Mas a economia do sofrimento também já é um problema de muitas sociedades de países ditos desenvolvidos, face às motivações e respostas mais primárias que algumas dessas sociedades encontram para as dificuldades que atravessam (com pessoas sem domicílio, sem emprego, com carências alimentares e violência sobre os mais vulneráveis com picos acentuados de intolerância).
Só há dois caminhos: o que respeita os Direitos do Homem na sua integralidade (preservando os princípios, por difícil que seja) ou retroceder em cedências – ainda que com elaborados fundamentos –, o que seria sempre um retrocesso civilizacional.
Trago esta questão porque me parece pertinente face ao agravamento da situação interna portuguesa, porque o primeiro objectivo colectivo que temos de assumir só pode ser humanitário, na defesa do nosso próximo, naquilo que cada um de nós faz ou pode fazer; pessoas e instituições, assumindo uma responsabilidade social e cívica a que tradicionalmente somos avessos (com as excepções que sempre existem, como é óbvio) e que as crises económicas agravam, apodrecendo os frágeis amortecedores.
Também a ideia que vai trilhando caminho, de duas Europas, a duas velocidades, na lógica de existência de países ditos periféricos como a origem exclusiva do mal europeu, não é caminho. Os bons caminhos são os que levam a soluções construtivas de reforço (não estou a referir-me a uma União Política, perspectiva que não partilho). Os bons caminhos não são de exclusão, que, mais tarde ou mais cedo, potenciam conflitos. Mas para alcançar o desiderato a que me refiro não se podem criar indiferenças, intolerâncias e pré-juízos sobre os povos em geral, nem sobre qualquer ser humano em função das suas características, sob pena de a "economia do sofrimento" fazer germinar em alguns o que de pior há para o ser humano, venha ele de onde vier, tenha as condições que tiver. Assim não haja indiferença para com a intolerância de que o agravamento das condições sociais é indutor, entre nós ou no seio da Europa.
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