Depois de feito e enviado, sem que me tenham referido qualquer limitação, devolvem-me com alguns cortes de linguagem e um grave, gravissimo sobre uma matéria que hoje é silenciada, desde logo por esse jornal, que é a desgraça que ganha foros de escandalo associada a Alqueva. Ainda hoje no jornal Público artigo de uma página denunciava trabalho ilegal que prospera nas terras que vão sendo paulatinamente destruídas, por acidificação, que vão afectando a qualidade do produto final (seja vinho ou azeite) e criando bases para o deserto.
Pois o jornal referido achou que podia cortar e que eu passava pelas brasas.
Disse-lhes que não admitia essa censura e que assim ficava tudo em banho Maria.
Pois hoje ainda me tentaram demover, com desculpas estafadas. Mas eu percebo que quem paga manda e sem problemas ficámos por aí.
Aqui publico a 2ª parte da entrevista.
Sei que faltam as perguntas mas não cometo a indelicadeza de as reproduzir.
A 1ª parte está publicada no http://signos.blogspot.pt/ ,
2ª parte, assinalado o corte, a velha, velha tesoura!, imaginem que tentaram desculpar-se dizendo...que estava... incompreensível.
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Escasso e baseado em falsidades
e mitologias. Do Viriato a Aljubarrota, vivemos imersos em ficção, que passa
por uma também mitológica invasão árabe e muçulmana (meia dúzia de guerreiros
que transformaram o arianismo no islamismo contra o irrealismo de uma religião
com três deuses, num) e feitos heróicos
inventados para criar identidade. O conhecimento, mesmo dos locais onde
vivemos, é cada vez mais escasso e a capacidade de articular discurso perde-se
no impulso binário. Infelizmente a simplificação dos procedimentos educativos e
a uniformização imposta por determinantes externos leva a que áreas fundamentais
para a aprendizagem e a elaboração a partir dessa sejam reduzidas
progressivamente. Sem conhecer, e isso passa pelas leituras de livros mas
também das paisagens e da percepção da sua construção o conhecimento é um mero
exercício trivial. Infelizmente hoje é o que está na estrada, a alta
velocidade.
Neste livro procuramos o país
positivo, o que temos de melhor e de que nos podemos orgulhar. Mas por detrás
dele temos o Armagedão. A destruição das lógicas agro-pastoris (e aqui no Alentejo as nefandas consequências da grande
barragem de Alqueva que não são minimamente consideradas por ninguém, embora já
tenha ouvido responsáveis do Partido mais empenhado nesta (PCP), citar ou
melhor hoje defender o que com Gonçalo Ribeiro Telles sempre defendi, outros
Alquevas, outro uso da água, outro uso do solo e da produção, que essa sim
poderia ter mantido o Alentejo vivo!), a destruição do interior pela ausência de polos de sustentabilidade e
outras lógicas de desenvolvimento, a degradação urbana pelo abandono a que os
centros históricos estão votados e a incapacidade do Estado se reformar e
alterar as políticas para o território, incluindo uma reforma fundamental no
poder local.
Sobre as negligências
sócio-ambientais continuadas permito-me recomendar o livro “Um Grão de Areia em
40 Anos de Cidadania em Ambientes” editado pela Esfera do Caos, em 2014.
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Fui pioneiro no esclarecimento e intervenção cívica em
relação a esse tema. No início do ano de
2016 realizei duas sessões de esclarecimento no Algarve e tenho procurado criar
empenhos de intervenção cidadã nesta
matéria. Os riscos da mineração e até da
prospecção que é indicativa para esta, e há que dizé-lo com os actuais preços
desse sem qualquer viabilidade de exploração, são conhecidos. Emprego é quase
nulo e riscos são grandes, sobretudo a exploração em terra numa zona turística
por excelência. A exploração em mar, além de custos ainda maiores tem outros riscos e estamos a falar de um país
que vive da e na costa. E ninguém diz nada em relação ao facto de cada ano o equivalente ao consumo da Alemanha e de
Itália ser queimado, sim ser queimado, nas torres de extracção petrolífera!
E a sobrepor-se a tudo isso que sentido faz quando
ratificámos a Acordo de Paris sobre o Clima (e não vou aqui referir que o acho
insuficiente e nada vinculativo) explorarmos petróleo que em países do centro
da Europa já tem data para o seu fim de vida e bom seria que por cá em vez de
olharmos para essas torres de escuridão apostássemos no enorme potencial
nacional, não só o vento que como dizia Fernando Pessoa só por o ouvir já se
justifica a existência mas a luminosidade e o calor solar que são certamente os
eixos de futuro. E esses estão prospectados!
O petróleo, essa vida acumulada nos findos terrestres,
que fique onde está que está bem.
O rescindir os contratos, até agora julgo que só com
as empresas fictícias de um conhecido especulador financeiro, foi uma boa
decisão do governo. Que deve reequacionar tanto quanto possível os restantes e
procurar garantias ambientais absolutas para as prospecções já atribuídas.
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O Alentejo, como já nos dizia Alfredo Saramago, é um
mundo de sabores. Julgo que o paladar que a minha avô me moldou, a minha avô
nascida em Barrancos de várias gerações de barranquenhos, foi fundamental na
formação gustativa e na exploração gastronómica da minha vida. A nossa cozinha
é uma cozinha rica de pobres, onde qualquer coisa, um simples naco de pão com
água e um pouco de azeite e umas ervas e,,,, são transformados num manjar de 20
estrelas. Mas foi a aprendizagem do território e de que forma a comida o que
comemos tem que estar articulado com o território quer aprendi com a minha avô
e os cozinheiros e cozinheiras e nas muitas viagens sempre atrás do tacho que
fui fazendo.
A comida tem que ter a marca do sítio, do local, do
regional e nesse claro vamos introduzindo produtos outros porque a comida
também é a viagem dos comeres...
8
O conceito de pecado, que só existe no cristianismo,
talvez tal não esteja divulgado porque não interessa a quem vive das indulgências
e das expiações desses ditos ou das suas
iniquas confissões, o conceito de pecado é recente, e assim como o purgatório, foi
inventado na Idade Média. Nos 10 mandamentos não há a mínima, a mínima referência
a qualquer castidade alimentar, salvo a sexual, que também é alimento para o
espírito, e até esses são leis, preceitos de outro milénio.
Portanto de pecado, estamos falados. Agora é um erro e
inadequado do ponto de vista do nosso organismo a comezaina desenfreada ou a
ascese radical de que hoje se fazem desfiles de moda. Comer bem,
equilibradamente e sobretudo comida local, em cada local e desenvolver o
convívio em volta desse momento único em que todos os nossos sentido estão
mobilizados é certamente um prazer que devemos continuar.
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