Se é verdade que temos muitas e profundas dificuldades diante de nós (dito de forma simples, o ajustamento do nosso nível de vida à nossa economia), também não o é menos de que a par das dificuldades e das necessárias contracções que todos sofreremos há que quebrar fatalismos. A par das medidas difíceis, das restrições, tem de se criar desígnios. É verdade que estamos balizados pelos acordos com a União Europeia e o FMI pa-ra que nos fosse emprestado o suficiente de que precisamos para o dia-a-dia, mas também é verdade que o Governo e o Povo Português têm a possibilidade de ganhar a batalha pela melhoria da nossa situação económica e social. Portugal não é efectivamente um País Periférico, em tempos de globalização. Só se teimar em sê-lo e continuar a apostar nas trocas comerciais quase exclusivamente no espaço europeu. Geograficamente situado entre a África, a Europa e a América, não tem de considerar-se globalmente periférico. Apostar na economia e na cultura com os países de expressão oficial portuguesa pode ser absolutamente decisivo para transformar a actual situação numa oportunidade e numa prevenção, sobretudo se atentarmos no papel económico e político que temos no âmbito da União Europeia. Há que encontrar o equilíbrio entre os vários mundos em que nos podemos inserir. Mas também vamos precisar, para concretizar desígnios geoestratégicos, sociais, económicos e culturais, de profundos consensos na sociedade portuguesa que permitam minorar os efeitos de uma degradação social que já é evidente, se bem que não em toda a sua terrível extensão. Não me refiro apenas a consensos entre forças políticas, mas também a consensos entre parceiros sociais e corpos profissionais.
A opção pelo protesto e pela conflitualidade não nos vai levar a lado algum e pode mesmo comprometer a coesão social, essencial para retomar o País. Será também decisiva a postura referencial dos agentes políticos. De facto, muita coisa tem mesmo de mudar: a nossa crítica falta de cidadania, o nosso sector empresarial – com as excepções de sempre – e a nossa classe política. Hoje, chegou a altura de fazer mais e de falar menos. Mais acção e nada de espectáculo. Com prioridades, com transparência.
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