sexta-feira, janeiro 31, 2014

Subir a Colina e descer uma montanha de quase nada


Não deixa de ser ingrato ser o público convidado a contribuir nesta fase, a jusante, para debater o processo revolucionário em curso para os antigos hospitais civis de São José, Santa Marta, Capuchos e Miguel Bombarda (pelo meio esqueceram-se, mal, de São Lázaro e do Instituto Gama Pinto, e incluíram, surpreendentemente, Santa Joana e o Desterro), quando devia sê-lo a montante, i.e.:

Justifica-se o novo Hospital de Todos-os-Santos? Quanto custou até agora e quanto vai ainda custar? As externalidades positivas compensarão as negativas? Será mais um dos "elefantes brancos" de que o País é criador compulsivo? E a requalificação dos hospitais, sobre que versam os quatro loteamentos ora em discussão (mais vale tarde que nunca), foi gizada a partir de que critérios? Os estudos prévios - que a Câmara Municipal de Lisboa publicitou no verão passado, a muito custo...- foram objeto de algum concurso público ou, no mínimo, de ideias? Não? Porquê? Avante.

Dos debates temáticos que decorrem na Assembleia Municipal de Lisboa (cujas parcas competências legais resultam em que as suas deliberações sejam quase sempre inconsequentes), i.e., sobre as vertentes hospitalar, urbanística, patrimonial e de governança, saltam à vista duas realidades (de escala diferente consoante o loteamento) que importa combater, racionalmente, e contrapor alternativas fazíveis, o que será feito, certamente, agora e depois:

O património rico e variado daqueles 4 ex-hospitais civis é reduzido ao essencial: não se toca no que já está classificado como de Interesse Público mas o demais será reduzido a entulho. A silhueta e o subsolo daquela colina serão irremediavelmente alterados: a malha urbana será contemporânea, nascerão torres, mirantes e passadiços, escavar-se-ão túneis e estacionamentos com vários pisos para automóveis.

Que continue o debate!


In Diário de Notícias (31.1.2014)

1 comentário:

aeloy disse...

Caro Paulo,
só não consigo é ver, nem sequer usando a maior imaginação, são as parcas competências da A.M., que de facto tirando debater para iludir o freguês, são nulas, mesmo nulas.
Aliás além de um sorvedouro do $ público, e de umas ocasionais notícias esta não tem a mínima utilidade.
Na vereação já sabemos com o que contamos.
Talvez terraplanarem a colina permitisse mais construção...
O fundamental é a falta de um pensamento global de cidade, do seu passado para o futuro, e a integração das diferentes valências e possibilidades de melhoria dessas face ao monstro que se projecta, com ou sem Todos os Santos.
Mas o engano de alma ledo e cego continua...
Abrs
António