‘Avenidas Novas’ são as que foram sendo desbravadas do Saldanha ao Campo Grande, a ritmo variado, por três eixos ora designados Av. da República, Av. Defensores de Chaves e 5 de Outubro, após o boom da Av. da Liberdade e da construção do ‘brasonado’ Bairro Barata Salgueiro e dos ‘burgueses’ Camões e Picoas. A semelhança conceptual com a Baixa Pombalina é evidente: traçado feito a régua e esquadro, uma cidade que cresce do rio para o rural, com vontade de exibir progresso.
Hoje, como ontem, as Avenidas Novas refletem a nação: disparidade de gosto, bolsa e engenho, caos urbanístico, transposição sui generis do que se faz ‘lá fora’; desprezo da memória coletiva e do Património. Mas ainda nos resta muito do Plano de Ressano Garcia: os arruamentos à la Haussmann (luminosos, em que ‘se respira’, com muitas árvores, etc.), e prédios que ombreiam com os lá de fora. Já as frentes de quarteirão que restam intactas são as da frente norte do troço Duque d’Ávila entre a Av. República-Defensores Chaves, a da frente da Versailles, a da ‘moldura’ do Campo Pequeno. Se nos lembrarmos que o Plano nasceu em Oitocentos e que só nos anos 30 do século passado se preencheu a malha ‘desdentada’, fruto das nossas costumeiras debilidades sócio-culturais-financeiras, então nada disto é novo e nada mudou.
Século e meio de construção soluçante, em ziguezague, ao sabor do momento, que sujeitou as Avenidas Novas a descontinuidades e mudanças de rumo que resultaram em sucessivas vagas de abate e reconstrução: vivendas garbosas e edifícios ecléticos que viraram luxuosos prédios de rendimento, que virariam, já no Estado Novo, em prédios mais acessíveis, de pendor modernista. Ora se esmerava na construção, com arquitetos como Ventura Terra, Norte Jr. ou Miguel Nogueira e construção de boa cepa, fachadas e interiores deslumbrantes (um ‘preciosismo’ de Ressano sobreviveu até há 15 anos: os edifícios de gaveto rematavam sempre o quarteirão com fachadas arredondadas, evitando estéticas agressivas); ora se construía mal e depressa, com consequências perversas, hoje à vista de todos. Depois, os terríveis anos 60-70.
Ei-las, as Avenidas Novas, numa encruzilhada: sem proteção legal, enxovalhadas pela autarquia, reféns da especulação, vítimas da sua própria opulência (muitas assoalhadas, áreas de serventia, logradouros...). Já só resta a quem não se resigna ao alumínio e à fachada em espelho, lutar prédio a prédio pela preservação dos estuques e das madeiras exóticas que ainda existem, das cantarias e do ferro forjado que se recusam a desmoronar. É bom que a Freguesia das Avenidas Novas faça pelo nome.
terça-feira, junho 04, 2013
As Avenidas Novas
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