Do Carnaval, verdade seja dita, ainda, que apenas recordo com saudade as sessões de cinema (sempre ele) do tempo da Primária – peço desculpas mas não alinho nessas coisas de escolas básica 1,2,3 ou demais siglas de fazer de conta que é estamos na crista da onda do ensino qualificado -, das matinés infantis com serpentinas e papelinhos coloridos pelo ar, com os meninos e as meninas quase todos de caraças (rijas e pesadas) pela cara, de bisnaga em punho e muito estalinho a rebentar pelo chão. Às garrafinhas de mau cheiro era “reservada” a … escola, para martírio dos professores. Das bombas sempre fugi, confesso.
Recordo isso e certos e já longínquos desfiles de carros alegóricos, um, Avenida da Liberdade abaixo; descendo a alameda lateral dos jardins do Casino Estoril e prosseguindo pela Marginal, outro. Mas talvez que as imagens retidas de um e outro, se de novo projectadas, não resistissem à erosão do tempo… tal qual um filme datado.
Um certo dia, até, pus-me a congeminar que, “quando fosse grande”, haveria de assistir a três carnavais lá por fora: Veneza, Nova Orleães e o Rio, obviamente. Mas nos últimos anos já só o primeiro continua a ter “projecto”, um dia que a crise o permita e a lagoa da Sereníssima também. É que o resto, passados todos estes anos e mais coisa menos coisa, parece-se demasiado com as imagens com que todo o santo ano nos bombardeiam, por alturas daquele feriado, perdão, tolerância de ponto, que um dia ameaçou fazer cair um governo inteiro:
Carros alegóricos mal amanhados, colados e pintados. Os inevitáveis homens orgulhosamente vestidos de mulher. As “sambistas” de riso forçado. As bandas mais ou menos alinhadas e afinadas. Reportagens de som e imagem deploravelmente reincidentes. E os cabeçudos, geralmente alusivos aos políticos, aos ídolos do futebol e aos colunáveis das revistas cor-de-rosa. Uns cabeçudos ainda mais deprimentes do que os respectivos modelos.
Triste a sina de quem tem que aturar estes dias “gordos” que sempre antecedem os jejuns da Quaresma, pelo menos os que ainda conseguem distinguir o porquê do simbolismo e o trigo do joio. É que por mais jejuns a que nos obriguem, estamos cada vez mais saturados dos cabeçudos.
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