sexta-feira, dezembro 17, 2010

Sem tempo

Os juros da dívida pública subiram ontem novamente e a taxa média quase duplicou, em relação aos custos do leilão de Novembro.

Uma agência de rating, a Fitch, vem ao País para rever o rating da República e uma equipa do FMI está em Portugal, pela segunda vez em mês e meio, assumidamente para discutir reformas estruturais.

Neste contexto, o primeiro-ministro afirma que agora vai ser diferente, mas como acreditar no fazer diferente de um responsável que nega sistematicamente a realidade e que nos conduziu onde estamos, sem qualquer sentido de desígnio nacional, obsessivamente centrado na manutenção, no controlo do poder? Há tudo a temer e, infelizmente, pouco a esperar. É óbvio que temos um problema sério na Zona Euro, mas esse problema deve-se, também, substancialmente, à forma como alguns países conduziram os seus destinos e entre eles, lamentavelmente, estamos nós.

A condução das políticas públicas ao sabor de alguns tem sido desastrosa e aqui nos trouxe. Ajudaria, e muito, que a Europa assumisse a responsabilidade de emissão da dívida europeia conjunta, com a reestruturação das dívidas dos chamados ‘periféricos’ (designação que, numa era de globalização, soa estranha), garantindo a irreversibilidade do euro e estancando a fragilização do sistema financeiro europeu. A questão não é ‘apenas’ uma mera questão económica e financeira: é social e de continuidade do projecto europeu. Precisamos de um colectivo verdadeiramente consciente das suas responsabilidades nos domínios vários da nossa vivência social. Não é tempo de alijar responsabilidades, exactamente porque este é um tempo para exigir de cada um as suas, por reduzidas que possam parecer aos próprios. Vivemos uma era de mutação acelerada dos fenómenos sociais e os movimentos de qualificação social estão a entrar em contraciclo, depois de nos termos habituado ao seu crescimento, como é justo.

Agora, é procurar essa qualificação social em valores substantivos, ainda que com muito menos recursos. Assim sendo, a primeira linha interna tem de passar pela aposta numa educação entendida no seu sentido maior, isto é, passando pelo reforço da consciência cívica e apelando ao investimento no bem comum. Num contexto mais vasto, não pode deixar de se apelar à regulação da globalização e à qualificação da Democracia. De outra forma, vamos mesmo assistir ao desabar de um mundo e, à velocidade a que os acontecimentos se sucedem, amanhã.




In Correio de Manhã

1 comentário:

Anónimo disse...

Na regulação da globalização a vozinha de Portugal é evidentemente inaudível.