segunda-feira, maio 04, 2020

Acabo a horita mesmo de ler este, que já aqui referi quando o comecei.
Tenho que dizer dos 3 ou 4 livros de Rushdie que li, este é sem dúvida o seu melhor.
Estranho por isso que esteja rodeado do maior silêncio, da total ausência de referências (penso que nem sequer há tradução em português de Portugal, com ou sem acordês).
Talvez porque o livro é uma denúncia implacável da alienação dos média, sobretudo das televisões, e dos seus programas lava-cérebros que procuram criar a vida real, nas novelas, nos reality shows, nas pessegadas sem fim em que estas se tornaram ( sempre foram, aliás) e agora nestes programas de irrealidade em que se transformaram os telejornais, com uns inacreditáveis apresentadores (volta Fialho que nunca será demasiado louvado!), feitos de doutrina e presunção e todos, todos com o big brother a soprar-lhe na orelha.
O livro é um enredo em que a realidade e a ficção, são notávelmente imbricadas, na lógica do verdadeiro e sublime D.Quijote.
Deliciosas observações políticas, não posso deixar sem menção esta, que Marx designaria por falsa consciência:
" As raparigas, que no Ocidente a "sua" liberdade de decisão estão a legitimar a opressão das suas irmãs que noutras partes do mundo não tem liberdade de decisão", a propósito do véu islâmico.
Esta é muitas outras, por aqui e por ali, levam esta obra a navegar contra a corrente dos puritanismos e dos fanatismos, todos.
Livro de um grande humanismo, que merece ser lido, e divulgado.
Nota: Também tem alguns apartes deliciosos sobre a crise climática e parece ter antecipado (outro Gaitas?) a pandemia.
E encontro este artigo de Ferreira Fernandes :
https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/ferreira-fernandes/por-favor-leiam-tambem-sobre-quem-nao-sabem-12148534.html
sobre... o véu e um grande músico!

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