Tenho partilhado com ele outros momentos. É vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Naturologia http://www.spnaturalogia.pt/wp/pt/a-spn/, um esperantista e homem com grandes e magníficos conhecimentos de plantas medicinais (não o serão todas?).
É um interessado pela vida, que regularmente oferta aos amigos textos sobre variadas plantas e seus usos.
Um dos últimos é sobre o cacaueiro:
e eis o texto:
" Depois de ter andado por várias roças de cacaueiros na
ilha de São Tomé, visitei na Tasmânia (Austrália) a fábrica de chocolates da
Cadbury e, mais tarde, o magnífico Museu do Chocolate da cidade de Colónia
(Alemanha). Modéstia à parte, este era já um currículo chocolateiro invejável,
mas faltava ainda conhecer a Rota do Chocolate organizada pelo Cacau Clube de
Portugal, cujo itinerário abrange Aveiro, Porto e Viana do Castelo. Esta
persistente “cacaufilia” foi estimulada pela tertúlia “Do Cacau para o
Chocolate”, realizada em março na Associação de Cozinheiros Profissionais
de Portugal, brilhantemente dirigida pelo professor gastrónomo Virgílio Gomes e
pela leitura da obra, que vivamente recomendo, “Um Ano de Chocolate”, de Odete
Estêvão.
Na Rota do Chocolate há a destacar a visita à “Feitoria
do Cacao” em Aveiro, a pernoita no Hotel Fábrica do Chocolate,
integrando a visita ao respetivo museu interativo na antiga fábrica de
chocolates vianense, em Viana do Castelo e finalmente o passeio pelas tradicionais
chocolatarias do Porto: “Equador”, “Maria Chocolate” e “Chocolataria
das Flores”. Não é possível mencionar neste singelo escrito os riquíssimos
pormenores, sentires, saberes e sabores que o cronista fruiu, mas deu para
refletir e aprender. Condensa-se, a seguir, numa síntese imperfeita, de
formulação obviamente discutível, algo do muito que foi apreendido.
O cacaueiro, ou seja, o Theobroma cacao é uma pequena árvore que geralmente não excede os 6
metros de altura, existente apenas nas regiões tropicais, mais propriamente
numa faixa que raramente ultrapassa a latitude de 20 graus acima e 20 graus
abaixo da linha do equador. Desenvolve-se em solos férteis com pluviosidade
elevada, temperaturas que variam entre os 18 e os 32 graus centígrados e à sombra
de árvores de maior porte.
Os botânicos incluíram o cacaueiro na família das Malvaceae. A planta é perene, estando em
flor e frutificando durante todo o ano. É uma espécie caudiflora, ou seja, as
flores e os frutos surgem ao longo do tronco principal e nos ramos adjacentes.
As folhas são grandes, pecioladas, elípticas ou oblongas e alternas. As flores
surgem aos cachos, muito pequenas, esbranquiçadas, em forma de estrela. Os
frutos são carnosos e oblongos, cuja cor que, contudo, não indica o estado de
maturação, vai do amarelo ao vermelho e quando secos passam a castanho-escuro.
No seu interior, as sementes de cacau (30 a 40 por fruto) encontram-se encapsuladas
numa polpa branca agridoce que serve para preparar uma excelente bebida
refrescante, como a que nos foi dada a provar à chegada ao Hotel Fábrica do
Chocolate.
As civilizações pré-colombianas desde há 1500 anos
a.C. já utilizavam uma bebida amarga confecionada com as sementes do cacau, a
que chamavam tchocolat, considerada
estimulante e afrodisíaca. Diz-se que o imperador azteca Montezuma bebia, por
dia, 50 malgas dessa bebida para aumentar o seu vigor. Acrescente-se que Theobroma se decompõe em theo (deus) e broma (alimento), logo, “alimento dos deuses”. O seu valor era tal
que chegavam a utilizar as sementes como moeda de troca.
Os espanhóis trouxeram para a Europa essa bebida
divina a que se adicionou açúcar, frutas e especiarias como a baunilha, entre
outras. A massa do cacau originou a tablete de chocolate. A junção de leite em
pó foi uma invenção de Henri Nestlé que teve enorme sucesso e o chocolate,
finalmente, universalizou-se.
A maturação dos frutos demora, em regra, 5 a 6 meses.
A colheita é feita manualmente e os frutos são esventrados para retirar as
sementes, grãos, castanhas, ou favas, como também são chamadas. Dá-se depois a
fermentação e a secagem. Nas respetivas fábricas do chocolate procede-se à
torrefação, à retirada da casca, à moagem para obter a pasta de cacau que
contém cerca de 50% de gordura (manteiga de cacau), ao envelhecimento, à
conchagem, à temperagem e à moldagem. Bem, o processo é complexo e este escriba
não dispõe de conhecimentos suficientes para detalhá-lo. Quem quiser saber mais
visite, por favor, a Feitoria em Aveiro e o Museu em Viana.
O cacau proporciona um sem número de especialidades
gastronómicas bem mencionadas no admirável livro de Odete Estêvão. A manteiga
de cacau que derrete à temperatura do corpo humano (36 graus centígrados) é
usada em medicina e em cosmética. O cacau serve para confecionar batons,
champôs, velas, sabonetes, cervejas, sorvetes, geleias …
Ninguém é alérgico ao cacau, pelo contrário. As
alergias que porventura poderão surgir são devidas, ou ao leite, ou à lecitina
de soja, ou ao açúcar ou a outras incorporações adicionadas nos chocolates.
O cacau é muito rico em antioxidantes e contém
centenas de compostos úteis para a saúde, entre os quais, teobromina, cafeína, cálcio,
cobre, ferro, magnésio, manganês, potássio, zinco, vitaminas B, C, E e
provitamina A. O chocolate negro (com mais de 70% de cacau e sem açúcar) é um
superalimento com as seguintes propriedades no que respeita à saúde: antidepressivo,
estimulante da serotonina/cérebro, preventivo das doenças degenerativas,
diminui o risco de enfarte, melhora a circulação, combate as doenças intestinais,
aumenta a sensibilidade à insulina, baixa o colesterol, possui ação
inflamatória, fornece energia e desperta o humor e a boa disposição."
O Miguel dá ainda aulas sobre estas delícias.
Sem comentários:
Enviar um comentário