quinta-feira, setembro 30, 2010

Truz, truz, Arquivo Histórico?

Reza a história que corria o 28º dia do mês décimo do ano de 2002 d.C., quando o Arquivo Histórico do Município de Lisboa, amuralhado até então em terras inóspitas do Alto da Eira, fechou portas. Isto é, há quase oito anos que está vedado o acesso, não aos Mouros de antanho mas a todos quantos, investigadores, especialistas e demais estudiosos nacionais e estrangeiros, e simples mortais interessados por saber mais alguma coisa sobre o passado de Lisboa, queiram consultar a vasta documentação arquivada ao longo de séculos, do XII ao passado há pouco mais que uma dezena de anos, e que vai de antigos forais ou do cartulário pombalino ao espólio de arquitectos famosos do “nosso” tempo, Cassiano e Keil do Amaral, por ex.

Mas, na verdade, também não é brilhante o estado dos dois arquivos que com o Histórico formam o todo do Arquivo Municipal de Lisboa, por sinal inexplicavelmente desagregado:

O Arquivo Intermédio encontra-se “temporariamente” nas caves de um edifício de habitação social no Bairro da Liberdade, destinadas originalmente a garagens e na periferia da cidade, de acesso difícil (apenas há duas carreiras de autocarro desde o centro de Lisboa: 702 e 713) e em que até há pouco tempo chovia na sala de leitura. O Arquivo do Arco Cego, esse é ridiculamente minúsculo e está claramente obsoleto.

Ora, há muito que a CML devia ter como prioridade das suas opções do plano e do orçamento dignificar, unificar e, essencial, instalar o Arquivo Municipal de Lisboa num local central, de fácil acesso e que as pessoas identifiquem e fixem de forma fácil. Contudo, tal não acontece nem parece que venha a acontecer. As “soluções” continuam a passar pelo provisório, quando não por um tonta babel até já projectada para o Vale de Chelas. É pena que seja assim.

Sobretudo quando assistimos à venda de imóveis do Estado que poderiam acolher perfeitamente o Arquivo, ainda que, naturalmente, para tal fossem precisas obras. Lisboa passar a dispor de um Arquivo em edifício digno e central, funcional e apetrechado ao “estado da arte”; não será esse argumento bastante para semelhante investimento, mais a mais no Centenário da República?

Até porque património valioso ao abandono, a precisar de recuperação e sem bom destino à vista é coisa que não falta em Lisboa, desde logo os antigos hospitais civis em processo de venda pelo Estado (Desterro, Miguel Bombarda) ou o privado ao antigo e escavacado Convento de Arroios, cujo promotor se vê impedido pelo PDM, e bem, de projectos megalómanos com caves para estacionamento, alterações e ampliações a seu bel-prazer. Aos primeiros, a CML teria que dialogar com o Governo. Ao terceiro haveria que negociar com o proprietário. E daí? Haverá melhor local para um Arquivo Municipal? Duvido que haja.



In Jornal de Notícias (30 Set.)

1 comentário:

M Isabel G disse...

Isto é indigno mas revelador do valor que se atribui ao património documental, muito dele insbstituivel.