quinta-feira, março 05, 2009

Clarifiquemos

Custa-me quase tanto assistir à impunidade de que gozam muitos dos principais agentes dos mais variados sectores neste País como me custa que a demagogia e o populismo confundam o inconfundível. Vem isto a propósito de uma situação que tem sido referida, por assim dizer, com "muita falta de conhecimento". Refiro-me a Manuel Fino, essa energia sem fim, do alto dos seus mais de 80 anos, que não baixa os braços nem pontapeia princípios, o que, aliás, lhe tem trazido dissabores.

Vejamos em que se traduz ‘caso’. Não estamos a falar de incumprimento: não há dívida nem do capital nem dos juros; estamos a falar das garantias da dívida. Manuel Fino também não recebeu dinheiro algum: todo o preço foi para amortizar o passivo. Porque cumpre. Quantos o fazem?

A Investifino contratou com a CGD financiamentos para comprar acções com garantia das mesmas, como era vulgaríssimo à data – lembro-me de muitas dessas operações. No caso, de entre as acções dadas em garantia estavam as da Cimpor (9,58% do capital social).

No início de 2008, a Caixa solicitou o reforço de garantias, o que o grupo fez, mas, com a queda das cotações na Bolsa, as garantias deixaram de ser suficientes para o valor da dívida. É facto público a queda brutal das acções.

Assim, foi acordada a reestruturação da dívida do grupo com redução no valor equivalente ao da venda à CGD de 9,58% do capital social da Cimpor, ao preço de 4,75 euros por cada acção, e o grupo ficou com uma opção de compra por três anos, pagando, caso fosse exercido, uma remuneração. A taxa de juro foi revista em alta, em prejuízo, portanto, de Manuel Fino.

Com esta operação, a Caixa não só não perdeu garantias como ficou com os direitos de voto das acções – que à data não tinha –, com os dividendos e reduziu a imparidade de crédito, valor que se reflecte directamente nos resultados.

Acresce que o lote de acções tem um prémio de controlo. Os prémios de controlo variam entre 25% e 35% sobre o preço médio (em Bolsa) dos últimos seis meses. O prémio foi de 25%, isto é, o valor mínimo.

A transacção de Metrovacesa, em Espanha, tem semelhanças, sendo muito maior e envolvendo os maiores bancos espanhóis (prémio superior a 100%).

Talvez Manuel Fino devesse ter-se limitado a deixar executar... e a Caixa que se virasse, é o que fazem muitos. O que é extraordinário é que enquanto se lança a suspeita em volta de situações claras ninguém fala sobre nem vê os verdadeiros casos escuros.




In Correio da Manhã

2 comentários:

Anónimo disse...

A questão não é essa nem se duvida de que a operação tenha sido transparente.

A questão é que o sr. tem muito mais património, que ficou intocado, mas a mim são capazes de penhorar o salário, a casa, o carro, a televisão e a retrete por dívidas com muito menos zeros que a daquele sr.

Anónimo disse...

Porque não houve aval pessoal?