terça-feira, março 02, 2010

Há gente capaz de tudo:

Matou por atropelamento e queixou-se por ferimentos que sofreu-DN -SÓNIA SIMÕES

"A condutora que perdeu o controlo do carro que conduzia na Praça do Comércio, em Lisboa, matando duas pessoas e ferindo outra pediu responsabilidades pelos ferimentos que sofreu no embate. Mas o Ministério Público (MP) considerou-a a única culpada do acidente e arquivou o pedido, acusando-a de dois homicídios por negligência e por ofensas corporais no acidente registado a 2 de Novembro de 2007, e que chega quarta-feira à barra do tribunal.
Eram 5.30, quando a psicóloga, agora de 37 anos, seguia de carro na zona de Santa Apolónia, no sentido Praça do Comércio. "Ela não encontra uma explicação. Não sabe se o carro bateu num poste, se num objecto, se em pessoas. Sabe apenas que quando imobilizou o carro, tinha um corpo a seu lado", disse ao DN Paulo Camoesas, advogado da arguida.
Segundo ele, esta é a imagem gravada na memória da sua cliente desde a madrugada em que o seu carro roubou a vida a Filipa Borges, 57 anos, e a Neuza Rocha, 20, quando atravessavam a passadeira entre o Ministério das Finanças e a Estação Sul e Sueste, junto ao Terreiro do Paço. A mãe de Neuza, Rofina, também foi colhida pela viatura. A recuperação demorou cinco meses (ver texto abaixo).
De acordo com o despacho de acusação, o MP apenas conseguiu apurar a velocidade a que a arguida seguia quatro quilómetros antes do local do acidente, através do radar instalado na Avenida Infante D. Henrique. "Circulava à velocidade de 122 km/h, excedendo em 72 km/h o limite permitido" , lê-se no documento.
Já no local do acidente, o piso estava em mau estado de conservação, com lombas e depressões. No entanto, estava seco, havia condições de visibilidade e um sinal que indicava os 30 quilómetros como velocidade limite, refere a acusação. Assim, o MP considerou que o acidente ficou a dever-se exclusivamente ao facto "de a arguida conduzir de forma temerária e imprudente".
Em consequência do embate, acrescenta o MP, o corpo de Rofina ficou prostrado no chão na via de trânsito contrária. Filipa Borges teve morte imediata dada a gravidade dos ferimentos e o corpo de Neuza ficou no interior do carro, de marca Fiat, da arguida, "que assumiu um tipo de condução descuidada e leviana", considera ainda o MP.
Paulo Camoesas diz que a condutora não mais conseguiu dar consultas de Psicologia nem refazer a sua vida. Tem sido acompanhada por um psicólogo. "Uma pessoa sem uma multa sequer e agora é acusada de homicídio. E sente-se impotente, porque toda a vida ajudou os outros e agora não consegue ajudar-se a ela própria", disse.
O advogado disse ao DN que a arguida está disposta a relatar em tribunal tudo o que se lembra. Mas sublinha que há pormenores que fragilizam a acusação, como o facto de a velocidade apurada não ser o correspondente à do local do acidente, e por não se terem apurado "as verdadeiras causas do despiste", revelou.
As famílias das vítimas não revelam sentimentos de vingança e até ponderam não comparecer no julgamento que agora começa. No entanto, refere Ferreira da Conceição, advogado da família de Filipa Borges, há um certo ressentimento pelo facto de a arguida ter iniciado procedimento criminal contra possíveis culpados e nunca ter dado uma palavra de apoio às famílias das mulheres que atropelou
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* Havia de ser a primeira a pedir desculpa ou procurar inteirar-se da vida dos que ficam ou das mazelas dos feridos.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Circulava à velocidade de 122 km/h, excedendo em 72 km/h o limite permitido"