quarta-feira, janeiro 23, 2008

INSTANTES DA CIDADE PERDIDA

Sempre ouvi dizer que traziam chuva. Quando o amolador se anunciava nas ruas, para chamar facas e tesouras para afiar, diziam que vinha chuva. Não sei a causa desta fama meteorológica. Sei que o tempo foi também implacável com os amoladores, como foi com as varinas, com os ardinas, com os marçanos. Hoje, manhã cedo, envolto no tempo moderno, ao chegar de carro à Av. Visconde Valmor, onde a Camara persiste em nos fazer recuar ao tempo em que a cidade era conhecida na Europa por ser uma enxovia, não limpando o lixo que decora a rua e os passeios, tive uma visão. Num instante, breve instante, ao dirigir-me à garagem onde armazeno o carro, eis que me deparo com um amolador. Devia ter para aí uns dignos setenta anos de história (os velhos não têm idade, mas história). Não se anunciava. Não vem chuva, portanto. Trabalhava, pacatamente, qual cromo perdido da colecção dos antigos cromos de Lisboa. Junto ao passeio. Foi um instante. Da cidade perdida, do tempo que não volta. Mas que faz sempre bem lembrar.

2 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

«...diziam que vinha chuva. Não sei a causa desta fama meteorológica».

Pode haver duas explicações, ambas relacionadas com o facto de que, além de 'amolar tesouras e navalhas', eles compunham guarda-chuvas:

Uma pode ser a associação de ideias que as pessoas faziam, relacionando o homem, os guarda-chuvas e a chuva;

Outra pode ser mais subtil: porventura os amoladores, vendo aproximar-se a chuva e sabendo que o negócio estava relacionado com os guarda-chuvas, saíam mais à rua.

Anónimo disse...

fuuuu..iiiii..ii, fuuuu..iiiii..ii
amuuuuladooor !