quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Parece

Parecer, em Portugal, é quase tudo e vale por quase tudo. Aquilo que é, verdadeiramente, a substância do ser, ou se omite, ou se esconde, ou se combate. Em Portugal pouco, muito pouco mesmo, é o que parece.

Vivemos em Democracia. Parece.

O Governo governa. Parece.

A Assembleia da República fiscaliza o Governo. Parece.

O sector empresarial público é independente do poder político. Parece.

Os sectores público e privado preservam as respectivas independências. Parece.

As entidades reguladoras são independentes. Parece.

As leis são pensadas, avaliadas, gerais e abstractas. Parece.

A regulamentação dos sectores é clara e transparente. Parece.

Os agentes políticos – com raras excepções – são referências. Parece.

Partidos políticos estruturam-se de forma transparente, estão abertos a novos militantes e todos são livres e independentes. Parece.

Fenómenos como a corrupção, a participação económica em negócio, o tráfico de influências são duramente combatidos, com um nível de tolerância zero. Parece.

Os nossos dirigentes são recrutados exclusivamente com base no respectivo mérito. Parece.

A Administração Pública não está partidarizada. Parece.

A Administração Pública incentiva as actividades e decide sempre nos prazos legais. Parece.

A Administração Pública acarinha cada cidadão que se lhe dirige. Parece.

Não existem pequenos poderes que se impõem ao Cidadão e o esmagam no muro da burocracia. Parece.

As inspecções nunca extravasam, por defeito ou excesso, as suas competências. Parece.

As entidades fiscalizadoras fiscalizam quem devem. Parece.

Os gastos dos nossos dirigentes com despesas de representação nunca são supérfluos. Parece.

As assessorias públicas são recrutadas segundo critérios de mérito ou experiência profissional. Parece.

O País gasta na medida em que produz. Parece.

O País não se endivida. Parece.

Os dinheiros públicos não suportam parasitismos. Parece.

Os dinheiros públicos são sempre bem utilizados. Parece.

A Educação e a Saúde são prioridades. Parece.

O poder judicial tem todos os meios de que necessita para actuar. Parece.

O sistema judicial vê reforçadas a sua autonomia e independência. Parece.

Temos liberdade de expressão. Parece.

Há liberdade de informação. Parece.

Ao poder político é vedado tentar controlar o poder judicial ou a comunicação social. Parece.

Pois até pode parecer tudo. Mas não é.






In Correio da Manhã

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