PS à Câmara de Lisboa, Saldanha Sanches, defendeu hoje a extinção das empresas municipais e a fixação de portagens à entrada de Lisboa, admitindo que António Costa discorda destas medidas» (in ‘Portugal Diário’).

2
José Miguel Júdice
Este advogado célebre está farto de pedir «maioria absoluta» para António Costa, de quem é mandatário. Agora, parece que parou com esse delírio. Mas nos primeiros dias, foi um vê se te avias. Leia também esta citação: «O mandatário do socialista António Costa na candidatura à Câmara Municipal de Lisboa, José Miguel Júdice, pediu hoje "maioria absoluta" para o PS, sublinhando que "em épocas de crise exige-se que alguém assuma a responsabilidade"».
Mas o próprio candidato tem evitado a expressão de forma meticulosa, quase artística. Por exemplo, numa das ocasiões mais recentes, e portanto mais actuais, na entrevista da RTP 1 na quinta à noite (antes das 20.50). Estive completamente atento. Quem falou de maioria absoluta foi o jornalista. Costa não. Disse apenas: «maioria», nada mais. Por vezes tem dito, isso sim, «maioria estável», «maioria clara». Mas não «absoluta». Isso, o seu mandatário encarregou-se de o dizer (por conta própria?). Lamentável, meu caro Watson.

3
Medina Carreira
Este afamado apoiante de António Costa foi mais longe em matéria de divergências: quanto à Ota e à Portela, há ali uma contradição insanável. Fala mesmo de obsessão de obra e de «ilusão de coisas a mexer, camiões etc.», para «dar a ideia de que o País está a mexer»… Medina defende a Portela. E goza com a Ota: «É que é a opção mais cara. Não se percebe». Tudo isso ouvi eu na SIC Notícias, sexta-feira, ás 18.50.
Ou leia esta de Medina também: «MEDINA CARREIRA, numa grande entrevista a Inês Pedrosa, na antena 1, no passado dia 3, vai mais longe e diz que o Primeiro-ministro José Sócrates e Mário Lino pretendem que o produto nacional bruto (PIB) cresça, empurrado por este falso investimento, de modo a reduzir o défice. Erro crasso! Faz-me lembrar, de certo modo, um grupo de rapazes da minha aldeia, estava eu ainda na idade da puberdade, que tiraram um curso para se incorporarem nos Bombeiros Voluntários da Vila de Vieira do Minho. Feito o curso ficaram doidos para apagar o próximo incêndio. Em conversa, a que eu assisti, admitiram pôr fogo numa casa vizinha, incendiando um ramo de loureiro dependurado numa sacada com o significado de alertar, a quem passava, que havia bom vinho na loja do rés-do-chão.
Medina Carreira disse ainda, que o TGV é mais um investimento megalómano inventado. Milhares de milhões de euros para se chegar do Porto a Lisboa meia hora mais cedo».
Já agora, acrescento que Medina Carreira dá outra bofetada ao mesmo Governo, desta vez ainda por causa do TGV. Diz que é um disparate. Leia: «Medina Carreira aponta o dedo ao que considera «um enorme disparate» do Executivo: “O TGV em Portugal é uma tontice, um projecto dispensável”, diz, em declarações à Agência Financeira».

4 comentários:

Anónimo disse...

E o que diz o José Carlos Mendes, da acusação de oportunismo que a candidatura de Fernando Negrão faz a Ruben de Carvalho ,por causa da Gebalis.

Com todas as letras o candidato oficial de PSD, diz que Ruben de Carvalho enquanto vereador defendia uma coisa, e agora como candidato outra.

Será verdade....

José Carlos Mendes disse...

Fiz um resumo deste caso aqui:

http://lisboalisboa2.blogspot.com/2007/06/gebalis-preciso-esclarecer-tudo.html

Se tiver interesse, pode ir lá.

Obrigado.

Anónimo disse...

(...)usavam esta expressão para dizer que um tipo falhava tudo aquilo em que se metia: «Cada cavadela, sua minhoca»,

Caro, JCM, sem querer tomar partido por A ou B, deixe-me que lhe diga, que tal introdução lembra a gaffe do candidato que se baralha c/ as siglas, e mete 'os pés pelas mãos' ;) é que, e segundo aprendi, a dita expressão pretende significar justamente o contrário, isto é, uma sucessão de trunfos...o que até não deixa de ser coerente c/ as figuras públicas referidas (pese embora as suas posições polémicas, senão radicais) e vem confirmar o facto de existir abertura, capacidade para reunir opiniões contrárias, individuais ou divergentes - daí, há uns tempos, ter achado magnífica a metáfora da arca de Noé, capaz de juntar 'espécies' diferentes, antagónicas, que também é eficaz no reforço da ideia de uma reacção, de uma frente multifacetada perante uma situação de emergência, quase catastrófica!

AB

PS: surrealista é, não só parte do acervo do famoso museu, por sinal surpreendente e que mereceu a atenção de todos nós, mas também a pretensa ´volta' que os partidários do 'homem que baralha as siglas' querem impingir-nos, reeditando o pior da política, que é o 'esvaziamento', tipicamente 'Orwelliano' dos acontecimentos, a sua 'deturpação',tendo em vista o 'branqueamento' (o detergente chama-se imprensa, ou melhor alguma, e as máquinas, os sofistas de serviço), a 'lavagem' das consciências...

José Carlos Mendes disse...

Peço desculpa por não concordar com o sentido que quer dar à expressão. Podemos discutir isso até à exaustão. Mas isto eu sei de ciência certa: aquela que cresce dentro de nós desde pequeninos. Venho de uma zona agrícola. A cavadela devia servia para arrancar legumes etc. (por exemplo: batatas). Quando em vez de batatas vem minhoca... mau sinal.
Insucesso total.

Um amigo meu, com quem hoje mesmo fiz o teste,e que é de Lisboa, acha que esta cavadela se destinaria a procurar minhocas para a pesca... e então, sim, «cada cavadela, cada minhoca» seria sinal de sucesso.

Mas garanto que lá naminha terra nem sonhavam nessa época que se cava para tirar minhocas para ir à pesca... e eu cresci a ouvir esta expressão... relacionada com a agricultura e não com a pesca.

ADORO UMA BOA POLÉMICA DESTE TIPO!!!!!