quarta-feira, setembro 09, 2009

Foi você que pediu um "designer"?


A moda realmente pegou. E há que tirar o chapéu (e eu tiro sem hesitar) a Guta Moura Guedes por conseguir levar a sua por diante, seja com que executivo for, salvo a raríssima excepção do obtuso mandato de CR. Há intervenções engraçadas e ideias bem conseguidas, outras nem tanto, pena é que a maior parte do trabalho dos "designers" e "criativos" (nas suas variadíssimas áreas) seja subaproveitado neste país, como em tudo, aliás. Hoje arranca a Experimenta Design 2009 Acontece, porém, que muito do chamado "vanguardismo" das propostas apresentadas neste certame são tudo menos isso, porque assentam em clichés. Aplica-se isso em coisas simples como criar novos rótulos de garrafas, ou em coisas mais importantes como uma remodelação de um jardim.

Vem esta lenga-lenga a propósito da "reabilitação" (ver polémica, aqui e ali) que é anunciada para o jardim romântico histórico do Largo de Santos, o Jardim Nuno Álvares, que irá ver a partir de hoje coisas como bancos de cimento, iluminações de árvores, casas metálicas dependuradas nos ramos da árvore mais imponente do jardim, esplanada para a "movida", etc., além de, intrusiva e abusivamente, a operação de "reabilitação" entrar pelo espaço público da própria rua defronte ao Cinearte.

É verdade que o jardim precisa de uma intervenção (essencialmente limpeza assídua, repavimentação dos percursos com materiais menos agressivos, manutenção do mobiliário urbano, recolocação das colunas de iluminação "fin de siècle" estupidamente retiradas na última década; numa palavra: restauro.

Por isso a forma como a CML "entregou" à liberdade criativa da equipa e associados da Experimenta Design um dos últimos jardins românticos é esquisita, mesmo que se compreenda a tentativa do "bonito" de puxar para cima o tal de "Santos District Design", que compreende uma série de ateliers, lojas e restaurantes da moda localizados em Santos. E perigosa. Perigosa porque ela não vai ser uma operação pontual, ou que fique em "exibição" durante uma semana ou 15 dias. Não, ela vai ficar para os anos mais próximos.

Sob o signo do "cliché" de que o jardim só existe se tiver movida, DJ e holofotes, mobiliário topo de gama, etc., é o exemplo acabado da inversão de valores sob o signo do vanguardismo. Vanguardismo seria assumir a posição oposta: restauro, restauro e restauro. Não é isso que "eles" fazem lá fora? Um jardim é um jardim. É feito de sombra e sol, de árvores seculares e de arbustos, de jacarandás e de romanzeiras, de canteiros e bebedouros, de bancos e iluminação apropriada. Calma e sossego. E asseio. E manutenção. Deixem-se de protagonismos, S.F.F.

2 comentários:

Anónimo disse...

Por mim, é simples: mais um local onde tudo é falso e onde, por isso, me recusarei sequer a passar.

Já estou suficientemente elucidado quanto às alucinadas palermices que lá vão fazer.

E nem sequer tenho esperança que os pobres e idosos moradores da zona se consigam mobilizar para impedir ou reverter a coisa.

Jardim de Santos, até nunca mais.

Anónimo disse...

Se é um designer deitado ao rio, fui eu que pedi!