Da minha infância, conhecia o Parque Eduardo VII, mas, sem alamedas sombrias, estava longe do que considero um parque. Por outro lado, a ideia de me meter no carro para fazer caminhadas a pé não me agradava, pelo que desci a Av. D. Carlos até ao Tejo, indo até às docas. Uma vez ali, consegui ligar o aparelho da Apple, onde metera uma ópera de Verdi. Apesar das reticências, estava contente, ouvindo, na potência máxima, as árias de o «Rigoletto». A felicidade não durou. A certa altura, notei o cheiro a fritos emanado dos restaurantes, o barulho dos carros que sobre mim circulavam na ponte sobre o Tejo e o pivete vindo dos esgotos não tratados dos 110.000 habitantes, residindo entre Santa Apolónia e Belém, um problema que, soube depois, viria a ser parcialmente resolvido. Mesmo sem o cheiro, havia o ruído. Não, não era ali que podia andar.
Só então notei que Lisboa tem jardins, mas não tem parques. Londres possui 40% da sua superfície ocupada por espaços verdes, um sinal de civilização, percentagem que, em Xangai, desce para 4%, um sinal de sentido contrário. Mas, com ou sem parques, tinha de caminhar, pelo que passei a utilizar o automóvel. Fui até à Tapada da Ajuda, um espaço com uma dimensão razoável. Uma vez lá dentro, verifiquei que as plantas estavam por tratar, que havia moscas por todos os lados e que os carros dos funcionários eram autorizados a circular no recinto. Não, isto não me servia. Seguiu-se o Jardim Botânico Tropical, em Belém. Além do espaço ser minúsculo, o pavimento rebentava sob a pressão das raízes das árvores. Tão pouco era o que desejava. Em seguida, fui até ao Parque das Nações, mas a ideia de levar uma hora ao volante desencorajou-me. Seguiu-se o Jamor. Aqui, sim, havia ar puro, espaço e árvores. Infelizmente, por se encontrar deserto, o local não é seguro. Tendo já sido assaltada duas vezes em Lisboa, acabei por desistir. Finalmente, optei pelo Jardim da Estrela: é pequeno, mas está cuidado e, mais importante, fica a dois minutos de minha casa.
Baudelaire nunca visitou Portugal, mas aqui fica o que, em 1880, escreveu sobre Lisboa: «É uma cidade à beira da água; dizem que está edificada em mármore e que o povo tem um ódio tal à vegetação que arranca todas árvores». Deve ser por isso que não consigo encontrar um parque decente, bonito e acessível. Agora que os «troikos» estão por cá, custava-lhes muito incluir no memorando a exigência que Lisboa passasse a ter árvores no centro da cidade? Era um favor que me faziam.
26 comentários:
De perto do jardim da Estrela até à zona sob a ponte 25A quantos minutos serão a pé?
E de perto do jardim da Estrela até ao Parque das Nações, para levar uma hora de carro, só um taxista daqueles que estacionam no Aeroporto...
Enfim, crónica para rir.
Não é para rir não. Quem já teve a facilidade de encontrar um parque gigantesco e apaziguador das maleitas do dia-a-dia sem grande esforço (claro que tinha de ser em Londres), bem que estranha este ódio luso às árvores...
É sem dúvida uma das maiores falhas desta nossa cidade...
É para rir que uma senhora a caminho dos 70 tenha descoberto o que esta senhora descobriu e que candidamente deixe perceber que nunca na vida até agora se dignou andar a pé por Lisboa.
Mas um comentário semelhante a este já ontem foi apagado, de maneira que...
Andar a pé por Lisboa? No meio da poluição, do trânsito infernal e dos maus cheiros desta cidade? Não é dos lugares mais convidativos a caminhar. E quem teve, como eu tive, a enorme felicidade de poder deambular longamente pelos Kensington Gardens, Hyde Park, Green Park ou St. James Park, só para referir alguns, compreende perfeitamente o que a autora quis dizer. São lugares de encanto, calma e de uma beleza indizível, onde as aves não temem os humanos e até os esquilos nos vêm comer à mão. Lisboa é uma cidade cheia de luz, que castiga os olhos e cansa o espírito. O ódio dos Lisboetas ao verde vem de longa data e vê-se por todo o lado. O pouco que havia tem sido dolosa e sistematicamente substituído por cimento e betão. Os (poucos) jardins existentes estão, na sua maioria, mal cuidados, mal frequentados, estragados e sujos. E são perigosos. Há o parque Eduardo VII, a Quinta das Conchas ou Monsanto, mas onde não convém andar sozinho. Lisboa precisa de árvores, para amenizar a luz, purificar o ar, torná-la um lugar mais aprazível. Mas é claro que para quem todas as árvores boas são as que servem para fazer móveis ou papel e todos os animais bons são os que estão no prato, não pode apreciar ou sequer compreender o comentário da autora. Tal comentário a esses, naturalmente, só pode causar riso. O riso da ignorância que a nós outros, que bem percebemos o que se quer dizer, só pode causar uma grande tristeza.
Vá chamar ignorante a outros, sim?
A quem nasceu em Lisboa e há muitos anos anda a pé por Lisboa, (e, já agora, conhece Londres) não. Ignorante será você.
O texto é de um provincianismo insuportável. A autora revela, antes de mais, estar absolutamente alheada da realidade dos transportes públicos da cidade, o que é desde logo uma premissa ideal para o tom de paternalismo desinformado em que escreve esta crónica. O resto do texto, cheio de referências culturais óbvias, é apenas muito pobre (lembra as crónicas de Kalaf no Público). Os galões-de-quem-já-esteve-lá-fora-sabe; mais do mesmo. Que tudo isto seja publicado e republicado, é perfeitamente legítimo e, diria mesmo, divertido.
Que o texto e a visão nele implícita sejam levados a sério é que é mais preocupante :)
MFM, experimente mais lugares. Algum há-de servir. Talvez mesmo sem iPod.
O anónimo das 16:31 reage irado ao comentário da sra. D. Susana Bastos. Limita-se todavia a refutar o epíteto de ignorante que me parece foi sem dúvida empregue como lamento geral e abstracto, face a um tipo de atitude, e não visando quem fosse em particular.
Ora o tipo de atitude que se lamenta, porque ignorante, será, suponho, de lamentar por qualquer pessoa de bem. A menos que sejam de louvar a escassez, o estado e a segurança dos parques e jardins de Lisboa. Isso e a consagrada atitude da vasta maioria dos portugueses, para com os espaços verdes, a Natureza enfim (coisa longe muito longe, de ser uma preocupação de primeira ordem para o português médio).
Susana Bastos, que é certo me não mandatou para a defender, limitou-se a lamentar o estado de Lisboa, sem a verberar em si mesma e quanto a aspectos sobre os quais o que ela invoca é de uma penosa evidência. E a aceitar como termo de comparação - como paradigma, diz-se agora - a cidade de Londres.
Fundamentando-o. Coisa que ao anónimo não ocorre fazer. Terá, claro, as suas razões.
Saudações,
Costa
Ó Costa, o anónimo das 16:31 não disse que Lisboa não tenha parques onde cada um pudesse passar o seu tempo de lazer, parques como Londres tem.
Só que o anónimo das 16:31 não andou toda a vida apenas e só de popó particular nem precisou de chegar à 3ª idade para o médico lhe recomendar que andassse a pé.
Sabe há muito tempo que Lisboa não tem parques como Londres.
Mas também conhece sítios de Lisboa por onde se pode perfeitamente andar e, mais, sabe como lá chegar.
Percebeu ou precisa que lhe faça um desenho?
Ó Costa, o anónimo das 16:31 não disse que Lisboa tenha parques...
O prezado anónimo das 16:31 revela-se de uma cordialidade exemplar. Fico-lhe muito grato pela sua disponibilidade para fazer um desenho, mas creia que o não quero sujeitar a tal incómodo. Por si, não o quereria obrigar a tal esforço e, permita-me, por mim, pois algo me diz que seria coisa de desnecessária agressividade visual.
Além disso eu ando maioritariamente de popó particular, coisa, suspeito, que sem dúvida me desquaiificará inapelavelmente - por muito que eu elaborasse em defesa de tal opção - perante os seus (do anónimo das 16:31) superiores critérios.
De modo que, suplicando a sua concordância, caro anónimo das 16:31, sugiro que fiquemos por aqui. Sem desenhos.
Saudações,
Costa
Acho incrível que mesmo com o Rigoletto no máximo ainda se queixe do barulho da ponte.
Também acho incrível que uma historiadora do séc. XIX só agora tenha descoberto que Lisboa não tem parques como Londres. Infelizmente a Casa Real Portuguesa não dispunha de tantas coutadas privadas em torno da cidade como a Britânica. Sim, há a Tapada da Ajuda, mas não é um parque, é um campus universitário com laboratórios e centros de investigação rodeados de terrenos agrícolas experimentais. Tem moscas e carros e tractores e que sorte teve a MFM em não passar por lá quando estão a adubar os terrenos…
Se foi até à Tapada de carro bem que podia ter avançado mais uns metros e passar pela Av. Keil do Amaral. Contrariamente ao que muitos lisboetas julgam Monsanto não está deserto, está cheio de ciclistas e corredores, muitos deles solitários e ninguém se sente inseguro por lá. Do mesmo modo a Quinta das Conchas não está deserta, aos fins de semana então até chega quase a ser impossível encontrar um banco desocupado. E se gostou do Jardim da Estrela então podia caminhar mais um pouco, descer até São bento e subir ao Príncipe Real passando pela pequenina e pitoresca Praça das Flores, tomar um refresco no Jardim do Príncipe Real e ir visitar o borboletário do jardim botânico. E se ainda sentir vontade de caminhar pode descer até à Avenida passando pelo jardim de S. Pedro de Alcântara e apanhar o elevador do Lavra que a deixará no Jardim do Torel onde poderá tomar um chá com scones antes de regressar a casa. E é assim que se passeia a pé por Lisboa.
“Mal frequentados, estragados e sujos”? A sra. Susana Bastos não conhece Lisboa. Sa a Luz de Lisboa lhe cansa o espírito, use uns óculos de sol. Ou então mude-se para Londres, parece que por lá o sol só brilha umas três semanas por ano, nas outras chove.
Ó Costa, Lisboa está como está justamente por todo o bicho-careta andar sempre de popó particular e ficar à espera que o médico lhe recomende que passe a andar a pé.
Além do mais, Lisboa tem uma rede de transportes públicos, não sei se alguma vez deu por isso. Metro, autocarros, eléctricos e, immagine, ascensores. Isto para não falar dos táxis, que fazem sempre falta numa pressa.
Olhe, e depois não se venha queixar de algum AVC, que todos temos de morrer de alguma coisa.
Meu caro anónimo das 12:40 (será o mesmo das 16:31? Isto de polemizar com quem se não identifica é aborrecido; mas é capaz de ser apenas meu pedantismo de automobilista), você tem aquela reconfortante certeza dos fanáticos - há muito disso na política e na religião - e com ela isola uma causa ou um efeito e reduz tudo a uma sua consequência.
Então Lisboa está como está por causa dos bichos caretas que andam de popó particular. Prosto-me perante tão luminosa revelação. E eu, pobre de mim, a pensar que os problemas de Lisboa eram fruto de uma perene combinação de factores, desgraçadamente bem difíceis de sanar. Coisas como décadas de corrupção, venalidade, urbanismo absurdo, expulsão da população urbana para dormitórios de subúrbio que crescem sem cessar, migração do interior do país, actuação sistematicamente muito questionável das autoridades policiais. Enfim, questões que a ser passíveis de uma boa solução, só o serão na distância de gerações e que, como dificilmente darão votos, imediatos, pelo menos, dificilmente serão resolvidas.
O meu caro anónimo surge retumbante a revelar a Verdade. Suponho que, para si, acabar com os popós particulares e tratar como bichos caretas todos e quaisquer automobilistas faria descer sobre Lisboa a doçura do Paraíso. Está bem, é a sua verdade. Banhe-se nela, homem.
Lisboa tem uma rede de transportes públicos, sim senhor. Nascido há pouco mais de cinco décadas, praticamente à sombra do castelo de S. Jorge (calcule você que poucos podem chamar a si mesmos, como eu posso, o carinhoso trato de "Alfacinha") e sempre tendo vivido entre a cidade e os seus subúrbios, sei disso e utilizei essa rede, diariamente, anos e anos a fio.
Depois, a vida (não veja fatalismo nesta expressão, nada disso) e a cada vez maior dificuldade em poder arrendar ou comprar casa em Lisboa, consequência certamente dos popós particulares (só pode ser isso), levaram-me à curiosa situação de viver a uma vintena de quilómetros do local de trabalho, este em plena cidade, e, por ter horário de trabalho irregular e pouco compatível com o chamado "periodo normal de expediente" - há-de ser má vontade minha, só pode mesmo ser isso - me ver compelido a usar o carro de e para o trabalho, por manifesta incapacidade da rede pública de transportes em, salvo minha aceitação do absurdo, acorrer às minhas necessidades.
Ora acontece que eu ainda vou podendo, vamos lá ver até quando, recusar a aceitação do absurdo. Esse, pelo menos. Mas não me quererei encontrar com a sua fúria "justiceira" anti-autombilística... livra!
Quanto ao mais, a sua preocupação com a minha saúde cardio-vascular comove-me. Deixe-me por isso apenas acrescentar que tenho o hábito de fazer caminhadas, ainda que de preferência em ambiente rural (que quer você... gostos...) e que, por imperativo profissional, sou detalhadamente examinado todos os anos. Em regra, em Maio. Ora, permita-me a vaidade, em Maio passado, o cardiologista feiicitou-me pelo meu "coração de um jovem". Por aí fiquemos tranquilos.
Mas posso assegurar-lhe que o infeliz caos urbanístico de Lisboa, a sua generalizada decrepitude, ou as incríveis escolhas de quem há décadas sucessivamente dirige a cidade, em nada contribuiram para isso.
Saudaçôes,
Costa
Ao menos aqui o Costa identifica-se. Costa só há um, o Costa e mais nenhum.
É mesmo um caso perdido...
Homem, você refugia-se em tautologias ( essa do " Costa há só um..."). Ora, que diabo, não arranja melhor para demonstrar como eu sou um caso perdido?
Refugia-se nisso e no anonimato. A a este, salvo situações de perigo ilegítimo para a liberdade ou integridade de cada um, costuma dar-se certo nome...
Costa
Caro Anónimo das 12:06h,
Eu não devia dignar o seu comentário, na parte em que ao meu se dirigiu directamente, com uma resposta. Mas não resisti. Fiquei com uma curiosidade avassaladora para descobrir onde posso arranjar uns óculos de sol que me atenuem o cansaço espiritual. Diz-me onde é? De bom grado compraria vários pares. É que há muitas coisas que me cansam o espírito, não só a luz impiedosa da sua querida Lisboa.
Lisboa que eu não abusei ou maltratei no meu comentário, note. Limitei-me a concordar com a autora relativamente à escassez de parques e a comparar essa realidade com a de Londres. Pode acusar-me, talvez, de estar a ser um pouco injusta ao estabelecer uma comparação entre Lisboa e Londres. De facto, é impossível comparar o incomparável. Não há como.
Eu limitei-me a constatar a realidade que conheço. E se não conheço Lisboa de fio a pavio conheço-a muito melhor que muitos lisboetas. Conheço os parques que referiu, que até referi primeiro. E sabe que andar seguro sozinho por qualquer deles dependerá da hora a que são frequentados e, essencialmente, da sorte.
O meu crime foi dizer que Lisboa ficaria muito melhor com mais árvores, mais natureza? Se isso o ofendeu, caro Anónimo das 12:06h deixe-me dizer-lhe o que lhe deve agradar muito mas me ofende muito mais a mim. E profundamente. Enquanto portuguesa e enquanto pessoa.
A destruição de dois rios ímpares e dos seus insubstituíveis ecossistemas, de uma linha de caminho de ferro centenária e que percorria uma paisagem única no mundo, de uma beleza de cortar a respiração. Falo do Sabor e do Tua, claro.
E para quê? Para empobrecer (ainda mais) o nosso património e a todos nós que iremos pagar a enorme factura. Bem sabendo quem ordena e manda que com um custo muitíssimo inferior se poderia isolar a rede existente para evitar fugas e rentabilizar as barragens e outras formas de produção de energia eléctrica existentes (nisso ganhando logo muito mais que os 3% que vão ser produzidos).
Mas estou a fugir da questão.
Não culpe a riqueza da coroa britânica pela nossa pobreza de espírito, falta de visão e paixão pela construção civil.
Mudar para Londres? Era já hoje. Ou para bem mais perto, para o Porto, cidade com muitas afinidades com essa, até no clima. É que o cinzento e aquela magnífica luz que o deixam tão horrorizado, sabe, encantam-me.
Infelizmente os desgovernantes deste país que tão sábia e impunemente destroem o bom que temos a troco de mais e mais construção de que não precisamos e que nos endividaram a todos para o resto da minha e sua vidas úteis e muito provavelmente das dos nossos filhos também, impedem-me de o fazer.
Cumprimentos
E sim, caros Anónimos, eu também conheço e, pasme-se, até utilizo todos os dias os transportes públicos de Lisboa. Correndo o risco de ser queimada em praça pública lisboeta, tenho que o dizer. São maus, não são fiáveis, estão quase sempre a abarrotar e quem tiver a necessidade de trabalhar por turnos, esqueça. A determinadas horas e em determinados dias pura e simplesmente não existem. E não há ligações que permitam chegar ao trabalho. O caro Anónimo que levantou a questão é capaz de me responder se, acaso trabalhasse por turnos, a altas horas da noite, sem ligações de transportes públicos perto de casa, utilizaria, ainda assim, os transportes públicos, demorando duas horas para fazer um percurso que demoraria de carro entre dez a vinte minutos? E se tivesse que andar fardado? Ou com malas com os instrumentos do seu trabalho? Pode dizer que sim, eu não acredito. É que andar de táxi para ir trabalhar pode parecer-lhe a sim uma solução evidente mas nem todos podem pagar essa factura para ir trabalhar.
Mas há outros problemas. Além dos horários e da falta de veículos há ainda o problema da falta de civismo dos passageiros. Esquecem que estão num transporte público e não se importam se incomodam os outros. Embora todos os dispositivos existentes possuam auriculares, muitos gostam de ouvir a sua música, de gosto muitíssimo duvidoso, altíssimo. Quando não são vários a fazê-lo. E não sabem falar baixo. Seja ao telemóvel seja com outro passageiro só sabem conversar aos gritos. É uma algavariada em vários níveis de estereofonia, que, sim, ao fim de muitas horas de trabalho e quando gostaria de ter algum sossego no regresso a casa também me cansam muito o espírito (a propósito, os tais óculos sugeridos pelo Anónimo das 12:06h também resolveriam esse problema? Seria fantástico).
Já para não falar da falta de higiene. Posso ser snob mas acho que não há desculpa para certos cheiros. Mesmo quem trabalha muitas horas com muito calor deve ter uma torneira no local de trabalho.
Resumindo, andamos nos transportes públicos porque tem que ser, não é por gosto. E, definitivamente, não é para passear.
E se todos os que andam de carro, os que o usam por verdadeira necessidade, deixassem de o fazer, ainda que houvesse horários para os servir, garanto que não haveria transportes públicos suficientes para todos os que deles necessitariam. Já não há, como as coisas estão.
É bonito ser-se lírico mas um pouco de realidade faz muita falta.
Cumprimentos
Cara Susana Bastos. Viu alguma critica à sua opinião sobre a falta de árvores em Lisboa? Não. Apenas e só à Luz de Lisboa. É de facto uma coisa lírica para mim. Vá experimentar uma das novas esperguiçadeiras do jardim do Torel, ou suba até à Senhora do Monte para espreitar o pôr-do-sol. É a minha cidade. Tem muitos defeitos mas a luz do calcário e do lioz não será um deles. A Susana prefere o Granito portuense. São gostos, mas olhe que os portuenses não são muito diferentes dos lisboetas na utilização dos transportes públicos… Estive na luta do Côa há vinte anos, acredite que o Sabor e o Tua são também lutas minhas. E quanto às árvores em Lisboa, quantas mais, melhor.
Um abraço do anónimo das 12.06
Caro Anónino das 12:06h,
Se todos gostássemos das mesmas coisas, esta vida não teria piada nenhuma. Por mim, respeito toda e qualquer opinião que não interfira com os direitos, liberdades e garantias a que cada ser humano tem direito.
Confesso que não nutro nenhuma predilecção por Lisboa, nunca me senti em casa aqui. Mas conheço muitos e bons lisboetas e compreendo perfeitamente que adorem tanto a sua cidade como eu sou apaixonada pela minha. E respeito isso incondicionalmente. Como gosto de ser respeitada pelas minhas preferências. Eu ainda sou daquelas pessoas que acredita e vive segundo o princípio de que a minha liberdade termina onde começa a dos outros. Serei, talvez um pouco reaccionária para os tempos que correm onde liberdade parece ser sinónimo de anarquia e de uma total desresponsabilização. Aparentemente liberdade hoje em dia significa poder fazer ou dizer o que seja, inconsequentmente, doa a quem doer. Eu tento, quando dou a minha opinião, fazê-lo de forma objectiva, dizer o que penso do que vejo sem ofender ninguém. Mas compreendo que uma opinião, ainda que apenas para dar a conhecer um gosto pessoal, pode ferir algumas sensibilidades se o objecto é algo que o ouvinte (ou leitor) gosta muito. Eu também não gosto de ouvir/ler muitas das coisas que se dizem da minha terra e das suas gentes e em regra não reajo propriamente com muita placitude. Porque é difícil entender que, por vezes, a manifestação por parte de alguém de um gosto pessoal não significa uma crítica ou maldizer algo que amamos. É tão somente uma apreensão muito pessoal e subjectiva de uma realidade que nós entendemos de forma muito diferente. Eu gosto muito de sol e de luz mas onde tenha a possibilidade de me abrigar sob a protecção de árvores, muitas árvores.
Por isso estou consigo. Árvores, em Lisboa ou em qualquer outra cidade, quantas mais melhor.
Quanto ao Sabor e ao Tua (a propósito, gosto muito da região da Foz do Côa) o que podemos nós fazer? Como lutar contra as retroescavadoras, as gruas, o cimento e o betão armado? Eu conheço imensa gente que está contra aquele crime, leio imensas opiniões sobre o assunto, mas com impedir que se concretize? Como convencer quem manda?
Numa outra nota que nada tem que ver com o que deu origem a toda esta troca de palavras, apraz-me constatar que não sou a única a resistir à utilização da grafia segundo as regras do acordo ortográfico.
Cumprimentos
Ó Costa, uma pessoa achar que assinar Costa é fugir ao anonimato só pode ser burra ou querer fazer dos outros burros. Irra!
Caro Costa,
É certo que não me mandatou para o defender mas foi tão cavalheiro em minha defesa que me sinto nessa obrigação.
Se o minha opinião pode ter algum peso, aconselho-o a ignorar o mal educado que se esconde atrás do anonimato e que ao chamar burros aos outros só prova que o é tanto que nem percebe o tamanho das burrices que escreve. Alguém que não percebe a diferença entre chamar alguém por um nome, qualquer que seja, ou anónimo, que podem ser dezenas de pessoas diferentes, nem burro é, coitados dos animais. Obtuso será mais o termo. No âmbito restrito de trocas de comentários a um post num blog, é evidente que Costa, neste caso, há só um. E se outro Costa pretender dar o seu contributo, não terá mais que acrescentar uma qualquer letra ao nome, D. Costa, por exemplo, para se diferenciar do anterior. É muito mais simpático responder a um Costa, um R. Silva ou um F. Sousa do que a um anónimo dentre tantos. Claro que o estilo de cada um os vai diferenciando, também no que à educação diz respeito. Mas assim não haveria dúvidas. Chamar-lhes o Anónimo das 12:38h ou das 23:45h não é bem a mesma coisa. Claro que a inteligência suprema que se esconde atrás do anonimato militante irá logo dizer que me incluo no grupo dos burros já que qualquer um pode assinar um comentário como Costa, para se confundir com outro que assim se assine. Claro que nesse caso o primeiro Costa poderá sempre vir defender-se e demarcar-se do comentário, coisa que se for anónimo dificilmente poderá fazer - atenção que eu não sou o anónimo das 12:24h ou das 15:05h, sou o anónimo das 13:23h e das 16:37h. Além dos comentários começarem a parecer-se com uma tabela de horários da CP, a percepção e compreensão da sequência dos comentários e a determinação de quem escreveu o quê e de quem poderá ser o objecto de determinada resposta tornar-se-iam algo difíceis de conseguir.
Mas enfim, cada um com a sua. Ele deve ser feliz assim.
O pior é que a cada nova resposta que vai recebendo do "seu" anónimo eu tenho mais e mais dificuldade em me conseguir livrar de duas palavrinhas que reiterada e insidiosamente me vão assaltando a mente: insufferable buffoon. Isto só pode ser alguma coisa que comi e me caiu mal, decerto.
Cumprimentos
"Anónimo disse...
Ó Costa, uma pessoa achar que assinar Costa é fugir ao anonimato só pode ser burra ou querer fazer dos outros burros. Irra!
30/9/11 12:38"
Nestas coisas da internet, salvo complexos processos de autenticação, a verdade de uma identidade é coisa muito frágil. Qualquer pessoa pode assinar como entender. Pode desde logo assumir a identidade de outra e perverter completamente aquela que tenha sido, até esse momento, a linha de raciocínio seguida por essa outra pessoa.
Ao aceitar como boa a identificação de alguém, confia-se na boa fé de quem assim se identifica. O mesmo se diga quando nos impomos a nossa identificação que até pode nem corresponder ao nosso nome verdadeiro, mas é aquela que adoptamos e mantemos - em dada troca de opiniões e perante os que nela participam - até ao fim.
Por uma muito prática questão de melhor identificação e resposta. E por uma questão, que releva muito para lá dos meros aspectos práticos, de honestidade para com os outros. E para connosco.
Mas para isso, claro, é necessário que nos sintamos vinculados a potenciais empecilhos como a boa fé ou a honestidade que, sou forçado a admitir, deverão ter para este anónimo, acima tão identificado como possível, um valor próximo do residual.
Bem sei que, em regra, quanto menos escrúpulo mais (mais fácil, pelo menos) sucesso. E, verdadeiramente, esta questão da identificação nos comentários deixados num blogue é uma insignificância face ao que pode potencialmente fazer ao longo da vida, de danoso e repreensível, uma mente pouco dada, na forma, à correcção e à cortesia e, no conteúdo, à fundamentação e à honestidade. À decência, enfim.
Poderei ser burro, na verdade um muito nobre animal, tão injustamente troçado pelo Homem. O anónimo em causa será algo que por uma questão de educação me escuso de nomear.
Saudações,
Costa
Ps.: Muito grato, Susana, pelas suas palavras. Na internet há lugar para tudo. Para a troca gratificante, civilizada, de opiniões, mesmo que opostas; e para gentinha como este anónimo dar um ar de sua (bem infeliz) graça.
Hear, hear, meu caro Costa!
Ó Costa, trocar argumentos com quem acha que se identifica dizendo que é o Costa, e assim entende que se coloca corajosamente num plano superior ao anónimo, será para desocupados ou mentecaptos, coisas que felizmente não sou.
Não é corajosamente, homem, deixe-se desses dramatismos que afinal estamos apenas em pacata (apesar de tudo) troca de comentários. Não creio que algum de nós ande a fugir de opressores ignóbeis, ou escreva debaixo de fogo intenso de uma qualquer batalha, ou enquanto suporta a fúria dos elementos.
Nem se trata de superioridade, trata-se de mera educação e, sendo pessoa de bem, do devido respeito pelos outros, coisa que devia ser o mais banal dos critérios de convivialidade.
Quem os rejeita é que se revela um ser bem baixo. Manifestamente não é necessária qualquer excelência de minha parte - ou, suspeito, de quem seja - para estar bem acima do seu patamar. É apenas natural...
E veja lá o que escreve: são verdadeiros tiros no pé. Das suas palavras deduz-se que quem se identifica e afirma ser verdadeiro nessa identificação, é um desocupado ou um mentecapto. Donde, para si, é lícito deduzir, um anónimo será um expoente de virtude e um sacrificado ao labor.
Curioso...
Saudações,
Costa
@ Susana Bastos 28/9/11 12:41: Nasci em Lisboa há quase 66 anos e sempre aqui vivi. Claro que a Lisboa dos anos 40/50/60 nada tem a ver com a que "nasceu" a partir de 70. Os espaços verdes (não me interessa se se chamavam parques ou jardins) eram aprazíveis; lembro-me de ir brincar para o jardim da Praça do Império em frente ao Palácio de Belém, com 4 belas fontes, cada uma a seu canto, de onde jorrava água das suas laterais para um tanque mesmo à frente onde depositávamos (as crianças) os barquinhos feitos de papel de jornal ou dos cartuchos onde as mercearias enfiavam o feijão, grão ou açúcar. E a relva, flores e árvores bem cuidados. Lembro-me de ir aos fins-de-semana com os meus Pais para a mata do Monsanto, próximo do Bairro do Caramão da Ajuda, levando mantas e um farnel e lá estarmos quase toda a tarde (gente pobre não tinha dinheiro para andar pelos Kensington Gardens, Hyde Park, Green Park ou St. James Park); lembro-me de, nas noites quentes de Verão, ir a pé com os meus Pais até à Estação Fluvial de Belém (onde partiam os “cacilheiros” para o Porto Brandão e Trafaria) e ali estarmos à beira-rio a saborearmos a brisa que já vinha do oceano bem perto dali; lembro-me de andar em eléctricos sem portas nem janelas, onde os bancos de madeira ocupavam todo o espaço em largura e apenas existiam cortinas em oleado para nos protegermos do sol; lembro-me dos autocarros de dois pisos em que o “ar condicionado” era fornecido através das janelas abertas e pela circulação do ar em andamento; lembro-me de na minha rua passar o “petrólino”, um senhor que trazia uma carroça atrelada a uma mula e que vendia petróleo, carvão, álcool para queimar, batatas, azeite, vinagre; lembro-me das varinas com a canasta à cabeça a apregoarem a “vivinha da Costa”; lembro-me da senhora da fava-rica com a panela em cima da cabeça e o seu pregão inimitável; lembro-me (com muita saudade) desses tempos em que as pessoas se respeitavam umas às outras, em que os cavalheiros davam lugar às senhoras nos transportes públicos fossem de meia idade, idosas ou com problemas físicos; lembro-me que o trânsito auto quase nem existia e encontrava-se confinado a “pessoas de bem”; lembro-me de tanta coisa desta Lisboa que me viu nascer e que tanto amei… Por isso, ao ler o seu post e a frase «O ódio dos Lisboetas ao verde vem de longa data e vê-se por todo o lado», senti-me tremendamente ofendido apesar de não ter tido qualquer culpa na transformação da “minha” querida Lisboa em asfalto e betão… Faz-me lembrar os posts incendiários que correm pelos online sobre política actual em que, pela maioria dos comentadores de sarjeta que por ali proliferam, parece que os Portugueses é que são culpados de o nosso País ter descido à situação de bancarrota pese o facto de a única culpa que nos assiste é alguém ter votado numa cambada de políticos que se servem da política para proveito próprio e não do Povo e/ou do País… Mas enfim… nem todos temos as mesmas opiniões, os mesmos gostos…
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