domingo, outubro 31, 2010

Receita para a receita

Av. da República, em Lisboa, no mês do Centenário da dita
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TERMINADAS as negociações entre Eduardo Catroga e Teixeira dos Santos, este já foi dizendo que o acordo alcançado implica uma redução de receita - o que quer dizer que essa falta será corrigida da única forma que os governos conhecem: aumentando um imposto qualquer...

Mas aqui lhe deixo uma sugestão melhor: quando um dia encontrar o seu colega da Administração Interna, recorde-lhe que é ele, Rui Pereira, quem manda na PSP, pelo que talvez seja a pessoa indicada para pôr os agentes das Divisões de Trânsito, por esse país fora, a fazerem aquilo que se espera deles - é que uma semanita de trabalho (nem sequer demasiado cansativo) permitiria obter muito mais dinheiro do que aquele de que o Estado carece para controlar o défice.

Gatos de rua em Lisboa


Se me permitem, sei onde estão três gatinhos (lindos) de rua que dificilmente irão resistir a este inverno.
Se conhecerem alguém que queira dar um tecto a algum deles, ganhará um amig@!

sábado, outubro 30, 2010

A gloriosa malta do «depois»

25 Out 10

29 Out 10
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Em cima: outro aspecto da caleira propositadamente atulhada, na Rua das Portas de Santo Antão. Em baixo: pessoal da autarquia limpa a mesma caleira... depois das inundações (foto do «SOL» online).

sexta-feira, outubro 29, 2010

E ninguém vai preso...

SIC-N, noticiário das 18h
NEM DE propósito: a SIC-N acaba de mostrar imagens das caleiras - entupidas - já aqui referidas por várias vezes - inclusivamente no post anterior.

E quem nos livra do verdadeiro entulho?!

AS TELEVISÕES têm estado a dar imagens das inundações de hoje, em Lisboa, algumas delas da Rua das Portas de Santo Antão. É um bom pretexto para relembrar a imagem de cima (foto de 3 Ago 10), e completá-la com a de baixo (foto de 22 Out 10). Repare-se como "quem de direito" reparou a caleira: atulhando-a!
E - entre quem faz e quem deixa fazer - ninguém vai preso?!
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Alguém conhece um advogado que me ajude a processar os responsáveis por estas situações? Ou estaremos condenados, eternamente, a desabafar em jornais, rádios, TVs e blogues, sem que haja, verdadeiramente, a punição exemplar dessa gentinha?

Museu Nacional da Música

O Ministério da Cultura tem a vontade indómita de instalar o Museu da Música no Convento de S. Bento de Cástris, na Malagueira, próximo de Évora. Diz que as obras serão faseadas e durarão quatro anos. À primeira vista, trata-se de uma excelente notícia que junta o útil ao agradável: recuperação de património ao abandono e a saque, descentralização de um museu com estatuto de nacional.

Com efeito, este convento de origem cisterciense, que já albergou a Casa Pia e hoje está ao deus-dará, tem sido notícia de há anos a esta parte pelos roubos de que tem sido vítima; na linha, aliás, de centenas de outros tantos que contribuem de forma indelével não para o enriquecimento, valorização ou divulgação do nosso património, mas para que o país seja charneira no tráfico internacional de arte sacra, azulejos, etc. Houve quem durante esse tempo, sem sucesso, tivesse puxado pela cabeça para lhe dar destino condigno: hotel de luxo, centro de investigação da Universidade de Évora, etc.

Com efeito, também, o actual Museu da Música, que alberga «uma das mais ricas colecções instrumentais da Europa», além de espólio documental, fonográfico e iconográfico, numa colecção de 1.400 instrumentos musicais dos séculos XVI a XX, vindos, sobretudo, de antigas colecções privadas (Alfredo Keil, Carvalho Monteiro, etc.), precisa de sair da estação de metropolitano do Alto dos Moinhos, onde foi colocado em 1994, porque, pasme-se, não tinha casa. O Metro merece o nosso agradecimento mas o museu da música tem que estar em local apropriado, amplo, com alma e carisma, de fácil identificação e acesso e, se possível, implicando a recuperação de património ligado às artes, já não digo à musa Euterpe mas, porque não, a um teatro.

Assim chegamos à irmã daquela e ao arruinado Teatro Tália (1820), junto ao Zoo de Lisboa, teatro lírico de referência internacional até ao dia em que ardeu, em 1862, e de que nunca mais recuperou, apesar do estatuto de Imóvel de Interesse Público que lhe foi atribuído em 1974, e de fazer parte do conjunto apalaçado em que mora o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Durante 30 anos o Estado prometeu mundos e fundos mas nada cumpriu, até que neste Verão, inexplicavelmente, começou as obras de transformação do antigo teatro em anfiteatro/centro de congressos à guarda e programação daquele ministério, com projecto contemporâneo do Arq. Byrne.

A questão é: independentemente da boa intenção do MCTES, se ainda se for a tempo de alterar o projecto a decorrer no Tália, não fará mais sentido instalar aí o Museu da Música, na capital do país, em vez de o mandar para nenhures? E para o antigo convento, não haverá mesmo outra solução que permita o seu restauro e ocupação, à semelhança do que aconteceu a outros conventos, entretanto bem remodelados?



In Jornal de Notícias (28.10.2010)

Ah, grandes gestores!




NA IMAGEM de cima, Rodrigo (cartunista do Expresso) comenta as dificuldades financeiras dos transportes públicos. Nas duas seguintes, documenta-se uma situação habitual na Praça de Figueira, uma das zonas mais policiadas de Lisboa: uma escola de condução usa habitualmente uma das paragens da Carris como parque operacinoal), com as consequências evidentes para a circulação dos transportes públicos - mesmo no coração da capital. Finalmente, em baixo, uma notícia dá-nos conta de como os gestores da coisa pública resolvem este género de problemas.
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NOTA: as fotografias são do passado dia 20, e absolutamente semelhantes a outras já apresentadas há dois meses (do mesmo local e da mesma 'escola'). Para não atafulhar o blogue, omite-se uma dúzia de outras, tiradas na mesma tarde, que mostram a faixa BUS da Rua do Ouro a ser utilizada, de uma ponta à outra, por viaturas particulares e das mais variadas empresas (às 2 e às 3, de cada vez!), perante a mais completa inacção daqueles a quem os contribuintes pagam para que isso não suceda.

Visita Guiada à Exposição "Plano Verde - Estrutura Ecológica Municipal"


Esta visita será guiada pela Prof. Arquitecta Manuela Raposo Magalhães.

Esta exposição apresenta o conjunto dos princípios em que o Plano Verde assenta enquanto peça fundamental de planeamento urbanístico. A exposição inclui uma introdução ao Planeamento de Lisboa, a apresentação da Estrutura Ecológica Municipal, figura básica do Plano Verde, a exibição dos aspectos do Plano já realizados, ou em projecto, e a exploração das suas implicações em relação aos temas da biodiversidade e da protecção ambiental.

Visa, entre outros objectivos, a difusão das medidas e acções concretas propostas no Plano Verde, a divulgação e apreciação das implicações da estrutura ecológica urbana no planeamento da cidade, bem como, a sensibilização ambiental dos cidadãos, e em especial dos jovens, através da compreensão dos processos inerentes às medidas propostas nos vários domínios.

Data e Hora: 03 de Novembro de 2010 às 18h00

Local: Mercado de Santa Clara (mapa em anexo)

Inscrições: A participação é gratuita. Caso esteja interessado em participar, deverá enviar um e-mail para martapeixinho@lisboaenova.org (T: 21 8847010), com o nome, profissão, entidade e e-mail. A Lisboa E-Nova confirmará a sua inscrição.

Esta sessão é GRATUITA. Inscreva-se e apareça!

quinta-feira, outubro 28, 2010

Parte I e Parte II

A recandidatura do actual Presidente da República é uma necessidade imperiosa no meio do temporal que se abate sobre o País. Cavaco Silva será sempre uma voz de autoridade, de imparcialidade e de reconhecimento, assegurada em qualquer instância interna ou internacional.

As circunstâncias económicas e sociais estão a agravar-se e atingiram um estado que exigem um poder arbitral referencial, da ética à experiência, sem descurar um profundo sentido de Estado. E essas características, independentemente das características dos demais candidatos – é objectivo – só um candidato as reúne. A sobriedade que prometeu no lançamento da sua recandidatura – e que, verdade seja dita, sempre caracterizaram o Presidente – contrasta com estes tempos de deslumbramento, como o deveria ser a todos os níveis de poder (do político ao económico). Foi voz primeira a denunciar o "Monstro" e a alertar para o que nos poderia acontecer.

II. Como era evidente, Sócrates nunca quis que este Orçamento fosse viabilizado. O Orçamento era consabidamente, mais, propositadamente, mau. Quer numa perspectiva económico-financeira quer numa perspectiva técnica, com erros grosseiros nos seus pressupostos macroeconómicos, com efeitos devastadores na economia e "buracos" bem escondidos, como já aqui tive oportunidade de escrever. Um mau Orçamento é parte de uma estratégia mais vasta para tentar manter o poder: nenhum partido responsável o poderia viabilizar no estado em que foi apresentado (se o Orçamento é criminoso não se pode exigir a alguém que diga sim ou feche os olhos ao crime). Mas os maus efeitos (péssimos) do Orçamento podiam ser minimizados. Ora, isso nunca interessaria a Sócrates: a viabilização retirava-lhe os únicos trunfos que lhe restam – vitimização e fuga às suas responsabilidades governativas – e obrigava-o a conter as despesas absurdas de que a máquina que o apoia tanto precisa (daí não aceitar reduzir as receitas, isto é, os impostos, nem cortar nas despesas).

À Oposição cabia uma postura de responsabilidade: tentar minimizar os efeitos das consequências sobre as famílias e as empresas da falta de qualidade do Orçamento. Mas Sócrates consegue o que quer: a não viabilização de um documento que assim não terá de aplicar. O ponto é que o primeiro-ministro está obcecado consigo próprio e com o seu futuro e, portanto, o País e o interesse nacional são meros meios.




In Correio da Manhã

quarta-feira, outubro 27, 2010

Que formação tem esta gente?!

"Asseço" de analfabetismo na Rua de Entrecampos
Quem será o responsável pela obra e, portanto, por este cartão-de-visita?

A quem serve o interesse nacional?

A expressão "interesse nacional", muito em voga nos últimos tempos, é recuperada do discurso que marcou os anos salazaristas. Acontece que Salazar escrevia bem e assimilava melhor, leitor com mão profusa do Padre Vieira, o que melhora o estilo e ajuda os labirintos da metáfora. Os senhores que se servem, agora, da locução, nada sabem de metáforas, de Vieira, e muito menos das inclusões que tal alusão comporta e envolve. E, involuntariamente, são netos de Salazar. A árvore da língua exige a consciência de a saber afeiçoar às circunstâncias, neste caso políticas. A articulada ignorância que demonstram causa um cansaço interminável a quem é medianamente letrado.

Em nome do "interesse nacional", duas vistosas delegações (do PS e do PSD), procuram, no sigilo de enternecedoras conversas, salvar a pátria da derrocada. Os drs. Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga são criaturas estimáveis. Em épocas diferentes já tentaram dar sentido à vida portuguesa, e contribuir para a nossa felicidade, mas, lamentavelmente, tudo piorou depois das suas influências. Sempre em nome do "interesse nacional", têm mantido o statu quo, de que são crias e guardiães. As preocupações de ambos nada têm a ver com a renovação do presente. As reuniões apenas tentam dirimir a questão do poder. O conceito de "interesse nacional", na acepção mais nobre, implica a regulação dos laços sociais, e a capacidade de reformulação do sistema, a fim de se definir o que deve ser realizado. De contrário, é um conceito abstracto, porque dele é expulsa a população, permanentemente desrespeitada nos seus direitos e espoliada das suas prerrogativas fundamentais. O "interesse nacional" corresponde ao interesse de uma minoria, cuja natureza de classe (não receemos a noção) invadiu tanto o campo privado como o público. Não há identificação possível entre o tão declamado "interesse nacional" e aquilo que, directamente, diz respeito a todos nós. Nós pertencemos a outra história. À daqueles que pagam a factura pelos crimes que outros, impunemente, cometeram. Não sei muito bem qual o "interesse nacional" que os representantes dos dois partidos em conclave estão a defender, a preservar, a resguardar. A hegemonia do PS e do PSD é balizada por um conservadorismo absolutamente imoral porque gerador das mais atrozes desigualdades. Os drs. Catroga e Teixeira dos Santos não estão ali para reforçar o vínculo social dos portugueses, para melhorar a nossa vida. Estão ali com sentimentos de pacotilha, combinados na ideologia dominante, e cujos resultados estarão sempre esvaziados de substância, pelo carácter dos objectivos visados: manter o sistema a todo o custo. Sabemos o preço desse custo e a índole desse sistema.




In Diário de Notícias

terça-feira, outubro 26, 2010

Apontamentos de uma terra onde a auto-estima não abunda


AS FOTOS são da Praça da Figueira (a do meio) e da Rua das Portas de Santo Antão (as restantes). A situação do Pátio do Tronco (cada vez mais borrado, e de que hoje apenas se mostram 3 aspectos, para não entristecer...) é particularmente revoltante, tendo em conta o significado histórico do lugar: foi onde Camões esteve preso o que, aliás, foi devidamente assinalado, pela autarquia da cidade, em grandes painéis de azulejos lá colocados em 1992.

O facto de, no próprio Pátio, haver umas instalações da CML, não é só do âmbito da anedota: é um verdadeiro símbolo daquilo que muito bem sabe quem anda pela cidade - sem ser a bordo de carros oficiais, evidentemente.

segunda-feira, outubro 25, 2010

Todas as reformas têm sido boicotadas pelos interesses partidários

Quem o diz é Augusto Mateus, antigo ministro da Economia, investigador universitário e um dos autores do estudo que pretende lançar as bases para um novo modelo de governação do concelho de Lisboa. O documento propõe um novo mapa de freguesias, reduzindo as actuais 53 para cerca de metade. A discussão está instalada, mas deve ir além da questão das freguesias, alerta por seu lado João Seixas, co-autor do estudo.

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João Seixas tira de dentro da mochila um mapa velhinho. O investigador do Instituto de Ciências Sociais colecciona cartografia de Lisboa, e este foi um amigo que sabia da sua mania e lho arranjou. "Não estamos a falar de vacas sagradas", assegura, a propósito do mais recente trabalho que desenvolveu a pedido da Câmara de Lisboa, com o economista Augusto Mateus, para lançar as bases de um novo modelo de governação da capital.

A prevista redução do número de freguesias para metade fez ir aos arames alguns políticos da cidade, ciosos das fronteiras do seu bairro e receosos das consequências eleitorais desta reforma. Mas os objectivos dos autores do estudo, que tem a chancela do Instituto Superior de Economia e Gestão e do Instituto de Ciências Sociais, ultrapassam em muito a mera alteração das divisões administrativas. A dupla não faz por menos: quer revolucionar a forma de governo da metrópole, sob pena de Lisboa comprometer de forma irreversível o seu futuro.Avô pela primeira vez no passado dia 11 de Outubro, o ex-ministro da Economia de António Guterres (PS) recebeu em cima do acontecimento um bizarro sms de felicitações pelo nascimento de Nicolau: "Então vais acabar com a freguesia do teu neto?!" Acaloradas, algumas destas reacções têm-se repetido aqui e acolá. Os autarcas do Lumiar repudiaram energicamente a integração de parte do seu território na futura freguesia de Telheiras, que consideram "um absurdo histórico e geográfico".

Os autores do estudo propõem a junção de freguesias mais pequenas e a divisão das unidades de maior dimensão. São Nicolau, por exemplo, tem 1200 habitantes, e nem sequer é a freguesia mais pequena da cidade, enquanto os Olivais contam com mais de 46 mil. "É maior do que o conjunto dos municípios de Castelo Branco e Vila Velha de Ródão", observa Augusto Mateus. "Não podemos governar grandes concentrações urbanas da mesma forma que governamos pólos rurais. Não posso ter uma freguesia com menos de 400 habitantes com as mesmas regras de uma com mais 60 mil."

O pote de dinheiro
A falta de escala do actual mapa das freguesias de Lisboa tem custos inconciliáveis com o actual cenário económico: "Os portugueses em geral não pensam na eficiência económica. Acham que existe algures um pote de dinheiro, como na aldeia dos gauleses de Astérix, a que é só deitar a mão. Pensam que a riqueza já foi toda produzida [por alguém antes deles]", ironiza o economista. "Temos de ser razoavelmente implacáveis: hoje o principal problema do país é o endividamento externo e o equilíbrio das contas públicas. Não podemos efectuar reformas sem preocupações de sustentabilidade económica.

As freguesias foram definidas num tempo que nada tem a ver com aquele em que vivemos."João Seixas dá como exemplo a gestão de um equipamento cultural e desportivo. Se for de grandes dimensões, faz todo o sentido ficar a cargo dos serviços centrais da câmara. Se for mais pequeno, não: "Ora uma freguesia com menos de 400 habitantes [como existem na Baixa] não tem estrutura nem massa crítica para gerir um equipamento cultural de pequena ou média dimensão. Ou uma escola." A descentralização de competências, da administração central para as câmaras, por um lado, e destas para as juntas, por outro, é uma das pedras-de-toque da proposta de João Seixas e Augusto Mateus. Por outro lado, a dupla defende que a Câmara de Lisboa crie nove pólos territoriais que permitam aos habitantes resolver os seus problemas sem recorrer aos serviços centrais burocratizados. Uma espécie de delegações na dependência dos vereadores, que ficam com a obrigação de traçar políticas diferenciadas para cada um destes territórios.

Augusto Mateus dá o exemplo de Chelas, que conhece bem: "Se a câmara já estivesse a funcionar desta forma, não teríamos um bairro assim. Além das casas, haveria pólos de emprego, serviços..." E integração social, claro. "Se houver em Chelas uma unidade de gestão com competências e responsabilidades em diferentes áreas e uma estratégia concreta para este território, consegue-se o seu desenvolvimento económico - e não apenas realojamento." É que, apesar de apontar novas formas de governação em vez de políticas concretas, o estudo tem como objectivo "fazer uma cidade de primeira para toda a gente". Afinal, algo de errado se passa quando um terço dos habitantes da capital de um país "corresponde a pessoas associadas a operações de realojamento, que não têm acesso a condições de qualidade de vida e oportunidades que deviam ter". São problemas de coesão social "que não podem ser enfrentados numa lógica caritativa, mas sim de alteração do modelo de desenvolvimento".

Augusto Mateus prossegue: "O problema de coesão de uma freguesia é o mau governo, e não o de ter a sua fronteira cem metros mais para a esquerda ou para a direita. Toda a gente reconhece diferenças entre o bairro da Graça, de Campo de Ourique ou da Lapa. Mas não deve haver diferenças no seu acesso à qualidade de vida." O segredo, revela, é gerir espaços que são por natureza diferentes de forma também diferenciada. Mas isso não implica a criação de ainda mais serviços e a contratação de mais funcionários, num município que emprega já 11.500 pessoas? "É exactamente o contrário", assegura o antigo ministro. "Estamos a propor aquilo de que ninguém teve coragem até agora, a extinção de freguesias. A questão é criar uma estrutura que seja sustentável e governável." "Sem um modelo que consiga fazer isto, Lisboa não tem futuro", declara. "Esta reforma tem de ser feita, sob pena de a cidade regredir na sua forma de governo e ficar cada vez mais atrasada", corrobora João Seixas. Sob pena de aumentar mais ainda o fosso entre os cidadãos e os políticos que administram Lisboa. "Mais cedo ou mais tarde estas reformas vão ter de ser feitas. Quanto mais tarde, mais vamos perder."

Lisboa e os vizinhos
Além de Telheiras, Seixas e Mateus propõem a criação de uma segunda nova freguesia, a do Parque das Nações. Mas a sua ambição para Lisboa é bem maior. Para o economista, só um governo metropolitano pode resolver os desafios que Lisboa enfrenta. "Temos uma das maiores concentrações metropolitanas da Europa e esse governo não existe. Há é um somatório de concelhos que não articulam as suas decisões. Para termos qualidade no centro da cidade, temos de a ter na área metropolitana e na região. A articulação dos transportes nesta área é decisiva. Não se pode ter a ideia de que os problemas de Lisboa se resolvem no concelho de Lisboa." "Havia toda a vantagem em o concelho incluir todo o espaço interior à CRIL - obrigando a dar novas oportunidades de desenvolvimento a uma série de territórios", defende. "Por que razão ter limites imaginários da cidade que já ninguém usa? Não faz sentido dividir o Parque das Nações [concelho de Lisboa] da Portela e de Moscavide [concelho de Loures]. E o metropolitano, por que razão não vai mais longe?" João Seixas sintetiza o dilema: "Por que havemos de ter uma divisão administrativa que limita a vida das pessoas e das empresas?"

O risco de não mudar
Alguns dos actuais desenhos das freguesias de Lisboa "são autênticas aberrações, tendo em conta o crescimento da cidade". Os investigadores sublinham que a divisão alternativa que propuseram está aberta a alterações: "Somos os primeiros a reconhecer que a zona do Lumiar velho pode perfeitamente continuar integrada no Lumiar e não em Telheiras", exemplifica João Seixas. Volta a enfiar o mapa na mochila. É dos anos 50, uma época em que o território de Lisboa já não alcançava quase Arruda dos Vinhos, como chegou a acontecer no séc. XIX. "Seria lamentável que por causa do traçado de algumas freguesias - poucas - todo este esforço de reforma da capital do país não fosse por diante", observa. E se os interesses partidários boicotarem a reforma? "Todas as reformas em Portugal têm sido boicotadas por isso", admite Augusto Mateus. "Mas as forças políticas têm noção do risco que correm em manter tudo como está."
Este assunto tem discussão marcada para o próximo dia 9 de Novembro, na Assembleia Municipal de Lisboa.

sexta-feira, outubro 22, 2010

Que Parque Mayer?

Começou o debate público para a recolha de contributos, críticas e sugestões para o Plano de Pormenor do Parque Mayer, Jardim Botânico e Zona Envolvente. Até 23 de Nov. todos quantos se queiram pronunciar sobre os defeitos e virtudes deste plano, os seus erros e omissões, as suas boas ou más intenções, poderá e deverá fazê-lo, espero eu, de mais formas do que o simples envio de e-mail para emdiscussaopublica@cm-lisboa.pt. É tempo de todos quantos se interessam por este tema agirem em conformidade, dizendo de sua justiça. A prerrogativa legal da discussão pública, se usada pelo cidadão com rigor e pertinácia, pode ser de extrema utilidade para uma cidade como Lisboa, onde quase tudo nos tem sido dado como sendo facto consumado.

O Plano apresenta duas diferenças fundamentais em relação às ideias traçadas anteriormente pela CML para o Parque Mayer, que é como diz, aos estudos (e outra coisa não foram) dos Arq. Foster, primeiro, e Gehry, depois. Assim, enquanto ambos foram “contratados” por vontade indómita dos então presidentes de CML, o projecto do Arq. Aires Mateus, que consubstancia este plano, nasceu de concurso público submetido a júri insuspeito, o que faz toda a diferença. Por outro lado, este instrumento de planeamento urbanístico chamado Plano de Pormenor (o novo PDM há-de pô-lo fora-de-jogo) vincula a CML a um elemento-chave de bom governo: a participação do público. Mas vamos ao que interessa:

A verdade por vezes dói, mas os tempos de um Parque Mayer de «Sericoté» de minha Avó, ou de textos magníficos de César de Oliveira já foram, para nunca mais voltarem. Foram-se eles e foram-se as épocas. Tentar recuperá-los é pura perda de tempo. Verdade seja dita, ainda, que o ideal para o Parque Mayer seria, tal como foi defendido em tempos por Manuel Maria Carrilho e sua equipa, manter o Capitólio e o resto jardim, não construindo mais nada, ali e sem ser ali. Daí a derrota. Falhado esse cenário, e face ao índice de construção pré-estipulado pela CML e escrupulosamente cumprido pelo projectista, resta-nos o quê?

Bom, desde logo garantir que este Plano respeite integralmente o Jardim Botânico em todas as vertentes. Garantir a permeabilidade dos logradouros da zona envolvente: R. Escola Politécnica, R. Salitre, R. Alegria e Cç. Patriarcal. Que nada seja construído (caves ou piscinas) sem que haja estudos fidedignos para a área do Plano: hidrogeológicos, de impacte no sistema de vistas e na circulação do ar, vitais para a sustentabilidade de Lisboa. Que haja justificação técnica e financeira (11 M€!) para os novos teatros de raiz, quando não se sabe bem o que fazer aos existentes e aos a recuperar, no recinto (Capitólio e Variedades) e nas imediações (São Jorge e Odéon). E, sobretudo, que a CML respeita o público.




In Jornal de Notícias (21.10.2010)

quinta-feira, outubro 21, 2010

É Primeiro-Ministro

Senhor Primeiro-ministro, sabe V. Exa. que o País se encontra numa situação económica e financeira muito mais grave do que a conhecida, por única e exclusiva responsabilidade do Governo que tão mal dirige.

Senhor Primeiro-ministro, sabe V. Exa. que o Governo não apresentou ao País e às oposições um Orçamento que contivesse qualquer projecto económico ou de incentivo às empresas e às pessoas e que fosse susceptível de ser viabilizado: V. Exa. fê-lo com o intuito de provocar a não aprovação da proposta e fê-lo com o objectivo de provocar uma crise política, procurando desresponsabilizar-se pelos anos de chefia do Governo em que agravou a situação interna em termos que levaram ex-responsáveis do FMI a admitir a intervenção desta instituição com ou sem aprovação do Orçamento.

Senhor Primeiro-ministro, o Orçamento apresentado pelo Governo vai provocar uma recessão - como é reconhecido quer interna quer externamente - que impedirá a recuperação do País, condenando-o a um empobrecimento de mais de uma década.

Senhor Primeiro-ministro, o Orçamento conduzirá à miséria os portugueses mais necessitados, cortando em necessidades básicas - como as da alimentação - taxando da mesma forma alimentos essenciais de cabaz alimentar e bens supérfluos.

Senhor Primeiro-ministro, há que salvaguardar o tecido económico e empresarial em nome de uma possibilidade de futuro.

Senhor Primeiro-ministro, apesar de o PSD ter, com inegável sentido de responsabilidade, viabilizado medidas necessárias à regularização das contas públicas, o Governo não deixou de aumentar a despesa nem prestou contas da aplicação das referidas medidas. Nos discursos de V. Exa., o País estava muito bem e as contas sãs.

Não pode V. Exa., Senhor Primeiro-ministro, impedir que se apresentem ao País alternativas para diminuir, tanto quanto possível, os efeitos recessivos e consequências negativas constantes da proposta de Orçamento do Estado. E estranha-se, Senhor Primeiro-ministro, tanto nervosismo em torno das propostas do PSD, quando todos os outros partidos da Oposição apresentaram propostas.

Sendo a proposta de V. Exa. um documento reconhecidamente mau, seria bom que todos aqueles que se dirigem ao PSD se dirigissem a quem tem a responsabilidade do Orçamento: ao Governo e, em particular, a V. Exa. É certo, Senhor Primeiro-ministro, que V. Exa. é um problema de credibilidade, mas é Primeiro-ministro.




In Correio da Manhã

quarta-feira, outubro 20, 2010

Os culpados escapam sempre

O Orçamento, aquilo que dele conhecemos, impõe-nos a obediência total a uma tremenda iniquidade. Falemos de servidão, afinal o que as circunstâncias favorecem: não podemos desobedecer porque o imposto de submissão, engendrado pelo Governo PS, abate-se sobre nós, e responsabiliza-nos sob a fórmula de "o interesse nacional". Expressão cuja lógica é a de comprometer toda a gente menos aqueles que, rigorosamente, são os culpados. O clamor de protestos que se escuta por aqui e por ali conduz-nos ao carácter relacional do poder. E induz-nos a reflectir sobre a sua natureza. No caso português, sobre a monstruosidade das suas aberrações.

A crise do sistema prolonga a argumentação deste Governo que não soube prever as condições históricas, nas quais o capitalismo se movia, e oculta as suas derivas e as suas incompetências com uma retórica "balsâmica". Ouve-se o primeiro-ministro e não se consegue descortinar onde está o "normal" e o "patológico". Mas também não distinguimos os objectivos de Passos Coelho, com o carácter das suas ofensivas sociais e a qualidade da democracia que diz defender. Que raio de democracia é esta, a de Passos, e aquela sob cujo paradigma temos vivido?

A encruzilhada na qual o País convenciona a sua perplexidade é bem pior do que a questão económico-financeira. É a ausência de alternativa. O Governo estrebucha. O PSD não serve. O rotativismo resultou neste imbróglio onde inexiste a racionalidade política, e as excrescências do improviso e as técnicas impositivas (para não dizer: repressivas) se sobrepõem aos próprios conceitos de democracia. Quando vinte por cento da população vivem abaixo do limiar da pobreza, e cerca de 600 mil portugueses estão desempregados; quando a nossa mocidade vai embora e licenciados ganham a vida nas caixas registadoras de supermercados, está estabelecida uma desapropriação social horrorosa. Goste-se ou não, foi-nos imposta uma forma de sociedade totalitária, sob a capa de "democracia de superfície". Nem o PS nem o PSD contrariaram a perda de valores e de padrões, comum à hierarquização do dinheiro que a nova ordem económica incutiu e estimulou.

As nossas sociedades actuais ainda dispõem das virtualidades, intrínsecas à ética republicana e à moral democrática? Em Portugal, muitos que beneficiaram da ruptura do 25 de Abril não são aqueles que pela liberdade se bateram e inúmeros perigos correram. Não há um destes, um sequer, que tenha três e quatro reformas; ou que receba, mensalmente, 3500 escudos (moeda antiga) de pensão vitalícia e actualizada, por seis meses de funções numa poderosa instituição bancária pública.

Vê-se a dificuldade da questão. Mas alguma coisa tem de ser feita. Os bárbaros estão às portas de Bizâncio.




In Diário de Notícias

Um preocupante caso de miopia...

Esta curiosa afirmação foi comentada
com algumas fotos que se podem ver [aqui]

terça-feira, outubro 19, 2010

Se até ao momento a EMEL não deu provas de eficiência dentro das suas funções, para quê ficar com tudo?


O grupo de deputados do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa sustenta que a proposta do PS para entregar à Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa (EMEL) tudo o que diga respeito à mobilidade na capital configura um "subterfúgio para evitar o escrutínio" da actividade camarária por parte da assembleia, que reúne hoje à tarde.
Incluída na ordem de trabalhos está a proposta de alteração dos artigos 1.º, 3.º, 4.º e 5.º dos estatutos da EMEL, já aprovada no executivo de maioria socialista, com a abstenção de toda a oposição (PSD, CDS e PCP).(...)
No centro das preocupações do PSD está a possibilidade de o vereador com o pelouro da Mobilidade, Fernando Nunes da Silva (eleito como independente pelo movimento Cidadãos por Lisboa), ficar "esvaziado de competências" na concepção e execução de projectos e de as intervenções deixarem de ser discutidas pelos deputados municipais, por também deixarem de ser competência directa da vereação camarária.
"Passando as competências para a empresa municipal de estacionamento, que é tutelada pela câmara, o vereador continua a ter controlo, mas deixa de haver o mesmo escrutínio por parte da assembleia municipal", afirmou o líder da bancada "laranja", António Prôa.
"Tendo em conta que é uma retirada de capacidade de fiscalização de competências que são da câmara, não vamos viabilizar uma alteração naquele sentido. Mas obviamente que vemos que pode ser útil rever o âmbito da actividade daquela empresa municipal, desde que fique sempre salvaguardada a capacidade de escrutínio", acrescentou o mesmo deputado.
Para o PSD, é possível rever o modelo de funcionamento da actual gestora do estacionamento automóvel na cidade sem cometer uma "subversão da lei" e dos "princípios democráticos", acrescentou.
De entre um alargamento de competências que considera "muito considerável", António Prôa destacou a possibilidade de a EMEL avançar com um investimento de 50 milhões de euros para desenvolver a rede ciclável na cidade, uma proposta que foi retirada de uma reunião camarária.
"Com esta alteração de estatutos, aquele projecto poderá ser desenvolvido pela empresa sem que a assembleia municipal possa pronunciar-se sobre o assunto", lamentou António Prôa. Lusa

segunda-feira, outubro 18, 2010

Há sempre alguém que resiste há sempre alguém que diz não. *


Esta foi a forma encontrada pelo padre João Nogueira para dar visibilidade à luta que vem travando já lá vão 12 anos. Em causa está não só a degradação do imóvel na Travessa de Estêvão Pinto, mas também o facto de o Ministério das Finanças recusar restituir gratuitamente ao Patriarcado de Lisboa a igreja que foi confiscada pelo Estado três dias depois da implantação da República.

"Há cem anos que este templo pede que se faça justiça e há cem anos que não é feita", disse o prior de Campolide durante a sua homilia, na qual teceu fortes críticas à atitude do ministério de Teixeira dos Santos, que acusou de "hipocrisia". "Achamos que o Estado que nos tutela, sendo uma pessoa de bem, não pode lucrar com um imóvel que roubou", constatou João Nogueira.
É um bem do povo e devia ser dada mais assistência à sua conservação", afirmou Mário Rodrigues, enquanto a sua esposa lamentava o desleixo do Governo, que "tem tantos prédios a cair e deixa a cidade feia".

Barómetro ACA-M da Mobilidade em Lisboa-OUTUBRO

POSITIVO
Parking Day
A Abraço celebrou este ano o Park(ing) Day na cidade.
Anualmente, cidadãos de mais de uma centena de cidades mundiais ocupam lugares de estacionamento, transformando-os em pequenos parques por um dia. Acontece que a Abraço e a Câmara Municipal de Lisboa – que apoiou a iniciativa – celebraram sozinhas, porque os lisboetas faltaram. E, na verdade, porque haviam de prestar-se a serem figurantes numa acção em que a “cidadania” abraça o poder político, com o resultado paradoxal de a CML se pôr a reclamar de si própria “a necessidade premente de ter mais espaços alusivos à natureza numa cidade de betão”? Uma versão portuguesa do Park(ing) Day é uma boa ideia a que já só faltam as qualidades.

NEGATIVO
Death Race 2010
O Automóvel Clube de Portugal, que existe para “facilitar o automobilismo”, promoveu, em colaboração com os municípios do Porto e de Lisboa, uma campanha chamada “Atenção, todos somos peões”. O seu presidente, Carlos Barbosa, naturalmente obrigado a cumprir os estatutos do ACP, censura os peões porque estes “atiram-se para as passadeiras como se fosse um direito adquirido”, dificultando de forma intolerável o “automobilismo” nas cidades. Como a campanha integrou o programa de actividades da SemanaEuropeia da Mobilidade em Lisboa, valeria a pena saber-se se a CML cauciona esta declaração – publicitada pela generalidade da imprensa como aspecto fundamental da pedagogia da campanha – ou se foi o bom-senso que se atirou para cima da passadeira quando os parceiros passavam com pressa de salvar peões.



JORNAL DE LISBOA SETEMBRO AQUI:
JdL#33
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domingo, outubro 17, 2010

Paroquianos de Campolide vão à missa de capacete

A habitual missa de domingo na paróquia da Igreja de Santo António, em Campolide, Lisboa, ficou marcada por um protesto insólito: padre e paroquianos passaram a missa de capacete na cabeça, para alertar para a necessidade de obras de conservação no edifício.

"As partes laterais da igreja estão quase a cair. Não se dá conta da água que se tira. E gostava que nesta altura em que se comemora os 100 anos da República se fizesse mais do que isso. Dar o seu a seu dono, de forma a que possamos fazer obras, que será outra batalha a seguir muito vasta e complicada", disse à Lusa Isabel, paroquiana e voluntária das obras sociais da igreja de Santo António.

A comunidade que frequenta a paróquia exige uma solução por parte do Ministério das Finanças, que tutela a propriedade do edifício, para que se possam fazer as obras, e contesta a intenção do Governo de vender à paróquia um imóvel que há 100 anos lhe foi confiscado a custo zero.

"O Ministério não quer passar a preço simbólico ou a custo zero o imóvel para a paróquia. Começou por nos pedir um milhão e 200 mil euros, depois de algumas conversas acabaram por nos pedir 243 mil euros. Mas face à degradação do imóvel, e por ter sido confiscado a custo zero, achamos que é imoral o Estado querer fazer um negócio com uma coisa que roubou e agora quer vender", criticou o padre João.

"No nosso país qualquer cidadão que roube e venda é penalizado. Parece que com o Estado, que é pessoa de bem, não acontece isso", acrescentou.

O padre referiu as pequenas obras de sustentação de tetos e paredes que têm sido feitas com os recursos da paróquia e a boa vontade dos paroquianos, mas sublinhou que mais do que isso é impossível para uma igreja que vive paredes meias com uma realidade social também ela degradada.

"Nós somos uma comunidade empenhada, mas somos uma comunidade pobre. Nunca teremos possibilidades nem de comprar o imóvel, apesar de acharmos isso imoral, nem depois de fazer as obras. Só com mecenas, mas sabemos que o país está como está. Mecenas há dez anos era uma coisa, hoje é outra, afirmou.
A igreja, classificada como imóvel de interesse público, foi confiscada pelo Estado três dias depois da implantação da República em Portugal e foi um depósito da farmácia do Exército até ter sido restituída às suas funções de culto em Outubro de 1938.

"Querem-nos vender uma coisa que já é nossa, quando a vieram buscar sem pagar um tostão. Sejam ao menos honestos. O país está tão mal, entreguem aquilo que é do povo para o povo ver se consegue arranjar a igreja antes que nos comecem a cair pedras e chuva em cima. É isto que pedimos ao senhor ministro. É a nossa única igreja", disse Rosa Bettencourt, paroquiana há 40 anos.

"Tenho visto a igreja a degradar-se cada vez mais. Quando chove é horrendo. Já assisti a uma queda de tecto. Põe-nos a nós em perigo e é uma pena a igreja perder-se, porque é realmente muito bonita", acrescentou Madalena Queirós
DN

sexta-feira, outubro 15, 2010

Não há dinheiro para nada e não despedem os palhaços?!

REGRESSADO a Lisboa, vindo do caos de Lagos, constato - mas sem surpresa... -, que é assim que a cidade me recebe. Mas, no fundo, até tinha saudades desta cambada de parasitas (refiro-me aos que fazem pois, para os que deixam fazer, há epítetos mais apropriados).

quinta-feira, outubro 14, 2010

No rescaldo do Centenário

Tirando as exposições e comunicações da praxe, o que fica de um ano de comemorações do Centenário da República? Uma bandeira nacional ao vento por debaixo do arco da R. Augusta, hasteada por individualidades e com fanfarra, para horas depois ser rasgada dos varões (sintomático do estado da nação?). Uns números circenses de trazer por casa que trouxeram cabeçudos ao Terreiro do Paço e bigodaças e Darth Vaders (pobre herói!) à Pç. Município. A inauguração de um punhado de escolas primárias. E a oportunidade perdida de, a propósito do Centenário, CML e Governo terem podido preservar e recuperar património fruto e obra da I República, um, de cariz primordialmente republicano, outro.

Por alturas do Verão de 2009, logo se viu que haveria muito pouco para celebrar no que concerne à recuperação do património edificado ao tempo da I República, pois que ao mesmo tempo que a Assembleia da República organizava uma importante e bonita exposição dedicada ao grande Arq. Ventura Terra (1866-1919), autor do projecto original do Parlamento e, ao mesmo tempo, um dos primeiros vereadores republicanos da CML (1908); na capital real, umas quantas avenidas acima, o executivo camarário não quis travar o projecto de demolição que um seu antecessor de má memória aprovou em 2005 para os prédios de rendimento construídos na altura pelo Arquitecto para a Avenida da República, esquina com a Av. Elias Garcia. Não quis, não pôde nem soube, pouco importa. O que importa é que hoje já nada resta dos prédios a não ser as fachadas principais. Foram-se a tardoz, e os ricos interiores forrados a madeira exótica e tectos em estuque, e um elevador de arromba, objecto de gula de muita e boa gente. Triste sina a do Património. Ainda em 2009, o IGESPAR encerrou o processo de classificação do 1º Bairro Social da República, no Arco do Cego. Motivo: foram sendo aprovados projectos que tais de alterações e ampliações que transfiguraram irremediavelmente a morfologia do bairro. Pois. Outra oportunidade perdida. Mas muito mais foi esquecido pelas Comemorações:

Desde logo as Vilas Operárias, onde praticamente “nasceu” a República mas em que a grande maioria não tem alma e apenas espera por um qualquer promotor imobiliário. A antiga Escola Nocturna, em Carnide, uma instituição que foi promovida por eminentes republicanos, neste momento em estado lastimável. A Escola Oficina nº 1 (a primeira!) no Largo da Graça, para a qual esteve para ser aprovado há pouco tempo um projecto imobiliário que a adulteraria por completo. E aquele edifício singelo da Rua da Esperança, Nº 16-20, entretanto corrido a perfis de alumínio mas onde uma imponente placa assinala “No 3º andar deste prédio reuniram pela última vez os revolucionários 3-10-2010”. Deveriam voltar a reunir?



In Jornal de Notícias (14.10.2010)

terça-feira, outubro 12, 2010

Animem-se, lisboetas!

Busto de Salgueiro Maia
Como é que ele para ali foi?!
A Santa Casa...
A malta do "estamos a trabalhar!"
Ao lado do parque que se vê na imagem de baixo
Um dos muitos parques gratuitos que a autarquia disponibiliza.
.
PARA animar os lisboetas que desesperam com os vandalismos e o estacionamento selvagem, não há nada como dar um saltinho até Lagos - uma terra com pretensões a destino turístico de qualidade, mas onde o "deixa-andar" (com a consequente impunidade e inevitável caos) atinge os píncaros do absurdo.

NOTA: As fotos são todas da mesma zona, num raio de menos de 100 metros.

segunda-feira, outubro 11, 2010

Portugal tem 1 milhão de casas devolutas

Chegado por e-mail:


«Portugal tem 1 milhão de casas devolutas


Há dias saiu uma notícia no Jornal Expresso que mencionava que Portugal teria um milhão de casas devolutas. Fui investigar e tratava-se de um pequeno debate entre algumas personalidades do nosso sector imobiliário e financeiro.

Nesse debate, mencionava-se também que teremos cerca de 300 mil habitações para vender, 100 mil das quais são novas.

Vitor Coias, Presidente da Gecorpa, avaliava este mercado devoluto em cerca de € 100 mil milhões... qualquer coisa como 80% do PIB! 80% do nosso PIB está "empatado" em habitações vazias...

Perante tamanha realidade, continua a fazer-me alguma impressão o facto de continuarmos a não a apostar na reabilitação em Portugal. Estamos a falar de um mercado com um potencial enorme, capaz de gerar estímulos de curto prazo na nossa economia. O que esperamos?

Caso tenha interesse, pode ver o vídeo com um excerto deste debate.

Dá que pensar, não dá?

Bons negócios (imobiliários)!»

sexta-feira, outubro 08, 2010

Há pirilampos no Terreiro do Paço

Para quem como eu deixou há muito de ver luzir as barriguinhas dos pirilampos, suponho que por estes minúsculos e simpáticos insectos estarem em vias de extinção, naturalmente que por culpa exclusiva da “pessoa humana”, ele há boas notícias:

Graças à fértil imaginação de que uma tal de Sociedade Frente Tejo vai dando largas à medida que afeiçoa a requalificação do Terreiro do Paço, cada losango do novo piso da placa central da nossa praça mais importante passou a dispor de 3-4 pirilampos, conforme seja losango inacabado ou perfeito, respectivamente. São os chamados “leds”, a cereja do bolo de um projecto de espaço público e de arquitectura paisagística que nasceu torto e tarde ou nunca se endireitará, pese embora as correcções acertadas por que já passou, depois de feitas críticas certeiras e duras.

Os pirilampos “cyborg” que agora convivem com os humanos que queiram desfrutar do Terreiro do Paço durante a noite, não emitirão luz por via de qualquer ritual de acasalamento, ou por reacção subcutânea ou oxidação mais ou menos estranha, mas sim por carregamento via luz solar. Assim, depois de devidamente carregados durante o dia, terão depois pilha suficiente para de noite demarcarem os losangos em betuminoso híbrido com que cobriram a praça (já cor de alcatrão, aliás).

Mais importante: depois dos periscópios candeeiros e dos projectores aerodinâmicos sobre a passadeira de peões defronte ao Cais das Colunas, o Terreiro do Paço passa a dispor de um novo atractivo turístico de iluminação pública, que ultrapassa a dimensão salomónica e maçónica defendida por alguns e que constituirá mais-valia turística incomensurável. Lisboa passa a poder rivalizar com os trilhos andinos de Nazca, ou os britânicos “crop circles”, enquanto destino místico. É que à noite, estes pirilampos mágicos, na verdadeira acepção da palavra e fruto do “choque tecnológico”, ou melhor, aqueles que tenham pilha suficiente para acenderem até de madrugada, vistos do espaço constituirão a mais bela das pistas de aterragem para O.V.N.I., serão motivo de divulgação frenética inter-galáctica. O Terreiro do Paço passa, assim, a dispor de uma mais valia até agora nunca explorada, uma providencial fonte de receitas turísticas com direito a figurar até na série televisiva “O Mundo Misterioso de Arthur C. Clarke”.

Só é pena que, por força da ondulação do piso da placa central, a sinalização seja impossível de vislumbrar ao plano do chão, pelo que ao campo de visão do peão visitante antes pareçam luzes intermitentes enviando sinal S.O.S. a quem de direito, para que acabe com tanta invenção no martirizado Terreiro do Paço; numa requalificação que podia ter sido simples, estética e eficaz, e não esta manta de retalhos a que já muito poucos chamarão “projecto”.




In Jornal de Notícias (7.10.2010)

quinta-feira, outubro 07, 2010

Não mesmo

Ainda há dois meses, em Agosto, o actual Primeiro-Ministro descrevia a situação do País como se do País das Maravilhas se tratara. Diga-se, aliás, que há anos que o mesmo Primeiro-Ministro recusa a verdadeira situação económica e financeira do País, contra todas as evidências e advertências (basta recordar a sua actuação, os seus discursos, as respostas aos adversários...).

Senhor de uma máquina poderosa de propaganda e de distribuição de benesses, o Primeiro-Ministro escondeu a situação do País, satisfez muitos interesses e calou muitas vozes (ou pô-las a falar contra os seus adversários, o que é o mesmo).

Tal como o doente a quem não se diagnostica doença alguma, o mal do País – que podia ser mais simples de tratar, se assumido a tempo – agravou-se profundamente e chegou o dia em que os sintomas tornaram a doença evidente para toda a gente.

Confrontado com a doença – que sempre negou –, o Primeiro-Ministro propõe agora uma terapia que mascara os sintomas, não trata e agrava a doença. Mas mascarar, mascara.

Em primeiro lugar, não há razão para acreditar numa terapia proposta por quem sempre negou a doença; em segundo lugar, a terapia proposta depressa matará o doente. É por isso que é um erro afirmar que mais vale um tratamento qualquer (leia-se um Orçamento qualquer) do que tratamento algum.

Há tratamentos que matam, embora, muitas vezes, o desespero faça com que se reclame qualquer tratamento.

O que vem descrito é o caminho do Primeiro-Ministro: não seria nunca o caminho de alguém que tivesse sido diligente e assumisse em tempo o mal de que o País sofre. Ora, o "tratamento" que o Governo pretende dar ao País vai agravar-lhe a doença, precipitá--lo na recessão e na pobreza. Não é terapia adequada.

Ninguém pode, pois, exigir a qualquer partido da Oposição que aplauda e siga o caminho proposto pelo Governo e muito menos em nome do interesse nacional.

Vão ser precisos sacrifícios profundos, mas em nome de um projecto de futuro e não em nome de engenharias financeiras ou de manutenção do poder.

Há momentos decisivos em que é preciso ter a coragem para dizer não, por muito que se seja criticado e incompreendido e por muito que vozes acomodadas agitem fantasmas que ajudaram a esconder a realidade.



In Correio da Manhã

domingo, outubro 03, 2010

Começaram as chuvas

Limparam as sarjetas?
Já há inundações ?

sábado, outubro 02, 2010

2ª Circular-perigo : onde estão os riscos horizontais?

Uma palavrinha ao responsável da obra (alcatrão???) na 2ª Circular, que se pirou sem ter pintado os traços na via.
Caro senhor, aquilo é um perigo. Não é preciso dizer mais nada, pois não?
Bem sei que o povo português é "calmo e resignado" como já lhe chamaram, mas nem toda a gente é tão "calma e resignada".
Vão lá pintar aquilo antes de alguma desgraça!!!

sexta-feira, outubro 01, 2010

Um percurso


Estacionamento ilegal (duas filas) em frente ao supermercado que congestiona o trânsito e impede a visibilidade junta à passadeira de peões. Problema já relatado aqui.


Campo Grande junto ao Museu da Cidade. Os carrunchos dos estudantes fazem este lindo serviço. O Parque estacionamento encontra-se com muitos lugares vazios. Este troço da via até tem direito a arrumador privado.


O estacionamento junto ao acesso à Alameda Universitária impede de fluir o trânsito que segue em frente.

Campo Grande, acesso à Av. das Forças Armadas: as viaturas que vêm da esquerda (Av. EUA, etc.) bloqueiam a passagem impedindo o transito de fluir. Uma fatalidade ? Não há solução?
Curtos metros para uns longuíssimos minutos e a CML ( Trânsito e Mobilidade) ali tão perto...
Atravessamento junto à entrada do Eixo Norte-Sul direcção Lumiar, numa curva para quem vem da Av das Forças Armadas.
Depois de muita insistência foi colocada uma rede. A rede já foi destruída e continua a ver-se pessoas a atravessar num local onde não é suposto encontrar peões.
A minha teoria é que se nunca aconteceu ali nenhuma desgraça foi porque Deus não quis. MAs aceitam-se outras.