quinta-feira, junho 09, 2011

Apolo 70

«O Drugstore Apolo 70 (o maior da Europa) foi ontem inaugurado». Assim começava uma crónica do saudoso Diário Popular publicada a 27 de Maio de 1971. Mais adiante, «no qual se integram, além de uma bela sala de cinema, uma grande complexo hoteleiro da Hotelda, com snack-bar, bar, um “bowling” automático e uma sala de jogos». Talvez fosse a nossa resposta à Apolo 7, a primeira missão espacial tripulada, não sei. O que sei é que é o único centro comercial de que guardo boas recordações, mesmo sabendo que aquele prédio matou outro bem mais interessante.

Não foi o primeiro centro comercial de Portugal (essa honra cabe por inteiro ao Cruzeiro de 1940, no Monte Estoril, hoje cinicamente enxovalhado e abandonado). Nem terá sido o “drugstore” mais popular de Lisboa (o contemporâneo Tutti Mundi, na Av. de Roma, era toda uma outra revista “Art et Décoration” à americana) nem o maior da Europa como a notícia conta (a nossa mania das grandezas já vem de longe… até aquela pequena rua se chama Avenida Júlio Dinis!). Mas o Apolo 70 foi de facto um local de referência para mim, defensor confesso do comércio tradicional, do espaço livre e das velhas salas de cinema.

Pena é que agora que comemora 40 anos, as únicas coisas que nele subsistam sejam a decoração da fachada, a loja dos animais (pelo menos desde a última vez que lá entrei) e a livraria, ainda que já bastante diferente.

Podia falar do belíssimo snack circular e dos espaventosos hambúrgueres, novidade absoluta, devorados vorazmente em “maples” forrados a cabedal. Podia falar do “bowling” que efectivamente nunca joguei, talvez porque estivesse sempre ocupados pelos mais velhos, mas de que retenho o som dos pinos a cair. Podia falar da excelente loja de brinquedos, sócia da também já extinta Pelicano, por acaso vizinha do Tutti Mundi. Podia falar dos gelados. E dos cãezinhos e hamsters sufocando por detrás do vidro (guardo a eterna lembrança de em 75 aí ter feito um amigo para a vida com um Salsicha de pêlo comprido).

Mas do que eu gostava mesmo no Apolo 70 era da sua sala de cinema, do seu Estúdio, bilheteira incluída. Era de facto um prazer ver filmes numa sala tão cómoda e bem decorada como aquela sala forrada a napa branca, com poltronas encostadas à parede - soube há pouco que a sua decoração se deveu a Paulo Guilherme: está explicado o bom gosto.

É, por isso, um prazer “rebobinar” as estreias de «Barry Lyndon», «Fernão Capelo Gaivota», «Um Dia de Cão», «À Beira do Fim», entre muitos outros. E “reler” os seus programas bem desenhados e completos. Foi uma programação a cargo de Lauro António, leio agora. Quem nos dera que houvesse alguém que devolvesse o Cinema no São Jorge, Odéon, Tivoli e Capitólio, os templos que ainda nos restam, com uma programação como a que o Apolo 70 sempre teve. «Sonhos» de Kurosawa?



In JN (9.6.2011)

2 comentários:

Anónimo disse...

Também guardo boas recordações daquela óptima sala de cinema (e de um tempo em que nelas não havia nem pipocas nem telelés... aliás hoje em dia já nem sei ao certo se há: por causa desses pavorosos hábitos, e também por não ser fã da confusão dos multiplexes - ou lá como se chamam - passei a dedicar-me apenas ao «home cinema», com todas as limitações que lhe reconheço).

Anónimo disse...

Bom, com 25 anos de idade lá ia ao Domingo, em romaria, porque o dinheiro também nada dava para muito mais, comer um "banana split" mais a patroa... Bons tempos... Todos os Domingos lá estava caído.