quinta-feira, julho 11, 2013

A Guerra Junqueiro


Habituei-me (e não sou motard) desde muito cedo à Av. Guerra Junqueiro da Mexicana, de Querubim e dos outrora magníficos ‘garibaldis’; do saudoso Star e da roupa juvenil de um tal de Pequeno Lorde. Anos mais tarde descobri dois mestres de outros tantos misteres em vias de extinção, de que fiquei cliente/amigo: um encadernador e um engraxador. Não andei no Cambridge School e as minhas memórias do famoso Copacabana são mais nebulosas do que os fotogramas das vezes em que acompanhei a minha Mãe a modista em voga de 60. E recordo, sem saudade, o sempre deserto Mr. Cook (se hoje existisse seria um êxito…) e a estação de serviço hoje transformada em duas lojas de marca de vestuário e cosmética. Também o autor de A Velhice do Padre Eterno tem assistido do alto do seu plinto e, recentemente, por detrás das trincheiras de relva que lhe puseram em volta, a mudanças de estilo e de vária ordem (para pior) na ‘sua’ avenida: a reciclagem natural (mas inaceitável) de cafés em sucursais bancárias e de boutiques em coisas do arco-da-velha, as alterações tontas no sentido do trânsito (de cima abaixo, de baixo acima e outra vez de cima abaixo), a praga dos arrumadores desencartados, o repúdio deliberado da CML pelos candeeiros em marmorite, modelo ‘Guerra Junqueiro’ (sabiam?), outrora ex-libris da avenida, os bancos feiosos que convidam a não sentar (que tal pintá-los de encarnado, como na bem sucedida experiência da Luz?), a inexistência de uma política camarária de urbanismo comercial com cabeça, tronco e membros, etc.. Atenção que houve coisas boas nos últimos anos e por acção da CML: acabaram os estaminés ambulantes com ‘reservado’ pintado no passeio, há parquímetros, normalizou-se o impasse das traseiras com a Av. Manuel da Maia. A Junta tentou embelezar os canteiros (mas passado pouco tempo voltaram a ser mato). Contudo, o pior estava para vir e veio de forma abrupta, com o cair da Crise sobre o país, entre muitas outras crises pré-existentes: a falência em catadupa das lojas, a proliferação de cartazes ‘vende-se’ e ‘trata’; uma morte anunciada para a Guerra Junqueiro. Mas isto dos factos consumados antes de o serem de verdade revolta qualquer um. Aplaudo, por isso, todos os comerciantes da avenida e arredores que a expensas exclusivas do seu bolso e do seu engenho resolveram ‘puxar pelos galões’ e combater corajosamente a morte anunciada para os seus negócios e, por conseguinte, para a Avenida. Que a ‘Open Night’ do passado dia 6 seja o prelúdio de uma nova vida para a Guerra Junqueiro!


In AtuaLis (Junho 2013)

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