quarta-feira, novembro 28, 2007

O que é de mais não presta

HÁ ALGUM TEMPO, ao andar num Lancia Aurelia de um primo meu, estranhei a falta de cintos-de-segurança e de retrovisores laterais e, no entanto, o carro circulava legalmente! O dono explicou-me, então, que os automóveis anteriores a uma determinada data estão dispensados de cumprir algumas exigências actuais, e, no caso desse, nem sequer havia lugar para fixar os cintos.
E já nem me lembraria de tal episódio, se não fosse o caso recente do fecho da "Ginjinha" do Largo de S. Domingos, em Lisboa, por não cumprir certos requisitos legais.
Mas não parece do senso-comum que certos estabelecimentos históricos (e a "Ginjinha" é do século XIX) têm de ser tratados e acarinhados como património da cidade? E não parece, também, do senso-comum que, embora tenham de satisfazer critérios mínimos de higiene, não se lhes pode exigir o mesmo que a um estabelecimento actual?
Ou será que os burocratas de serviço vão exigir que o castelo de Almourol e o Palácio da Pena cumpram as leis actuais de construção de edifícios... sob pena de encerramento?
Publicado no «GLOBAL» de hoje, com o título «Excesso de zelo»

3 comentários:

Ant.º das Neves Castanho disse...

Bem visto. Resta saber se estamos mesmo perante "excesso de zelo" da ASAE (que, como se sabe, tem as costas muuuito largas...), ou de pura falta de qualidade da transcrição das Directivas Europeias para a nossa Legislação!


Só que dá muito mais trabalho (nomeadamente aos jornalistas, mas a nós também) discutir isso do que crucificar a ASAE...

Carlos Medina Ribeiro disse...

Não tenho nada contra a ASAE, em si mesma, e tomara nós que as outras polícias tivessem o brio profissional que ela tem.

O que está em causa são algumas das ordens que lhes dão, muitas das quais são puras tontices de Bruxelas - ver a crónica de António Barreto, aqui referida anteontem.

Ant.º das Neves Castanho disse...

Sem dúvida, mas não podemos fechar os olhos ao essencial: o que a maior parte destas críticas objectivamente visa, consciente ou inconscientemente, é a descredibilização da própria ideia em si da existência de uma ASAE!


Pelo menos é essa a sensação geral que perdura na opinião pública! O que é muito negativo!


E é lamentável que conceituados arautos da modernidade e do progresso social (?), como o Prof. Ant.º Barreto, não tenham o mínimo rebuço em juntar a sua (poderosa) voz a essa grosseira e condenável campanha de mistificação!


Mais uma prova de como, em Portugal, é às supostas "élites", muito mais do que ao Povo, que devem imputar-se as causas mais profundas do nosso (irrecuperável?) atraso civilizacional.


Quando acordaremos para esta evidência?