quinta-feira, maio 20, 2010

Sardinhada

Vêm aí os Santos e com eles as Festas de Lisboa. E com elas as sardinhas assadas. Faccioso assumido, declaro os meus interesses territoriais: faço questão por Castelo e Alfama na véspera do Santo António, seja no que se refere à escolha do poiso para repasto de bifanas bem húmidas, chouriço assado no pão, farturas bem fritas e sardinhas gorduchas e bem assadas (ultimamente tem sido cada vez mais difícil encontrá-los a todos “au point”), seja no que toca às “figas” quanto ao vencedor das marchas, mesmo que raramente as veja marchar.

Que as Festas de Lisboa já não são o que eram, disso não restam quaisquer dúvidas. O seu ponto alto terá sido, até, naquela edição em que a Ópera de Pequim cá veio para noite inolvidável junto à Torre de Belém. Desde aí que a coisa tem sido irregular, com acentuada tendência para a mediocridade. E é pena. Porque o potencial é imenso. E porque Lisboa merece muito melhor. Por isso, reduzir-se a edição deste ano a uma questão de assador sabe a muito pouco.

Mais, as Marchas Populares deviam ser o enfoque de todas as Festas. Deviam estar para Lisboa como as “Fallas” estão para Valência ou o “Palio” está para Siena. O dia 13 de Junho devia ser projectado internacionalmente de tal forma que Santo António fosse turisticamente reconhecido como também de Lisboa e não só de Pádua. As marchas, essas deviam subir de fasquia, deviam abandonar aquele ar serôdio e vulgar, indexado ao que de mais deprimente se conhece do Parque Mayer. Devia haver um investimento prioritário de quem de direito nas marchas, não tanto sob a “confortável” modalidade de transferência bancária para as senhoras Juntas, que já se percebeu não serem capazes de mais, mas a nível de intervenção directa e articulada dos pelouros turísticos respectivos, camarário e estatal, no sentido de as puxarem para cima com um único e só propósito: fazer das marchas um “produto” de excepção, que potencie as Festas ao máximo, tornando-as no maior atractivo da cidade no limiar do Verão.

Não serão, por exemplo, os tronos de Santo António de uma riqueza cultural e comercial excepcional, e a aposta na sua produção em série obrigatória por que de indubitável mais valia económica a todos os níveis? E que dizer das indumentárias e dos adereços dos marchantes se tivessem um toque de sofisticado, de refinamento, sem se deixar cair, obviamente, a sua genuinidade? E as canções e coreografias, não poderiam mudar de tom e afinarem por outro diapasão? Não será já tempo de o país apostar forte nas Marchas?

Não faz sentido passar-se a vida a propagar uns tais de “hotéis de charme” e reduzir-se as Festas de Lisboa a uma imensa sardinhada. Agora que no Terreiro do Paço se tem a sensação de estarmos na Europa, faria todo o sentido que isso não fosse só fachada.



In Jornal de Notícias

2 comentários:

Anónimo disse...

O Terreiro do Paço não vai entrar na segunda fase das obras?!

M Isabel G disse...

Muito bem