Longe vão os tempos em que a Av. Duque d’Ávila era uma das avenidas mais bonitas de Lisboa, bordejada por prédios imponentes e vivendas de finais do século XIX, princípios do seguinte, com lojas e actividades de carácter e tradição, árvores frondosas; enfim, onde valia a pena passear e viver.
Nos últimos 40 anos foi o que já se sabe: o carro invadiu o espaço público; os bonitos prédios e as vivendas do antigo “boulevard” desapareceram paulatinamente, e em seu lugar foram sendo construídos edifícios corridos a varandas de mau gosto e azulejos de má raça (sobretudo no anos 60-70) ou de fachada envidraçada e cércea alta (isto nos anos mais recentes), havendo até algumas bizarrias cómicas feitas do acoplamento de blocos de espelhos e reflexos sobre fachadas antigas (ex: dois prédios Arte Nova no cruzamento com a Av. Luís Bívar).
De tal maneira foi a razia poderosa que, actualmente, entre os extremos da Duque d’Ávila, i.e., entre a Rovisco Pais e o Bairro Azul, existe apenas um só troço arquitectónico digno de nota, por sinal magnífico e a exigir imediata classificação por quem de direito: a frente Norte do quarteirão entre as Av. da República e Defensores de Chaves, e, na frente Sul do mesmo troço, uma vivenda resistente e o prédio de esquina com a Av. República.
Do ponto de vista ambiental, valeram até agora o “gaveto verde” com a R. Marquês de Tomar, que se aguentou incólume no pós-estacionamento subterrâneo feito há poucos anos, e o novo jardim construído no antigo terminal rodoviário do Arco do Cego.
Mas agora, passadas que estão as obras do Metro e a dolorosa presença dos seus estaleiros, e a acesa polémica com comerciantes e moradores por causa do arranjo à superfície que tardava em arrancar, eis que ganhámos todos uma “nova” e agradável avenida, a que só faltam boas lojas e boas esplanadas para que, com a ajuda futura das árvores recentemente plantadas, ainda frágeis e sem copa à vista, possamos usufruir na sua plenitude de um importante e comprido corredor da cidade (vai do Palácio de Justiça ao Arco do Cego) onde, doravante, se aplica o primado do peão sobre o automóvel!
Mas é bom não esquecer duas coisas: é preciso garantir a pacatez e o brio do Bairro Azul (e aí é vital aplicar o mesmo primado na Rua Fialho de Almeida e na Ressano Garcia) e que o “boulevard” é mesmo para prolongar pela Rovisco Pais até à Alameda.
Sem dúvida uma pequena vitória na reconquista do espaço pedonal para a cidade - mas uma oportunidade perdida para fazer algo muito melhor, como estava no projecto inicial - a pedonalização integral da avenida, sem a faixa de circulação automóvel (seria a "Rua Augusta" das avenidas novas)...
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