quinta-feira, setembro 09, 2010

Quem não se governa

Vivemos tempos de desigualdade, autoritarismo e populismo. Não faltam autores a caracterizar estes tempos como o Inverno da Democracia ou o post Democracia. Há uma normalidade anormal que se vai instalando, quase sem que estejamos realmente a compreender a extensão destes fenómenos.

Como se sobre nós, não só a economia mas grande parte das instituições tivessem iniciado um processo diabólico de desconstrução, com o seu cortejo de desemprego e um futuro carregado.

O risco da dívida soberana portuguesa bateu terça-feira passada todos os recordes e foi considerado o maior do mundo e por isso as emissões de dívida saíram ontem muito mais caras, ou seja, se o País quer mais dinheiro, paga-o mais caro.

A condução da política portuguesa está a suscitar as maiores dúvidas nos mercados e nas instituições internacionais.

É que, ao contrário da nossa vizinha Espanha, Portugal não reduziu a despesa pública, e quanto mais cobra mais gasta, como ficou claro no primeiro semestre deste ano. Merece, pois, pouca confiança dos credores.

É sabido que quem muito gasta e muito pede emprestado acaba às mãos dos seus credores. É o que sucede a quem não se sabe governar. Mais, quem não se governa acaba quase sempre a ser governado por outros.

No que respeita a Portugal, também é o que se aplica.

No contexto descrito, a União Europeia acaba de instituir um mecanismo de coordenação e de vigilância mútua dos orçamentos nacionais (esperemos que seja apenas isso, pois os recortes dessa decisão não são ainda conhecidos em toda a sua extensão, o que para já me permite suscitar reservas) e tomou a decisão de que as novas autoridades europeias de regulação financeira sobre a banca, valores mobiliários e seguros possam intervir directamente junto das empresas dos Estados--membros, sobrepondo-se às nacionais.

É óbvio que estes anúncios não deixam de preocupar aqueles que pensam que a própria União Europeia está a precisar de reformas profundas, a começar pela legitimação democrática e o combate à eurocracia.

É manifesto que a União também não goza de boa saúde e decisões sobre instrumentos e instituições dos Estados-membros têm de ser muito claras, fundamentadas e transparentes, mas sobretudo justas, para que não se instale sequer a dúvida de que se institui um Governo europeu e, para mais, dos mais fortes sobre os mais fracos.

Certo é que aos poucos vamos perdendo autonomia enquanto País.





In Correio de Manhã

3 comentários:

Julio Amorim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Julio Amorim disse...

Pois....a festa começou lá para 88-89 (sempre com crise apregoada claro) como que se esses fardos de dinheiro deixados ali nas fronteiras....fosse "de borla".

De borla eram as remessas dos emigrantes....mas essa festa também já acabou, resta tempo de ressaca com crise apregoada....claro!!!!

Anónimo disse...

Reparem nesta maravilha de sumário da lei que aprova as portagens nas actuais SCUTS (origem: Diário da República, Série I):


"Procede à terceira alteração ao Regulamento de Matrícula dos Automóveis, Seus Reboques, Motociclos, Ciclomotores, Triciclos, Quadriciclos, Máquinas Industriais e Máquinas Industriais Rebocáveis, à quinta alteração ao Decreto-Lei n.º 554/99, de 16 de Dezembro, na redacção introduzida pelos Decretos-Leis n.os 107/2002, de 16 de Abril, 109/2004, de 12 de Maio, 136/2008, de 21 de Julho, e 112/2009, de 18 de Maio, à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 112/2009, de 18 de Maio, à décima alteração ao Código da Estrada e à terceira alteração à Lei n.º 25/2006, de 30 de Junho, na redacção introduzida pelo Decreto-Lei n.º 113/2009, de 18 de Maio".

Agora digam-me que este país não enlouqueceu.