terça-feira, maio 17, 2011

Património cultural, que futuro próximo?

No debate de há dias no Cinema São Jorge (irreconhecível, para pior), em boa hora organizado pelo ICOM Portugal e sob o lema “Políticas de Património Cultural, Balanço recente, Perspectivas próximas”, foi dita muita coisa e outra tanta terá ficado por dizer, culpa da falta de tempo e das regras básicas da educação, até porque o MC se fez representar em força, o que só abonou em seu favor, a meu ver.

Pela parte que me toca, e reforçando duas premissas indesmentíveis; que o balanço recente é negativo e as perspectivas próximas não são boas, mas deviam sê-lo face às circunstâncias em que o país se encontra, volto a repetir o seguinte:

O próximo Governo não terá perdão se desperdiçar o momento e não fizer a “limpeza Tide” que se exige, fazendo da defesa intransigente do interesse público o seu mote, rompendo com as “irmandades”, regulares e irregulares, que se têm vindo a desenvolver, e a subsídio-dependência. É preciso que os organismos do Estado ligados ao Património Cultural voltem a ter auto-estima mas também, e mais importante, que os cidadãos voltem a ter confiança neles à luz das boas práticas que venham a ter. E que as políticas do património cultural sejam de fomento cultural. Que se garanta a transversalidade ao nível dos currículos escolares do Básico e Secundário. Que a economia do país ganhe com esse investimento. E que haja a correspondente dotação orçamental, sem a qual estas aspirações serão impossíveis, porque ou o Património Cultural é entendido como uma mais-valia económica e social ou então mais vale deixar tudo na mesma.

E que o Turismo Cultural seja assumido como desígnio nacional! É uma evidência que tarda em ser reconhecida: é preciso investir no reforço da identidade nacional, por via da reabilitação dos MN, IIP e IM, e da exploração dos “clusters” subaproveitados (azulejo, faiança, artesanato, indústrias culturais, etc.), protegendo sobre a sua propriedade, as suas características e a sua transacção, incentivando a fabricação. Precisamos de equipamentos culturais de excelência, se necessário sob gestão privada mas sempre por objectivos (como é possível um São Luiz com 2,3 M€ de prejuízo, ou uma gratuitidade como a do Museu Berardo?). São precisas novas formas de financiamento. Reformulem-se as “contrapartidas do casino” e o mecenato. Cative-se e envolva-se a cidadania!

Acabe-se com a “engenharia financeira” das vendas de hospitais, etc., referência que são para os cidadãos e apoios de facto à economia local, bem como com outros tantos projectos de transformação da silhueta da cidade e da vida dos lisboetas. Um novo terminal de cruzeiros em Sta. Apolónia, havendo Alcântara? Um hotel na Boa-Hora, em vez do CEJ? Blocos de apartamentos e “torres de menagem” no Miguel Bombarda, em vez do Arquivo Municipal? Abram os olhos!




In Jornal de Notícias (12.5.2011)

Sem comentários: