quinta-feira, janeiro 27, 2011

Ainda o Comércio da Baixa

No rescaldo da interessante conferência havida há uma semana no Centro Nacional de Cultura, sob o tema “Lojas da Baixa e Chiado” e os auspícios de projecto homónimo em boa hora lançado pelo Gabinete de Estudos Olisiponenses (http://geo.cm-lisboa.pt), i.e., pelos empenhados Guilherme Pereira, Judite Reis e Luís Pavão (fotos), dou-me por digerindo não as coisas boas que foram ditas mas as que talvez devessem ter sido ditas e, sobretudo, aquelas que o foram, de alguma assistência, mas para as quais já não há pachorra. Começando pelo fim:

Não há paciência para a síndrome dos que crêem, conscientemente (?), que a culpa do comércio da Baixa estar como está é do popó não poder circular e estacionar por todo o lado, como “antigamente”. Ora, dantes não se dava popós em concursos televisivos nem havia Metropolitano até ao centro da Baixa, nem havia tanto parque de estacionamento subterrâneo. É triste, por isso, haver quem se agarre a esse argumento capcioso, até porque andar a pé e subir e descer escadas só faz é bem, a começar porque se combate a obesidade.

O que se passa é que o comércio da Baixa (e o Chiado é toda uma outra realidade) não atrai a generalidade dos potenciais clientes, e não atrai porque a sua qualidade, preço e simpatia no serviço de venda está abaixo do exigível pelo consumidor mediano. Os horários de funcionamento são incompatíveis com uma Baixa que se deseja “poder levar uma volta”. As cargas e descargas são feitas a más horas. Os interiores das lojas, as publicidades e as esplanadas, a trouxe-mouxe. À noite é o deserto. Mas há excepções à regra.

Faltou dizer, porque extravasava o âmbito do projecto em apreço, que a CML tem na gaveta a implementação de uma proposta aprovada em Abril de 2009 em que se deliberou dar corpo ao apoio de facto ao comércio tradicional “traduzido na efectivação de acções de acompanhamento, formação e aconselhamento” e “atribuição de incentivos financeiros às empresas comerciais, parte a fundo perdido, parte reembolsável, em moldes e percentagem a definir pela CML, que se traduzam na redução ou isenção de taxas, permitindo aos comerciantes efectuar as pequenas obras consideradas necessárias à manutenção e à preservação das características que balizam o estatuto de comércio tradicional”.

É grave que assim continue, porque talvez a CML tivesse agido no processo do último correeiro da R. dos Correeiros, que fechou porque a CML se desinteressou de o classificar enquanto património municipal intangível, e de defender junto do hoteleiro que comprou o prédio a sua permanência no local, facto que só enobreceria o hotel, aliás. Falta de visão e de empenho. Um sinal de mudança de atitude da CML em relação às “Lojas da Baixa e Chiado” seria a publicação deste levantamento do GEO. Será?



In Jornal de Notícias (27/1/2011)

1 comentário:

Anónimo disse...

http://tv2.rtp.pt/noticias/index.php?t=Qatar-interessado-em-comprar-terrenos-na-zona-ribeirinha-de-Lisboa.rtp&headline=46&visual=9&article=410691&tm=8&audios_page=4