Infelizmente, contudo, não houve ainda meio de as fazer passar do “powerpoint” das parangonas de conferências, palestras e seminários mais diversos (propagadas por gurus e políticos, e absorvidas pela retina de plateias deslumbradas com os bonecos e as cores projectadas), à realidade. Infelizmente, também, não faltam criativos incapazes de enxergar para além do que o computador lhes providencia e permite manietar, esquecendo-se do essencial: sempre tivemos indústrias criativas e todos somos criativos, só falta o resto.
Ora, não serão exemplos criativos maiores e de cadeia de valor, económica, social e cultural, a actividade de encadernar e dourar livros, com tudo o que ela acarreta de produção de ferros de douramento, ouro fino, fornecedor de pele de muitas coisas a começar da borracha dos pneus deitados ao lixo; papéis e telas de várias cores e usos? Ou a ilustre profissão de alfaiate que vai desaparecendo à medida que vai encarecendo compreensivelmente o produto final, porque não há onde procurar tecidos, botões, pesos para a abertura de trás de um “blazer”, ou giz para provas, porque já não há fabricantes em Portugal?
Indústrias criativas podem ser, entre outras: arquitectura, turismo, publicidade, design, “multimédia”, mas também gastronomia, joalharia, marcenaria, relojoaria, encadernação, carpintaria, etc. Artes e ofícios do antigamente, actualizadas aos tempos modernos. Se com elas se potenciar a criatividade individual de cada qual, a propriedade intelectual, contributos decisivos para o desenvolvimento económico, social e cultural de todos. Universidade e escola são vitais para o “input”. Só que a realidade é bem diferente, mais uma vez. Num tempo em que relógios da moda, coleccionáveis, quando avariam são para deitar para o lixo pois não se pode “violar o seu invólucro”, e os altares das igrejas são pintados a Robbialac (passe a publicidade), lá virá guru dizer, com razão, “impossible to make omeletes without eggs”.
1 comentário:
Foi noticiado que o vereador da mobilidade vai mandar instalar na capital radares a fingir, só para o pessoal ficar assustado e circular mais devagar.
Isto não será criatividade?
(Só que, como é evidente, é criatividade idiota: em menos de nada circulará pela net a lista desses radares; e, além disso, os que existem também são a fingir, pois é sabido que a polícia municipal não consegue processar as multas por excesso de velocidade).
Enviar um comentário