quinta-feira, abril 15, 2010

Urgências

Os Serviços de Urgência (SU) são, constantemente, tema de notícia e de preocupação de todos nós. Notícias recentes dão-nos conta de que há cerca de 50 000 reclamações de doentes e/ou familiares por ano no Serviço Nacional de Saúde (SNS), ou seja, perto de 140 por dia.

A sua maioria, segundo a Inspecção--Geral das Actividade em Saúde, referem--se aos SU. Uns dizem que os doentes ali vão sem terem necessidade, o que aumenta o número e, consequentemente, o tempo de espera; outros, que a responsabilidade por este mau estar se deve à falta de recursos humanos (leia-se: médicos), outros ainda, suavizam estas queixas, dizendo que se trata dum número diminuto, face ao enorme número de doentes que são observados por dia.

Talvez todos tenham razão. Mas importa interrogarmo-nos porque sucede isto. Ou seja, porque vão tantos doentes aos SU? Em tempos mais recuados só iam a estes serviços doentes que estivessem verdadeiramente mal. Quem conhece a realidade dos países em que os serviços nacionais de Saúde funcionam, sabe que há muito menos doentes nas urgências.

Ou seja, o problema é organizacional: os doentes vão aos nossos SU porque não têm alternativa quando precisam: se houvesse alternativa, só um cidadão fora do seu perfeito estado de juízo se sujeitaria a estar horas à espera, doente, numa sala, a aguardar ser chamado para ser tratado.

Se cada um de nós, em situação de doença, pudesse ser visto pelo seu médico assistente, em tempo oportuno, não iria certamente para os SU, a não ser em situação de grande gravidade, ou a conselho do próprio médico.

Em vez disso, o que têm feito as autoridades de saúde? O mais fácil! Há mais doentes a procurar os SU? Aumentam-se os SU! Pagam-se horas extraordinárias aos médicos! Não chega? Aumentam-se mais! Contratam-se médicos fora das instituições! Não chega? Colocam-se prefabricados ou contentores ao lado! Contratam-se empresas, que subcontratam médicos! Não chega e os doentes reclamam os tempos de espera? A culpa é dos doentes que lá vão e não deviam ir, pois não têm doença que o justifique! Ou, para outros, a culpa é dos serviços que não contratam médicos que cheguem!

Com facilidade se percebe que isto não tem fim, que não há dinheiro que chegue para pagar todo este funcionamento. Lembrem--se é dos serviços públicos de proximidade.

Aliás, seria interessante que o Ministério da Saúde nos dissesse quanto gasta por ano nos SU do SNS!




In Correio da Manhã

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