sábado, junho 18, 2011

Melros

Há dias fui surpreendido com um convite de um amigo para que colocasse o meu nome numa certa petição online contra a permissão de caça generalizada ao melro. É que, segundo a notícia publicada por um semanário e na qual a petição se baseia, será possível a cada caçador matar até 40 melros por dia, já a partir do próximo mês de Novembro. O que estará em jogo, portanto, é a permissão, ou não, de uma matança tal a uma ave, protegida (sim, é protegida!), que até a federação de caçadores estaria contra.

Muito sinceramente, a minha primeira ideia foi: será que a já célebre e providencial «troika» obrigou o nosso legislador e as nossas autoridades a declararem guerra aos corruptos e aos mentirosos compulsivos, e que, finalmente, os eleitores poderão começar a caçá-los, de preferência com zagalote?

Contudo, esfregando a vista e lendo mais atentamente o texto da dita cuja, depressa conclui que não era assim, e que a caça indiscriminada em causa e que terá motivado a revolta de quem lançou a petição, na realidade, diz respeito, isso sim, àquele simpático e ágil pássaro preto, cujo macho tem o bico amarelo, e que abunda por tudo quanto é espaço verde de Lisboa, aliás, uma vez que tem fugido para as cidades, por causa, parece, dos agricultores (imagino que os poucos que ainda subsistem) que lhe dão caça; certamente por as verem como aves de mau agoiro, que atraem o tempo seco que depois mata as colheitas (enfim, superstições), ou então, por engano em relação aos verdadeiros melros a quem deviam efectivamente lançar chumbo, por não serem devidamente apoiados e protegidos como deviam.

Sendo assim, não compreendo como se pode incentivar semelhante operação de extermínio do melro, uma ave simpática, bonita e cujo canto é das coisas mais agradáveis que ainda existem por aí fora, a começar por esta cidade, nos seus jardins e recantos verdes, mas também nos telhados, nas escadas de incêndio e, por vezes, mesmo, nas varandas de nossas casas. Ainda por cima uma ave que combate os seres rastejantes que se escondem nas suas tocas. Portanto, uma ave útil. Ainda por cima uma ave que, pelo menos na cidade, e apesar de arisca, tem boas relações de vizinhança com o ser humano. Portanto, uma ave moderna.

Posto isto, bem vistas as coisas, e pelo sim, pelo não, subscrevi a petição. Quanto aos outros melros, é uma questão de fazermos caça de espera, enquanto a temporada não começa, aliás, corre o risco de não começar tão cedo.

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