Em busca de uma utopia perdida
Uma "feira" necessária, com problemas de acertos,
de organização, de informação, uma Folio a precisar de crescer em densidade e
como espaço de afirmação de alguns livros, de alguns autores, de algumas
editoras, e de outros e outras sobretudo. Que irá melhorando, apreendendo com
os erros e libertando-se do 'curto-prazismo’ e das "grandes editoras"
e grandes ou muitas vezes supostamente grandes chapéus do politicamente
correcto.
Bem sei que é a pescadinha de rabo na boca, mas por algum
lado se tem que começar a dar voz a outras realidades e outros discursos, além
desses, destes.
Estive em várias conversas agradáveis e recolhi impressões sobre muitas outras. O tema desta Folio era muito, muito arriscado. A Utopia é a base de todos os totalitarismos, mesmo na tal ilha de Thomas More (prefiro a do Sancho Pança!), e muitas vezes é a sua esperança...
Fui quase (retoricamente) linchado por me atrever a criticar
um livro abjecto, de um personagem abjecto (não era o Mein Kampf, mas foi
escrito por um psicopata da mesma estirpe, e a merecer tribunal, aliás já lá
está, porque ofensa é crime) e também, nesse âmbito por referir o absurdo do
estribilho 'é proibido proibir' e mencionar que se tinha que colocar limites a
tal.
Noutra tertúlia tive que desmentir uma discursata contra as
renováveis, por pessoa que manifestamente falou sobre essas por ouvir dizer, e
tive que dizer que era tudo ao contrário dessa voz de 'poder'. E ainda tive que
lembrar que se a utopia se realizasse a maioria dos presentes,
portadores de óculos... seria... sabão... Como no Camboja do marxista-leninista
Pol Pot.
Felizmente não estamos no império do Maio de 68, que só por
brincadeira universitária, só mesmo por brincadeira ou diletantismo académico,
se pode comparar ao 25 de Abril!
“Erros meus, má fortuna, amor ardente” é a minha melhor
definição para este Folio. Erros a corrigir, azares ou imprevidências a evitar,
e um amor ardente que não pode ser só financeiro ou por grandes títulos, mas
deve ser intrínseco aos “livramores”, que independentemente do tempo e do
espaço continuam a cruzar livrarias de referência, onde há cultura e
verdadeiros livreiros, continuam nesse tempo e nesse espaço a viver as suas
estações de chuva ou sem ela e a inventar passados para construir futuros,
imperfeitos! de preferência.
Que corrigindo estes aspectos os amantes da palavra real e
não ficcionada em utopia possam encontrar 10, 100, 1000 Folios que cresçam e se
desenvolvam em criatividade e imperfeição.
Óbidos merece as muitas valências, nichos de que se dotou,
todas em busca do seu nirvana, que só as utopias irrealizáveis atingem. Este
Folio não é o festival medieval ou do chocolate, o público que aqui vem é o dos
livros, é o destes bicharocos. E salvo uma ou outra “pop star” que provoca
histeria, que também surge neste entorno, não se vê gente aos encontrões e
nalguns momentos Óbidos parece ser Óbidos.
Mas, há sempre um, alguns mas há também elementos a corrigir
ou isto, o Folio comer-se-à a si mesmo. Tem que haver, alguma, interacção com a
população local e sobretudo com o comércio local, muito marginalizado. Se o
Folio não for assumido em Óbidos, por Óbidos, será uma excrescência, que
poderia ser noutro local qualquer. Tem que ser único e por isso embeber-se de
ginja...
E também, julgo que é necessário que o Folio se articule,
crie extensões noutros pontos da Região Oeste, se articule com Caldas,
Bombarral, Alcobaça, Peniche, etc., os as muralhas de Óbidos serão o seu cerco
que o impedirão de ver novos horizontes, e os livros são, devem ser sobretudo
movimento de palavras, a meditar ou perseguir-se.
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