quinta-feira, junho 16, 2011

Vai uma cervejola?

Ali para São Paulo e Bica, uns quantos rapazes e raparigas simpáticos batem à porta e perguntam aos moradores e aos lojistas locais se deixam que lhes afixem às janelas, lhes colem nas montras, portas e paredes que dão para a rua, publicidade a determinada marca de cerveja, não importa qual. Moeda de troca: seis latas de cervejola por cada auto-colante aplicado. Raro será (foi) o interpelado que resiste (resistiu) a semelhante “oferta”. E não serão poucos os que em vez de beberem as respectivas as porão à venda pouco depois. Totalmente compreensível. Na mesma rua, um pouco atrás, uma dedicada cantoneira da Câmara Municipal de Lisboa aplicava-se com afinco a retirar com os dedos de uma parede pública uma série de «posters» colados nem há 10 minutos, imagino que praguejando contra o esforço de tal operação de remoção. Pois.

Com efeito, há propaganda a cerveja por toda a Lisboa. Ele são quiosques, ele são cartazes, ele são auto-colantes, ele são pendentes e adereços vários. Montras, fachadas, caixas da EDP, carros eléctricos, janelas, bebedouros, árvores, enfim, nada escapa. Seja nos bairros históricos, seja nos largos e praças protegidos por lei (imagino que as autoridades lhes tenham dado autorização para o efeito. Ai, não deram, foi?). Até o símbolo por excelência da iluminação da capital, a “lanterna lisbonense”, aparece agora desenhada no «merchandise» como estando ébria pelas Festas.

Ano após ano a coisa vai-se agudizando: as Festas de Lisboa são mesmo as “Festas da Cervejola”. Chega a haver lanternas harmónio alusivas a marcas de cerveja, dependuradas pelas ruelas estreitas de Alfama. Não, o lisboeta não é alemão nem belga mas a verdade é que o tintol, a sangria e a ginjinha, por exemplo, que se supunha serem muito mais atractivos para as Festas, comercial e turisticamente falando, não merecem nem um décimo da atenção como potenciais patrocinadores daquelas, perdendo em toda a linha para a cervejola. Não me perguntem porquê, que não sei responder.

Sei é que tudo isto tem um preço, e por mais atractiva financeiramente que seja a prostituição do espaço público, acho que já é tempo de se regulamentar a sério e fazer cumprir a lei na afixação de publicidade, a começar pelos locais supostamente protegidos, mesmo que em períodos de festa. Animação não deve significar feira. E, que diabo, podemos puxar um pouco para cima a “fasquia” ecológica dos patrocinadores, ou não? Falando de quiosques, porque não uma harmonização do “quiosque das Festas” por via de concurso de designers? Tome-se como exemplo os quiosques dos mercados de Natal alemães, ou as festas da cerveja bávaras.

Nada tenho contra a cerveja, antes pelo contrário, mas, digam lá, cerveja com sardinhas, não liga lá muito bem, pois não?

2 comentários:

Anónimo disse...

As Festas de Lisboa passaram a ser as festas da bandalheira e da javardice.

Festas de cariz popular, bairristas, de convivência entre vizinhos, adeus. Essas desapareceram irremediavelmente.

aeloy disse...

Tudo em Lisboa se vai convertendo (talvez pela lógica neo-liberal? ou simplesmente por insanidade?) em espaço para alugar.
Agora até a Av.da Liberdade é alugada a uma cadeia de hipermercados.
Acho absolutamente imoral toda esta cangalhada.
António Eloy
PS
E devo referir que sou favorável às maiores limitações no tráfego urbano, mas isto é uma, mais uma inconsequência e um despaupério publicitário, ainda por cima venderam o espaço público por uma tuta e meia, tanto quanto é público...