quinta-feira, março 24, 2011

À rasquinha

Lembro-me como se fosse ontem: a primeira manifestação de estudantes em Lisboa do pós-25 de Abril decorreu poucos dias depois da revolução ter estalado. O ponto de partida foi dado defronte à minha escola preparatória, a inolvidável Eugénio dos Santos, ao cimo da Avenida de Roma, paredes-meias com o morto e enterrado Cinema Alvalade. Organizada, ao que se dizia, pelos repetentes do 2º ano (talvez por serem mais velhos e mais fortes do que os outros…), tinha como motivo e «slogan», gritado até ficarmos sem fôlego, um muito ingénuo e respeitável anseio: “Não queremos aulas ao Sábado!”.

Mal sabiam os estudantes participantes naquele glorioso desfile (em que participei durante 500 metros … até casa), cujo objectivo seria alcançado logo nos meses seguintes (e como agora tudo é diferente…), que iriam ser cobaias de sucessivas e desconexas experiências administrativas e curriculares levadas a cabo pelas sumidades dirigentes do ministério respectivo, e não só, imediatamente no ano lectivo seguinte, de que talvez nunca virão a recuperar, mesmo que a autonomia financeira e administrativa do ensino particular tivesse remediado, e remediou no que me diz respeito, muito do regabofe (“rebaldaria” será o termo mais apropriado) então em experimentação.

Daí para cá tem sido um desnorte completo no Ensino e na Educação, base de tudo, suponho. Da “paixão” que certo Primeiro-Ministro teve, nem vê-la. O que se tem visto é uma descapitalização concertada e continuada, humana e financeira, do Ensino Primário estatal, deixado que está, basicamente, a quem não tem posses para abdicar dele, por mais que as estatísticas do Eurostat digam o contrário. Os manuais escolares, que têm vindo a ser nivelados pelo facilitismo, e o estado físico lastimável da maior parte das escolas fazem o resto.

Ao ensino técnico e politécnico, deram-lhe sumiço e por isso é comum ouvir-se “isso já ninguém faz nem conserta”, seguido de “é melhor deitar fora e comprar outro”. No ensino universitário, a fome deu em fartura e os doutores e engenheiros de verdade mandaram os “de mula russa” para os idos do antes do 25 de Abril, o que por um lado até é bom, embora a moda agora seja Prof. sem o ser de verdade. Juntem-se-lhes as malfadadas PGA, as remodelações e reformulações sempre que o executivo muda, de cor ou feitio, e eis as gerações “rasca” e “à rasca”, aparentemente sem futuro tal qual as que as precederam.

Há contudo um pormenor que escapa a esta lógica: o carreirismo partidário. Moral da história: aos futuros papás e mamãs, em vez de correrem a “matricular” os bebés ainda por nascer no Benfica ou no Sporting, ou no colégio X ou Y, o melhor que têm a fazer é inscrevê-los num qualquer partido, mesmo que pequenino, pequenino, porque é desde pequenino que se torce o pepino.



In JN

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