quinta-feira, janeiro 22, 2009

Será?

É incontornável falar no novo presidente dos Estados Unidos – do próprio – da sua mensagem e da primeira medida que tomou.

Quanto ao presidente, independentemente do que venha a ser a sua actuação, o simbolismo que carrega e o seu circunstancialismo são já distensores da forma como o Mundo vê a América. Não vale a pena tentar defender o contrário, seja isto certo ou errado, porque o Mundo não vê mesmo nada bem os Estados Unidos da América: da Europa à Ásia, a opinião pública construiu uma espécie de antipatia, quando não um preconceito, em torno do seu papel neste nosso pequeno/grande Mundo.

Quanto à mensagem, há uma grande simplicidade no primeiro discurso, desarmante na sua simplicidade, dirigido aos cidadãos, a falar para as pessoas e até com alguma humildade na assunção de que estando o Mundo a mudar a América também deve – tem de – mudar.

Também não é neutra a afirmação de que os mais novos rejeitaram o mito da geração apática. E isto tem muito que se lhe diga porque é um apelo directo à participação política da juventude, como se um novo contrato com ela houvesse sido celebrado.

Se houve humildade no discurso, também houve ambição. Muita. O presidente falou em reconstrução da Nação e na capacidade de mudança e reiterou o 'sim, somos capazes', o eficaz slogan que utilizou.

Finalmente, quanto à primeira medida que o novo presidente tomou, a saber, o pedido de suspensão dos julgamentos em Guantánamo, feito aos juízes militares para pôr fim a um sistema de excepção, fora dos tribunais, não vem carregado de menor simbolismo. Trata-se de limpar uma mancha incompatível com os princípios estruturais de qualquer sociedade democrática, em particular no que respeita aos direitos humanos, o que é contraditório com um País que nasceu com base num valor de Liberdade. Tal acto permite ler no presidente uma atitude humanitária contrastante com a imagem bélica do País (uma vez mais de forma justa ou injusta, é irrelevante, porque é um facto). E é uma actuação que simultaneamente retira capital de queixa a muitos adversários.

Talvez o espírito da coisa se propague a esta Europa incapaz de mudanças e a precisar tanto delas. É que por cá ouviu-se Trichet afirmar que os receios de ruptura do euro são infundados e a moeda já mostrou capacidade de resistência à crise. Não se trata da necessidade de resistir, mas de agir. E aí vai toda uma diferença Europa/América: a de nova atitude.



In CM

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