segunda-feira, julho 21, 2014

Venha de lá essa nova praça!


A propósito do programa "Uma Praça em Cada Bairro" da CML, um escrito:

«Está a decorrer a discussão pública do programa da Câmara Municipal de Lisboa (CML)designado "Uma Praça em cada Bairro - intervenções em espaço público" (o leitor não sabia que tal existisse? Pois era suposto que já estivesse a ser ouvido pela sua junta de freguesia ou pela unidade territorial da zona, isto se for morador numa das 30 zonas consideradas pela CML como prioritárias, claro, pois se não o for, esqueça), e há que dar os parabéns à CML pela iniciativa, assente esta no que assentar e demore o que demorar a ser concretizada (só em 2017 é que as obras terão terminado, até lá, falta concluir os estudos prévios, fazer algumas intervenções low cost - e como barato costuma sair caro... - e lançar as empreitadas - ai a crise e o exemplo do Capitólio).

É verdade que a ideia não é nova (era uma das medidas constantes no programa de candidatura de Manuel Maria Carrilho à CML, em 2005), mas é muito boa e como tal merece que a acolhamos com entusiasmo.

O programa faz benchmarking do Plaza Program nova-iorquino, que assentava em três vetores: garantir um espaço público de qualidade passível de ser alcançado a pé pelos habitantes num espaço de 15", criar uma «praça» de bairro, e permitir que as organizações sem fins lucrativos propusessem novos espaços públicos - e se as duas primeiras premissas são agora óbvias, a terceira nem subliminarmente falando, pelo menos nesta fase.

No programa, a CML pretende organizar, e bem, "a partir de uma praça, de uma rua, de uma zona comercial, do jardim do bairro ou de um equipamento coletivo existente ou projetado", "um ponto de encontro da comunidade local, uma microcentralidade que concentre atividade e emprego, que se consagre como espaço público de excelência e local de estar, onde se privilegiem os modos suaves de locomoção, marcha a pé e bicicletas, os transportes públicos e onde o trânsito automóvel será condicionado" e, assim, replicar a experiência da Av. Duque de Ávila, que "revolucionou as Avenidas Novas". Óptimo! Há 30 "praças" prioritárias e quase todas são-no realmente. Mas porquê estas e não outras? Ou, por que razão na intervenção prevista nas Avenidas Novas, por exemplo, não consta a requalificação do caótico Largo de S. Sebastião da Pedreira, resgatando-o para os peões e criando um espaço verde. E, na da Av. Roma, não se aproveita para arborizar os passeios junto aos prédios cinzentões da Av. dos EUA, tórrida durante o dia. E porque se esquecem do Largo Rodrigues de Freitas e da zona defronte à Igreja do Menino Deus, ou da Av. Joaquim António de Aguiar e da Morais Soares? Aguardemos.

Voltando ao que está no programa, será desta que o Largo da Boa-Hora, à Ajuda, deixará de assistir àquela gincana diária, perigosíssima para peões, automobilistas, elétricos e autocarros; e que o Calvário deixará de fazer jus ao nome, passando a contar com um espaço pedonal, árvores, sombra e, talvez, mais calma.

Tal como é de aplaudir a CML por tentar refazer o Largo do Rato, ainda que tal se revele um quebra-cabeças (elétrico 24 à parte, que finalmente parece prestes a circular). O mesmo em relação à Praça da Figueira, ainda que aqui seja muito mais pacífico por o que haver ser central e mau de mais. E no Largo do Leão, em que, depois do "tufão arboricida" de há meses, tudo o que vier será bem-vindo.

Já no Saldanha (e convinha que alguém se lembrasse do palacete do n.º 1) e nas Picoas a coisa será ainda mais simples, mesmo que à custa de algum cláxon, que o popó não vai gostar de ter canais rodoviários mais estreitos nem de ver substituídos lugares de estacionamento (especialmente sob as fabulosas tipuanas do Saldanha), por mais árvores e esplanadas que coloquem, imagine-se, coisa indecente; dirão os amigos da mobilidade poluidora.

Finalmente, algumas chamadas de atenção:

O que se entende por pavimento "unificador" (ex. Benfica)? Vai ser tudo betuminoso, em vez de calçada? E as lajetas previstas para Av. Igreja e Av. Roma são para demarcações patéticas como as que agora delimitam algumas zonas 30?

Muita atenção, por favor, aos candeeiros, bancos, bicas e papeleiras, pois cabe ao projeto adaptar-se ao local e não o contrário. Evite-se a aberração modernaça das intervenções recentes no espaço público.

Atenção ainda às intervenções de terceiros, que podem deitar tudo a perder, desde a colocação à toa de múpis às valas que se abrem ad hoc (ex.: no Rossio, a Carris, quando instala os temporizadores eletrónicos, deixa o piso como se Lisboa tivesse toupeiras).

Mas venham de lá mais praças, sim.»

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