terça-feira, junho 26, 2007

Maria José Nogueira Pinto e a Baixa-Chiado


O Convite Profissional

Uma verdade tem de se dizer desde logo: como vereadora do CDS, Nogueira Pinto teve sempre uma postura «sui generis», chegando a votar com a oposição ou a abster-se em certas matérias, e julgo mesmo que, após a ruptura da coligação que o PSD mantinha com o CDS, acabaria por negociar com uma parte da oposição a adopção de posições conjuntas.
Ou seja: como pessoa, Nogueira Pinto portou-se bem melhor do que alguns leitos da oposição que fizeram todos os fretes ao PSD e a Carmona.
A sua tarefa mais «brilhante» perante a opinião pública, vistosa até por envolver nomes sonantes da engenharia, da arquitectura e da economia portuguesas, o que não é demérito, pelo contrário, foi o chamado Plano da Baixa-Chiado.
Isso foi na altura.
Depois, a Assembleia Municipal congelou-o. A mesma Assembleia dirigida por Paula Teixeira da Cruz que hoje existe e funcionará até 2009.
Agora, em plena campanha, surgem as ligações ao de cima.
Nogueira Pinto, que, desde que saiu do CDS, tem mostrado alguma tentação PSista, aparece agora num primeiro momento a oferece-se para ir explicar a uma sessão do arquitecto Salgado os contornos do Plano da Baixa-Chiado, mas sem António Costa – bizantinice dispensável – e depois, logo de seguida, a manter-se na sessão quando Costa resolve residir ao acto, o que, estava-se mesmo a ver, tinha um alvo político para que a opinião pública visse o troféu da candidatura: Zezinha está comigo, mesmo que tenha dito que ia porque era Manuel Salgado e não eu quem cá estava. Como vêem, estou cá e ela também.
Uma espécie de enredo a três tempos.
Para sobrecarga de dramatismo, Costa convida Zezinha ali mesmo – como dizem os jornais – para presidir ao futuro-ex e ex-futuro Comissariado da Baixa-Chiado, mas Zezinha não diz logo que sim.
Agora, a ex-vereadora do CDS garante, como estava na cara que ia garantir, que vai estudar o convite-desafio, já que o considera como «profissional e não como político».
Aí é que está a minha admiração e o meu espanto rebenta: então um candidato pode fazer convites «profissionais»? E ninguém barafusta?
… Ou será que já ocorreram eleições em Lisboa e eu estava distraído?

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Nota

O que está a acontecer é uma espécie de «remake» invertido, uma quase inversão de papéis: com Nogueira Pinto no lugar de vereadora, Salgado integrou o Comissariado e foi uma espécie de porta-voz. Agora, com as eleições em mira, e na previsão de maioria PS, mesmo que relativa... invertem-se os papéis. E o mundo continua a girar, sem dramas, mas podia haver um pouco mais de calma em convites destes que, mesmo que toda a gente se cale, não caem bem à generalidade das pessoas que pensem um pouquinho. É que não pode valer tudo, acho eu. E até este geral silêncio dos habituais «comentadores» só pode ser lido de uma forma: o pessoal está distraído e só vai acordar no fim-de-semana... espera-se...

Por todos, ver o ‘CM’: Zezinha vai estudar o convite que interpreta como profissional e não como político.

6 comentários:

Anónimo disse...

«E o mundo continua a girar, sem dramas.»

sim!

Paulo Ferrero disse...

Caro José Carlos,
Independentemente dos protagonistas, mais ou menos inchados, a verdade é que o cerne da questão é mesmo o plano de revitalização da Baixa-Chiado, que, a meu ver, sofre de 3 problemas fundamentais:

- O modelo de financiamento é dúbio e a longo-prazo, promove a criação de mais sociedades, mais tachos e por aí fora;
- O plano tem pormenores pavorosos como, por ex., o esventramento do casco histórico para construção estacionamento subterrâneo (Cp.Cebolas e no próprio T.Paço), construção de mini-túneis para «linha de metro das colinas», enviesamento perigoso a nível do mercado-alvo para relançamento da habitação, o pavoroso novo terminal de cruzeiros em Santa Apolónia, ou a tal coisa do «centro comercial a céu aberto», que ninguém sabe o que é, porque efectivamente já o é, só falta é ...;
- O plano serve de testa-de-ferro a um mega-projecto de engenharia, tão velho quanto tolo: a Circular das Colinas, que é de exequibilidade duvidosa (acarreta a construção de túneis sob a colina da Estrela e do Monte Agudo -Penha de França), custa tanto como uma nova ponte, não serve rigorosamente para nada a não ser para alguns ... e já existe à superfície, basta que a CML e a Carris se entendam de uma vez por todas e consigam fazer aquilo para que realmente existem, proporcionando-nos a todos uma cidade com qualidade de vida.

Anónimo disse...

(apesar de não me chamar José Carlos, aqui vai esta minha opinião, independente, tanto quanto é possível a alguém que se interessa por estas matérias ;)

1º, ao que parece, o 'Plano' ainda não o é, ou seja, é apenas uma 'Proposta', uma base de trabalho tendo em vista superar o actual estado de coisas, deprimente, decorrente de uma actuação errática e imediatista, cujos custos e vícios (mais ou menos visíveis) conhecemos, e que, por alguma razão debatemos frequentemente, muitas vezes num rotineiro lamento(!) sem consequências práticas, ou 'esboço' de alternativas.

2º, o 'calcanhar de Aquiles' da mesma, foi, talvez... o de pensar de forma integrada e... a longo prazo (daí a magnitude dos números), assumindo a ambição pouco comum, de apresentar um diagnóstico alargado e sistémico dos problemas, como fica expresso no termo adoptado, da 'revitalização', que pressupõe necessariamente as gentes, as actividades, as tendências (algumas exteriores/estranhas), os fluxos, etc;

3º, a sua maior força, por seu turno, talvez esteja na fase do processo, na sua abertura à discussão pública e, porque não, no número de intervenções que implica, ou deveria implicar (a rever, naturalmente
e também por surgir!), não devendo nunca(?) ser tomadas como metas isoladas, mas sim enquanto designíos colectivos, tendo em vista essa coisa tão falada(!) como é a qualidade de vida das populações, residentes e 'city users', que serão cada vez mais, como nos alerta (porque as evidências nem sempre são consideradas ;) essa personagem incontornável chamada Nuno Portas, que ainda ontem pudémos ouvir no debate sobre o...Porto, sobre a insatisfação das suas gentes que, fundamentadamente ou não, se sentem preteridos, ou prejudicados, relativamente a LX.



AB

Anónimo disse...

(...) 'desígnios', não vá o CMR, em revisão de provas, pensar que foi de propósito!

AB

Anónimo disse...

É pá! A vergonha não tem limites! Terá sido convidado já mais alguém para outro lugar? Já se "compraram" outros lugares com o financiamento e/ou apoio da campanha?

É que não há mesmo decoro!!!

Para quem se diz de "fina" educação isto é do mais mau gosto (à Eça...) que existe!!!

Alface

Anónimo disse...

(...) assim se mostra que o cassete-Monteiro, com a sua aposta, na 'corrupção', o seu populismo barato mas eficaz, tem um extenso e ilimitado campo por lavrar (seja para alfaces ou outras hortaliças ;), tem hordas, multidões de insatisfeitos por despertar!

- afinal, tudo gira em torno de lugares ou de favores, está mais que visto...enfim, é o País que temos!

AB