quarta-feira, abril 30, 2008

Isto não está a acontecer por acaso. Estejamos atentos e logo veremos

António Costa diz que não conhece a versão final da Plataforma de Alcântara, o grande trunfo de Sócrates... à custa de Lisboa, como se verá um ano destes... Mais: sempre pensei que o modelo governamental de imposição da coisa, calcando tudo e todos e até com uma certa indelicadeza para com a CML, daria mau resultado - nem sequer pela coisa mas pela forma de a concretizar.
Ora, agora este desconhecimento publicamente brandido como espada é digno de registo. E a sua mostra/sinalização (ia escrever «denúncia» pública) não é inocente.
A coisa nunca será desbroncada. Mas também não se consegue fazer de conta que não se dá por ele. Ou seja: Costa não a quis esconder; e nós não podemos fazer de conta que não damos por ela...
Estejamos atentos e logo veremos...

terça-feira, abril 29, 2008

A Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M), em parceria com a Gare, a Câmara Municipal de Lisboa, a Top 25 e a Toyota, promove no dia 30 de Abril de 2008, a partir das 10h30m, no Terreiro do Paço, a acção de sensibilização Alcokart.
O Alcokart é um kart transformado que permite em tempo real simular a condução sob o efeito do álcool. O condutor do kart (idade mínima 13 anos) tem a oportunidade de experimentar, enquanto sóbrio, o que se sente quando se conduz bêbado.
O objectivo principal desta iniciativa é demonstrar aos jovens a importância de uma condução responsável, alertando para os perigos da condução sob o efeito do álcool, de forma a reduzir a sinistralidade rodoviária em Portugal.
(ISABEL)
(Agradece-se a divulgação desta iniciativa)
ESTA NOITE, o café do Centro Comercial Roma foi assaltado. Dois pedregulhos, vidro partido, gatunos feridos... Não conseguiram abrir a máquina registadora, onde, no entanto, deixaram manchas de sangue, que ainda pude ver.
Segundo um empregado, a polícia veio, mas "não pôde fazer nada, pois não tinha material para tirar as impressões digitais".
E pronto, toc' andar!, pois tudo isso já é encarado sem grande revolta, com um ar de inevitabiliadde, de que é mesmo assim, de que não há nada a fazer, se eles forem presos são soltos logo a seguir...
Para já, parece que a pessoa mais revoltada ainda sou eu, pois na mesa onde sempre me sento a ler o jornal (a que se vê na foto) não se pode agora estar, com o frio que vem do buraco...


QUANDO ANTÓNIO COSTA, na campanha eleitoral, prometeu repintar as passadeiras de peões (especialmente as que estão junto às escolas - como é o caso desta, no Bairro de S. Miguel), encolhi os ombros - ora!, promessas, todos fazem...; mas tirei uma foto.
Quando, tempos depois, vi que estava tudo na mesma, encolhi os ombros - ora!, promessas, quem as cumpre?; mas tirei outra foto.
O que me irritou foi quando ele, há tempos, veio dizer que só não tinha cumprido as promessas que não dependiam dele!
Na semana passada, voltei ao local e tirei mais uma fotografia.
Desafio agora os leitores a colocarem-nas por ordem cronológica.

Herança Gabriela Seara (7)


Este é um magnífico edifício ao estilo francês, sito no Campo Grande, Nº 176-184, mas é também mais um dos legados de Gabriela Seara, que para aqui aprovou um loteamento (Proc. 27/URB/2005), depois de uma informação prévia ter sido homologada com parecer negativo (Inf. prévia Nº 1059/EDI/2003). Trata-se de mais um crime urbanístico, sobre o último dos prédios de valor arquitectónico que ainda restavam deste lado do Campo Grande.

Uma vez que o prédio não faz parte do Inventário Municipal, nem foi objecto de classificação fosse do que fosse, POR FAVOR, haverá alguma boa alma que queira apresentar um pedido de classificação ao IGESPAR?
Prevista a duplicação do terminal de contentores e um novo nó rodoferroviário
António Costa considera "positivo" projecto do Governo para Alcântara

28.04.2008 - 16h59 Lusa
O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa (PS), considerou positivas as intervenções anunciadas pelo Governo para a zona de Alcântara, nomeadamente a duplicação do terminal de contentores e o novo nó rodoviário e ferroviário.
"A indicação que nós temos é que não se trata de um novo terminal [de contentores] mas de um rearranjo do terminal existente de forma a duplicar a sua capacidade. Isso parece-nos positivo porque, como temos dito, o Porto de Lisboa é uma actividade importante para a economia da cidade e melhorar a capacidade de serviço do Porto de Lisboa é melhorar a base económica da cidade", afirmou António Costa.
Depois de salientar que, "sendo esse arranjo acompanhado do novo nó rodoferroviário, que vai eliminar alguns pontos de conflito", o autarca considerou "positivo que assim seja".
António Costa escusou-se a comentar o facto do decreto-lei que constitui a sociedade para a reabilitação da frente ribeirinha de Lisboa, aprovado no dia 17 de Abril em Conselho de Ministro, ainda não ter sido enviado para promulgação para o Presidente da República, Cavaco Silva, como noticiou o PÚBLICO no sábado.
O Governo anunciou hoje, numa cerimónia em que o presidente da Câmara de Lisboa não esteve presente, um investimento de 407 milhões de euros numa intervenção ferroviária, através da criação de um novo nó em Alcântara, e outra intervenção portuária, com um novo terminal de contentores, cujas obras começam já e estarão concluídas em 2013.
Intervenções de promoção da intermodalidade através da construção de uma ligação ferroviária desnivelada entre o terminal e a Linha de Cintura e a criação de uma zona de acostagem e operação de barcaças fazem parte do projecto.
(ISABEL G)

domingo, abril 27, 2008

Grande lata


Grande lata

A cerca de meia dúzia de metros da entrada para o parque de estacionamento de um centro comercial do centro da cidade, um carro topo de gama assenta arraiais em cima de um traço amarelo, um jeep de alta cilindrada pratica escalada desportiva no passeio e uma carrinha monovolume instala-se estrategicamente numa curva, impedindo a visibilidade. Depois de esgotadas todas as possibilidades de transgressão, ainda restava a 2ª fila e foi mesmo isso que aconteceu com um utilitário muito desenrascado. A tudo isto assisto enquanto aguardo para entrar no parque de vários pisos onde não faltam lugares, enquanto os condutores destas viaturas, indiferentes aos sinais de proibição, se dirigem sem pressas para o centro comercial. Mais tarde haveria de me cruzar com a condutora do jeep acompanhada dos filhos num dos corredores da área de informática e com o tripulante do topo de gama (cujo rosto reconheci) a tomar calmamente o seu café num dos bares do edifício.
Sei bem que são muitos anos de maus hábitos, vícios tramados de vencer, num país com uma diminuta cidadania participativa, demasiada permissividade social para com estes comportamentos, sempre a contar com a morosidade da justiça, com a inércia da polícia ou com as vindas do Papa.
Escrevo de Lisboa, onde diversas gerações nunca viram a cidade sem carros nos passeios, mas infelizmente o problema encontra-se um pouco por todo o lado. Corremos o risco que seja considerado normal que em certas zonas (não falo de zonas históricas ou outras de impossível intervenção) dois peões mal consigam circular lado a lado, que os semáforos raramente estejam temporizados em função de quem se desloca a pé e que os passeios se encontrem atafulhados de carros, sinais de trânsito mal colocados, caixas de electricidade ou excesso de publicidade. E a avaliar pelo exemplo acima, convenhamos que o exemplo dos pais em pouco abona a favor de uma pacífica e agradável convivência urbana entre quem circula no espaço público. Entretanto, chegamos encantados de Amesterdão, Estocolmo e Viena, onde um sinal de proibição de estacionamento não é uma ficção e onde os passeios são território livre de dejectos de animais (pelo menos por onde tenho andado).
Nada disto está certo para quem, devido à idade, problemas físicos ou a algum tipo de deficiência, vê reduzida a sua capacidade de se deslocar. Que cidade esta onde tanta gente tem lata para deixar as latas onde devem circular as pessoas. Constrangida com o enorme número de obstáculos, expressei a minha indignação a uma amiga cega, que aliás tem uma autonomia incrível. Ela riu-se e respondeu-me que consegue andar, mas à custa de muitas nódoas negras nas pernas. Há muito tempo que não sentia tamanha vergonha.
Por estas e por outras é que quem está mal, muda (*) e fico satisfeita por pertencer a um pequeno grupo que anda por aí à procura de moinhos de vento com uma lanterna acesa durante o dia.
E como o 25 de Abril é quando o homem quiser, até que cada co-peão veja reconhecido seu direito a um metro de passeio, a Luta Continua!(*)


Resumo do Código do Passeio(*)

Art. 14: É proibido a um automóvel estacionar a menos de dois milímetros de uma porta ou portão
Art. 37: É proibido ao peão que se desloca no passeio subir para cima de um automóvel estacionado a 2 milímetros de uma porta ou portão.
Art. 76: O peão ligeiro deve recolher os ombros ao cruzar-se com um pesado.
(*) “Sinais do Trânsito” – Manuel João Ramos, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000.
Imagens de Manuel João Ramos
***



ISABEL G, 25 de ABRIL de 2008
*
NOTA: Artigo no DN de 27 de Abril :""É já mesmo ali menina! Está a ver?"

sábado, abril 26, 2008




Ligação pedonal Baixa-Carmo e esplanada sobre Lisboa estarão prontas em 2009
25.04.2008, Catarina Prelhaz-PUBLICO
Primeiro projecto-chave para a revitalização da Baixa custa 2,5 milhões de euros, mas a câmara terá ainda de pagar a reconstrução de edifícios demolidos da GNR
Lisboa vai ganhar um percurso pedonal para facilitar a ligação entre a Baixa e o Largo do Carmo, onde verá também nascer um novo miradouro nos terraços do quartel da GNR. O primeiro projecto estruturante para a revitalização da Baixa deverá estar pronto em Setembro de 2009 e custará à autarquia 2,5 milhões de euros.
O plano prevê ligar a Rua Garrett às ruínas do Convento do Carmo (e elevador de Santa Justa) através de um passadiço com origem no Pátio B (espaço existente nas traseiras da Rua do Carmo). O percurso terminará nos terraços do Quartel do Carmo, onde três edifícios da GNR serão demolidos para darem lugar a uma esplanada ajardinada através da qual se poderá aceder ao futuro museu da Guarda Nacional Republicana.
Os anexos que vão ser demolidos acolhem actualmente a tipografia e camaratas da GNR, pelo que a Câmara terá de reconstrui-los noutro local. O montante necessário, a acrescentar aos 2,5 milhões de euros da dupla intervenção que deverão ser pagos com as contrapartidas do Casino de Lisboa, terá de ser assegurada pela autarquia, que se escusa para já a precisar o valor da compensação. "Estamos ainda a negociar esse montante com a GNR, mas o acordo prevê que, uma vez que demolimos os três edifícios, teremos de construí-los noutro local", justificou ontem o presidente da câmara, António Costa, após a assinatura do protocolo que permitirá o arranque do projecto.
A ligação pedonal da autoria do arquitecto Siza Vieira, já estava prevista há cerca de 17 anos no plano de pormenor para a reabilitação do Chiado na sequência do incêndio que atingiu aquela zona histórica da cidade.
Com a construção do acesso vertical entre o vale da Baixa e o castelo através do mercado de Chão do Loureiro, ficarão assim ligadas duas das vertentes históricas de Lisboa. Para esta segunda intervenção estruturante ainda não há datas, mas António Costa conta que as obras arranquem antes do final do actual mandato do executivo municipal. "Temos de apostar em libertar espaços que podem e devem ser devolvidos à fruição pública", sublinhou o presidente da autarquia.
Quanto ao elevador do edifício Leonel, construído para ligar a Rua do Carmo ao elevador de Santa Justa, António Costa admitiu que continuará parado até que o imóvel (já concluído) seja devidamente licenciado pelos serviços camarários.
Para além dos planos de acesso do vale da Baixa ao Carmo e ao castelo, a Câmara tenciona avançar com outros dois projectos estruturantes para a revitalização da Baixa até ao final do mandato, em 2009: a criação do Museu do Design e da Moda na antiga sede do BNU (Rua Augusta) e a instalação do museu do Banco de Portugal na antiga Igreja de S. Julião (actualmente utilizada como garagem daquela instituição bancária), junto aos Paços do Concelho, um projecto do arquitecto Gonçalo Byrne que, segundo António Costa, "já está na câmara para apreciação".
"Finalmente vamos poder passar à prática um plano de revitalização pensado ao longo do mandato anterior e que é necessário para dar outra vida à Baixa-Chiado", enfatizou António Costa.(ISABEL G)

Museu da GNR a funcionar em 2011 - 25.04.2008-PUBLICO

O museu da Guarda Nacional Republicana deverá abrir ao público em 2011, adiantou ontem o comandante-geral da GNR, Mourato Nunes, durante a celebração do protocolo com a Câmara de Lisboa para a realização do percurso pedonal entre a Rua Garrett e as ruínas do Carmo.O novo espaço ficará instalado no Convento do Carmo e deverá ocupar uma área de cerca de dois mil metros quadrados. Como parte do espólio museológico, a GNR pondera igualmente tornar visitáveis o gabinete do comandante-geral e a respectiva sala de espera.Ainda problemática é a obtenção de financiamento para que o museu possa estar a funcionar em pleno dentro de três anos. "Já temos um projecto [da autoria de arquitectos da GNR e da arquitecta Marina Coelho], apenas nos faltam alguns financiamentos", lamentou Mourato Nunes sem, contudo, especificar valores.Numa cerimónia que contou também com a presença do ministro da Administração Interna, Rui Pereira, foi ainda possível visitar o relógio de torre do Quartel do Carmo (datado do século XIX), novamente a dar horas à Baixa depois de décadas parado, graças ao trabalho do relojoeiro Luís Cousinha (responsável, entre outros projectos, pela recuperação do relógio do Arco da Rua Augusta). C.P.

(ISABEL G)

Galerias hotel Ritz

Câmara autoriza demolição do piso das galerias do Hotel Ritz
25.04.2008, Ana Henriques -PUBLICO
Só os comunistas se opuseram à transformação da unidade hoteleira, alegando que esta irá "desfigurar o edifício na sua traça original"
10 andares tem o Hotel Ritz Four Seasons, com entrada pela Rodrigo da Fonseca, e 282 quartos com vista privilegiada
a A Câmara de Lisboa aprovou esta quarta-feira a sentença final de morte das galerias do Hotel Ritz e a sua substituição por um novo edifício com mais dez metros de altura, destinado a comércio e serviços.
Os comunistas foram a única força partidária que se opôs à transformação do conjunto arquitectónico, que o actual bastonário dos arquitectos, João Rodeia, considerou em 2005 ocupar "um lugar central e paradigmático na história da arquitectura portuguesa e da cidade de Lisboa". Mesmo a sua antecessora na Ordem, a agora vereadora, Helena Roseta, conformou-se com a irreversibilidade de decisões camarárias anteriores à de ontem, tendo-se abstido quando chegou a altura de votar o licenciamento da demolição.
"Perante essas decisões tínhamos que ter um argumento legal qualquer para chumbar [o novo projecto]", explica a autarca, que admite ter tido muitas dúvidas na posição a tomar. "O problema é que o Instituto Português do Património Arquitectónico [Ippar], actual Igespar, o tinha aprovado."
Acontece que o principal argumento do Ippar para viabilizar as intenções dos proprietários do Ritz se relaciona precisamente com as autorizações camarárias que já existiam, quando lhe foi pedido parecer sobre o assunto: um pedido de informação prévia e um projecto de arquitectura aprovados respectivamente em 2002 e 2004, pela então vereadora do Urbanismo, a social-democrata Eduarda Napoleão, que terão dado direitos aos proprietários do hotel.
"O que foi aprovado desfigura o edifício na sua traça original", lamenta o vereador do PCP Ruben de Carvalho, sublinhando o facto de o Ritz se encontrar em vias de classificação patrimonial. As restantes forças políticas não foram sensíveis ao argumento, tendo votado a favor da demolição.
A transformação do gaveto onde se situam as galerias - no cruzamento entre a Av. Joaquim António de Aguiar com a Rua Castilho - "desfaz duas das premissas mais importantes" do desenho original, refere o técnico do Ippar que analisou em 2005 o novo projecto, feito pelo gabinete de arquitectura RRJ Arquitectos.
"O novo corpo em altura vai tapar parcialmente uma das perspectivas mais importantes do conjunto [nomeadamente para quem sobe a Rua Castilho e a Joaquim António de Aguiar], precisamente aquela que permite entender a relação do imponente bloco dos quartos com a plataforma de apoio, através dos imponentes pilares de sustentação".
Classificação chegou tarde
Apresentado como um dos exemplos mais marcantes da arquitectura do modernismo em Portugal, pertence a Porfírio Pardal Monteiro o desenho original do Ritz, que é dos anos 50 do século passado.
O projecto não contemplava as galerias, que correspondem a uma ampliação feita por um colaborador seu, o arquitecto Leonardo Castro Freire, uma década mais tarde, após a morte de Pardal Monteiro. Amplicação essa que, no entender do Ippar, não retira valor a esta parte do conjunto, "que beneficiou com a sua introdução".
Apesar do elevado valor que reconhece à obra - "constitui um bem comum vivo -, foi o actual bastonário dos arquitectos quem, como responsável máximo do Ippar, emitiu há dois anos e meio parecer favorável à demolição integral das galerias, que nos últimos anos foram vítimas de abandono. O processo de classificação patrimonial surgiu demasiado tarde para impedir o seu desaparecimento.
O PÚBLICO tentou, sem sucesso, obter esclarecimentos sobre a nova obra prevista junto da sociedade proprietária do Hotel Ritz, a Sodim, mas tal revelou-se impossível.
(Isabel g)

Há ou não há vidas de luxo... à conta do Ambiente?


«"Nessa reunião, o angariador de fundos acabou por apresentar um outro projecto da Direcção Nacional cujo orçamento era de dois milhões de euros. Achámos que havia ali um conflito de interesses, porque a comissão do angariador seria mais ou menos elevada, consoante o valor dos projectos. Nesse caso ganharia cerca de 200 mil euros", afirmou (a presidente da Quercus / Lisboa).»
Lido Aqui.
Há ou não há vidas porreiras? O que ainda ninguém quis desbroncar é qual o nome do feliz contemplado e há quanto tempo isto dura e quanto é que já arrecadou e em quantos anos. (Actualização: o angariador tem o nome estampado no artigo da página 10 do 'Expresso' que saiu ontem: chama-se Marcos Bartilotti. Agradeço a chamada de atenção feita num comentário).
E a Direcção da Quercus não teme que tudo isto descridibilize (mais uma vez) a sua voz quando vem a terreiro opor-se a isto ou àquilo ou defender esta ou aquela perspectiva?
Porque, a meu ver, o descrédito instala-se por si, perante notícias destas. Já na altura do caso de José Manuel Palma foi a desilusão que foi. Agora mais este caso. E o conhecimento de que afinal rolam milhões por aquelas bandas. Isso tem de ter peso. E o amor ao ambiente?

quinta-feira, abril 24, 2008

Patinagem artística










Foi ontem aprovado em reunião de Câmara (23.4.08) que os serviços competentes procurem, em conjunto, com a Direcção do Clube de Patinagem Lisbonense, soluções de um espaço apropriado para a prática de patinagem artística.
(Proposta CPL)
(Isabel G.)

Estará a CML a investir em energia hidráulica?



O penúltimo episódio desta novela da conduta de água da Av.E.U. tinha sido outro dia. Agora rebentou tudo. E há este magnífico tanque, talvez, quiçá, a ser objecto de ampliação com vista ao treino dos nadadores de natação sincronizada para as próximas Olimpíadas.

JUSTIFICAÇÃO DE FALTAS

Tenho andado um pouco afastado das polémicas olissiponenses. Muito trabalho, aulas e avaliações bolonhesas em velocidade de cruzeiro e também mudanças de casa. O Tomar Partido mudou de casa e houve que mobilar, decorar e arrumar os tarecos. Podem visitá-lo nesta morada: tomarpartido.blogs.sapo.pt. A gerencia, desde já, agradece.

quarta-feira, abril 23, 2008

Ponte Chelas-Barreiro (2)


Ponte Chelas-Barreiro (1)

O Elevador de São Julião:



Aqui!

O FUTURO É HOJE

Trinta e quatro anos depois, continuo a viver no refúgio das minhas esperanças. É muito difícil separar-me dessa ideia de comunidade que foi a moral da resistência, e do conceito de que a História caminha no sentido da libertação do homem. Mas também aprendi a não me acomodar a essa espécie de vocação para o desencanto, reduto onde se lastimam homens e mulheres da minha geração e da seguinte. A festa acabou. Vivemos um instante em que protagonizámos um apólogo presumidamente dialogal, porque, na realidade, havia, e sempre houve, dois países, com compromissos inconciliáveis e linguagens opostas. A existência de classes não é uma falácia, embora queiram inculcar a sua ausência a fim de impedir que as julguemos.

A festa acabou. Não terminou, porém, a definição daquilo que possui a faculdade de reavivar o que pretendem fazer-nos esquecer: os sonhos, a teimosia da vontade, a obstinação da esperança. Chamam-lhe utopia, e condenam-na como fautor de destruição do outro e, portanto, de si próprio, em benefício de uma verdade suspeita. A cada um a sua idiossincrasia, as suas possibilidades, a sua área de agir. Pessoalmente, sou incapaz de viver sem palavras, sem livros, sem o ajustamento desses livros e dessas palavras a uma ética que respeite o leitor, para nunca me extraviar do princípio das convicções mútuas.

Apesar de tudo, creio que não há motivos para extensas decepções. Uma releitura do que éramos e do que somos permite verificar as diferenças reais mas, também, as artificiais, registadas na sociedade portuguesa. Desejávamos mais. Esquecêramo-nos, porém, da pesada tutela exercida por uma Igreja extremamente conservadora, que exaltava a "tradição" e execrava a simples ideia de a questionar; e por uma classe dirigente, composta de cem famílias, que reivindicava privilégios inatacáveis.

O panorama foi muito bem exposto na melhor telenovela portuguesa de sempre: Chuva na Areia, de Luís de Sttau Monteiro, realizada pelo excelente Nuno Teixeira. Seria óptimo que a RTP a reexibisse.

É exacta a afirmação segundo a qual Abril ambicionava fazer da "revolução" uma máquina social, política e cultural influente. As fragilidades começaram na falta de análise das superestruturas, e no dogmatismo (natural no bulício da época) que contrariou a possibilidade de a "revolução" se compreender a si mesma.

Há um fenómeno que não esgota a claridade emocional eclodida há 34 anos: a renovação de uma bela utopia, revelada no número, cada vez mais elevado, de gente nova, atraída pelos prestígios de uma data feliz.

Venha o que vier, nada justifica o niilismo contido no "desencanto". Há uma História que nos pertence, um património moral inesquecível - e um outro país que reaviva o eterno projecto de um outro futuro.



Baptista-Bastos

In Diário de Notícias

Passatempo «Porquê eu?!!»

22 Abr 08
TODOS NÓS CONHECEMOS pessoas a quem tudo acontece; e, quando dizemos isso, referimo-nos a acontecimentos infelizes. Em certos casos, é o seu comportamento (por feitio, por doença ou por qualquer outro motivo) que atrai as desgraças como os campanários atraem os raios - chamam-lhes, mesmo, «vítimas preferenciais». Noutros casos, são vítimas de perseguições pessoais, e noutros ainda são pessoas que, pura e simplesmente, têm um azar dos diabos.
A imagem que aqui se vê está relacionada com isso.
Pergunta com prémio: alguém sabe dizer que infelicidade se abateu sobre o dono deste carro?
*
O prémio, a atribuir ao primeiro leitor que, em comentário, der a resposta certa, será um exemplar do livro «Aventuras de Sherlock Holmes» (Ed. Visão). O prazo termina às 20h de quinta-feira, dia 24. Nessa altura, será indicado o vencedor (se o houver), e mostradas outras fotos, que contêm a resposta do enigma.
*
Resultado: ver o 26.º comentário, afixado às 20h09m de 24 Abr 08.

Autarcas querem cidadãos participativos

"Autarcas querem cidadãos participativos (no DN): Decisões políticas serão eficazes se partilhadas pela comunidade
Motivar os cidadãos a envolverem-se na vida democrática e encorajá-los a participarem nas decisões políticas é o objectivo da campanha Cidadania Activa ontem lançada no Barreiro pela Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).
Os autarcas assumem responsabilidades na alienação social: "durante muito tempo acomodámo-nos". O mea culpa do presidente da ANMP, Fernando Ruas, em declarações aos jornalistas à margem do encontro, serviu de mote ao lançamento da campanha que pretende devolver aos cidadãos a intervenção nas escolhas e no planeamento das suas comunidades.
Mais do que esperar que as populações se dirijam à câmara, são os autarcas que prometem ir ao encontro das pessoas, escutando-lhes aspirações e anotando as suas preocupações. Orçamentos participativos, atendimentos públicos, reuniões de câmara e assembleias municipais descentralizadas, visitas temáticas e o melhoramento das acessibilidades de comunicação com os decisores (presidentes e vereação) são compromissos assumidos pelos autarcas sem esperar por eleições, "porque a democracia não se constrói só de quatro em quatro anos, com o voto".
O envolvimento autarquias/escolas é outra promessa do projecto por uma cidadania activa. E esse foi um aspecto enaltecido pelo neurocirurgião João Lobo Antunes, convidado de honra da cerimónia, porque permitirá "treinar as crianças e jovens para a participação democrática". Enquanto mandatário das candidaturas presidenciais de Jorge Sampaio e Cavaco Silva, o neurocirurgião descobriu um País carente de participação cívica e reconheceu nos autarcas semelhanças com os médicos por "criarem esperança".
A ideia da campanha, sublinhou, nasceu do "divórcio entre a vida política e as pessoas" cada vez com menos tempo no quotidiano para dedicarem à comunidade. "Há qualquer coisa que nos está a fechar em casulos impermeáveis de ansiedade e de preocupação", disse Lobo Antunes, lançando o repto aos autarcas para se afastarem de um certo "pensamento paroquial". O neurocirurgião lembrou um episódio de ineficiência quando, há anos, em conversa com um governante a quem fizera sugestões de serviço, este o ouviu e à laia de despedida lhe disse ponha lá isso por escrito. "É evidente que não pus, pois a frase era sinónimo de que não iria fazer nada", esclareceu o médico, advertindo para a necessidade de os cidadãos sentirem que estão mesmo a participar nas decisões. "A cidadania exerce-se com talento de cada um", rematou.
Realçando a preocupação com o abstencionismo, Fernando Ruas reafirmou a determinação das autarquias em travar este combate pela cidadania activa, lembrando que nesta como em outras políticas (como a discriminação positiva de incentivo à natalidade) os municípios têm demonstrado estar na linha da frente. "
(ISABEL G)

segunda-feira, abril 21, 2008

Não é grave, mas tem graça...

21 Abr 08
EM TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO, alguém decidiu criar uma praça de táxis junto ao Hotel Roma.
Até aqui, tudo bem. O pior é o resto:
Para pouparem, aos turistas, o cansaço de andarem uns metritos, alguns taxistas vão para cima do passeio - e a praça, se for caso disso, fica às moscas; até porque, se for ocupada por "outros", a Polícia Municipal (como se vê na imagem de baixo) chega, bloqueia e/ou reboca.
Não é genial?

domingo, abril 20, 2008

"As escadas rolantes do Capitólio" - artigo de Bénard da Costa


As escadas rolantes do Capitólio- Público- 20.04.2008, João Bénard da Costa
(...)
Quando eu andava de calções, havia o São Luiz (que já tinha sido Theatro D. Amélia e Teatro República, até se fixar no título do visconde que era proprietário dele), havia o Tivoli, que nunca tinha sido nada antes, pois nascera para cinema em 1925; havia o Éden de Cassiano, grande novidade dos anos 30; havia o Politeama (que antes dos primeiros acordos, sempre malfadados, se chamava Polytheama) e também trocara vocação teatral por vocação cinematográfica; havia o Ginásio, ao pé do Trindade, outro convertido ao cinema e que, nos anos de que me ocupo, cheirava a nazi que tresandava; havia o Condes, o primeiro "grande cinema moderno" de Lisboa, inaugurado em 1917. Por ordem descendente eram as salas do tout Lisbonne quando o tout Lisbonne ia ao cinema. Depois havia o cinema de reprises, ou seja os que repunham os filmes das salas nobres para gente mais pobre, normalmente em programa duplo, quase sempre cinemas de bairro. Havia ainda algumas salas de estreia menos conceituadas como o Odéon, o Palácio (explorados pelo mesmo proprietário, tinham quase sempre a mesma programação), o Olympia, onde ia o maralhal ver as séries do Capitão Tormenta ou os primitivos super-homens, ou, último em data, o Capitólio, ilha cinematográfica entre os teatros do Parque Mayer, inaugurado em 1931.
Conheceu duas plantas (Cristino da Silva) a primeira polivalente, a segunda já em exclusividade cinematográfica. Foi esta que eu conheci e, se as minhas fontes me não falham, assumiu plenamente essa vocação em 1946. Ano, aliás, em que no Capitólio se estreou uma das máximas obras-primas da história do cinema: Man Hunt de Fritz Lang.
Depois, já eu não andava de calções, inauguraram-se as grandes salas com milhares de lugares: o S. Jorge, o Monumental, o Império, em catadupa dos primeiros anos 50. Era o scope, era o VistaVision, eram os 70mm, com apoteose no super-écran do super-Monumental.
Que reste-t"-il de nos amours? O Tivoli, o Éden, o Ginásio, o Condes foi um ar que lhes deu e quem vê fachadas não vê interiores desabridos. Resta o Império, mas para as missas da IURD e não mais para os cinéfilos. Resta o S. Jorge, partido às fatias, e que só se salvou devido à bendita teimosia de João Soares; resta o S. Luís (onde vai o z!) mas cinema não é com ele e teatro só quando o rei faz anos; restam duas ruínas: o Odéon e o Capitólio, há muito encerradas, a apodrecerem aos poucos ou aos muitos.
O Capitólio do "meu tempo" tinha duas novidades decorativas que deram brado: uma escada rolante, a primeira escada rolante que existiu em Portugal, e que, embora só rolasse a altura de um lance de escadas, era o gáudio dos indezes e o terror das sogras de meia-idade, que, ao chegarem lá acima ou cá abaixo, caíam nos braços da família, bradando em vernáculo "we made it"; uma esplanada no terraço para as noites de Verão, onde os monstros da lagoa negra evoluíam com o céu como limite. Havia quem levasse cobertores ou para não ter frio ou para conhecer melhores calores.
Depois, o terraço fechou, a escada levou sumiço, com o 25 de Abril vieram as gargantas fundas, até que, nos anos 90, aquilo fechou de vez.
Foi nessa altura (segunda metade deles) que a Cinemateca esteve mais perto de se abeirar do Capitólio. Em 1997 (era ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho, era presidente da câmara João Soares) a Cinemateca, termo de que aliás o inventor dele (Henri Langlois) não gostava, assumiu, até na letra da lei, a sua vocação de Museu do Cinema, como ainda hoje se continua a chamar. Como museus do cinema, Langlois sempre as concebera e quem ainda conheceu o espaço mágico que ele construiu e programou no Palais Chaillot, em Paris, (hoje, infelizmente, ido com o vento) percebe donde ele queria partir e onde ele queria chegar. Um espaço expositivo que traçasse a história da grande arte das luzes e das sombras, desde o século XVI (ou antes) até hoje e ao que depois de hoje vier. E todos os caminhos iam dar a Roma, sendo Roma a grande sala de cinema onde se expõem os filmes.
Aprovada a concepção teórica, em Portugal 97 como já disse, faltava cumprir a finalidade última dela: ou seja, transformar o Museu virtual que a Cinemateca hoje já é (após a remodelação dos seus edifícios em 2003 e a conversão do antigo Salão Foz na Cinemateca Júnior, faz hoje precisamente um ano) num Museu do Cinema "real", se é que a realidade se casa com sombras e luzes, como há quem diga que sim e como há quem diga que não.
E assim ressurgiu, nas tais boas intenções de que o inferno está cheio, a ideia de estabelecer um percurso coerente, geminando a moradia da Barata Salgueiro ao Capitólio. Manuel Maria Carrilho chegou a anunciar publicamente que assim ia acontecer, em 1999, quando o destino do Parque Mayer passou para as bocas do mundo.
Depois veio Pedro Santana Lopes (para a Câmara) e, no auge da polémica, chegou a bradar um dia, num debate televisivo, que o seu vasto projecto culminava com a transformação do Capitólio em Museu de Cinema, sob a minha orientação, calando com esse argumento ad hominem um atónito Eduardo Prado Coelho.
Ainda me convidou para um jantar com Frank Gehry (era o tempo dele) mas sinceramente não fiquei com a impressão que a ideia do museu fosse a que mais entusiasmava o arquitecto, que obviamente não morria de amores pelo que restava do Capitólio e se propunha até - se bem o entendi -demoli-lo e construir-lhe um replicante com outra orientação.
Depois, tudo teve o destino que se sabe: Santana Lopes, o projecto Gehry, a própria recuperação do Parque Mayer.
Leio agora - e foi essa leitura que me despertou para um memorialismo menos desinteressado do que é costume - que está constituído um júri, ou coisa que o valha, presidido por Nuno Teotónio Pereira, para apreciar novas ideias e novas finalidades para um Capitólio a que se quer voltar a dar a traça primitiva de Cristino (Deus os ouça, que eu só acredito quando vir).
Cinema? Com o que por aí vai de aflições, ("oh meu amor, antes fosses ceguinha!"), não auguro um futuro muito brilhante. Basta olhar, quase ao lado, para a visão melancólica do cabisbaixo S. Jorge, a abrir em dias pares e a fechar em dias ímpares, ao sabor de eventos que por lá ficam a boiar.
Teatro? Se o que se diz é que nem os teatros vizinhos vão subsistir, de tal modo morreu o género que lhes dava vida, também não me parece sorte desejável. Além do que, seria uma curiosa ironia da história, ver o edifício que no Parque Mayer foi cinema insular, transformar-se no teatro insular dele. Museu do Teatro? Ao que sei, o que existe está bem e recomenda-se e também seria historicamente contra-natura naquele espaço povoado por tantos fantasmas cinéfilos.
Porque não - por uma vez - considerar o que um museu do cinema (pense-se, por exemplo, no que o museu de Turim trouxe à cidade no espaço recuperado da Mole Antonelliana) podia significar num lugar com tal história e tão confinado à Cinemateca.
Sou suspeito? Claríssimo, mas não sou suspeito do costume. Do que se trata seria mesmo de uma enorme inovação nos nossos costumes, quer na recuperação da memória quer na projecção dela para o futuro. As escadas já rolaram uma vez, quando ainda nenhumas outras rolavam em Lisboa. Porque não fazê-las rolar de novo, no fecho de uma abóbada?"
Foto: CNC
(ISABEL G)

Carris acusa câmara de "empurrar com a barriga" problemas de mobilidade



LOCAL LISBOA-PÚBLICO
Carris acusa câmara de "empurrar com a barriga" problemas de mobilidade
Salvaguardou que "como gestor público" teria de ser "ponderado nas palavras", mas o presidente da companhia de transportes públicos Carris foi tudo menos contido na intervenção que fez quinta-feira na Sociedade Portuguesa de Geografia, no âmbito das comemorações do Ano Internacional do Planeta Terra. Os decisores políticos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e, em particular, a Câmara de Lisboa não se furtaram às críticas de José Silva Rodrigues, para quem a capital "está a pagar o preço da incapacidade e da sucessão gigantesca de asneiras" perpetradas por "executivos de todas as cores ao longo dos últimos 30 anos".
"Quem governa a AML? Ninguém. A AML é uma ficção. Há mais de 20 entidades, cada uma responsável por um bocadinho, o que é apenas uma desculpa para não se fazer nada. Corre tudo mal, cada um diz que fez o seu bocadinho bem e ninguém é responsabilizado", censurou Silva Rodrigues. "Não estou a dizer que a solução é a regionalização, mas a governabilidade da AML é fundamental para acabar com este caos em que vivemos: o congestionamento automóvel permanente penaliza gravemente a qualidade de vida e a competitividade da cidade", advertiu.
Mas, sublinhou o presidente da Carris e ex-vereador da Câmara de Lisboa, o "caos" é também imputável à autarquia da capital, que "tem de assegurar transportes colectivos de qualidade" e deixar de planear a cidade para o automóvel. "A câmara tem caído na tentação de ir empurrando com a barriga as coisas enquanto pode até não aguentar mais. Quando fui vereador não havia uma direcção de mobilidade, mas de tráfego, e 15 anos depois a lógica é a mesma."
Limitar, tornar mais caro e sobretudo fiscalizar o estacionamento são as medidas que a câmara deveria tomar de imediato, explicou o presidente da Carris. "O estacionamento não pode continuar a ser feito da forma que o fazemos em Lisboa, sem regras claras e sem uma política rigorosa", preveniu perante uma plateia de cerca de 25 académicos. "Aumentar o espaço de estacionamento na cidade é andar ao contrário do que deve ser feito. É relativamente fácil gerir esta variável e, se na AML não a gerimos adequadamente, então na cidade não a gerimos de todo: é só ver as segundas filas, os passeios cheios de carros, a falta de fiscalização e o sentimento de impunidade generalizado dos cidadãos".
Assim, para o também economista, a câmara deve sobretudo penalizar os prevaricadores, aperceber-se de que "regular bem o estacionamento não é fazer espectáculos ocasionais para as televisões" e, sobretudo, deixar de "fazer tudo ao contrário do que diz". "Dizem que querem uma cidade descongestionada e depois anunciam novos parques no centro da cidade. Qual a coerência deste modelo?"
Aumentar as vias destinadas aos transportes públicos e dar-lhes semaforização prioritária ("se estiver parado nos sinais e vir os autocarros a avançar, se calhar até penso mudar de meio de transporte") são outras soluções apontadas por Silva Rodrigues. "A nossa frota anda uma média de 14,5 quilómetros por hora. Se nos deixassem andar a mais um quilómetro pouparíamos cinco milhões de euros por ano."
Mas, acima de tudo, o que Silva Rodrigues preconiza é a articulação efectiva das companhias de transportes colectivos da AML, o que apenas requer "vontade política". "Há 400 bilhetes diferentes na AML e até nós não sabemos qual é o título mais adequado a cada viagem. Não se pode continuar a fingir que o problema não existe só porque a reformulação do sistema comportaria um aumento das tarifas", defendeu o responsável, que rematou: "Se causar indignação, paciência, mas os transportes são baratos e os preços ainda têm por onde crescer."
(foto: Gente de Lisboa)
(ISABEL G)

Casino, milhões e eleições

A minha teoria sobre isto é a seguinte: as verbas - que até julgo totalizarem já mais de 111 milhões - estão guardadas a sete chaves. E guardadas estarão até que CML e Governo decidam o que fazer com elas, exactamente a tempo de produzir uns eventos, programar umas inaugurações e lançamentos de primeiras pedras, mesmo a tempo útil das eleições de 2009: as europeias, as legislativas e as locais. Só para dar uma ideia da importância deste compasso de espera e do rigor a que ele deve obedecer, devo acrescentar que acho que logo que há um ano e pouco se perfilou a ideia de eleições antecipadas para a CML, nem mais uma agulha buliu netsa matéria. Ficou-se a aguardar o momento certo.
Nota para bom entendedor
Este conceito de Gestão de Calendário é muito importante na política actual. Trata-se de uma espécie de ciência de terceira geração da cadeira de Marketing Político do Curso de Política de Tigela. Que dá um resultadão. Basta que RTP, SIC e TVI lá estejam. O resto são blogs. Ladram mas não mordem.

Como sempre, à porta do Frutalmeidas...

A foto que aqui se vê foi tirada a meio da tarde de ontem, sábado; repare-se no lugar vago, à esquerda. Para cúmulo do absurdo, a essa hora o estacionamento já era GRATUITO!
*
Embora eu tencione continuar a afixar aqui estas fotos (tenham paciência os leitores...), infelizmente já me convenci de que mais depressa António Costa vira de pernas para o ar toda a zona de Santa Apolónia do que manda meter ali um par de pilaretes para acabar com o inferno de quem ali tem de passar todos os dias.
Há, em coisas destas, uma dose exagerada de insensibilidade difícil de explicar - da parte de quem faz e de quem deixa fazer, obviamente.

sábado, abril 19, 2008

É pena que não faça um desconto pelos incómodos que nos faz passar


TGV: Calatrava garante que "fará todos os possíveis" para "corrigir" falhas da Gare do Oriente
Lisboa, 17 Abr (Lusa) - O arquitecto espanhol Santiago Calatrava, que ficará responsável pelo projecto de ampliação da Estação do Oriente, garantiu hoje que "fará todos os possíveis" para "corrigir" as falhas que a infra-estrutura apresenta actualmente.
"Uma das coisas que me alegra em poder voltar a intervir é tentar corrigir as coisas que eu não fiz bem no início", afirmou Santiago Calatrava, em declarações à margem de assinatura do contrato para a expansão e adaptação à alta velocidade ferroviária da Estação do Oriente.
"Numa estação que está longitudinalmente aberta é evidente que as correntes de ar sejam marcantes", afirmou Calatrava, quando confrontado com o facto de os utentes da estação se queixarem de estarem expostos ao vento, ao frio e à chuva.
"Eu segui esquemas funcionais, pensando que os passageiros, nos momentos de mau tempo, permaneceriam nas salas de espera, localizadas na parte inferior da estação, enquanto na parte superior, aberta, procurei exaltar a beleza da luz em Lisboa e a vista para o Tejo", justificou.
O arquitecto, responsável pelo projecto original da estação, inaugurando aquando da Expo98, disse que tentará acabar com as correntes de ar e "melhorar os corredores de acesso às salas de espera, para que as pessoas vejam esta estação como um aeroporto, aproximando-se do avião apenas na hora da partida". (...)
**
SOBRE A GARE DO ORIENTE, um texto que escrevi aqui e outro de Francisco José Viegas.



Um video da Gare do Oriente sem chuva e sem vento
Música: 1º andamento (Allegro) do Concerto para Cravo e Cordas, em Lá Maior, do grande compositor português Carlos Seixas, numa interpretação da Orquestra Barroca Norueguesa, dirigida, a partir do Cravo, por Ketil Haugsand.

(ISABEL G)

O Casino de Lisboa e as contrapartidas para a cidade

Milhões do casino na gaveta no JN

Dois anos após a abertura do Casino Lisboa no Parque das Nações - que se comemoram hoje e amanhã, com vários concertos de entrada livre -, os 111 milhões de euros que a Estoril Sol já entregou ao Estado continuam por ser aplicados. Segundo Mário Assis Ferreira, presidente do Conselho de Administração da empresa, as verbas estão à guarda do Instituto de Turismo de Portugal, à espera que a Câmara de Lisboa e o Governo decidam avançar com os projectos que poderão ser financiados.
O destino a dar às verbas pagas pelo casino - quer no que se refere à contrapartida inicial, no valor de 30 milhões de euros, quer nos pagamentos anuais (50% das receitas brutas do jogo) - ficou definido no decreto-lei 15/2003, que autorizou o alargamento da concessão da zona de jogo do Estoril à cidade de Lisboa.
Se no que se refere à contrapartida inicial de 30 milhões de euros os destinos estão já traçados - financiar a reabilitação do teatro Capitólio, no Parque Mayer, um outro equipamento cultural na zona da Avenida da Liberdade, a recuperação do Pavilhão Carlos Lopes e um novo museu nacional a criar pelo Governo em Lisboa -, já em relação às contrapartidas anuais há ainda uma grande incógnita.
Das receitas de jogo a entregar ao Estado, um milhão de euros será para o Instituto de Formação Turística promover acções de formação, até 15% será para acções de formação turística específica e o restante dinheiro para obras de "interesse turístico". Mário Assis Ferreira lamenta que a Estoril Sol não se possa pronunciar sobre o destino destas verbas e entende que seria "mais do que justo e legítimo" que a empresa pudesse ter "uma palavra a dizer, nem que fosse num órgão consultivo", como acontece no Estoril.
Nos dois primeiros anos de actividade, visitaram o Casino Lisboa quatro milhões de pessoas, o que dá uma média diária de 5500 visitantes. As receitas brutas de jogo ascenderam a 172 milhões de euros.
A história -Uma sala de jogos às voltas pela cidade
Inicialmente pensado para o Parque Mayer, a ideia do então presidente da Câmara, Santana Lopes, acabou por esbarrar no veto do presidente da República de então, Jorge Sampaio. Foram sugeridos vários outros locais - desde Monsanto, aos terrenos da Feira Popular, Cais do Sodré e Jardim do Tabaco - mas a opção acabou por recair no antigo Pavilhão do Futuro no Parque das Nações.
Onde vai ser aplicado o dinheiro do jogo
A contrapartida inicial de 30 milhões de euros, distribuída por quatro tranches anuais, tem o seguinte destino 35,5% para financiar a reabilitação do Teatro Capitólio, no Parque Mayer; 6,5% para outro equipamento cultural na zona da Avenida da Liberdade; 16,5% para a recuperação do Pavilhão Carlos Lopes; 33,5% para um novo museu nacional a criar pelo Governo em Lisboa (à partida, o museu dos Coches).
(ISABEL G)

Santa Apolónia



Não, não e não. As respostas peremptórias de utentes, comerciantes e funcionários da Gare de Santa Apolónia traduzem uma sonora nega à proposta de encerramento desta estação ferroviária, feita anteontem pelo presidente da Câmara de Lisboa, António Costa. O autarca desenterrou uma discussão com mais de 15 anos e propôs que o ramal entre Santa Apolónia e o Oriente fosse desactivado, dando lugar a uma reconversão urbanística e que o edifício pudesse acolher o futuro terminal de cruzeiros.
Contactadas pelo JN, a Rede Ferroviária Nacional, gestora da infra-estrutura, e o Metropolitano de Lisboa, empresa que há apenas quatro meses abriu no local uma estação, recusaram comentar a proposta. Só a CP admitiu que não concorda com a desactivação, argumentando que poderia provocar "congestionamento sobre a Linha de Cintura".
Porém, em comunicado enviado à agência Lusa, a empresa - que também conta naquela área com os serviços de manutenção, logística e estacionamento de composições - disse estar disponível para encontrar uma "solução de consenso, que viabilize as intenções de requalificação urbana da Câmara Municipal e as exigências do sistema de transportes na Área Metropolitana".
"Está tudo louco. Fizeram a estação do metro e agora fecham. Os comerciantes não conseguem viver com o fluxo dos cruzeiros", acusou, ontem, Joaquim Santos, um dos lojistas da estação, onde se instalou há cinco anos. Tal como o comerciante, Fernanda Saraiva, funcionária da Refer, questionou a pertinência da proposta. "Anos à espera do Metro, numa estação com esta importância e depois o presidente vem propor isto?", questionou.
A inauguração do Metro veio reanimar a centenária estação. Só nos primeiros três meses do ano, contam-se um milhão e 11 mil passageiros. Também os utilizadores que provêm da Linha Norte mostram-se satisfeitos por entrar no centro histórico de Lisboa, sem atravessar meia cidade de Metro. "A Câmara que arranje as estradas e deixe de dar palpites que só agradam aos construtores. Querem-nos enfiar no Oriente? Aquilo não tem condições", queixou-se Ricardo Costa, um dos passageiros que partia de comboio para a Azambuja.
Nelson Oliveira, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro, defende que a estação pode passar por receber somente as ligações suburbanas e transformar-se numa estrutura com um cunho turístico, similar à estação do Rossio. "A Câmara quer requalificar, mas que não se preocupe com uma tira de 10 metros [de largura] que vai desde o Oriente e serve o centro histórico", apela.
Outro problema se levanta a linha ferroviária de mercadorias, que começa no Beato e percorre parte do Porto de Lisboa e área industrial da fábrica Nacional, entroncando no ramal de Santa Apolónia, junto à discoteca Lux. O fim desta linha obrigaria a Administração do Porto de Lisboa a encontrar uma solução: ou transferia as actuais funções para as plataformas da Bobadela e futura Lisboa Norte ou optava pelo transporte rodoviário.
"Seria incomportável ter camiões a deslocarem-se diariamente ao Oriente para se fazer a distribuição de mercadorias", defende Nelson Oliveira.
E ainda:
(Isabel G)

sexta-feira, abril 18, 2008

SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA...

... V. Exa. deve-me dinheiro e explicações. A mim e aos seus eleitores. Vou apresentar-lhe primeiro as minhas despesas e logo a seguir as razões para esta reivindicação: dez euros pela bandeirada de táxi da oficina onde o meu automóvel fez a peritagem até ao meu local de trabalho; seis euros (valor aproximado) pelos litros de combustível utilizado, e a utilizar, no transporte da viatura para o local de reparação (sem incluir a especulação do preço do barril de petróleo e emissão de gases para a atmosfera); vinte euros por aluguer diário previsto de carro de substituição (com envio de factura pela minha seguradora). E cinquenta euros por meio dia de trabalho desperdiçado no vai-vem burocrático entre os serviços legais inerentes a qualquer acidente de viação (telefonemas entre seguradoras, clientes, peritos e mecânicos).

Por contabilizar fica o valor da despesa de um pára-choques traseiro (a determinar pela seguradora do veículo assumido como culpado), o custo de um processo civil ao Estado por consentir que um cidadão com evidentes dificuldades motoras possa conduzir (apesar de apto para conduzir, o cidadão não conseguiu preencher o acordo amigável por mão própria), e ainda uma consulta de urgência num hospital central (cortesia ADSE), com direito a raio X a um bebé de cinco meses (a minha filha). O que falta cobrar? Milhares de euros pelos danos morais e patrimoniais provocados a todos os cidadãos de Lisboa que são impedidos de circular pelas vias normais de trânsito cada vez que a autarquia se lembra de transformar a Baixa da cidade em parque de jogos. Isto acontece sistematicamente aos domingos, com inexplicáveis festividades lúdicas e radicais-livres na Praça de Comércio, e começa a tornar-se enjoadamente repetitivo aos sábados, quando a cidade é arrendada (direi mais: licitada) a qualquer serviço de animação cuja actividade pareça ser nobre, justa ou apenas saudável. No passado sábado, a culpa foi de mais uma pequena maratona...

Exmo. Sr. Presidente da Câmara, Dr. António Costa, a cidade de Lisboa não respira saúde, está doente, por isso dispensa grandes correrias. Uma maratona não a salva, apenas sufoca o seu fluxo normal, é alegria mal-disfarçada, um placebo genérico. A Praça do Comércio fechada ao trânsito e aberta a meia-dúzia de malabaristas não fará dela mais animada. O que faz é afectar o centro nevrálgico e a coluna dorsal da cidade (cobrando indevidamente os automobilistas). Não percebo a lógica de se fechar a Baixa ao trânsito para exequibilidade do programa das festas na Praça do Comércio, quando depois se comete o absurdo de manter a Rua Nova do Almada e Garrett, duas vias assumidamente pedonais, como corredores de trânsito. Sem coabitação, não há cidade. De que adianta abrir a cidade às etnias, gerir a diferença e a tolerância, quando Lisboa é incapaz de interpretar os próprios comportamentos, de gerir os recursos e instrumentos? É tão grande a violência de ver automóveis estacionados nos passeios como é patética a invasão pacífica do asfalto pelo transeunte. Por isso, se V.Exa. aceitar uma sugestão, comece por orientar as massas: recupere os jardins de Lisboa, a Praça da Alegria, o Torel, o Jardim Botânico, a Bela Vista e por aí fora. Ponha lá umas pessoas, instale uns baloiços, inaugure umas esplanadas. Vai ver que elas se distraem e iludem esta tristeza capital.

Miguel Somsen


In Metro

A Paixão pela Educação

O Primeiro-Ministro continua a distribuir computadores, julgando que com tal gesto irá melhorar a qualidade das escolas, mas os laptops são como os lápis, ou seja, meros instrumentos. Antes de lhe passar a coisa para as mãos, convinha que alguém ensinasse os meninos a pensar. Há dias, em Abrantes, referindo-se ao dinheiro do QREN (Quadro deReferência Estratégico Nacional), o engº Sócrates declarou significarem os fundos europeus uma oportunidade para, nos próximos sete anos, se “alavancar (sic) a economia portuguesa”. Balelas!

Ao mesmo tempo, a OCDE afirmava que o Estado português não podia investir mais no ensino superior. Vinda de uma organização invariavelmente pronta a defender um aumento de despesa no sector, a frase surpreende. Durante anos, os políticos apregoaram que mais educação significaria mais desenvolvimento. Era uma opinião partilhada, desde o século XVIII, pelos cérebros “iluminados” e pelas camadas da população que haviam cedido diante da propaganda anunciando que quanto mais licenciados existissem mais depressa Portugal ultrapassaria a Finlândia (no século XIX era aNoruega). Que vemos nós?

A economia estagna e um número crescente de doutorados está no desemprego. A pergunta é inevitável: se temos gente altamente qualificada por que não sobe o país até ao panteão dos ricos? Por uma razão: os políticos enganaram-se, ou pior, mentiram-nos. Há décadas que se sabe que a correlação desenvolvimento-educação não é elevada e que, mesmo que o fosse, nada diz sobre a causalidade. Para quem desejar perceber o que se passa, aconselho a leitura do livro de AlisonWolf, Does Education Matter?: Myths about Education and Economic Growth(2002).

Uma coisa é a retórica dos políticos, outra a realidade. Em Portugal, no mundo dos callcenters (onde o pagamento à hora é, em média, de 2,5 euros), 35% dos 7.500 operadores têm um curso superior. O desenvolvimento económico depende de muitas coisas: a educação não é a decisiva. Em suma, é bom que existam escolas de qualidade, mas não pelos motivos invocados.


Maria Filomena Mónica

In Meia-Hora

Que futuro?

Encerramento de Santa Apolónia deve ser equacionado após expansão da Gare do Oriente

Com o patrocínio:
Mota-Engil


Addenda:

O comentador JA colocou uma questão pertinente, pelo que, transcrevo a resposta da caixa de comentários para o artigo original.

Trata-se de um projecto ad hoc do celebérrimo Arqº Frank Gehry, em jeito de sarcasmo aos planos cozinhados por trás dos panos, ou deveria dizer dos interesses de construção e utilização da área de solo - seja de Stª Apolónia ou de qualquer outra área pública em Lisboa.

Ora, ao venderem os terrenos o erário público arrecada a quantia paga (vendida aos amigos naturalmente, por um valor inferior ao de mercado), segue-se o momento de construção ... com patrocínio certo, às do costume, seguida pela fase de venda e rentabilização ...

Ora, estamos perante um imenso festim. Principalmente tendo em conta que a nova ponte, a 3ª de Lisboa, tem localização relativamente perto ... é só fazer as contas.

quinta-feira, abril 17, 2008

Coisa outra

Os populismos são imediatistas, emotivos e manipuladores [...] embora não me lembre de nenhum com o qual os povos se tenham dado bem

Não é a primeira vez que Silvio Berlusconi ocupa o cargo de presidente do Conselho de Ministros de Itália: da última vez foi-o até Abril de 2006. Regressa em Abril de 2008, pela terceira vez.
Berlusconi, senhor de um império empresarial que se estende da construção civil ao futebol, incluindo, muito a propósito, os media, ganhou confortavelmente as eleições em Itália.

É de Silvio Berlusconi uma frase – Fevereiro de 2006 – sintomática e de modéstia tocante: "Só Napoleão fez mais do que eu fiz. Mas, com certeza, eu sou mais alto do que ele." E brindou--nos recentemente com um espantoso conselho para ultrapassar a pobreza: "Case-se com um milionário."
Por que razão a Itália reelege "o rei da gaffe", como lhe chamou o ‘Observer’?

Veltroni não foi alternativa, enredado na herança de Prodi e num passado político que ficou sem representação parlamentar. Berlusconi é populista e os populistas sabem, como ninguém, viver politicamente de meias verdades – convém não ignorar – e aproveitar os medos ou insatisfações colectivas. Os populismos são imediatistas, emotivos e manipuladores e o espectáculo inicial a que não se eximem ajuda-os, embora não me lembre de nenhum com o qual os povos se tenham dado bem.

Não espanta por isso, muito menos em época de crise – a inflação na Zona Euro está em 3,6% – o anúncio imediato de ‘caça’ aos imigrantes ilegais – esses desafortunados dos desafortunados – nem o anúncio conjugado da resolução do problema do lixo de Nápoles (é assim, ambos os assuntos referidos numa mensagem que se diria subliminar). Lixo. Berlusconi promete tratar do lixo: o de Nápoles e o ‘humano’.

Berlusconi é politicamente um retrocesso civilizacional: demonstrou-o ao não respeitar a matriz da separação de poderes que vai garantindo o possível equilíbrio institucional nos nossos sistemas políticos. Mas está de volta, com tudo o que significa de confusão público-privado, ou melhor, privado-público.

Na Europa era preciso coisa outra.

Entre nós – ferido Menezes – Santana Lopes, que não dispõe de império algum, não resistiu a festejar com entusiasmo a vitória de Berlusconi, quem sabe revendo-se em sonhos num regresso ao futuro. Ao fim e ao cabo passaram uns anos e quem sabe se a incubadora onde depositaram o menino guerreiro desta vez não abana. Para mal certo de todos nós e uma não menos infernal alegria de Sócrates.

Entre nós, é urgente coisa outra.



Paula Texeira da Cruz


In Correio da Manhã

Fundador do Quarteto gostava do cinema e da vida acima de tudo

Pedro Bandeira Freire, que morreu ontem no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, aos 68 anos, na sequência de um acidente vascular cerebral sofrido há alguns dias, e que em 1975 fundou o Cinema Quarteto ("4 salas/4 filmes"), o primeiro multiplex português (e de Lisboa), era a última pessoa a querer que o evocassem com ar sério, voz embargada e lágrimas a escorrer pela cara abaixo. Por isso, começo por o recordar com uma história das dele.

Quando, pouco depois do 25 de Abril, se estreou em Portugal A Religiosa, de Jacques Rivette, foi o Quarteto que recebeu o filme "maldito" (esteve um tempão em cartaz). Calhou o próprio Rivette vir a Portugal e Bandeira Freire acolheu-o cortesmente no cinema. Mas o cineasta francês lá viu (ou julgou ver) qualquer coisa mal na projecção, e começou a moer o juízo a Bandeira Freire, que não conseguia divisar nada de errado na forma como o filme estava a ser mostrado. Até que, perdendo a paciência, virou-se para Rivette, apontou-lhe a porta do cinema gritando "Dehors! Dehors!" ("Rua!Rua!"), e conduziu-o para fora do edifício, meio empurrado, meio arrastado. Quando alguém lhe disse, "Ó Pedro, mas tu puseste o Rivette na rua? Estás maluco?", Bandeira Freire respondeu: "Pois pus! Ele é o Rivette, mas o cinema é meu!".

Numa das orelhas do seu livro de memórias Entrefitas e Entretelas (ver caixa), o também poeta, autor de teatro, rádio, televisão e de livros de máximas, argumentista, realizador (de duas curtas metragens), actor, letrista de canções, fundador da Livraria Opinião, jurado de festivais de cinema, grande amante de cinema e bon vivant consumado, deixou a biografia feita de forma tão completa e concisa, que é impossível não nos auxiliarmos das suas próprias palavras.



Nascido em 1939, antes da II Guerra Mundial, Pedro Bandeira Freire era, por isso, "material robusto e do melhor". Após quase ter terminado "com esforço e tenacidade" o Colégio Miitar (era o "57"), licenciou-se em "Gestão de Sentimentos", com "Mestrado de Relações Públicas" e doutoramento "em Filosofia de Vida. Não tendo habilitações para fazer alguma coisa de útil (o mesmo é dizer que não sabia nada de nada), dedicou-se a fazer um pouco de tudo. Uma das suas grandes qualidades - a preguiça!". Trabalhou em distribuidoras de filmes e na TAP, escreveu em jornais e revistas, fundou uma livraria e um cinema - o Quarteto, onde divulgou anos a fio o melhor do cinema mundial e foi, durante muito tempo, campeão absoluto da cinefilia e da cultura cinematográfica -, publicou livros, peças de teatro ("12 peças e meia, mais 4 do que o filme do Fellini", a Sociedade Portuguesa de Autores vai lançar uma inédita na sua colecção de teatro), e foi "amestrado, caricaturado amado e odiado, representado, jurado, letrista, premiado, censurado, enganado e fez os possíveis, embora sem obter resultados, para ser feliz". E gozou muito, sempre, imensamente, a vida, tanto como os filmes.



Há cerca de um mês, em plena "crise de consumismo e de cinefilia", Pedro Bandeira Freire entregou as chaves do Quarteto, após as quatro salas da Rua Flores do Lima terem sido fechadas pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais, por apresentarem falhas ao nível da segurança. (Espera-se que o Quarteto não tenha o triste destino de tantas outras salas de cinema de Lisboa, e que quem de direito faça o que é preciso, e se exige, para o manter aberto, a passar filmes e com público).



O corpo de Pedro Bandeira Freire está em câmara ardente na Galeria Carlos Paredes da Sociedade Portuguesa de Autores, de onde sairá amanhã, às 12.00, para o Cemitério dos Olivais. Vai custar mesmo muito não o voltar a encontrar e ouvir dizer: "Tás bom, ó doutor? Tens visto alguma coisa de jeito?".





Eurico de Barros



in DN

OS OFÍCIOS DE TORQUATO DA LUZ

O Ofício Diário já deu um livro e agora vai dar uma exposição de pintura. O artista é Torquato da Luz, e a exposição poderá ser vista na Junta de Freguesia de S. João de Brito, em Lisboa, na R. Conde Arnoso, nº 5, B. A inauguração é já no dia 22 de Abril, pelas 19 horas.

quarta-feira, abril 16, 2008

CML

Câmara aprova relatório de gestão de 2007

Câmara vai pedir auditoria externa às contas de 2007

Morreu Pedro Bandeira Freire


Acaba de morrer o bom homem que era Pedro Bandeira Freire, uma perda muito grande para o Cinema, a cinefilia, o Quarteto (e todo e qualquer projecto de revitalização do Quarteto). Tenho muita pena, pois foi de uma gentileza extrema aquando das minhas iniciativas pró-Odéon. Muitos falsos amigos teve ele, coitado, sobretudo do próprio meio. Muito contribuiu para a sua morte toda esta novela idiota sobre o Quarteto, a sabotagem, o fecho pelo IGAC, os patós que subexploraram o Quarteto desde os problemas de saúde que o fizeram afastar-se do Quarteto há uns 10 anos, etc., etc.

A melhor maneira de o homenagearmos seria fazermos tudo para reabrir o Quarteto, como ele era foi até há 15 anos, altura em que ainda dava cartas. Têm a palavra a CML e o MC, já que da iniciativa privada, nada se poderá esperar que não mais do mesmo.


Foto

terça-feira, abril 15, 2008

Na estrada

Depois da notícia do Expresso deste fim de semana : "Portugal é dos países da UE com mais auto-estradas": Política assente no asfalto não é garantia de desenvolvimento
(continua)

Lê-se hoje no Público (Economia) "Dentro de quatro anos, Portugal terá mais carros por habitante do que o Japão"
Em 2006, apenas 2,9 por cento das famílias portuguesas compraram carro novo e, por cada automóvel a estrear, venderam-se 2,5 usados
Em 2012, Portugal deverá ter mais automóveis por habitante do que o Japão. Segundo as previsões do Observador Cetelem (maior empresa europeia de crédito ao consumo), daqui a quatro anos Portugal terá 583 carros por cada mil habitantes, enquanto o Japão registará 525. (continua)
(Isabel G)

Terceira Travessia: Câmara de Lisboa discute opção em reunião extraordinária (*)

Este é um daqueles momentos clarificadores. Não sobre quem diz não importa o quê, mas sobre quem subscreve e vincula o quê para a cidade. A CML representa os interesses da cidade de Lisboa, da capital deste país.

Não representa os interesses do Barreiro, do Montijo ou Loures. E o executivo da CML responde perante os liboetas, os de agora e os que hão-de vir. E devia tê-lo feito desde o primeiro minuto, pugnando pelo debate, pugnando pela Democracia, que é disso que se trata, e já que o Governo não o fez, nem fará, senão empurrado.

A questão da TTT é uma questão fulcral, não só pelos biliões que envolve, mas pelo que representa em termos de oportunidade (perdida ou não) de efectivação de uma cidade planeada, e não uma cidade fruto do negócio de ocasião ou da opção técnica que convém àquele ou aqueloutro lóbi, sejamos claros.

O debate resumiu-se à confrangedora discussão (à partida, enviesada) entre Chelas-Barreiro vs. Beato-Montijo?

- Alguém falou alguma coisa sobre se o TGV deve entrar em Lisboa, ou não? (Lisboa não é Paris ou Londres, mas sim uma cidade de tamanho médio a nível europeu, e nessas cidades, o TGV costuma ficar lá fora, com ligações de metro ligeiro de superfície entre a estação e a cidade);
- Alguém esclareceu se o comboio pode vir por túnel (ou ninguém por cá é capaz de fazer algo como o que se fez na Mancha?);
- Alguém discutiu verdadeiramente onde deverá ser a estação central de comboios, ou se que o que se deve fazer é alargar a Linha de Cintura, e centralizar a estação no Rêgo?
- Alguém mostrou imagens efectivas do que será o tabuleiro da ponte com os seus 38 m de largo, e altura, entre tabuleiros, de 10m; ou das respectivas vistas de perfil e de frente, desde Lisboa e desde a outra margem?
- Alguém mostrou imagens dos viadutos a criar ou dos futuros nós rodoviários do vale de Chelas acima, Av. E.U.A. e 2ª Circular (e das alternativas, caso isso seja impossível ... allô, 'Circular das Colinas')?
- Alguém mostrou as manobras e as dificuldades da atracagem dos navios junto aos tirantes da margem direita do Tejo, se a opção Chelas-Barreiro for avante?
- Alguém falou sobre o que se deve fazer, de facto, entre Algés e Trafaria, se túnel rodoviário

Zero.

Assistimos todos a duas barricadas; estando uma com artilharia pesada, versão oficial, fruto de 'reflexão e opção estratégica', e outra, munida de 'arco e flecha', perfigurando 'a' alternativa possível, versão in-extremis de quem sabe que se não for assim, não haverá debate algum.

Esta questão da TTT não devia ser fracturante, mas aglutinadora. O debate não devia ser imposto pelos cidadãos, mas antes fruto de uma pré-disposição natural dos decisores.

Basta de cidade mal planeada. Basta de uma cidade feita de erros, uns atrás dos outros: infraestruturais, urbanísticos, ambientais. Basta de maltratarem as nossas vistas. Basta de desbaratarem o que nos deixaram de bom, e que é pouco, muito pouco.

Em pleno Séc. XXI, continuam a tratar os portugueses como patós. No fundo, no fundo, os decisores continuam iguaizinhos, e o ditado a manter-se: 'tudo como dantes, quartel-general em Abrantes'. Não aprendem, mesmo.

Será de esperar alguma coisa da reunião de hoje de CML?


(*) In Sol Online

sábado, abril 12, 2008

HOJE, na Av. de Roma, algumas pessoas comentavam, alarmadas, uma nova realidade de que eu ainda não me apercebi, mas que me apresso a saudar: dizem que a polícia começou a combater o estacionamento selvagem fazendo como nas autoestradas: fotografando os carros em infracção e enviando as multas para casa.
Pelos vistos, esqueceram-se de informar estes jeitosos...
NOTA: esta foto, semelhante a CENTENAS de outras que eu tenho em arquivo (por vezes os carros até são os mesmos!), é desta manhã.

sexta-feira, abril 11, 2008

Verdadeira Ficção Científica...

O QUE AQUI SE VÊ é apenas uma amostra da falta de cuidado (então não há revisores?!) com que foi feita uma folha de apresentação de uma interessantíssima exposição.
Pergunta-se: que exposição é essa?
*
Haverá um prémio para o primeiro leitor que der a resposta certa: será, por associação de ideias..., um livro de ficção científica.
Enquanto esse momento não chega, serão fornecidas dicas, sob a forma de outras gralhas, nomes dos patrocinadores, etc.
*
Actualização: a resposta certa foi dada pot J. J. Leiria e o prémio já lhe foi enviado.

O EXTRATERRESTRE

Imagino o dia em que Portugal venha a ser visitado por extraterrestres de galáxias e realidades distantes. E que, na tentativa de compreender um pouco a natureza dos habitantes do planeta que pretendam invadir, os extraterrestres procurem estabelecer um diálogo esclarecedor com um cidadão português sobre os grandes temas da actualidade.

- O que é “apito dourado”?
- É uma escândalo de corrupção de árbitros que envolve o FC Porto, um dos melhores clubes de futebol de Portugal.
- Portanto um dos melhores clubes de Portugal precisa de corromper os árbitros para perder jogos?
- O futebol é mais complicado do que pensas, marciano.
- O que é “telemóvel”?
- Telemóvel é um aparelho electrónico que facilita a comunicação entre os humanos.
- E “Carolina Michaelis”?
- É uma escola do Porto. Estiveste a ver o You Tube...
- “Escola”?
- Onde se vai para aprender a ler, escrever, pensar, comunicar...
- E quando o telemóvel fica sem bateria?
- Nessa altura, professores e alunos têm de improvisar.
- O que é “ponte Chelas-Barreiro”?
- “Ponte” é uma estrutura de engenharia que permite atravessar de uma margem do rio para a outra. “Chelas-Barreiro” é...
- Lisboa quer atravessar o rio?
- Sim, por causa do novo aeroporto de Alcochete.
- O que é “aeroporto”?
- Aeroporto é onde aterram aviões.
- Aviões que passam pela ponte?
- Não, os aviões não precisam de ponte. Mas Lisboa precisa de um novo aeroporto...
- Lisboa tem muita gente?
- Nem por isso, são cerca de 500 mil habitantes...
- Portanto, a ponte e o aeroporto é para trazer mais gente para Lisboa?
- Não só. É também para o Barreiro não ficar tão isolado.
- “Barreiro”?
- É uma cidade na margem sul do Tejo.
- O Barreiro quer vir para Lisboa?
- Não. O Barreiro quer ficar no Barreiro.
- Portanto Lisboa vai ter uma ponte que não precisa para ligar a um aeroporto que não faz falta e o Barreiro quer ficar no Barreiro?
- Deixa-me explicar. A ponte também vai servir o comboio TGV que vem do Porto para Lisboa em duas horas e para Madrid num instantinho.
- Portanto, quem vive na margem sul e quiser vir trabalhar para Lisboa vem de TGV?
- Não, esses têm de travessar a Ponte 25 de Abril todos os dias...
- Quanto tempo demoram?
- Às vezes demoram duas horas...
- O Porto é margem sul?
- Não, isso é Porto Brandão.



Miguel Somsen

In Metro

O vídeo da nova ponte ...

http://static.publico.clix.pt/docs/local/novaponte/index.html


Ena, tão pequenina, tão longe das vistas; credo, que exagero as reacções ... Alguém consegue descortinar a largura dos tabuleiros? E os pilares, serão transparentes? E as rodovias, a entrar e a desenvolver-se cidade adentro? E os nós viários? Parece-me que o vídeo diz respeito a uma ponte para formigas...

quinta-feira, abril 10, 2008

Passadeira junto à Casa da Música no Porto
(Isabel G)

Objectividade

A administração participada permite evitar, não todos, mas pelo menos muitos erros e omissões.

A quem tem poder de decisão exige-se objectividade e que se tome as decisões longe de paixões pessoais e políticas, servindo da melhor forma o bem comum. O processo de decisão tem de ser frio e justo. Tanto quanto deve ser apaixonada a luta por causas. E deve ser participado.


Quando o primeiro-ministro anunciou para o aeroporto a solução Alcochete, fez acompanhar esse anúncio de um outro: o da ponte Chelas-Barreiro.


Tive a oportunidade de manifestar estranheza por este curioso duplo anúncio e muita preocupação por Lisboa.


Anunciada também, mas não no seu recorte concreto (designadamente institucional), foi a questão da chamada frente ribeirinha de Lisboa, mas esta pode, ao contrário da ponte, ser uma oportunidade.


Embora anunciados, nem todos os órgãos autárquicos em Lisboa foram ouvidos sobre os projectos em causa. A administração participada permite evitar, não todos, mas pelo menos muitos erros e omissões.


Quanto à ponte Chelas-Barreiro não enjeitarei obviar a que se torne um facto consumado: os dados e elementos disponíveis evidenciam lesões que vão da qualidade de vida ao ambiente ou à descaracterização de parte da cidade.


Quanto à frente ribeirinha há muito por explicar aos lisboetas. Espera-se que não haja a tentação de recorrer a planos especiais para furtar a discussão à cidade. Espera-se que não ocorram precipitadas desafectações do domínio público.


Espera-se que o uso do espaço e o modelo de gestão sejam prévia e exaustivamente conhecidos após o necessário debate na cidade: e em nenhuma circunstância tem de haver conformismo com soluções que estão por justificar. Só para citar algumas, o terminal de cruzeiros em Santa Apolónia, novos parques de estacionamento subterrâneos (Campo das Cebolas, Largo do Corpo Santo), uma via em túnel...


A ocupação da zona de Chelas em função da localização da ponte em simultâneo com a Frente Tejo habilitam um fortíssimo impacto na cidade que não se pode dar ao luxo da descaracterização, nem pode ver agravada a falta de ordenamento que a tem caracterizado.


Os processos de tomada de decisões que são depois confirmados por estudos que lhes deviam ser prévios ou, dito de forma mais directa, situações que antes de o ser já o eram, só por sorte correspondem aos interesses das comunidades. E a sorte deve ter muito pouco a ver com questões desta natureza.




Paula Teixeira da Cruz





In Correio da Manhã

quarta-feira, abril 09, 2008

Análise comparativa do impacte paisagistico da localização da terceira travessia do Tejo nos corredores Chelas- Barreiro e Beato-Montijo.

1. Razão de Ordem


O presente capítulo estuda o impacte paisagístico dos dois corredores alternativos para a implantação da nova ponte, sobre a parte do estuário onde o Tejo passa entre Barreiro, Almada e Lisboa. Para este estudo comparativo, considera-se a paisagem Lisboa/Almada/Tejo através da análise do sistema de vistas constituído pela superfície de água que é vista das margens e pelas áreas de cidade donde se vê a parte do estuário do Tejo afectado por qualquer um dos corredores. Considera-se assim a área em estudo como o estreitamento da desembocadura Lisboa-Almada-Trafaria e o alargamento do Tejo que a partir do aeroporto do Montijo se define em frente de Lisboa,. do Barreiro e de Almada.

Fig. 1. (ver aqui)

Para efeitos deste estudo apresentam-se as regras internacionais que definem parâmetros de análise de paisagens culturais e as definições municipais do PDM de Lisboa que incluem a definição e localização do sistema de vistas de Lisboa.

É também feita a revisão da bibliografia relativa à quantificação do valor panorâmico de uma área e do valor intrínseco de uma paisagem e são analisados como precedente o relatório da “Comissão de Sábios” que acompanhou o projecto do elevador Borratem-Castelo de S. Jorge em 2001. A metodologia de quantificação das vistas é aplicada em parte ao caso em estudo e o estudo comparativo de impacte dos dois corredores é apresentado em quadro comparativo do mais importante alinhamento de vistas, decorrendo dele as recomendações da equipa.



2. Regras de classificação e protecção de paisagens e sistema de vistas

2.1. Paisagens culturais: definição e critérios de avaliação da Convenção do Património Mundial (UNESCO)

A identificação do objecto.em estudo é o primeiro passo desta análise e será abordada de acordo com os procedimentos do património mundial (UNESCO) identificando-se esta área do estuário do Tejo como uma paisagem cultural (art.º 47 das Orientations devant guider la mise en oeuvre de la convention du patrimoine mondial) que entra na classificação (V) por se inscrever na seguinte definição: “Ser um exemplo eminente do estabelecimento humano tradicional da utilização tradicional do território ou do mar, que seja representativo de uma cultura (ou culturas) ou da interacção humana com o ambiente, especialmente quando este se tornou vulnerável sob o impacte de uma mutação irreversivel”; e também se insere na classificação (VII) “Representar fenómenos naturais significativos ou sítios de uma beleza natural e de uma importancia estética excepcionais”. Estas classes de paisagens culturais são avaliadas por três parâmetros: integridade, autenticidade e raridade.

Fig. 2.1. (ver aqui)

A paisagem cultural em análise pode ser inscrita nestas duas classificações por se tratar de uma paisagem onde o estabelecimento humano é milenar e ainda porque a interacção humana com o ambiente se encontra ameaçado por uma mutação irreversivel: a construção de uma ponte que secciona esta paisagem.

Esta área do estuário do Tejo representa também um fenómeno natural excepcional, apresentado por Orlando Ribeiro na década de 50 e a partir de cujos trabalhos de geografia, José Augusto França sintetiza: “Lisboa nasceu do rio, do largo estuário do Tejo que nos princípios do Quaternário se sabe estar unida ao Sado na grande depressão hispano-lusitânica” na qual emergia como uma ilha a serra da Arrábida.” [1] Por esta razão a superfície de água no Mar da Palha é muito mais largo (10km até ao Seixal) que o afunilamento entre Almada e Lisboa com cerca de 1,5 kms apenas, pois este corresponde ao antigo golfo marinho que rompeu ligando-se ao estuário e criando uma situação única de porto marítimo e fluvial, protegido e com acesso natural ao mar. A este fenómeno geológico único, associa-se uma beleza natural inquestionável, cuja excepcional importância estética se pretende aqui analisar e defender.

Como já se mencionou, de acordo com as regras de classificação de paisagem cultural da Unesco, os factores de valorização são a integridade, a autenticidade e a raridade. O aprofundamento da aplicação destes parâmetros não será apresentado neste estudo, podendo com facilidade ser feito em desenvolvimentos posteriores, visto que não é indispensável para se alcançar as conclusões naturais. No entanto, numa primeira análise, o estuário do Tejo encontra-se praticamente. íntegro (tendo presente as lesões de que foi sendo alvo desde o processo de industrialização iniciado na segunda metade do Século XIX) como ecossistema e a relação das populações das suas margens com os movimentos dinâmicos da água do rio em permanente descida, e da água do mar subindo o rio, em movimento pendular de marés, mantém-se em equilíbrio, cumprindo o critério da integridade

A autenticidade da paisagem como estuário foi mantida apesar das alterações impostas nas suas margens para adaptação às actividades humanas. O rio como via de navegação milenar e os movimentos das populações sobre o rio fazem parte deste equilíbrio.

A raridade das formas topográficas é inquestionável: as margens não formam planícies de leito de cheia como seria de esperar num rio antigo com uma enorme bacia hidrográfica, mas pelo contrário, a superfície de água tem uma interface com colinas de cerca de 100 metros em Lisboa e Almada, expostas ao rio e criando mais uma excepcionalidade, pois este alarga em frente destas cidades com uma superficie de água com cerca de 7000 ha. As gravuras antigas (do seculo VII ao seculo XIX) que registam Lisboa, nunca esquecem esta trilogia: o Tejo com uma largura excepcional, as colinas e a intensa utilização do plano de água por embarcações. Neste trio lisboeta, o estuário tem o papel principal e mais parece que uma parte de cidade flutua em caravelas e outras e variadas embarcações sobre o rio.


2.2. As regras europeias relativas à protecção das Paisagens

Estas regras estão especialmente consignadas na Convenção Europeia da Paisagem (Florença 2000) e os compromissos assumidos por cada Estado Membro, nomeadamente Portugal através do Dec nº 4/2005, permitem apresentar para defesa das paisagens as “Medidas Gerais” nos seguintes termos:
1-Reconhecer juridicamente a paisagem como uma componente essencial do ambiente humano, uma expressão da diversidade do seu património comum cultural e natural e base da sua identidade.
2- Estabelecer e aplicar políticas de paisagem visando a protecção, a gestão e o ordenamento da paisagem, através de medidas específicas estabelecidas no art. 6.
3- Estabelecer procedimentos para a participação pública, das autoridades locais e das autoridades regionais e de outros intervenientes interessados na definição e implementação das polítida da paisagem mencionadas na alinea b) anterior.
4- Integrar a paisagem nas suas políticas de ordenamento do território e de urbanismo e nas suas políticas cultural, ambiental, agrícola, social e económica, bem como em quaisquer outras políticas com eventual impacto directo na paisagem.

O estuário do Tejo, na sua relação directa com Lisboa, Almada e as cidades instaladas nas suas margens, constitui uma paisagem de enorme qualidade paisagística e muito alto valor ecológico, devendo por tal ser integrada no ponto 1 das Medidas Gerais da Convenção da Paisagem. O presente estudo insere-se na medida nº2 pois inclui a paisagem nos critérios de avaliação comparada dos dois corredores, como componente da decisão e abre caminho para o estabelecimento de políticas de paisagem que visem a sua protecção através de medidas específicas. É urgente, e apesar de evidente ainda não foi apresentada, a classificação do estuário do Tejo e das suas margens habitadas como paisagem excepcional, de acordo com a Convenção da Paisagem.

A necessidade de estabelecer procedimentos para a participação pública conforma o nº3 das medidas gerais é também premente e no caso em estudo deveriam ser implementados com urgência alguns mecanismos de medição da opinião pública.


2.3. O sistema de vistas do PDM de Lisboa

As componentes ambientais urbanas consideradas no artigo 17º do Cap. I do PDM (1994) de Lisboa incluem o sistema de vistas Dessas são relevantes para o caso de estudo as seguintes inseridos no ARTIGO 23º (Sistema de Vistas)

a) Pontos Dominantes – são Sistemas de Vistas que se apoiam em sítios especialmente destacados pela fisiografia da Cidade, caracterizados pelas Vistas Panorâmicas mais amplas, abrangendo sectores especialmente importantes da paisagem urbana – (…), Castelo de São Jorge, Alto do Parque Eduardo VII, (…), cumeada de Monsanto, (…), cumeada de Chelas/Olivais.
d) Frente Ribeirinha – é um Sistema de Vistas que se apoia nas encostas das colinas ribeirinhas, caracterizado por panorâmicas relacionadas com o Estuário do Tejo. Este sistema divide-se nos seguintes sectores:

Existe também uma regulamentação específica incidindo sobre os espaços públicos que estabelece no art. 22º do PDM a seguinte regra: (Espaços Públicos Ribeirinhos)



3. Não é permitida a obstrução de vistas entre os Espaços Públicos Ribeirinhos e o Rio.

Para a análise da qualidade visual do estuário do Tejo recorre-se aos conceitos estabelecidos no sistema de vistas do PDM e à sua georeferenciação em pontos ou linhas de vistas panorâmicas, como o festo do cimo do Parque Eduardo VII, em pontos patrimoniais de grande afluência da população como o Castelo de S. Jorge e em áreas de encosta com exposição privada (janelas e terraços) e pública (ruas, largos e miradouros) que serão apresentados na metodologia.

Do sistema de vistas do PDM é identificada uma vasta lista de pontos e áreas de valor cénico dos quais seleccionamos aqueles que se inserem na análise de vistas da área do estuário em estudo que designamos “plano de água de incidência de vistas”:

Assim, o sistema de vistas é constituído pelos pontos, linhas ou áreas que usufruem das vistas e pelo objecto observado, o plano de água de incidência de vistas. O valor deste binómio depende do valor autónomo de cada um dos elementos acrescido de um índice de frequência normalmente associado a monumentos.


3. Revisão bibliográfica e precedentes

Da análise de opiniões inseridas nos estudos de avaliação, no capítulo de análise da paisagem do objecto em estudo surgem valorizações não quantificadas do plano de água de incidência das vistas. Expressa pela BPG Atkins, no “Estudo Integrado de Avaliação Preliminar da Terceira Travessia do Tejo no corredor Chelas Barreiro”, lê-se a seguinte opinião: “a extraordinária qualidade paisagística da frente ribeirinha do Tejo, associada à relação visual do Barreiro com Lisboa, poderá vir a constituir-se como um enorme valor urbano, desde que...” “contudo, poderá também, pela sua extensão e localização, constituir um factor de corte visual da unidade de uma vasta região que constitui o estuário, numa zona de grande valor cénico, que é o Mar da Palha”.

Câncio Martins, citando o mesmo relatório da Atkins, sublinha que o corredor Chelas Barreiro “constitui um impacte negativo de elevada magnitude na paisagem central do estuário” (pág. 3).

Parece ser util referir aqui uma situação que pode constituir um precedente para o caso em discussão, que se refere à experiência vivida em 2001 pela autarquia de Lisboa aquando do projecto para a ligação da Baixa ao Castelo. A participação pública não estava prevista neste processo de decisão. Mas a análise do impacte visual do projecto apresentado em maquete numa Exposição nos Paços do Conselho, levou a uma reacção da população que constituí matéria de estudo quanto ao impacte paisagísticao da obra sobre a imagem colectiva e muito valorizada da colina do Castelo de S. Jorge. A “Comissão de Sábios”, denominada Comissão Independente de Avaliação, da qual a autora fez parte, analisou a reacção espontânea da população que expressou a sua opinião através de correio electrónico, de registo no livro da exposição e de artigos nos jornais. O Prof. José Augusto França, que presidia à citada Comissão apresentou os resultados desta participação publica espontânea nos seguintes termos:
“O levantamento de cerca de 1050 opiniões lidas no livro, entre 2 e 21 de Fevereiro, realizado por José Augusto França, contou com cerca de 640 opiniões desfavoráveis (…) e cerca de 320 opiniões favoráveis (…), além de 100 opiniões estranhas ao assunto, indecisas ou confusas. Cerca de 65% das opiniões obtidas por esta via revelaram-se, assim, negativas (…).

O levantamento realizado por Paula Marques do correio electrónico, até 21 de Fevereiro, no total de cerca de 1520 unidades (…) com percentagem negativa de cerca de 75% (…).

O levantamento das numerosas, mas dificilmente contabilizáveis, opiniões registadas pela imprensa, entre 18 de Janeiro e 22 de Fevereiro, em peças de índole muito variada, da simples informação, com ou sem comentário, anónimo ou não, de cartas de leitores ou de opinião mais assente em inquéritos de perguntas (como o conduzido regularmente pelo “Diário de Notícias” ou no “Jornal de Letras” de 21 de Fevereiro, endereçado a autores mais especializados, ou em artigos mais substanciais, revela uma maioria amplamente desfavorável.

A análise sucintamente realizada por José Augusto França, (…) levou a seleccionar posições opostas de figuras especialmente representativas em vários sectores da sociedade, que parecem dever ser qualitativamente consideradas. (…)”

Parece evidente que para permitir uma participação pública na decisão sobre a localização do corredor da terceira travessia do Tejo, é viável criar sistemas de recolha de opinião pública eficazes e rápidos a partir de simulações do impacte dos dois corredores que poderiam ser concretizadas. Sondagens, inquéritos ou linha aberta por mail, permitiriam uma avaliação da opinião pública, que recorda ser recomendada na Carta Europeia da Paisagem e estar prevista no PDM de Lisboa.


4. Valor da paisagem designada por plano de água de incidência das vistas. Quantificação do desfrute da paisagem, metodos e procedimentos

Segundo Carl Steinitz, há seis questões que têm que ser respondidas em qualquer problema de projecto (design, alteração, mudança, planeamento) que se centre no aspecto visual. Os métodos de análise da qualidade visual da paisagem de parte do estuário do Tejo que vai sofrer mutações segue este procedimento em seis etapas que se apresentam num grau de complexidade crescente
§ Como descrever a paisagem visual ?(espaço, cor, dados quantificados, significado)
§ Como funciona a percepção que se tem da paisagem ?(percepção parada ou em movimento, a memoria desta percepção , etc... )
§ Avaliar de que forma a paisagem e a sua percepção estão a funcionar bem, sendo que esta é uma avaliação cultural que difere de cultura para cultura.
§ Como é que a paisagem pode mudar? Identificação de alterações possiveis. A paisagem está em análise com vista a protegê-la ou a mudá-la.
§ Partindo do princípio que existem opções como se avalia se uma alternativa é melhor que a outra? São necessários registos, desenhos, simulações, quantificações das diferenças previsíveis que poderão ser causadas pelas alterações.
§ Qual das opções tomar: o que deve ser mudadoou protegido sendo esta a a decisão do projecto, que compete ao decisor..

A metodologia aplicada para identificar a solução com menos impacte negativo adaptou-se a esta sequência sendo necessário explicitar que se optou por um unico exemplo, sendo normalmente necessários mais aplicações..
3.1. Inicia-se assim com a descrição da paisagem constituída pela superficie de Tejo na área de incidência das vistas a partir das cidades que a envolvem, cujo total de população ascende a cerca de 770 000 habitantes: Lisboa, Almada, Barreiro e Seixal.



Fig. 4.1. 1 (ver aqui)

Os parâmetros que entram na descrição do sistema de vistas são, em primeiro lugar, o objecto observado (o plano de água onde temos a incidência de vistas), depois, as áreas e pontos donde o objecto é observado, e ainda a frequência das observações nessas áreas e pontos.

O objecto observado é uma parte da desembocadura do Tejo (cerca de 7000 ha), em interface recortada com as suas margens, a sua ocupação por cidades em planície e um plano de fundo que se eleva até ao castelo de Palmela a nascente e se estende para poente formado pelo volume da Serra da Arrábida, limitado pela sua linha de cumeada.

Para identificar os pontos de vista e sabendo que será necessário descrevê-lo para todo o estuário, considerou-se a cidade de Lisboa em termos topográficos, trabalhando sobre o modelo digital de terreno (curvas de nível:10m). A linha de interface entre a cidade e o rio (plano de água onde temos a incidência de vistas) descreve um arco de círculo e a cidade é marcada por um festo principal, sua espinha dorsal, que a divide em duas partes bem distintas: a cidade a partir da qual se obtém de forma irregular uma relação visual com o rio, e a cidade que fica para trás do festo e perde esta relação.

Traçou-se o festo principal da cidade de forma a identificar a parte de Lisboa “virada para o rio”, ou seja as áreas de exposição média Sul, Sudeste e Este, abaixo da linha de festo, considerando-se estas as áreas sobre as quais se aplica a metodologia e que contêm os pontos de vista também assinalados no sistema de vistas do PDM.

(ver aqui)
Fig. 4.1.2. Áreas de encosta de Lisboa com vistas para o Estuário:

§ Área S com 5 freguesias (≈1430 ha) e ≈56.000 habitantes. Exposição Sul.
§ Área SE com 34 freguesias (≈1400 ha) e ≈165.000 habitantes. Exposição Sudoeste.
§ Área E com 7 freguesias (≈2070 ha) e ≈120.000 habitantes. Exposição Este.

Estas áreas correspondem aos conjuntos de freguesias que foram sobrepostas à carta topográfica e agrupadas por conjuntos de exposições médias.

Identificaram-se, assim, em cada conjunto o total de habitantes sendo eles quem, de forma privada ou pública, gozam destas vista. São cerca de 340 mil habitantes nas encostas viradas para o rio. (Quadro 1)


Quadro 1 - Áreas e números de habitantes de encosta de Lisboa com vistas para o Estuário
(ver aqui)

Não sendo possível neste momento, por falta de meios e de tempo, aplicar esta metodologia às 4 cidades da margem, considerou-se só a parte da cidade de Lisboa com maior densidade de população e a exposição Sudeste sobre a qual a construção da ponte terá maior impacte.


4.1.3. (ver aqui)

4.1.4. Síntese do funcionamento da paisagem (análise de vistas).
O funcionamento das vistas é composto pelo binómio Objecto visto e ponto donde é visto. O corte da cidade de Lisboa obtido a partir de dados topográficos digitais apresenta os pontos mais altos e mais baixos por onde se estendem os limites das áreas que “vêm” o Tejo. Como a paisagem é vista e é em si sitio de vista foram obtidas imagens a partir do plano de água Cacilheiro e Cacilhas para melhor se limitar o objecto em estudo.


4.2. Foi escolhido um alinhamento de vistas desde o ponto mais alto ao ponto mais baixo de uma das encostas viradas para o rio e identificou-se o conjunto mais significativo do sistema de vistas do PDM para aplicar os ângulos de visão2 sobre o estuário.
Assim a partir dos pontos de vista do Parque Eduardo VII, Castelo e Terreiro do Paço e devido à topografia de Lisboa,o funcionamento da tomada de vista da paisagem do rio é o seguinte:

1-o angulo de visão sobre o estuário, dos pontos mais afastados do rio e sobre o festo (Parque Eduardo VII) é de 60º
2- o ângulos de visão do Castelo por se aproximar do rio, aumenta para 120º
3- devido à linha convexa formada pela interface Lisboa-Tejo, o angulo de visão de toda a linha de frente rio à cota da água é de 180º
Fig. 4.2.1 (ver aqui)


[1] Steinitz, Carl, alternative futures ????


4.3. Avaliar de que forma a paisagem e a sua percepção estão a funcionar bem

Do ponto de vista da análise visual os usos actuais destas encostas dividem-se em públicos (ruas, largos e miradouros) e privados (janelas varandas e terraços).
Se o ponto de vista for privado, consideram-se áreas consolidadas, de exposição sobre o estuário e a desembocadura do Tejo e contabiliza-se a população que habita nestas encostas. Apesar de nem toda a população ter vista a partir da sua janela privada, o rio é visto a partir das ruas, dos largos e miradouros constituindo-se como um elemento de grande importância na qualidade destes bairros. Trata-se de uma estimativa grosseira que no caso da topografia de Lisboa oferece grandes surpresas pois o rio aparece em muitos enfiamentos do espaço publico e constitui uma presença permanente.

Fig. 4.3.1. (ver aqui)

Falta também contabilizar a população que trabalha nestas áreas (por exemplo no Chiado), e que acede ou regressa do trabalho através de ruas que têm vistas para o Tejo ou que usam largos ou terraços com vista.

Um outro indicador que pode ser utilizado para a quantificação do valor das vistas é a validade que é dada a uma paisagem pela mão de um artista. O caso mais paradigmático é a montanha St Victoire perto de Aix en Provence, pintada por Cézanne, que levou a uma regulamentação dos pontos de vista que o pintor eternizou nas suas telas e de toda a paisagem que deles se desfruta num ângulo de 65º. No caso de Lisboa pintores como Botelho, Maluda, Nikias Skapinakis (Fig. 3.6.) eternizaram a vista infinita sobre o Tejo valorizando-a. Este valor deverá também ser incluído na apreciação do valor da paisagem. O skyline de Toledo deverá vir a ser matéria de regulamentação pois os milhares de turistas que o visitam como cidade requerem que as imagens das telas de El Greco possam ser apreciadas na imagem da própria cidade, património mundial.

Fig. 4.3.2 – Quadros de Maluda (ver aqui)


4.4. Identificação de alterações possíveis.

A alteração ao estuário surge pelo seccionamento que qualquer travessia do Tejo lhe possa vir a incutir. A alteração infligida pelo corredor Chelas Barreiro é recente quando comparada com a longa historia da alteração imposta pelo corredor alternativo Beato-Montijo que surge no “ano de 1890 feita por uma empresa alemã, que propunha a ligação entre a zona do Beato, do lado de Lisboa, e o Montijo. Esta ideia teve bastante aceitação por parte da opinião pública”[2]. Duarte Pacheco retoma esta localização abrindo concurso em 1934, que não teve resultados concretos É de registar, assim, a ideia da aceitação pública do corredor Beato Montijo e sobretudo a validação que lhe é dada pelos diferentes engenheiros nas diferentes épocas.
Fig. 4.4.1 Corredores Chelas–Barreiro e Beato–Montijo.

Serão muito profundas as alterações previstas à imagem do estuário por via da construção de uma ponte sujeita às regras de APL[3], nomeadamente no traçado inicial da terceira travessia do Tejo e para vencer o Canal Norte. Para isso seria necessário criar um vão com 900 metros, obrigando pilares junto à margem de Lisboa com cerca de 200m e um gabarito 60 metros, sendo as restantes restrições decorrentes de:

a) Canal Samora____vão________250 metros
gabarito_____41 metros

b) Canal Sul_______vão________550 metros
_______gabarito____58.5 metros

Em alternativa, a APL sugere um traçado 1500 m a montante docom exigências inferiores quanto ao vão e à altura dos pilares da ponte.
a) Canal Norte______vão________450 metros
______gabarito____41 metros

b) Canal Sul________vão________250 metros
_________gabarito____30 metros

A forma, altura e extensão da ponte Chelas Barreiro são assim analisados como elemento de alteração ao plano de água de incidência de vistas. Para esta análise recorreu-se aos dados iniciais ( Março 2007 ???) existentes do projecto da ponte Chelas Barreiro. Estes dados ficavam condicionados às exigências estabelecidas pela APL para os valores mínimos do vão e gabarito acima descritos. Foram identificados pontos de vista ao longo de todo o estuário, Almada, Seixal. Barreiro e Lisboa e foram simulados os efeitos de corte no estuário da ponte Chelas Barreiro (ver Anexos).


3.5 Registo (desenho, simulação, quantificação ) das diferenças previsíveis que poderão ser causadas nas vistas para o estuário.

As diferenças previsíveis que poderão ser causadas nas vistas para o estuário a partir de vários pontos das cidades e não só de Lisboa, foram montadas com a informação disponível sobre o projecto da ponte no corredor Chelas Barreiro e são da responsabilidade do Eng. José Almada ( Anexos)

A partir destas simulações e com vista à participação publica poderia ser feita uma análise de preferências, sendo possível através de inquéritos públicos eficazes, informar a decisão superior
Face a estas alterações da vista do estuário e da perda do sentido de profundidade ou mesmo infinito empiricamente podemos afirmar .que o impacte mais forte é criado pelo conjunto de pilares com cerca de 200m de altura, muito próximos do Castelo de S. Jorge e da Graça cuja encosta ficará reduzida ou visualmente “esmagada” pela ponte atingindo-se por isto a imagem de marca de Lisboa: Tejo, Castelo e profundidade de vistas.
Julgamos também que esta alteração é tão drástica que a população deverá ser ouvida.


4.6 Estudo de alternativa(s) cuja modificação reduza os danos.

O estudo alternativo proposto para o corredor Beato Montijo não tem projecto que possa ser simulado para comparação, reconhecendo-se no entanto que a 1500m a montante as exigências da APL se reduzem, permitindo vãos e pilares de dimensões menores e com consequente impacte visual inferior.
ANGULO DE 24º basta para reduzir o impacte
O quadro comparativo do impacte visual constituído pelos corredores alternativos é apresentado para uma única linha de vistas. O mesmo procedimento pode ser aplicado a outros alinhamentos de vistas (ver anexos) de importância pública ou patrimonial.


Quadro 2 – Comparação da interferência dos 2 corredores alternativos da TTT sobre o estuário do Tejo (ver aqui)


24º
Fig. 4.6.1 Parque Eduardo VII



24º
Fig. 4.6.2 Castelo de S. Jorge


24º
Fig. 4.6.3 Terreiro do Paço

(ver aqui)

O quadro comparativo aplicado a este alinhamento de vistas, o mais frequentado por ser público e patrimonial, permite identificar uma vantagem significativa do corredor Beato-Montijo relativamente a todos os parâmetros em estudo:

Com o alinhamento Beato-Montijo o estuário é cortado em menos 1700 ha do que com o alinhamento Chelas–Barreiro e a linha de corte do estuário tem menos 1,4 km. A partir dos 3 pontos de vista escolhidos, o ângulo de visão sobre o estuário é obstruído pela ponte Chelas–Barreiro em grandes extensões e graças aos 24º de rotação da ponte Beato–Montijo o ângulo de visão, mesmo o mais desfavorável a partir do Terreiro do Paço, inclui a ponte só em metade da sua extensão e a uma maior distância que a ponte Chelas–Barreiro.

Este método permite apresentar resultados os quais deverão ser reforçados por maior numero de aplicações em Lisboa e nas outras cidades.


5. Conclusões

1-Considerando a paisagem constituida pelo sistema estuário, encostas e margens como uma paisagem de excepcional valor para as populações das cidades que se construiram nas suas margens Almada, Barreiro, Lisboa e Seixal;

2- Considerando que a população residente que goza directa e quotidianamente dessa superficie de água de 7000 ha ascende a 770 000, sendo de abranger ainda a populaçao que se desloca na e para a zona em trabalho ou em lazer;

3- Considerando que a paisagem do rio é objecto de apreciação estética a partir de alguns dos monumentos mais visitados do país, como o Castelo de S. Jorge, e de miradouros de grande afluência, como St. Luzia, o valor turístico da importância estética desta vista aumenta em função da densidade da população, da frequência de visitantes nacionais e estrangeiros;

4- Considerando que o valor dessa paisagem deve manter-se máximo, e que qualquer alteração nessa paisagem deve ser reduzida ao mínimo e deve sujeitar-se a um escrutínio publico, seja directo ou por amostragem;

5- Comparativamente o corredor Chelas Barreiro corta o “Mar da Palha” retirando-lhe mais 1700 ha de área de incidência visual relativamente ao corredor Beato Montijo ou seja um terço da área de estuário analisada desaparece ocultada por uma sucessão de pilares com cerca de 40m de altura de qualquer angulo de visão, a partir das 4 cidades.



6. Bibliografia

§ Castel-Branco, Cristina; Le Rivage Méditerranéen des Pyrénés; ICOMOS-UNESCO ; 15 Outubro, 2006.
§ Dramstad, Wenche E.; Olson, James D.; Forman, Richard T.T.; - Landscape Ecology Principles in Landscape Architecture and Land-Use Planning. Island Press, 1996. ISBN 1-55963-514-2
§ Fabos, Julius Gy. - Land-Use Planning from Global to Local Challenge. Chapman and Hall. New York, 1985. ISBN 0-412-25200-7
§ Hough, Michael. - Cities and Natural Process. Routeledge, 1995. ISBN 0-415-12168-X
§ Lynch, Kevin – The image of the city. The M.I.T Press. U.S.A. 1960. ISBN 0-262-12004-6
§ Platt, Rutherford H.; Rowntree, Rowan A.; Muick., Pamela C. - The Ecological City – Preserving and Restoring Urban Biodiversity. The University of Massachusetts Press, Amherst. U.S.A. 1994. ISBN 0-87023-883-3
§ Santarém, the Lezírias and the Tagus – Cultural Landscape. Câmara Municipal de Santarém. Multitema. 2001
§ Simonds, John Ormsbee. Earthscape - A Manual of Environmental Planning. McGraw-Hill Book Company. New York, 1978. ISBN 0-07-057395-6
§ Simonds, John Ormsbee. Landscape Architecture – A Manual of Site Planning and Design. McGraw-Hill Book Company. 1983. ISBN 0-17-057448-0
§ White, K.N.; Bellinger, E.G.; Saul, A.J.; Symes, M.; Hendry, K. – Urban Waterside Regeneration – problems and prospects. Ellis Horwood Limited, Englan,1993. ISBN 0-13-928623-3
§ Steinitz, Carl; Toward a sustainable landscape with high visual preference and high ecological integrity: the loop road in Acadia National Park, U.S.A. In “Landscape and Urban Planning”. Volume 19, número 3, Junho 1990, pp. 213-250.
§ Steinitz, Carl; Simulating alternative policies for implementing the Massachusetts scenic and recreational rivers act: The North River demonstration project. In “Landscape and Planning”. Volume 6, número 1, Maio 1979, pp. 51-89.

[1] França JA, Lisboa: Urbanismo e arquitectura, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, ed. 1989
[2] www.wikipedia.org
[3] Elementos sobre a 3ª Travessia do Tejo – APL – Administração do Porto de Lisboa.2005



25 Fev. 2008.

Prof. Arq. Cristina Castel-Branco