sexta-feira, setembro 11, 2020

Saiu hoje no Público online:

Vamos esperar 8 anos mais?

 

Após a informação favorável do Conselho de Segurança Nuclear (C.S.N.) espanhol, o ministério do Ambiente renovou o funcionamento da central de Almaraz até 2018

Todos sabemos que as centrais nucleares têm os seus  anos  de funcionamento contados. Todos os seus trabalhadores sabem que trabalhar numa central não é o mesmo que estar noutra fábrica qualquer, mesmo sem contar com a probabilidade de um acidente maior.

Uma central nuclear não é uma indústria qualquer. É a primeira tecnologia civil com riscos graves que nunca foram resolvidos, embora tenham sido minimizados após cada acidente. Riscos ambientais e também para a saúde impossível de escamotear apesar dos dados oficiais.

Há um ciclo completo que devemos ter  em conta sem o qual não se pode produzir electricidade nestas unidades industriais. O combustível empregue procede de uma enorme cadeia de produção com envenamentos radioactivos que começam com a mineração a céu aberto (obtêm-se 7 gramas por tonelada de rochas removida) continua com o transporte para as fábricas de concentrados, que continuam a gerar efluentes e resíduos sólidos e líquidos radioactivos (denominados estéreis que permanecem nelas abandonados) e passamos às unidades de enriquecimento de onde segue o produto para as barras de combustível dos reactores (gerando novos resíduos radioactivos de urânio empobrecido que como sabemos se utilizam como recobrimento para todo o tipo de munições e armamento).

Em todo este processo e ainda sem ter produzido um só KW/h já se estão gerando enormes quantidades de gases de efeito de estufa, além de milhares, milhares de toneladas de resíduos com altas percentagens de radioactividade, com as consequentes destruições ambientais e mortes induzidas.

Como é possível afirmar que as nucleares são solução para as alterações climáticas? E como se financia todo este ciclo do combustível até chegar ás centrais? Como se pode continuar a divulgar que as centrais são limpas, seguras e competitivas?

Em Espanha todas as centrais hoje em funcionamento (5 com 7 reactores) foram construídas durante a ditadura (estiveram previstas quarenta mas só 10 se construíram) e já foram conectadas à rede com a democracia, em 1981 Almaraz e em 1988 a última Trillo ambas nas margens do Tejo.

Temdo sido os prazos de construção entre 10 e 15 anos (hoje muito mais devido a questões de segurança entre outras) e requerendo grandes investimentos económicos que só o Estado pode garantir, as empresas proprietárias procuram   uma vez estes amortizados alargar o mais possível o seu tempo de funcionamento,  para tal pressionando tanto os governos como o próprio C.S.N.

Hoje no que respeita Almaraz, a mais envelhecida do parque nuclear espanhol, numa altura de declive mundial desta tecnologia, vão obrigar-nos a esperar mais 8 anos até o seu encerramento definitivo (2027 para a Unidade I e 2028 para a Unidade II)

Sabemos que no actual cenário os ganhos são só para as empresas Iberdrola, Endesa e Naturgy que produzindo electricidade se descartam das últimas fases e processos de fecho do ciclo nuclear, ou seja os resíduos radioactivos que foram gerados por elas, o desmantelamento das fábricas e a gestão dos resíduos de alta actividade até daqui a 250.000 anos. Destas fases fica responsável a ENRESA (empresa pública) que já com um enorme défice económico terá ainda que assumir estes custos. Lá estará o nosso recibo da luz e o orçamento de Estado a suprir esse.

Almaraz até hoje já gerou 2.280 Tn de resíduos radioactivos, sendo além disso também uma produtora de plutónio (cerca de 600 Kg por ano) extremamente tóxico e base para produção de armamento nuclear, de que Espanha prescindiu no quadro da sua associação ao Tratado Internacional de Não-Proliferação Nuclear.

Para a ADENEX  e o O.I.E. é impensável que as nucleares de Almaraz continuem a funcionar mais 8 anos, que recusamos seja chamada vida útil, dada a sua óbvia inutilidade e exigimos o seu encerramento a um C.S.N. rigoroso com todas as medidas de segurança dadas as deficiências que mantêm em suspenso as populações.

 

Qual a gravidade de continuar 8 anos mais?

-       A actual lagoa de refrigeração está  a ficar aterrada e vai perdendo as capacidades necessárias para um funcionamento regular

-       O fenómeno de corrosão que afecta a natureza química dos metais, desconhecido inicialmente, e que é de difícil tratamento e solução, podendo afectar tanto a cobertura  dos vasos como até penetrar nas barras de controle

-       O entupimento dos tubos geradores de vapor que mudados em 1996 estão a chegar ao limite previsto e podem colocar em risco a própria central.

-       A impossibilidade de cumprir as medidas pós-Fukushima de prevenção de inundação caso haja alguma ruptura na barragem de Valdecañas.

-       O incumprimento das medidas de evacuação adequadas ás novas medidas pós-Fukushima que obrigam á realização de simulacros com um raio de 80 Kms com Portugal, envolvido nesses.

-       O actual funcionamento anormal das bombas de água  de refrigeração e a falta de geradores seguros para caso haja algum bloqueio do fluído eléctrico, que pode ser muito grave em articulação com falha do reactor

-       E isso articulado com o desconhecimento do estado do núcleo do reactor e algumas das partes do circuito primário de difícil acesso e verificação factual, só possível com aproximações “estatísticas”

 

Porquê colocar as populações em risco mais 8 anos?

Para quê aumentar a produção de resíduos altamente perigosos e deixá-los como legado para as futuras gerações?

Porquê continuar a aumentar a contaminação radioactiva a nível planetário?

 

António Eloy Observatório Ibérico Energia, O.I.E.

José Gonzalez Mazon (Chema) ADENEX

 

 

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