sexta-feira, outubro 10, 2008

O drama do desemprego

Ando há meses para escrever um artigo sobre o desemprego. Se não o fiz, é porque o tema me bate à porta e me faz sofrer. Poder-se-ia pensar que um membro da classe média estaria acima destas preocupações, mas há muito que o fenómeno deixou de ser um exclusivo do proletariado. Agora, as empresas usam o mundo como palco das suas actividades, o que, para um país que vendia mão-de-obra barata, é complicado. Tudo isto faz parte do Progresso, mas, tal como sucedeu durante a Revolução Industrial, este provoca vítimas. Se me preocupa o desemprego dos jovens – alguns deles meus alunos – angustia-me mais o de longo prazo, que atinge gente já fragilizada. Aos primeiros, digo para emigrarem; aos segundos, não sei o que aconselhar.

Em 2009, a taxa de desemprego vai aumentar. Previsivelmente, o anúncio do engº Sócrates durante a campanha eleitoral no sentido de que iria “criar” 150.000 empregos foi um embuste. Na realidade, o desemprego vai subir para 7,8%, como explicou James Daniel, o chefe da missão do FMI que há dias esteve em Portugal, acrescentando que a economia portuguesa iria crescer menos do que a média europeia, em parte porque “as empresas, as famílias e o Estado têm estado sempre a consumir mais do que se produz”.

A produtividade nacional é baixíssima, não porque os portugueses sejam especialmente preguiçosos, mas porque há políticos, gestores e empresários que não estão à altura da sua missão. Em 1988-89, quando entrevistei os maiores patrões da indústria portuguesa, o que me espantou, sobretudo entre os da têxtil, foi o optimismo. Deve ter sido por isso que, em vez de reconverterem as suas empresas como dinheiro que a CEE lhes entregou, deixaram correr o marfim. O resultado está à vista.

Garanto-vos que não será a dádiva de uns magalhaezinhos que irá aumentar a produtividade nacional. Mas é a isto que o Primeiro-Ministro dedica os seus dias. Na minha opinião, em vez de se pavonear pelas escolas, o engº Sócrates poderia, pelo menos, dar a impressão de que se preocupa com o destino dos que estão ou vão ficar no desemprego.



Maria Filomena Mónica


In Meia-Hora

3 comentários:

Anónimo disse...

Então mas o PM de Sócrates, Guterres, não prometeu em tempos o mercado social de emprego para os desempregados mais velhos e com menos habilitações?

Não me digam que foi mais uma promessa que ficou por cumprir...

Julio Amorim disse...

Emigrar....humm, bem só se for para outro planeta, porque o desemprego é global. Ainda esta semana a Volvo anunciou o despedimento de 4000 empregados (em todos o sectores). A Volvo não é uma companhia qualquer e, sempre foi considerada como a jóia da indústria sueca. Cada despedimento nesta empresa, origina mais seis nas indústrias fornecedoras de componentes...e por ai fora. Estamos todos a pagar o preço da globalização selvagem.
O preço da "não intervenção" dos estados !!?? Mas quando os barquinhos se começam a afundar, vão todos bater à porta desse o monstro "o estado"....ou seja, à nossa porta!

José Quintela Soares disse...

Quem tem mais de 45 anos é considerado "ultrapassado", e diplomaticamente ou não, é posto fora e substituido por um jovem que aufere metade do seu ordenado.
Não terá experiência, "know how" e outras coisas...mas ganha metade, ou seja, a empresa fica com menos encargos fixos, ainda que igualmente com uma produtividade menor.
E se o estado tanto apregoa a necessidade de mais produtividade...a incoerência grassa.
A minha geração, em idade mais que activa, passa os dias a ler, ver tv, ouvir música...e a receber o Subsídio de Desemprego, enquanto este tiver possibilidades de pagar.
Grande país!