quinta-feira, dezembro 03, 2009

Ficam à porta

Que dizer do ‘espectáculo’ que marcou a entrada em vigor do Tratado de Lisboa? Em primeiro lugar, que foi uma ilustração de um novo-riquismo político sempre dispensável, à qual não faltou o fogo-de-artifício. Quanto aos discursos – excepção feita ao do Presidente da República – foram pobres, muito pobres. Curiosamente, todos os discursos tiveram como denominador comum o de se referirem de forma ‘asséptica’ aos cidadãos, esses cidadãos que estão cada vez mais longe das instituições da União. Importa não esquecer que são os mesmos cidadãos que quando foram chamados a pronunciar-se sobre o dito disseram maioritariamente não ao Tratado ou foram, subsequentemente, forçados a dizer sim, perante a ‘ameaça’ económica. Quanto ao reforço do papel dos cidadãos, por exemplo, basta olhar para o curioso direito de petição que obriga a um número mínimo de um milhão – é isso – um milhão de cidadãos de países da União Europeia, para fazer uma petição, coisa simples, como se imagina. Exemplar exemplo da dita participação...

Mas não faltaram nem festa, nem luzes, ou não se tratasse de dia importante da carreira política do Senhor Primeiro-Ministro, segundo o próprio admitiu. Melhor mesmo (para esta forma de fazer política), era impossível. Dia importante para o Primeiro-Ministro é para ser levado muito a sério, com tudo o que o marketing pode produzir.

O problema é mesmo a substância das coisas, mas quem se importa com isso em dia de festa? Ele há sempre quem goste de estragar a festa e denunciar tanto exibicionismo ministerial. Até porque a crise da democracia, o deficit excessivo, o desemprego que grassa pela Europa fora, a possibilidade de default da dívida soberana de vários países, não vão à festa e a decomposição política da nossa sociedade também não: ficam à porta.

A festa em torno da entrada em vigor do Tratado da União demonstrou que a Europa está doente e que, ao contrário do que afirmam os seus actuais protagonistas, está a ignorar o Mundo. Com honrosas excepções, os actuais dirigentes europeus renderam-se ao dinheiro e persistem em não entender que a Europa perdeu importância política e económica e mais, perdeu cidadania. Ao compararem as Descobertas portuguesas com o actual momento, parecem ter esquecido que as tais descobertas tiveram a génese na fome, na pobreza e na necessidade de encontrar alternativas económicas. Aí, acertaram.




In Correio de Manhã

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