De facto, tem sido uma autêntica “luta livre” a peleja constante por que esta instituição fundada em 1880 tem passado, para conseguir sobreviver, em contínuo “flic-flac”, no meio de tantas e variadas diatribes e vicissitudes, fruto de opções próprias erradas, umas; resultado da alteração radical nas condições de vida e nos hábitos das pessoas e do local (a moda do «fitness», uma Baixa suja, abandonada e perigosa, etc.), outras.
É, pois, com muita pena minha – até porque fiz lá ginástica nos idos de 60 - que assisto à degradação física do Ateneu, visível na antiga propriedade do Conde de Burnay, onde os salões do piso nobre, o chão e os belos estuques se vão degradando, as construções espúrias entretanto feitas se tornam ainda mais espúrias, há andares devolutos, etc. A isso e ao desaparecimento galopante de disciplinas e de alunos. Revolta, porque o Ateneu podia ter um papel central no rejuvenescimento e na reabilitação de toda aquela zona, que urge dignificar e frequentar ainda mais, uma zona que além de ser o que de mais lisboeta há em Lisboa (palácios vs. ginjinhas, igrejas vs. agremiações desportivas e regionais, equipamentos culturais de referência vs. restaurantes para todos os gostos) é das mais bonitas de Lisboa e das mais pacatas para se calcorrear.
Ora, está na hora da verdade, está na hora de ver a Câmara Municipal de Lisboa honrar a memória dos ilustres deste país que foram passando pelo Ateneu ao longo dos anos, de Teófilo Braga, Manuel de Arriaga, Bernardino Machado e Miguel Bombarda, a Angelina Vidal, Rosa Araújo, Oliveira Martins e Bordalo Pinheiro, por exemplo. E honrá-los será começar, não por “urbanizar” a colina a tardoz, nem por dar dinheiro à toa, mas ajudar a reparar o telhado do edifício sede, estancar as infiltrações, reabilitar os espaços nobres, demolir os elementos espúrios, e injectar, nos respectivos associados e nos lisboetas, aquela vontade indómita que permita ao Ateneu regressar aos seus tempos de glória, sobretudo isso. Façam isso e terão nota 10!
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