quinta-feira, janeiro 09, 2014


Cinemas....
Olympia, Paris, Jardim, Éden, Estúdio 444, Quarteto, Londres, Vox depois King, Monumental depois (ainda?) Monumental, Império e o Estúdio do mesmo, S. Jorge, Roma, Alvalade depois (ainda?) Alvalade, Europa, Odeon, Condes, até o Cinebolso, 222, Nimas outra vez Nimas, o Politiema hoje La Féria, já perdi a conta aos cinemas, ainda faltam alguns por onde também passei, percorri muitas tardes e noites tantas, a seguir o ritmo dos fotogramas.

Saudades de todos do Monumental quando as sessões clássicas estavam cheias de bufos e eram terreno para protestos contra o “facho”, do Jardim onde fugíamos do Migalhas para ver sessões sem fim, do 2º balcão do Éden, para namoros, das sessões no Londres com a minha mãe (ou no 444), e depois as pérolas no Quarteto do Bandeira Freire, ou a Last Waltz no Vox, pedrado de tudo, e o Paris depois de um dia a carregar caixotes, trabalho “infantil”, o Odeon onde parecia que caiamos do galinheiro..., ou o Olympia, no tempo da cowboiada em sessões contínuas.
Mas, meus amigos, o tempo do cinema está a chegar ao fim. O tempo da tertúlia e do espaço para esta que se acomodava depois ou antes desse também desapareceu.

Estes, todos, da minha memoria estavam em degradação total, pulgas no King, baratas no Quarteto, ratos no Jardim e no Império, e ninguém, ninguém seja pela degradação a que foram chegando ( e no Paris... chovia!) seja porque o DVD, antes do vídeo e uma alteração radical das lógicas sócio-culturais levou ao encerramento destas, por vezes magnificas salas e em muitos casos à sua total e definitiva destruição.

Os tempos mudam, os hábitos culturais e sociais que lhes dão energia e os pagam transformam-se, e só restam as memórias, mesmo quando se aspira (como no caso do Odeon) preservar-lhes alguma coisa.
Julgo inúteis estes sobressaltos, quais donzelas do bar 25, a favor do King ou do Londres ou de qualquer dos outros, tenho que confessá-lo.
Gente que não os frequentava, que à anos, muitos anos em frequenta qualquer  cinema, agora protesta contra o seu encerramento? É claro que haverá dois ou três que eram, quiçá, os frequentadores com que me cruzava...
Uma baiuca do China? Pois as regras do mercado são essas e se calhar esses até já tem o cartão gold e são  tão “portugas” quanto o era o Eusébio, esteja ou não a caminho do Panteão, esteja ou não em companhia da irmã Lúcia, que também merece lá estar, para lá fazer companhia ao tal Óscar (não o Otelo que esse não irá para lá!).
Não vou perder o meu tempo com esses cinemas mortos, sem justificação para a sua protecção estético/arquitectónica. Em relação ao Odeon (talvez um dos mais notáveis exemplares da arquitectura de gaiola) julgo que é mais um crime do salgadismo, e contra esse já me inscrevi.

Mas hoje já o marreco está esquecido, o filme já não salta da bobine, e já não faltam fotogramas ou há longos bocados sem legendas (temos em compensação erros de português a esmo!).
Com o fim dos cinemas é outro tempo que se sucede ao tempo.

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