Loures e Barreiro vão ter "autocarros" conduzidos pelos pais em que se anda a pé -PUBLICO-Por Inês Boaventura
Além de reduzir a utilização do automóvel, o projecto, que envolve seis escolas do primeiro ciclo, quer promover a saúde das crianças e a sua interacção com a comunidade
Além de reduzir a utilização do automóvel, o projecto, que envolve seis escolas do primeiro ciclo, quer promover a saúde das crianças e a sua interacção com a comunidade
Especialista lamenta "menorização do peão"
As Câmaras Municipais de Loures e do Barreiro e a Universidade Nova de Lisboa estão a desenvolver um projecto, que se prolonga até Julho de 2011, visando a criação de um novo tipo de autocarro destinado a servir seis escolas do primeiro ciclo destes concelhos. Este autocarro, diferente daqueles que estamos habituados a ver, vai percorrer um circuito definido com paragens fixas mas será conduzido por um ou mais encarregados de educação, que levarão pela mão um grupo de crianças.
"É um autocarro imaginário ou virtual", sintetizou o vice-presidente da Câmara de Loures, João Pedro Domingues, explicando que o projecto A Pé para a Escola pretende contribuir para reduzir a utilização do automóvel, "alterando atitudes e comportamentos de toda a comunidade escolar". Mas, como frisou ontem o autarca num seminário sobre o assunto, além da promoção da mobilidade sustentável, a ambição é também promover a saúde das crianças e "o incremento da sua sociabilização e interacção com a comunidade e meio envolvente da escola".
Nesta fase experimental, que arrancou em Fevereiro com um prazo de 18 meses e financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, a intenção é convencer a andar a pé os alunos, e também os pais, de três escolas do primeiro ciclo de Loures (nas freguesias de Santo António dos Cavaleiros, Sacavém e Loures) e três do Barreiro (freguesias do Barreiro, Alto do Seixalinho e Lavradio). "Depois tentaremos replicar [o projecto] no maior número possível de escolas", disse o vereador de Loures.
Robert Pressl, consultor austríaco na área da mobilidade, admitiu que o estilo de vida sedentário, a falta de preparação do espaço público e questões ligadas à segurança podem ser entraves à adesão a projectos como este. Mas tanto ele como os restantes especialistas presentes no seminário foram unânimes em considerar que em relação à segurança estamos perante um ciclo vicioso que importa quebrar.
"Quanto mais pessoas andarem a pé, mais seguro se torna fazê-lo", sublinhou Bronwen Thornton, referindo, por exemplo, que no Canadá o trabalho de incentivar as crianças a caminhar entre as suas casas e as escolas começou há 13 anos em três instituições de Toronto. Hoje, segundo a directora da Walk21 (que desenvolve a partir de Londres trabalho na área da mobilidade pedonal), estão envolvidas nesta causa 500 escolas de todo o país, havendo mesmo uma delas em que é proibido transportar os alunos de carro.
Coesão comunitária
Para Bronwen Thornton, andar a pé tem muitas vantagens, como contribuir para a interacção com os vizinhos e para a coesão da comunidade local, mas também estimular o conhecimento que os mais novos têm daquilo que os rodeia. Para demonstrar essa tese, a especialista mostrou um desenho feito por uma criança que vai de automóvel para a escola e de uma outra que caminha. O primeiro mostrava uma casa, um espaço de recreio encostado a ela e uma larga estrada, enquanto o segundo revelava todo um bairro, com caminhos, um lago e equipamentos.
A Câmara de Lisboa também introduziu, em Setembro de 2007, um projecto semelhante ao A Pé para a Escola, designado Pedibus, iniciativa que foi copiada no início deste ano numa escola de Odivelas. Em Lisboa são três as instituições envolvidas (em Campo de Ourique e Alvalade), mas, segundo o representante da autarquia lisboeta, João Teixeira, apenas dez por cento dos alunos aderiram.
"É muito menos um problema de engenharia de tráfego e muito mais um problema de capacidade de pôr a comunidade a comunicar e de mobilização", admitiu o técnico, que participou na conferência vestido com um boné e um colete reflector idêntico ao utilizado pelas crianças e adultos participantes no Pedibus.
Para Bronwen Thornton, andar a pé tem muitas vantagens, como contribuir para a interacção com os vizinhos e para a coesão da comunidade local, mas também estimular o conhecimento que os mais novos têm daquilo que os rodeia. Para demonstrar essa tese, a especialista mostrou um desenho feito por uma criança que vai de automóvel para a escola e de uma outra que caminha. O primeiro mostrava uma casa, um espaço de recreio encostado a ela e uma larga estrada, enquanto o segundo revelava todo um bairro, com caminhos, um lago e equipamentos.
A Câmara de Lisboa também introduziu, em Setembro de 2007, um projecto semelhante ao A Pé para a Escola, designado Pedibus, iniciativa que foi copiada no início deste ano numa escola de Odivelas. Em Lisboa são três as instituições envolvidas (em Campo de Ourique e Alvalade), mas, segundo o representante da autarquia lisboeta, João Teixeira, apenas dez por cento dos alunos aderiram.
"É muito menos um problema de engenharia de tráfego e muito mais um problema de capacidade de pôr a comunidade a comunicar e de mobilização", admitiu o técnico, que participou na conferência vestido com um boné e um colete reflector idêntico ao utilizado pelas crianças e adultos participantes no Pedibus.
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