terça-feira, agosto 31, 2010

O meu "barómetro da mobilidade"

«É justo: quem estava habituado a não pagar nada, passará a pagar o dobro!»
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SENDO verdade que, como em tempos ouvi Fernando Gomes defender (*), uma multa é uma espécie de uma taxa para poder cometer uma infracção, veja-se como, em Lisboa, a medida que em cima se vê anunciada já começou a ser posta em prática:

Na foto de cima, vê-se um carro estacionado numa paragem da Carris, na Av. de Roma, e que foi multado pela EMEL... duas vezes!


Na de baixo, vêem-se dois carros (de uma escola de condução - mas isso é um pormenor...) estacionados 'gratuitamente' numa paragem da mesma empresa, na Praça da Figueira.

Mais 3 fotos
[aqui]
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(*) Em entrevista televisiva, quando era MAI, e a propósito das touradas de morte de Barrancos que, ao contrário do que tinha anunciado, não conseguiu impedir. «Ah, mas vão pagar a multa!» - argumentou ele, perante a perplexidade do jornalista.

segunda-feira, agosto 30, 2010

Quem disse que a calçada portuguesa é um património inestimável?

A CALÇADA portuguesa não é só maltratada por veículos que, mais ou menos legalmente, a vão destruindo. Outra forma de a desvalorizar (particularmente estúpida, porque desnecessária) é recolocando mal as tampas das caixas de visita (da PT, da EPAL, da CML, da Novis, da Vodafone, dos SMAS...).

Uma colecção de horrores está disponível sob a forma de álbum - ver [aqui]. Saliente-se que, no seguimento desta divulgação, muitos casos têm sido corrigidos (embora só os da PT), facto louvável que está referido nas respectivas legendas.

Associação sugere criação de museu e visitas para recuperar farol do Bugio

In Público (30/8/2010)


«A Associação Espaço e Memória, de Oeiras, sugere a criação de um museu e a organização de visitas guiadas no Verão ao "degradado" farol do Bugio, para recuperar e aproveitar aquele espaço com mais de 400 anos de história.

Numa visita guiada organizada pela associação, mediante autorização da Direcção-Geral de Faróis, é possível ver brechas na estrutura, antigos instrumentos ferrugentos e esquecidos, e entulho acumulado naquilo que eram, antigamente, as casas dos faroleiros e na capela do farol. "O que justifica a existência do Bugio não está lá como demonstrativo a quem o visite, porque enquanto espaço de fortificação é preciso puxar muito pela imaginação para compreender o que se lá passava, e enquanto farol já não tem faroleiros, nem está lá o que fazia parte do seu quotidiano: as casas, os geradores, as comunicações", descreve Joaquim Boiça, presidente da associação, citado pela Lusa.

Filho, neto e bisneto de faroleiros, Joaquim Boiça acredita que o Bugio "poderia ser, com a boa vontade de algumas instituições, um dos espaços mais emblemáticos para visitar na cidade de Lisboa".

A associação acredita que "nos meses de Primavera e Verão seria possível organizar visitas", de modo "a dinamizar aquele espaço, dar a conhecer e preservar parte das memórias que ainda lá estão, sobretudo na zona da capela". Joaquim Boiça defende "uma museografia diferente para aquele espaço, pensada para acolher exposições sazonais". No entanto, lembra que, há dez anos, quando aquele farol foi alvo de obras de recuperação pela última vez, "o processo foi complicado": "Foi necessário sentar à mesa cerca de 20 instituições para recuperar o farol, que ameaçava ruir." Construído para defender a entrada de Lisboa, o forte do Bugio ficou concluído em 1657. Desde cedo começa a servir também de farol, albergando faroleiros até ao final da década de 80 do século passado.»

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F-O-R-Ç-A!

quinta-feira, agosto 26, 2010

Jardim Botânico Tropical

«Venha conhecer este mundo de beleza». Este é o desafio que é feito a quem visita virtualmente o Jardim Botânico Tropical (http://www2.iict.pt/jbt/), e não fisicamente por detrás dos pastéis de Belém. Acontece, porém, que este é um daqueles casos em que a virtualidade raia a publicidade enganosa. Não por culpa das plantas vivas que o habitam mas dos humanos que o deixaram chegar a um estado nunca visto. Paradoxalmente, numa altura em que goza de mecenato e cobra bilhetes à entrada, coisas que aqui há uns anos largos não fazia, certamente por vergonha do estado em que já então se encontrava e para o qual se anunciava publicamente ir arrancar uma ambiciosa empreitada de restauro. A verdade é que nunca mais lá voltei, talvez por o meu subconsciente me levar a preferir guardar as imagens de então, em vez de me sujeitar a visões ainda piores se lá voltasse.

Mágoas passadas, e agora que me preparava para voltar eis que uma amiga me avisa em jeito de Stop: «está uma lástima; aquelas casinhas todas abandonadas, a relva seca, o lago é um pântano, as estufas estão fechadas para os vidros não se estilhaçarem, não há empregados para manter o Jardim aberto depois da 18h, etc.». Logo no Verão, quando apetece ir em busca de sombra e refresco nos jardins, as entidades que os supervisionam entendem que é tempo de pouparem na água e na jardinagem.

Mas bem vistas as coisas, a verdade é que o estado deste jardim tropical não poderia deixar de ser o que é. Pobre de espírito de quem outra coisa esperasse das nossas entidades oficiais. Numa altura em que mil protestos se levantam em defesa de Monsanto por se ter convertido em banco de terrenos, a Tapadas das Necessidades é um fantasma e os jardins da CML são clareiras e canteiros de canos de irrigação, imaginar-se que o jardim fronteiro ao Palácio de Belém pudesse estar noutro estado, mais a mais dependendo directamente da Universidade de Lisboa, que pouco ou nada quer saber de um outro, por sinal a aguardar ser classificado de Monumento Nacional há 40 anos e que se chama Jardim Botânico!

É lamentável que um jardim criado há cerca de 100 anos com o intuito de fomentar em simultâneo a investigação científica com a existência de um grande espaço de lazer invulgarmente belo, que devia estar impecável e ser frequentado assiduamente por quem quer fugir ao calor e ao tubo de escape, não o esteja e não o possa ser. É lamentável que o Estado (Ministério da Educação, Ministério da Agricultura, Ministério do Ensino Superior) seja prolixo a mudar-lhe o nome (já foi Jardim Museu Agrícola Tropical e Jardim Colonial) sempre que mudam as conveniências, e o queira aparentar digno no mundo virtual, se revele desleixado, desinteressado e incumpridor na responsabilidade de o apresentar como tal ao visitante real.



In Jornal de Notícias (26.8.2010)

segunda-feira, agosto 23, 2010


A casa onde viveu o olisipógrafo Júlio de Castilho, classificada como imóvel de interesse público, é património municipal desde 1997 (Foto: Miriam Lago)

Suplemento Cidades - Património

Por onde anda a memória das casas de Lisboa que contam histórias?
22.08.2010 - 10:44 Por Cláudia Sobra
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Muitas não estão assinaladas ou, sequer, protegidas. Há as habitadas, as abandonadas, as demolidas e são poucas as que chegam a casa-museu.
Há na capital dezenas de casas em tempos habitadas por figuras das quais reza a História. Muitas nem estão assinaladas. Muitas nem estão protegidas. Há as habitadas, as abandonadas, as demolidas. Também há as casas-museus - e essas contam-se pelos dedos.

Há casas esquecidas. "Se diz que quer ficar mesmo no nº 18... é aqui." Para lá da janela do táxi vê-se apenas um prédio esventrado. Mas é o 18. Dizem que está habitado, mas as portadas que dão para a varanda do segundo andar estão abertas. De velhas e vandalizadas. Como que a mostrar o tecto que se desfaz - há buracos de estuque caído que deixam a estrutura de fora. A fachada é de azulejos em tons de azul. Remendados. Há rachas nas paredes e aqui e ali o cor de laranja dos tijolos a descoberto contrasta com o azul dos azulejos. E ainda assim o prédio tem um ar imponente. Aqui viveu Joaquim Machado de Castro, escultor português que trabalhou para a Casa Real. É dele a estátua de D. José I na Praça do Comércio.

Apenas no terceiro andar há vestígios de um inquilino: um pano branco sujo, seco do sol, pendurado. Engrácia Ferreira - e nome próprio é por causa da santa, faz questão de mencionar -, 78 anos, sai à varanda. Gosta de observar a Estação de Santa Apolónia e o rio de lá de cima. Diz que paga a renda a um escritório, mas que já não sabe quem será o dono daquilo. Repete várias vezes que dali não sai. Por nada. Um escultor viveu no prédio? "Isso é passado, não interessa." E de qualquer das formas não sabe de escultor nenhum. Por baixo do seu andar moraram os "batateiros", que vendiam batatas e feijão. "E viveu uma senhora que vendia livros, no rés-do-chão. Depois foram-se todos embora." Como é que nunca ouviu falar em Machado de Castro? Não há sequer uma lápide evocativa na fachada do prédio. Engrácia vive aqui há mais de 50 anos. Não sabe ao certo quantos, não os contou. Mas quando se mudou já Machado de Castro tinha morrido há muito.

São 155 as lápides evocativas de Lisboa, de acordo com as contas do Departamento de Património Cultural da câmara. Isto as autorizadas. Ninguém consegue garantir que não haja proprietários a colocarem-nas indevidamente. "A colocação de uma placa implica sempre a autorização da câmara e do proprietário do imóvel", clarifica a entidade que gere o património cultural da capital.

"Não somos muito pródigos a assinalar estas casas", diz o olisipógrafo Appio Sottomayor. "Regra geral ou não se assinala os sítios, ou até se despreza." E recorda o episódio da demolição da casa onde viveu Garrett, em Lisboa: "Nem lá passei ainda. Para não ver."

Não faltam casas com muitas histórias

Uma das fachadas mais recheadas da cidade será a do nº 6 da Rua João Pereira da Rosa. Provavelmente "um dos mais literatos de Lisboa" - assim descreve o olisipógrafo Appio Sottomayor o prédio onde chegaram a viver Ofélia Marques, José Gomes Ferreira, Bernardo Marques, Fernanda de Castro, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão e António Ferro.

Assinalar os locais é importante e poderá ser um primeiro passo para iniciativas futuras, como percursos ou roteiros por locais que marcaram a vida de uma personalidade. Quando se deu início às obras de demolição de uma das casas onde viveu Pessoa, na Estefânia, a directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, não se mostrou impressionada. "Choca-me mais que o local não esteja assinalado como tendo sido uma das moradas de Fernando Pessoa e que não haja por Lisboa um percurso pessoano", disse ao PÚBLICO na altura. Essa casa não estava protegida. Nos casos em que o património está ameaçado a câmara pode até expropriar os imóveis. "Mas isso nunca acontece", lamenta Paulo Ferrero do movimento Fórum Cidadania Lisboa. "A própria câmara não dá o exemplo. Veja-se o caso da casa de Júlio de Castilho."
É uma casa cinzenta e a que começam a faltar pedaços, junto a um largo que baptizaram com o nome do olisipógrafo que ali viveu. Restos de tinta quase invisível revelam que terá sido cor-de-rosa - é geminada com outra, que foi restaurada e que é da cor que já desapareceu desta. Nas traseiras havia um jardim, agora destruído. O muro que o protegia ruiu. E agora há um chão coberto de pontas de cigarros e de garrafas de cerveja vazias. E há ervas secas. Resta uma árvore de flores lilás. Não se vê ninguém aqui. Na fachada, bem lá no alto, pregaram uma lápide de homenagem ao olisipógrafo. Mas as letras estão gastas e escondidas pelos tufos de erva que ali crescem. Na parede. E esta casa está classificada como imóvel de interesse público, integrado no conjunto do Paço do Lumiar. Desde 1997 que é propriedade da Câmara de Lisboa."Aquelas casas [do Paço do Lumiar] não têm muito por onde sobreviver. O sítio tornou-se muito ermo e para ser modificado precisa de um programa conjunto e não recuperar uma casa sem se saber bem porquê", diz a presidente da junta directiva do grupo Amigos de Lisboa, Salete Salvado.

Há casas que dá jeito demolir. "Ou aparece um proprietário interessado em preservar o património, ou não há nada a fazer", lamenta Paulo Ferrero. "Se se conseguisse salvar a casa Daupiás, já era óptimo."

Fica no início da Rua do Arco a São Mamede. É um chaletemparedado domado por trepadeiras - que já mal se vê da rua. Um jardim que já não tem nada de jardim. Plantas e ramos escorrem pelas bordas dos muros, como que a tentar fugir dali. E mesmo assim sente-se um cheiro intenso a jardim de casa de campo.

Luís Oliveira traz comida de gato numa taça. Há muitos gatos por aqui. Pára e contempla os restos daquilo que foi um jardim experimental e a casa que Frederico Daupiás, pioneiro português na floricultura e na horticultura, mandou construir em finais do século XIX. "Eu vinha cá com a minha avó comprar flores. Sou do tempo em que isto estava tudo cuidado", conta. "Mas isso foi em meados dos anos 50." Vive no prédio amarelo que fica mesmo do outro lado do aqueduto, que o separa do chalet de Daupiás. Mudou-se para aqui aos sete anos, quando a sua mãe enviuvou e regressou à casa dos pais. "É uma pena que estes palacetes não sejam recuperados", diz.

O movimento Fórum Cidadania Lisboa tem um projecto para "adaptar o local aos novos tempos, preservando a memória de Daupiás", que passa pela recuperação da casa para a Junta de Freguesia de São Mamede e para um espaço de acolhimento para idosos e pelo aproveitamento do jardim para um projecto de hortas urbanas.

A câmara já recusou um pedido de demolição feito pela imobiliária Seoane&Vidal, actual proprietária. Os herdeiros pediram que fosse classificado como imóvel de interesse municipal - sem sucesso. A casa e o jardim estão, no entanto, abrangidos pela zona especial de protecção do Aqueduto das Águas Livres. O projecto de demolição e construção de um condomínio foi rejeitado pela câmara e a imobiliária não pôde adiantar que ideias tem em mente para o chalet, os jardins e o prédio anexo. Para já, a casa continua a ser devorada por um jardim que cada vez é mais mato.

O prédio onde morreu o escritor Almeida Garrett, na Rua Saraiva de Carvalho, não teve a mesma sorte que o chalet. Foi o caso mais polémico dos últimos anos. Quiseram demoli-la em 1971. Não conseguiram. Voltaram a tentar. E, depois de petições e pareceres, a casa desapareceu, em 2006. No local existe hoje um condomínio privado.
Muitas das casas onde viveram figuras ilustres continuam habitadas. Como aquela em que morreu o poeta Cesário Verde, nos números 12-14 do Largo de São Sebastião. "Conta-se que esta casa terá sido concedida a uma trisavó do meu pai, mãe solteira de um senhor abastado, um pouco para calar algumas vozes." Assim terá ido parar às mãos da família de Gonçalo Oliveira, 54 anos, actor e encenador, a casa onde morreu Cesário Verde. "Mas isto é uma das várias histórias. Nunca ninguém de família a confirmou. É só o que se contava por aí."Gonçalo, filho do proprietário, acaba de chegar do supermercado. Olhos grandes verde-azeitona, cabelo grisalho apanhado. O actor explica que o quarto de Cesário só pode ter sido no primeiro andar. "É lá a casa grande. É lá que estão os quartos."

Às vezes há escolas que aparecem para visitas de estudo. "E visitam a casa, ainda que já não haja nada para ver", conta. "Nem um móvel ou objecto daquela altura."

A casa do lado - são duas geminadas - está em melhores condições do que esta. Tal como aquela que foi de Júlio de Castilho está classificada como de interesse público, integrada no conjunto do Paço do Lumiar.

"É preciso muito dinheiro para restaurar esta casa e nós não somos uma família propriamente abastada", diz Gonçalo. A falta de meios financeiros para a preservação ou restauro de edifícios ou vivendas antigas é um dos problemas de que os proprietários frequentemente se queixam. Existem, contudo, alguns apoios a que os proprietários privados podem recorrer.

Quando uma casa pode tornar-se num museu
Gonçalo Oliveira nunca teve em mente um projecto para a casa relacionado com o poeta? "Não. Não temos outra casa para viver que não esta."

"Muitos responsáveis - ministros, secretários de Estado e autarcas - pensam que a compra do edifício onde um escritor viveu é uma prova de cultura, sem se darem ao trabalho de investigar se há qualquer coisa para meter lá dentro. No que diz respeito a Cesário [Verde], o que o Estado deve fazer não é adquirir imóveis, mas contribuir para que, através de boas traduções, os estrangeiros possam conhecer a sua poesia", escreveu a historiadora Maria Filomena Mónica, autora de uma biografia do poeta, num artigo de opinião no PÚBLICO, em 2007.

Muitas destas casas em Lisboa estão habitadas. "Nesta casa nasceu e morou Wencelsau José de Sousa Moraes, oficial da marinha e escritor português (1854-1929)." É um prédio do mais modesto que há, quatro andares, na Travessa da Cruz do Torel.

"Nesta casa segundo a tradição documenta faleceu em 10 de Junho de 1580 Luiz de Camões." No rés-do-chão do 139 da Calçada de Santana fica a Tasca do Beco: a dona do prédio trabalha na mercearia do lado. Francelina da Silva, 55 anos, comprou o prédio há sete anos. Há dois a câmara obrigou-a a fazer obras. E assim foi. Está todo habitado. Nunca pensou fazer dele outra coisa. "Camões? Olhe, quando ele morreu, estava ali outra casa, só de rés-do-chão", argumenta. "E para além disso nem se tem a certeza que tenha morrido mesmo aqui."

"Acho que é preferível que as casas que foram de habitação permaneçam de habitação - desde que não caiam aos bocados - a, sem meios, serem transformadas noutra coisa", afirma Salete Salvado. "Para que uma casa seja transformada em casa-museu, é preciso haver dinheiro para essa conversão e uma colecção suficientemente importante e interessante para ser lá colocada."

"No caso de Júlio de Castilho não faz sentido haver uma casa-museu, porque não há espólio. Aquilo que havia - os manuscritos - foram comprados pela câmara e publicados. E isso vale mais do que qualquer casa-museu", diz Salete Salvado.

A falta de espólio não foi a justificação para o espaço que foi casa e atelier de Alfredo Keil, na Avenida da Liberdade, classificado como imóvel de interesse municipal, não ter sido transformado num atelier-museu, como chegou a propor o movimento Fórum Cidadania Lisboa, num plano para a reabilitação da avenida. Acabou por se acordar que o espólio do autor de "A Portuguesa", também pintor e poeta, irá para Torres Novas, para um museu dedicado a Keil. A abertura estava prevista para este ano."Infelizmente situações destas são muito frequentes", comenta Appio Sottomayor. E dá outro exemplo: "O espólio de Eça de Queirós foi parar a Tornos, aonde ninguém vai, em vez de estar aqui numa casa digna desse nome."

Exemplos que evocam um pintor e um poeta
Quando consegue uma casa passar a casa-museu? Em Lisboa esses casos contam-se pelos dedos. Para Paulo Ferrero há na capital apenas duas dignas desse nome: a Anastácio Gonçalves - também Casa de Malhoa - e a Fundação Medeiros de Almeida. A forma como as duas se transformaram em casas-museus foi a mesma: depois da morte dos proprietários, coleccionadores de obras de arte.

A Casa Anastácio Gonçalves dificilmente passa despercebida - venceu o Prémio Valmor de Arquitectura em 1905. Projectada pelo arquitecto Norte Júnior, foi a primeira casa de artista lisboeta. Mandada construir no início do século XX, na Avenida 5 de Outubro, foi casa e atelier do pintor José Malhoa até ter sido comprada, em 1939, pelo médico Anastácio Gonçalves, que nela viveu e foi organizando a sua colecção de obras de arte. Depois da morte de Anastácio Gonçalves a casa passou, em 1969, a propriedade do Estado, por vontade do médico. Mas só em 1980 abriu ao público como museu. Para além das exposições permanentes das colecções de pintura, de porcelana e de mobiliário de Anastácio Gonçalves, existe um espaço para exposições temporárias.

Também a Fundação Medeiros e Almeida, na Rua Rosa Araújo, onde o empresário António Medeiros e Almeida viveu durante três décadas, foi, após a sua morte, cedida ao Estado e transformada em casa-museu. Foi criada em 1973 e o seu acervo é composto por colecções de pintura, de escultura, de relógios, de porcelanas chinesas, de peças de mobiliário, de arte sacra, de joalharia e de têxteis.

A Casa Fernando Pessoa é apontada como outro bom exemplo, embora não seja comparável às anteriores. Aberta ao público desde 1993, expõe o espólio do poeta dos heterónimos e cumpre também funções de centro cultural - com salas de exposições, um auditório e uma biblioteca dedicada à poesia.

Segundo Paulo Ferrero, Lisboa é uma cidade de pouca "consciência cultural", a que também faltam casas-museus. "Não sei se haverá um problema de falta de sensibilidade, mas às vezes cheira um bocado a isso. É evidente que estamos em crise, mas a falta de dinheiro também tem servido de desculpa para muita coisa", alerta Appio Sottomayor. Paulo Ferrero reconhece que a criação de casas-museus não é simples. Sugere que se assinalem os locais. E que depois se criem percursos, roteiros. E dá o exemplo das casas onde viveram José Bordalo Pinheiro e Óscar Carmona, assinaladas. "Aquilo está a cair, num canto. Ninguém passa lá."

quinta-feira, agosto 19, 2010

Foi aqui que falaram da "calçada portuguesa"?

COMO se vê na imagem de cima, já abriu ao público, para uso dos peões, a zona cor-de-rosa. Aquilo que em tempos foi um passeio (e tanto deste lado Norte, como do Sul) continua dedicado ao estacionamento automóvel, ao mesmo tempo que, ali por baixo, o parque subterrâneo (com 5 pisos e 500 lugares) continua parcialmente encerrado por falta de freguesia.

Tropecei de novo e na mesma pedra

De tempos a tempos lá vem a discussão do costume sobre se a calçada portuguesa, ou melhor, sobre se o mau estado geral em que ela se encontra (salvo raras excepções), fruto de empreitadas mal feitas e da estrutural falta de calceteiros “comme il faut”; justifica ou não a sua extinção, pura e simples, deixando-a exclusiva às chamadas zonas históricas (vá-se lá saber onde estas começam e acabam…).

De facto, chegou-se a um estado tal que mesmo eu, ferrenho adepto da calçada portuguesa como “ex-libris” desta cidade (e não só) e potenciador fundamental da luminosidade que caracteriza Lisboa, mau grado o estado por vezes deplorável do seu espaço público e das fachadas que emolduram as suas artérias; mesmo eu, dizia, hesito sobre se não será melhor correr a betuminoso cinzento tudo quanto seja passeio.

Talvez assim acabassem os buracos na calçada, os desenhos mal executados, as pedras coladas com “cuspo”, outras, tantas, tantas, colocadas como armadilhas aguçadas (um ex. já clássico é o dos passeios na Avenida de Roma, sobre a linha do comboio, rematando infeliz, para não dizer péssimo, projecto de arranjo à superfície levado a cabo pela REFER há uns anos e que, volta e meia, é responsável por quedas aparatosas de novos e velhos, magros e gordos, com consequências quiçá gravíssimas!); as pedras soltas por causa dos carros nela estacionados ou dos pilaretes arrancados; etc., etc.

Nessa altura até as famigeradas pastilhas elásticas cuspidas para a calçada deixariam de destoar pois o pavimento seria cinzento como elas. Acabariam, ou pelo menos seriam reduzidos drasticamente, os saltos altos das senhoras que diariamente são destruídos pela calçada desdentada. Também as quedas e fracturas provocadas pela calçada polida e altamente escorregadia, veriam a sua estatística cair a pique. Os deficientes motores teriam, sem sombra de dúvida, a sua vida facilitada. Enfim, seria uma Lisboa mais cinzenta mas mais amiga do peão. Talvez sim, talvez não, logo se veria. Mas se dependesse de mim haveria certamente duas coisas que não desistiria de tentar e que, caso provassem, permitiriam a reconciliação do lisboeta com a calçada portuguesa:

Primeiro, dignificar a profissão de calceteiro, pois é aí que o problema, investindo a nível do recrutamento, da formação e da carreira profissional. Segundo, fiscalizar permanentemente as empreitadas levadas a cabo pela própria CML e, sobretudo, pelas empresas que de uma forma ou outra acabam por esventrar a calçada, repondo-a de forma ignóbil, sejam aquelas que lidam com as infra-estruturas da cidade (luz, gás, água … cabos disto e daquilo), sejam as quase impensáveis como o Metropolitano de Lisboa, quando procede a “arranjos de superfície”. A calçada portuguesa merece uma segunda oportunidade, ou não?




In Jornal de Notícias (19/8/2010)

Entrevista preocupante no Jornal Quercus Ambiente:

Entrevista a Pedro Bingre sobre ordenamento do território, AQUI. Dá vontade a fugir.

A estratégia

Depois de elogiar o sentido de responsabilidade do líder da Oposição, mas verificando a subida do PSD nas sondagens, todo o aparelho socrático se assustou e passou a afinar forma de o impedir. Mobilize-se a propaganda. Gritem os Ministros.

À dança sucede-se a guerrilha mediática. Eis o socrático aparelho a difundir até à náusea que o PSD é liberal e quer destruir o Estado Social. Nada mais eficaz num País em crise, com grande taxa de desemprego, com pequenas reformas, com dificuldades no acesso à Saúde, à Educação, etc., fruto – diga-se – principalmente de 15 anos de Governo ultraliberal quase ininterrupto do Partido Socialista.

Os cidadãos que têm pouco e mau mais se assustam se lhes dizem que vão ficar sem nada: estratégia brilhante e com bons resultados que o aparelho socrático precisa de aprofundar. Daí que os estrategas de Sócrates, perante o anúncio do PSD de que não viabilizará o Orçamento de Estado se o Governo não diminuir a despesa e se subir os impostos, venha gritar que o PSD quer diminuir os gastos públicos à custa de prestações sociais e que quer provocar uma crise política.

É falso, mas o PS "finge" não perceber que se pretende o combate ao desperdício e ao esbanjamento (depois de ter adquirido quase 1000 carros, o Estado já quer comprar mais de 2000, gastando cerca de 35 milhões de euros). O "exército" socrático "finge" não perceber que está em causa a sua má gestão e prioridades erradas como o TGV, a 3ª Travessia do Tejo, etc., com prejuízo das prestações sociais.

Em relação ao aumento de impostos que o PSD não aceita no próximo orçamento, o PS grita que é a crise, afirmando que a dedução da despesa da Saúde e Educação é problema dos "ricos". Como se fosse!!! Como se não fossem os mais carenciados e as classes médias que mais precisam de descontos em livros, passes sociais e cuidados médicos em urgências e especialidades a que o SNS paulatinamente destruído por Sócrates não dá resposta.

Na Justiça, quando o líder do PSD refere a politização, cuidarão que os Portugueses não se apercebem das pressões em casos como a Casa Pia ou Freeport, na publicação de legislação que fragiliza as investigações, em particular a magistratura do Ministério Público?

É por tudo isto que o aparelho socrático – dos ideólogos aos usufrutuários – invoca todos os fantasmas. A atitude revela o medo de perder o poder e todas as benesses que o aparelho socrático distribui a poucos, com prejuízo de tantos. E para isso vale tudo.




In Correio da Manhã

quarta-feira, agosto 18, 2010

Com pára-sol... no Reino das Leis da Treta

Gozando com o pagode em plena Av. Almirante Reis:
Os que fazem e os que deixam fazer estão bem uns para os outros
Entrada principal do M. N. Arte Antiga completamente bloqueada com carros.
Se houver um incêndio, logo se vê...

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ANTÓNIO Costa é, com frequência, referido como sucessor de José Sócrates. Ora, tendo em conta que estas e outras cenas semelhantes são o dia-a-dia de Lisboa, a ideia de um dia o termos à frente do país é, pelo menos para mim, pura e simplesmente assustadora!

segunda-feira, agosto 16, 2010

25,5 M€ para os cruzeiros em Santa Apolónia?




Estas são algumas das imagens vindas a público do projecto de Carrilho da Graça para aquilo que se designou chamar novo terminal de cruzeiros de Santa Apolónia. Os "bonecos" desta vez são bem melhores do que o famigerado "boneco" defendido pelo anterior APL para o local, e que foi travado pelos cidadãos em boa hora. As imagens trasmitem a habitual frescura de verde que, como se sabe, raramente, vê a realidade para lá do monitor de CAD/CAM. Os edifícios são tipicamente CG.

Põem-se duas questões:

1. A revogação da prorrogação da exploração do TCA, aprovada recentemente pela AR não inviabiliza, à partida, tudo quanto decorra dessa mesma actividade e, portanto, a desafectação dos terminais de cruzeiros de Alcântara e Rocha Conde d'Óbidos, o que indirectamente ilegaliza os procedimentos para o futuro terminal de cruzeiros em apreço?

2. Este projecto do Arq. Carrilho da Graça, independentemente de tudo o resto, irá a debate público,
right?

Apontamentos de Lisboa

QUEM for pela Av. 24 de Julho, tem de percorrer um calvário de horrores (lixo, grafitos, calçadas destruídas...) para chegar às 4 tapeçarias de Pastrana, no Museu Nacional de Arte Antiga. Mas vale a pena: até ao próximo dia 12 estão lá as 3 de Arzila (desembarque, cerco e entrada na cidade - imagem de cima) e, em sala ao lado, a de Tânger (juntamente com os painéis de S. Vicente). Ali ao pé decorre, em permanência, a projecção de um filme explicativo.

Tudo tão impecável por dentro, quanto lastimável por fora!

O meu "barómetro da mobilidade"

3 Ago 10, de manhã
14 Ago 10, de tarde
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A Rua do Ouro está a tornar-se imbatível!

sexta-feira, agosto 13, 2010

Em busca do termo certo

Lisboa - Praça da Figueira
12 Ago 10
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TALVEZ algum leitor de O Carmo e a Trindade queira responder à pergunta «Qual o termo certo?», colocada no blogue Passeio Livre - onde aparece esta imagem, a par de outras bem nossas conhecidas... - ver [aqui].

O meu "barómetro da mobilidade"

Rua do Ouro, 12 Ago 10
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BUScando com atenção, também se encontram transportes públicos nestas faixas. Aliás, as iniciais PT (que se podem ver no carro da 1ª imagem) devem querer dizer isso mesmo, embora "à inglesa"...

quinta-feira, agosto 12, 2010

Por uma estrada viva


Por Manuel João Ramos


Agir pelo bem comum

A subida alarmante do número de mortos e feridos nas estradas portuguesas, nos últimos tempos, deveria tirar o sono aos responsáveis pelas políticas de prevenção do risco rodoviário. Suspeitamos que não tira. Mas deve, antes de mais, ser uma preocupação de toda a sociedade, na medida em que os custos físicos, emocionais e económicos são partilhados por todos nós.

Os poderes central e local, tolhidos pelo argumentário da crise e surpreendidos pela ineficácia das suas medidas e acções na área da chamada “prevenção rodoviária”, não estão dispostos a despender os recursos humanos e financeiros mínimos necessários para reduzir os comportamentos rodoviários de risco infelizmente típicos numa época crítica como é o período de férias de Verão.

Ao constatar que os esforços preventivos da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária se resumiam, neste Verão, ao caricato anúncio de uma tartaruga insuflável atada ao tejadilho de um carro de família, a ACA-M, a ANBP, a ASPIG, o SPP-PSP e a QUERCUS decidiram lançar no passado dia 30 de Julho uma Campanha Nacional de Sensibilização para uma Condução Segura e Ecológica durante o mês de Agosto, com distribuição de folhetos com conselhos práticos por todas as delegações regionais das várias organizações. Estamos conscientes da limitação da nossa acção – ao fim e ao cabo, 20.000 folhetos não são mais que uma gota no oceano que constituem os 4 milhões e meio de condutores portugueses. Sendo uma iniciativa simbólica, ela tem ainda assim algumas importantes mensagens associadas.

Por um lado, é um lembrete à ANSR e ao governo de que é possível promover acções positivas, focalizadas e relativamente pouco dispendiosas, desde que prevaleça um espírito de colaboração e de dedicação; esta iniciativa certamente inédita que junta organizações cívicas e organizações socioprofissionais, e que vem envolver os ambientalistas nos problemas da segurança rodoviária, pretende muito claramente assinalar a necessidade urgente de um empenhamento aprofundado de todos nós na causa da redução do risco e do trauma rodoviários em Portugal.

Por outro lado, nesta iniciativa conjunta pode detectar-se uma crítica silenciosa ao modo como, sem qualquer controlo, a ANSR desbarata verbas importantes em campanhas públicas (como esta da tartaruga insuflável ou, em 2006, a do avião com crianças a bordo) que não têm outro objectivo que não dizer que o governo está a fazer alguma coisa em termos de “prevenção rodoviária” – o facto de as campanhas não contribuírem em nada ou quase nada para reduzir a incidência e a gravidade dos desastres rodoviários não parece incomodar quem está habituado a gastar dinheiros públicos sem que lhe sejam pedidas contas e responsabilidade. Digamos que esta campanha pretende ter o efeito de uma bofetada de luva branca tanto na cara de governantes que governam a olhar para as audiências, como de condutores que conduzem a olhar para o seu umbigo.

Confrontados assim com a passividade e ineficácia das acções das autoridades publicas face ao grande problema de saúde pública que é a sinistralidade rodoviária, e muito particularmente face à evidência de que ele não desaparece apenas porque o ministro responsável quer que ele desapareça, concebemos esta campanha no cruzamento de três ordens de factores muito relevantes de preocupação social face à condução em meio rodoviário: a segurança de bens e pessoas, os seus custos económicos e sociais, e os seus impactos energéticos e ecológicos.

O principio geral da mensagem desta campanha conjunta é portanto o seguinte: uma condução segura é também uma condução económica e uma condução preocupada com o ambiente e a escassez progressiva de hidrocarbonetos.

Este cruzamento de factores deveria ser óbvio para todos nós, e supor-se-ia que o governo central e as autarquias o pudessem já ter feito. Infelizmente, temos podido ver que falta aos responsáveis políticos e técnicos uma visão abrangente do fenómeno rodoviário e, nessa medida, a capacidade para implementar medidas estruturantes que permitam combater os seus riscos e impactos.

Através desta (simbólica mas empenhada) campanha nacional – note-se: não financiada por dinheiros públicos – a ACA-M, a ANBP, a ASPIG, o SPP-PSP e a QUERCUS quiseram chamar a atenção dos portugueses, e dos nossos governantes, para a necessidade de todos nós adoptarmos comportamentos mais seguros, mais económicos e mais conscientes dos impactos ambientais da condução rodoviária.

De quem é a culpa?

Estamos convictos de que uma grande parte da responsabilidade pelo aumento do número de desastres graves nas ruas e estradas portuguesas deve ser assacada aos tremendos e lamentáveis erros da tutela da Administração Interna na área da fiscalização. A extinção absurda da Brigada de Trânsito, as confusões na transferência de áreas de fiscalização entre a GNR e a PSP, as ambiguidades nas responsabilidades das divisões de trânsito da PSP e das polícias municipais, são alguns dos sinais da incompetência do governo na gestão do policiamento e fiscalização rodoviários.

Seria bom que os erros neste domínio custassem apenas o dinheiro dos contribuintes, Infelizmente, como é evidente para qualquer pessoa minimamente atenta, estes erros custam vidas. São erros que só continuam a ser feitos porque não há uma cultura de auto-responsabilização das nossas elites – como ficou por demais evidente no desastre provocado, a 27 de Novembro do ano passado, em plena Avenida da Liberdade, em Lisboa, pela incapacidade do Secretário-geral da Administração Interna em gerir a sua agenda para não chegar atrasado à tomada de posse de um grupo de governadores civis. Pelo seu simbolismo, este desastre (que felizmente – e miraculosamente) não resultou em nenhuma perda de vidas inocentes, em muito contribuiu para deitar por terra toda a credibilidade do Estado em fazer passar para a sociedade mensagens de incentivo para a adopção de comportamentos rodoviários seguros e socialmente responsáveis por parte dos cidadãos portugueses.

Do mesmo modo, também a ligeireza com que a ANSR nos vem dizer que afinal o número de mortos das estradas em Portugal tem sido contabilizado em baixa e que constituem mais 30% do que o governo alardeava ser, nos deve deixar um trago amargo na boca. Porque, convenhamos, porque razão devemos nós acreditar no mentiroso que nos diz que agora não está a mentir?

O problema é que aqueles que estão na linha da frente do combate à sinistralidade e ao crime rodoviário – em particular, os corpos policiais – não podem deixar de se sentir desmotivados e mesmo ultrajados pelo fato de o seu trabalho e empenho serem deitados a perder pela imperdoável irresponsabilidade daqueles que nos governam.

(texto escrito para a revista O Polícia, do SNP-PSP, Setembro de 2010)

terça-feira, agosto 10, 2010

O meu "barómetro da mobilidade"

Rua do Ouro
3 Ago 10
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TALVEZ involuntariamente, o agente que aqui se vê deu-me a resposta à pergunta «Será que as camionetas de turismo têm direito à utilização das faixas BUS?» - ver [aqui].

domingo, agosto 08, 2010

Cidadania pela cidade


São espaços de debate, de denúncia ou até barómetros para políticos. Chegam, por vezes, onde os jornais não chegam. Há quem lhes reconheça importância, mas também quem diga que, em Portugal, poucos conseguem ser mais do que endereços escondidos na web. Por Cláudia Sobral

Há países onde um blogue local é o blogue de uma rua ou de um bairro

Perfis

Um post pode chegar longe. Num blogue local talvez mais: quanto mais pequena a comunidade, mais influência terá o que se escreve nessas páginas online, dizem alguns especialistas. Que poder têm os blogues nas cidades? Podem alertar para problemas de uma rua ou de um bairro, podem gerar discussão, podem fazer correr tinta nos jornais, podem dar que pensar a autarcas. A resposta dos especialistas não é totalmente consensual, até porque há casos e casos. Mas há exemplos de blogues que conseguem mudar bocadinhos do mundo - ou de uma cidade.

Setembro de 2007. O Porto preparava-se para voltar a ver os antigos eléctricos trilhar os carris da Baixa. O Avenida Central era um blogue ainda jovem - como o seu criador, Pedro Morgado, estudante de Medicina. Num dossier destinado a "ideias para Braga" Pedro Morgado sugeriu que os eléctricos regressassem também à sua cidade, Braga. Os comentários ao post não foram muitos - mas os suficientes para logo no dia seguinte se anunciar que seria lançada uma petição. Assim foi: reuniram-se mais de 800 assinaturas, o assunto foi debatido em assembleia municipal, a câmara solicitou um estudo de mobilidade. Os eléctricos acabaram por nunca voltar a Braga, mas o blogue ganhou projecção - foi-lhe atribuído o prémio de melhor blogue regional português de 2007. E os cidadãos tiveram voz - através da Internet.

Este é um caso. Entre muitos. "São vários os blogues a envolverem-se na luta por causas públicas", afirma a investigadora da Universidade da Beira Interior Catarina Rodrigues, autora de um estudo sobre blogues regionais portugueses. "São importantes e activos agentes sociais, porque constituem um olhar atento sobre a comunidade e sobre temas específicos, que muitas vezes não têm espaço nos media regionais." Podem ser sobre moda ou cultura, urbanismo ou ambiente. O perfil mais comum é o daquele que discute política local e problemas da cidade - sobretudo nas áreas do urbanismo e do ambiente. A amplitude das discussões? Vai desde um buraco numa rua ou de um candeeiro de iluminação pública inestético a planos de urbanização.

Mas o sucesso que podem alcançar não depende exclusivamente da sua qualidade. Especialistas e bloggers tendem a ser da opinião de que o que se escreve na Internet tem um impacto muito maior nas cidades pequenas do que nas grandes - até porque os blogues locais podem assumir o papel de "meios alternativos aos órgãos de comunicação locais e às fontes oficiais", diz o investigador da mesma instituição Paulo Serra, com vários trabalhos publicados sobre blogues. "Nos meios mais pequenos, onde há menos alternativas em termos de opinião, o blogue até pode assumir um papel bastante construtivo", diz Estrela Serrano, do conselho regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que publicou, em Junho, um estudo sobre a imprensa regional e local em Portugal, onde são citadas queixas de dependência dos jornais locais e regionais face ao poder local.

O blogue A Baixa do Porto é outro caso. O seu fundador, Tiago Azevedo Fernandes, conta que já recebeu emails de figuras que ocupam cargos públicos, nomeadamente vereadores da Câmara do Porto, com pedidos de publicação de textos. Uma resposta a uma interpelação directa, uma sondagem da opinião dos leitores - por causa do projecto para a Via Nun"Álvares.

Paulo Ferrero, fundador de um blogue do género criado na capital ? Cidadania Lx -, não sabe o que é receber um pedido de publicação de texto com a assinatura de um vereador. "Aparecem comentários que percebemos que são de vereadores." E não passa disso. Revela, contudo, que colabora com outro blogue, de menor dimensão - o Cidadania Cascais. Aí sim, sente que aquilo que se escreve no blogue tem impacto na autarquia. "Fez-se uma denúncia de uma obra ilegal e o executivo nem dormiu a pensar no assunto", conta. "É sempre mais difícil um blogue incomodar os visados numa cidade com a dimensão de Lisboa", reconhece.

Falta união entre bloggers
O jornalista e blogger Paulo Querido tem resposta pronta para queixas de falta de projecção: façam como os galegos. "Os nossos blogues não criaram uma densidade de corporação própria ou algum tipo de agregadores que criem um colectivo", explica. "Em Portugal a blogosfera não passou para a segunda fase - a da auto-organização dos conteúdos."
"Na Galiza, por exemplo, há uma união maior - talvez porque tenham algo por que lutar que é mais regional do que local", diz. "Dá-se por eles. E não dou por uma blogosfera do Algarve ou do Minho. Se calhar não têm projecção fora do meio, porque não falam uns com os outros." Os blogues locais portugueses, diz, não aproveitam ao máximo as suas potencialidades.
Já Catarina Rodrigues considera ser "redutor" fazer comparações directas entre a realidade portuguesa e a de outros países.

Os anónimos
Outro tipo de casos há ainda. De blogues que dão nas vistas pela negativa.Póvoa Online é um exemplo: em 2008 tornou-se no único blogue a ser encerrado por ordem judicial em Portugal, depois de uma queixa por difamação do então presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, Macedo Vieira. A identidade do autor - que assinava com o pseudónimo Tony Vieira - acabou por nunca ser desvendada. Depois de encerrado, o autor migrou de blogue: o Póvoa Offline.
Outro autarca - esse da Covilhã, Carlos Pinto - também apresentou queixa por difamação contra um blogue: o Covilhas. O autor era anónimo. Suspeitava-se de quem seria, mas nunca se conseguiu prová-lo. Resultado: o presumível autor dos posts saiu ilibado. Por falta de provas.
"Fazer acusações, difamar ou especular ao abrigo do anonimato ou de pseudónimos é o lado menos positivo da blogosfera em geral", diz Catarina Rodrigues. Outro problema dos blogues locais, na opinião de Paulo Querido, é a ausência de informação relevante e a existência daquilo que apelida de "overdose de opinião". Mas este ponto não é consensual.


Paulo Ferrero publica no Cidadania Lx "algumas notícias do dia". "Isso é muito importante, porque há pessoas que não estão atentas aos jornais", justifica.
No entanto, o blogue gera também muita informação própria, adverte. Porque os blogues locais chegam onde os jornais não chegam habitualmente, àquilo que está fora do seu raio de alcance, como um problema de uma rua ou de um bairro - cidadãos há muitos, jornalistas nem tanto. Informações com que a imprensa se cruza nos blogues e que usa depois. "É importante que os jornalistas não discriminem informações produzidas por bloggers, já que podem tornar-se parceiros", adverte o jornalista e investigador do Observatório de Ciberjornalismo, da Universidade do Porto, Pedro Jerónimo.

"Uns jornalistas citam o blogue, outros não", diz Paulo Ferrero. Pedro Morgado, do Avenida Central fala no mesmo problema. "Mas não me importo com isso", admite o fundador do Cidadania Lx. "O que importa é que a notícia passe, que chegue às pessoas."

Falou-se em demolir uma casa onde viveu Almeida Garrett, em Campo de Ourique, Lisboa. Houve um pequeno grupo de pessoas que não ficaram indiferentes e criaram o Movimento Fórum Cidadania Lisboa, a que foi associado um blogue - o Cidadania Lx. Em Outubro de 2004, lançaram uma petição, anunciada no blogue. Que de nada serviu: o caso Garrett viria a ser uma batalha perdida. Mas o movimento estava criado. E o debate não terminou, apesar de as preocupações e os temas a discussão se irem renovando - ainda que sempre predominantemente orientados para as áreas da arquitectura e da intervenção urbanística. "Temos perdido muitas causas, mas ganhámos outras", conta o fundador Paulo Ferrero. E dá o exemplo do projecto para o novo Terreiro do Paço: "Conseguimos tudo o que queríamos." O Cidadania Lx é, nas suas palavras, "importante para os cidadãos, para os jornalistas, que podem usar assuntos discutidos no blogue para futuras investigações, e para a própria Câmara de Lisboa, que sabe de alguns problemas através do blogue". Actualmente, o número de entradas semanais ronda as 100. Na última semana, perto de 400 pessoas por dia visitaram o site. Os colaboradores, oriundos de diversas áreas - desde arquitectos e actores a gestores ou engenheiros -, são cerca de 60. "Deviam ser 600", diz Paulo Ferrero. http://cidadanialx.blogspot.comAvenida Central

«Os portugueses são óptimos a ter ideias...»

Primeiro, um pilarete derrubado e desaparecido;

depois, e com a ajuda de um jipe, um outro em vias de levar o mesmo caminho...
Por fim, e uma vez concluída a tarefa...

... é fartar!
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AS FOTOS, tiradas na Av. S. João de Deus (entre Dezembro de 2009 e Agosto de 2010), mostram o que sucede quando uma boa iniciativa não é, depois, devidamente acompanhada - dando razão ao que dizia um saudoso professor meu, do IST: «Os portugueses são óptimos a ter ideias, mas péssimos a dar-lhes seguimento»

Na terra das Leis-da-Treta


Av. Óscar Monteiro Torres
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ESTAS fotos foram tiradas ontem, sábado, pelas 19h, quando o estacionamento já é gratuito há muito tempo: em cima, um elemento da brigada que leva à letra a noção de todo-o-terreno. Em baixo: ali mesmo ao pé, lugares para estacionar, com fartura...

sábado, agosto 07, 2010

As mais-valias de Lisboa

3 Ago 10
AS DUAS jovens que, na foto anterior, vemos a percorrer os obstáculos da Rua das Portas de Santo Antão, puderam saborear, um pouco adiante, o famoso Pátio do Tronco, local histórico onde Luís de Camões esteve preso.

Esta imagem (completada por [estas] outras, do túnel de acesso, tiradas na mesma altura) mostra que houve uma evolução muito positiva em relação à situação anterior - ver [aqui] e [aqui].
Refiro-me ao grafito que se pode ver do lado esquerdo, apelando aos artistas-de-parede que dêem largas à sua arte.

Nos tempos actuais (em que o turismo é uma arma fundamental no combate ao endividamento externo), estas mais-valias que Lisboa oferece só não são apreciadas pelos bota-abaixistas.

sexta-feira, agosto 06, 2010

O ex-libris de Lisboa

Rua das Portas de Santo Antão - 3 Ago 10
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TURISTAS tomam contacto com uma das especialidades de Lisboa: os 'passeios amigos do peão'. A explicação para o que aqui se documenta pode ser vista [aqui].

Gelados finos no Chiado

A partir de agora o lisboeta não precisa de se meter no comboio que sai do Cais do Sodré e segue pelas agruras urbano-depressivas vizinhas rumo a Cascais, muito menos suportar o “passeio dos tristes” de fim-de-semana para sorver, ou lamber, conforme os casos, o gelado mais famoso de todos quantos povoam o nosso imaginário palatino desde os imemoriais tempos da nossa infância. A partir de agora, no espaço imediatamente ao lado do que já foi, imagine-se, “Le Bonheur des Dames”, ao cimo da Rua do Carmo (talvez fosse bom os UHF adaptarem a letra da sua canção às novas realidades), é agora possível gozar-se, que é disso que se trata, do melhor gelado que por cá se faz, parente mais próximo dos melhores gelados do mundo, lá para as bordas do Adriático. A partir de agora, o gelado não corre o risco de derreter no “tupperware” de levar a casa.

Àqueles sem idade suficiente para se lembrarem dos dias em que o avô do actual produtor da novel geladaria do Chiado, trabalhava para uma conhecida homóloga dos Restauradores, ou dos tempos da primeira geladaria já com o seu nome na montra, no Tamariz de um outro tempo; escusado será lembrar o percurso feito a pulso e o sucesso mais do que merecido de então e agora coroado, por via de neto, como todo senhor dos gelados da capital, relegando para o pódio secundário a mais discreta “prima” da Rua da Prata e a concha nata mais famosa, mas exageradamente doce, de Lisboa.

Memória vivas; tenho-as já da fase seguinte da sua carreira, no piso térreo do saudoso e “assassinado” Cinema São José, que tanta falta hoje faz, e daqueles gelados em tempo de intervalo de matiné. Depois, em 71, e até hoje, tenho-as da loja do centro comercial da Conde Valbom onde tenho delirado com a framboesa, o turrón, o coco, a manga, o morango e, invariavelmente, quando não apenas solitária, a excelsa nata.

É verdade que nos últimos anos, talvez pela procura massificada e/ou pelo desaparecimento do patriarca, nunca verdadeiramente substituído, os gelados não são o que eram e até. Apresentam de tempo em vez resquícios de laminados de gelo, ali e acolá demasiado líquidos. Por vezes, até, o senhor a quem cabe preencher o vazio do cone não sabe dosear os sabores convenientemente, e coloca sabor sobre sabor. Houve até uma proliferação de sabores e misturas, quiçá explosivas, na ânsia, talvez, de atrair novos públicos e acompanhar a modernidade. Compreensivelmente, a nova sociedade comercial fez um “up grade” no visual de lojas e vendedores, apostando na sala de estar. É o “marketing” e o “merchandise”, a diferenciação e a diversificação. Espero, melhor, desejo, que o salto não equivalha a uma alteração de qualidade no gelado, sob pena de se perder um vastíssimo património “gelateiro”, absolutamente único num país obrigado tempo demasiado ao geladinho de pau




In Jornal de Notícias (29/7/2010)

Pelo menos já se começa a falar nisto...*

Alterações aos semáforos de Lisboa em estudo
Por Marisa Soares


Medida avança quando a Carris reestruturar a rede, diz o vereador com o pelouro da mobilidade, Nunes da Silva

O vereador com o pelouro da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Nunes da Silva, anunciou ontem a possibilidade de implantar um novo sistema de semáforos na cidade, que dê prioridade aos autocarros em alguns locais e diminua o tempo de paragem. A colocação do novo sistema depende agora de um acordo entre a autarquia e a Carris, bem como da disponibilidade financeira, dado que é "um investimento pesado".

O novo sistema será semelhante ao que existe na margem sul do Tejo: quando o autocarro se aproxima de um cruzamento com semáforos, envia um sinal e o programa do semáforo é "refeito" para que seja accionada a luz verde. "Queremos associar isso à reestruturação da própria rede [da Carris] para que não se esteja a investir em eixos que neste momento não se justifiquem", explicou o vereador à Lusa, acrescentando que não faz sentido aplicar o novo sistema no eixo entre as avenidas da República, Fontes Pereira de Melo e da Liberdade por haver uma "boa oferta de metropolitano".

Nunes da Silva aproveitou para criticar a falta de reestruturação efectiva da Carris na Baixa, onde há 71 circulações de autocarro por minuto e duas linhas do metropolitano. O autarca refere que a CML alertou a empresa para o facto de a sua oferta estar "em cima" de duas linhas do metro, o que "descura ou diminui a oferta" em outros locais mais necessários.

Contactado pelo PÚBLICO, o secretário-geral da Carris, Luís Vale, remeteu quaisquer esclarecimentos para os dados do mais recente relatório e contas da empresa. Sublinha, ainda assim, que "a Carris não fez qualquer crítica à câmara sobre o esquema de circulação na Baixa".

Porém, no relatório lê-se que as alterações à circulação naquela zona penalizaram o transporte público, nomeadamente durante o período de encerramento da Av. Ribeira das Naus para as obras de saneamento. O aumento dos tempos de circulação no atravessamento da Baixa e a alteração dos locais de paragem resultaram numa "penalização dos passageiros em termos de acessibilidade e conforto", refere o documento.

Quanto ao novo sistema de semáforos, Luís Vale aplaude o anúncio do vereador, já que o assunto tem estado em cima da mesa nas reuniões entre as duas partes. com Lusa
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* Quando me lembro do sururu que foi para dar mais uns segundinhos ao atravessamento de peões nas avenidas da Liberdade e República, ainda me dá vontade de rir!

No Terreiro do Paço continua-se a semear lixo:


Acabou-se o Terreiro do Paço aos Domingos, mas temos o Terreiro do Paço durante o Verão.



Retiraramn o quiosque lindo junto à Rua do Arsenal, que tapa inclusive a placa alusiva ao regicídio, não para o retirarem de vez do T.Paço, mas para o oficializarem por mais uma dezena de anos





Arrancaram as colunas de iluminação final séc. XIX do muro junto ao rio, para colocarem candeeiros LINDOS, dignos de auto-estrada



Caixotes acabados de colocar um pouco por toda a moldura
(exterior e interior) da praça


...

Decididamente, a Frente Tejo é uma frente de mau gosto. Não contentes com os novos candeeiros do Terreiro do Paço, já apelidados, e bem, de periscópios, continuam a poluir a praça a seu bel-prazer. Não dá para acreditar que o Presidente da CML concorde com este lixo!!

quinta-feira, agosto 05, 2010

Toma e embrulha

Já foi o tempo em que as lojas concorriam entre si, fosse onde fosse, para juntar o útil ao agradável ao consumidor, que é como quem diz, concorriam por forma a que aquele se lhes fidelizasse e não zarpasse à loja do vizinho do lado. Nesses tempos, entre muitas outras coisas, primava-se pelo requinte no papel de embrulho, ao tacto e à vista, no esmero e virtuosismo do laço, até mesmo no feitio da caixa e no logótipo nela impresso. Não havia brinquedo, perfume, sapato ou camisa, para falar do mais evidente e sem referir os artigos de pastelaria; que não tivesse um embrulho atractivo a formalizar a compra, em caixa ou caixinha bem composta, e respectivo papel de seda envolvendo o artigo comprado. Por vezes, e não tão poucas vezes assim, o embrulho era mil vezes superior àquilo que embrulhava. E não se tratava de especial favor pela compra derivar de feliz aniversário, de acontecimento memorável ou da perspectiva de vir a sê-lo. Na altura não se usava o termo, mas tratava-se de um efectivo e real atendimento personalizado.

Hoje, não só isso é cada vez mais impossível, como tende a não existir de todo, até naquelas circunstâncias especiais em que o vendedor indaga, robotizado, “é para oferta?”. Hoje, tudo é nivelado por baixo. Talvez por força da famosa crise, que a bem dizer nunca deixou de existir, se por desleixo e desaprumo da “cadeia de valor”, se por culpa do consumidor, hoje, é tido é sabido que ao fazer-se uma compra, seja onde for e em que circunstância for, o “embrulho” é sempre o mesmo: enfiam com o artigo saco de papel (o plástico é politicamente incorrecto) abaixo e zás, leva com dois agrafos junto à pega e toca a andar. Por vezes rematam com outra das frases habituais, “quem está a seguir?”. Se for dia de festa, então, com sorte, pode ser que quem esteja do lado de lá do balcão aceda a colar um daqueles autocolantes pindéricos fazendo publicidade ao estabelecimento; quiçá, mesmo, em caso de prenda para menino ou menina, haja direito a chupa-chupa ou etiqueta linda colada ao saco.

Certo, certo, é que a caixa desapareceu, tal qual o laço. Igual sorte para o papel de seda, o cetim, o logo desenhado a preceito. Mesmo nas sapatarias, de renome ou não, é comum ver-se o vendedor enfiar os ditos saco abaixo, nus e enxovalhados. Só se o cliente fizer questão é que lhe darão a caixa, que, diga-se de passagem, também já não é o que era. Lá virá o dia, portanto, e não será assim tão longe como se pensa, em que ao comprar-se determinada prenda, referindo expressamente que é para oferta, ouvir-se-á ao vendedor o que se ouvia na Primária, perdão, no Ensino Básico, a algum colega mais traquina, quando apanhava o colega de carteira de surpresa, geralmente desagradável, ou em contra-pé: “ai é? ora toma e embrulha”.





In Jornal de Notícias (20/7/2010)

terça-feira, agosto 03, 2010

Animem-se, lisboetas!

Lagos - Junto à Avenida dos Descobrimentos
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A JUNTAR ao caos e à impunidade generalizados na cidade, o 'bom exemplo' de um carro do Estado, a poucos metros de parques de estacionamento com largas centenas de lugares vagos - e a maioria deles, gratuitos.

Que formação tem gente desta?

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E que tal processá-lo(s)?

3 Ago 10
Passeio Sudeste da Praça da Figueira
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As fotos seguintes são pormenores desta vergonha
É EVIDENTE que, algures, há alguém que é responsável por esta vergonha já aqui referida inúmeras vezes. Esse "alguém", sendo decerto uma pessoa concreta (singular ou colectiva), não há-de ser difícil de descobrir; pelo que eu, de muito boa vontade, pagarei do meu bolso os custos de uma acção em tribunal contra ele - se tal for viável.

Assim, se alguém conhecer um advogado que queira pegar no assunto a sério - e estou a falar, também, muito a sério - contacte-me, p.f.

NOTA: Claro que quem diz este assunto, diz muitos outros - e não só em Lisboa, apesar de a capital ser uma fonte inesgotável de casos vergonhosos como este.