quinta-feira, maio 26, 2011

Feira do livro

Convenhamos que o ritual da ida todos os meses de Abril e Maio à Feira do livro que decorreu no Parque Eduardo VII deve-se, por maioria de razão, muito mais ao belo cenário em que a mesma decorre do que aos eventuais descontos que aquela propicie a quem deseje comprar um livro a preços realmente de feira, ou a um hipotético encontro mais ou menos do terceiro grau com algum dos escritores que por lá estão para a respectiva distribuição de autógrafos, "noblesse oblige".

Por mim falo mas creio que há uns quantos e bons anos que não vale a pena esperar por descontos significativos nos livros, para além dos que respeitem aos tradicionais "livros do dia", esse sim com reduções substanciais e de encher o olho. Àquelas que já foram as minhas bancas "clássicas", a Lello, a Minerva, os Livros do Brasil, por exemplo, nessas há muito que deixei de lhes perguntar, pelas edições esgotadas de Molière, Lagerlöf ou da Colecção Argonauta.

Deixei de lá ir porque me fartei de esbarrar com um também já clássico "foi descontinuado" ou um "ah, não sei, se não estiver exposto é porque não há".

Ultimamente, até, parece que há alguns editores que, certamente por particular gosto pela festa brava, decidiram fazer dos seus stands autênticos curros, fazendo com que os visitantes entrem por uma extremidade e saiam pela outra, passando por detectores de roubo, etc, naquilo que é uma demonstração não só de mau gosto como claramente contrária ao espírito de feira

Se a isto, e descontando os tais "descontos" comprovadamente equivalentes aos de uma conhecida cadeia francesa a operar um pouco por toda a cidade, juntarmos algumas bancas de alfarrábio bem fornecidas e as inevitáveis farturas, mesmo que cruas e/ou frias como infelizmente costuma acontecer; é no próprio Parque Eduardo VII, e em especial na possibilidade que se nos oferece de ali passearmos à noite, que reside o principal motivo de uma ida à tal de Feira do livro.

Em dias de boa visibilidade há até uma razão extra para essa ida, pois nesses dias é todo um prazer dar-se uma olhadela prolongada até ao Castelo de São Jorge, até ao rio e para além dele. Tal qual a reabertura da Estufa Fria ajudará e muito à próxima festa.

Pena é que o serviço e o aspecto da velha esplanada do lago do Parque continuem estagnados, entre o antigamente e o lado nenhum, e que o cavalo do lago há muito tenha deixado de jorrar água pela boca.

E pena maior é a do Pavilhão dos Desportos, hoje moribundo e a definhar progressivamente, sem que se vislumbre luz que seja sobre a aplicação das proverbiais e solenemente juradas verbas do casino de Lisboa. É pena.



In Jornal de Notícias (26/5/2011)

1 comentário:

Anónimo disse...

Também há muito que deixei de lá por os pés, e entendo que a tal cadeia francesa é, de longe, muito preferível.