Escrevi a pedido de um velho amigo, suponho que para ser publicado na Gazeta de Caldas, este texto:
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Continuamos a caminhar, amigo Gonçalo
Ainda com os olhos húmidos penso, penso nos vários momentos que passámos. Quando depois de testemunhares sobre as desgraças que se estavam a fazer em Caldas, no nosso julgamento me agarras no braço e me dizes à orelha, “António, não sei se menti”, eu disse-lhe “então Gonçalo? “ “Pois disse que te conhecia de sempre...” pois... e era verdade, o sempre é a idade do conhecimento, lembro-me bem na Gulbenkian, em 1979 quando o Luís Coimbra nos apresentou, a propósito da nuclear e do Alqueva, duas das muitas, muitas lutas que nos uniriam para sempre.
Depois quando te assessorei no Parlamento onde apresentámos vários requerimentos, ou te substituía na Vereação, e recordo, a propósito outra tua quando me contas: ”ontem o Rui Godinho (da vereação do PCP) veio fazer-me queixa tua, -disse-me que bastou uma substituição e já apoiamos o Abecassis”, depois dele me explicar disse-lhe –“ O António fez muito bem, eu teria feito o mesmo!” Era a propósito da limpeza das paredes de Lisboa! das pintadas revolucionárias).
A penúltima vez que nos vimos foi no Parque de Caldas, onde te trouxe várias vezes, e onde temos testemunhos teus inolvidáveis sobre a construção da cidade e da sua lógica e aí falámos dos nossos, da nossa velha guarda, alguns já em memória, outros a continuar a tua, as nossas lutas.
Ainda estivemos juntos num almoço há 3 anos, no teu aniversário (o 95?) onde recordo o teu olho sempre vivo e a atenção que nos dedicaste e a amizade do fundo da alma. Despedimo-nos com dois ósculos que nos tinham passado a ser habituais.
Escrevo e os olhos voltam a estar húmidos, a alma grata pelos momentos e até as zangas, poucas que tivemos e até escrevemos (no Diário de Notícias) na mesma página, em colunas opostas, opostos também no tema, mas irmanados na civilidade, tu contra a Interrupção Voluntária da Gravidez.... eu a favor ou quando em tua casa me pedes para apreciar o prefácio que escreveste para o meu livro “Planetas Vivos são Difíceis de Encontrar” e eu algo temeroso, desse, pois embora em tudo o resto o nosso acordo fosse total, tinha um capítulo a defender a regulamentação de todas as drogas.... que nem sequer te preocupou, mas pois não os outros, todos os outros.
O teu pensamento querido “tio” e amigo Gonçalo vinha de traz, vinha do fundo do conhecimento da natureza e do tempo desta e do que o homem com eles faz.
A memória são os momentos em que o pensamento se continua. Vamos continuar.
#que como facilmente se entende foi escrito na comoção e na hora.
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