quinta-feira, março 31, 2011

A farsa trágica

As peripécias da revolução portuguesa sempre tiveram características incomuns. A via original para o socialismo foi um estribilho mais do que um conceito. Até hoje ninguém conseguiu descobrir qual a natureza dessa originalidade. Era uma época em que se bebia em excesso e quase tudo era permitido ou aceito com benigna complacência. Zeca Afonso comentava, irónico, que o álcool era, afinal, a via original para o nosso socialismo. O PREC constituiu mais do que um acrónimo: foi um modo de se tentar ludibriar a História e uma maneira, um pouco louca, um pouco ingénua de se viver a vida. Até então, as coisas eram direitinhas, brunidas, organizadas em esquadrias. Falava-se baixinho, escrevia-se baixinho, amava-se baixinho.

Julgávamos ter estilhaçado o que fora medonha punição, e que éramos os donos do nosso destino. Foi quando uma marcha de José Mário Branco nos reenviou para a realidade: "Qual é a tua, ó meu / andares a dizer quem manda aqui sou eu?!" Todas as festas acabam em melancolia. A nossa fechou em carácter fúnebre. E nunca parou de assim ser, com breves intervalos cómicos. Abstenho-me de os mencionar, por evidentes. Os protagonistas foram promovidos.

De tropeção em tropeção, chegámos a isto. A decência e a dignidade têm sido espezinhadas; repetem-se os mesmos rituais de substituição com os mesmos rostos, idênticas mentiras, semelhantes desaforos. Sai Sócrates, entra Passos. O sotaque não é diferente. E a farsa, agora, é quase trágica. Passos não vai melhorar a vida portuguesa, e até já ameaçou com impostos quando, há dias, dissera rigorosamente o contrário. Por outro lado, na hipótese de uma "ampla" coligação, os senhores do poder admitem PS-PSD-CDS, mas rejeitam liminarmente José Sócrates. É uma situação improvável. Mas as negaças do poder dispõem de meios extremamente persuasivos. Tem-se, assim, que o secretário-geral do PS, reeleito com margem devastadora, é uma espécie de zombie. Que fazer com este homem?

A questão, permanentemente omitida, é que o infortúnio de muitos e os privilégios de meia dúzia assentam uma frase de Balzac: "Todas as fortunas têm origem num crime"; ou na interrogação de Garrett nas Viagens na Minha Terra: "Quanto custa um rico a um país?", e na consequente resposta: miséria, fome, desespero.

Tanto o PS quanto o PSD ou a tal coligação, antevista mas já vista, têm liquidado a nossa força e tripudiado sobre a nossa soberania. Não estão interessados nessas minudências. E nós vamo-los aceitando, com a benevolência indolente, que parece ser a marca de um mau fado e de uma inevitabilidade.





In Diário de Notícias

Há trincheiras na Praça de Londres

Muito sinceramente, gostava de saber quem foi o autor do projecto de “requalificação” do jardim da placa central da Praça de Londres, em Lisboa, para lhe dar os meus parabéns. É que eu também sou fã dos «Action Man» e, portanto, agradeço-lhe aquelas trincheiras (e que outro nome se lhes poderá dar?) criadas artificialmente em volta do jardim, pois são ideais para todos aqueles que gostam, como nós dois, pelos vistos, dos célebres bonecos dos anos 60-70 (de que os de hoje são réplicas pífias, convenhamos), poderem voltar a brincar com eles ao ar livre, protegidos dos automóveis por aquela “concha”, dita jardim de proximidade (http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=52853); seja encenando guerras de trincheiras, escaladas de alpinismo ou, com engenho e ventos favoráveis, lançando de pára-quedas, depois de subir, claro, a uma das árvores altas que resistiram à dita intervenção, o meu “kit” preferido de todos quantos compõem aquela memorável série de bonecos.

A sério: o Jardim precisava só de limpeza e aprumo, e, aqui ou ali, de reforço da iluminação. Isto é, os canteiros precisavam de plantas viçosas e de flores, os percursos de serem repavimentados, e o “buraco” do lado nascente de mais árvores. Ponto. Em vez disso, a CML optou por desenvolver uma solução criativa num jardim de época, que o é. E, como já se sabe quão perigosa pode ser essa veia sempre que há intervenções no espaço público, o resultado não podia ser o mais desastrado e desastroso alguma vez feito no espaço público de Lisboa, se não mesmo do hemisfério Norte; se me é permitido abusar de frase recente já celebérrima.

Pois bem, o jardim da placa central da Praça de Londres deixou de ter canteiros e flores, ainda que murchas, para apenas ter relva às ondinhas -no topo norte a coisa mais parece um proa de um barco entrando Avenida de Roma acima, e o talude tão alto que sufoca, literalmente, em cerca de 1 metro algumas das árvores. Os percursos foram radicalmente alterados e emagrecidos, e se o intuito foi acabar com a presença dos sem-abrigo que por ali dormiam, terão conseguido também inviabilizar a feira de velharias que dava alguma vida ao jardim, duas vezes ao mês. Cereja no cimo do bolo: os candeeiros de “design” moderno em pleno jardim dos anos 50. Valeu que se esqueceram de mexer na estátua do autor de “A Velhice do Padre Eterno”. Dito de outro modo: Guerra Junqueiro continua virado para a Avenida homónima em vez de ficar voltado de costas para ela, como constava do projecto. Acresce que o mesmo ficou por completar (que tal refazer tudo?) porque por inaugurar (vergonha do resultado final?). Resumindo, não faço ideia quanto custou toda esta criatividade, mas que ficou uma borrada completa, lá isso ficou.




In Jornal de Notícias (31/3/2011)

A degradação

Que a situação económica e financeira de Portugal já há muito era grave e que se foi tornando dramática, só era negado pelo PS, pelo Governo e pelo Primeiro-ministro.

É bom recordar que, ainda a 14 de Maio de 2010, o Primeiro-ministro afirmava: "Portugal foi um dos primeiros países a sair da condição de recessão técnica, da eclosão da crise mundial; foi também um dos países que melhor resistiu à crise em toda a Europa e, finalmente, Portugal teve este trimestre o maior crescimento da Europa (...)" (www.portugal.gov.pt).

Sócrates não podia deixar de saber que faltava estrondosamente à verdade, mas a realidade impôs-se.

Então, o Primeiro-ministro e o seu Governo (os únicos que provavelmente conhecem a dimensão integral do desastre económico e financeiro, dada a ausência de informação e transparência) encenaram uma ‘bela peça’, mais ao estilo trágico: negociaram um programa de medidas à revelia das Instituições Portuguesas – diga-se que um conjunto de medidas cuja parte substancial já tinha sido recusada pelo principal partido da Oposição – num desafio, desprezo e falta de sentido de Estado, sabendo perfeitamente que todo o processo era inaceitável, tanto na forma quanto na substância e depois... num gesto ‘dramático’, o Primeiro-ministro demite-se, tentando uma última e desesperada farsa para manter o Poder: vitimizando-se e, claro, lançando a culpa sobre toda a Oposição, que, é bom lembrar, não tem sido Governo. É como se diz: "Fazer o mal e a caramunha."

Porém, a verdade é que só nos últimos dois anos (dos seis que o Governo do actual Primeiro-ministro já leva), entre Janeiro de 2009 e 23 de Março de 2011, as agências de rating baixaram por dez vezes a notação de Portugal, período durante o qual foram aprovados três PEC (para além dos Orçamentos). E a nova baixa de notação, bem antes de toda esta encenação, já tinha sido anunciada há alguns meses.

A razão pela qual as agências baixam continuamente a notação de Portugal é simples: reside na incapacidade do Governo em conter a despesa. Mais PEC ou menos PEC sem conter a despesa não cria qualquer confiança nos tão famosos mercados, pela simples razão de que o Governo continua a gastar. Mas Sócrates é Sócrates, e gritará convictamente que está a ser assassinado, enquanto é ele próprio quem tenta assassinar (politicamente, entenda-se).

Ponto é que se compreenda que a vida do dia-a-dia de todos nós não é uma encenação política; é mesmo a vida real, cada vez mais dura.





In Correio da Manhã

Cursos (2)

Cursos (1)


terça-feira, março 29, 2011

E que tal privatizar a EMEL?

Lisboa - Av. Óscar Monteiro Torres
AS FOTOS que aqui se vêem foram tiradas na manhã do passado dia 24, e oferecem várias curiosidades:
Uma delas é a gentileza demonstrada pelos motoristas desta praça
de táxis, que facilitam a vida aos senhores da "boutique".
A outra é o nome da loja ao lado (foto de baixo), muito bem escolhido: «Kaos».
Há ainda o pormenor de tudo se passar -
e praticamente todos os dias -, a dois passos da Assembleia Municipal de Lisboa...

Finalmente: um fiscal da EMEL, que ia a passar, atravessou rapidamente para o outro lado da rua. Esta foto, tirada entre a 1ª e a 2ª, mostra-o já na Rua Oliveira Martins, livre de perigo.
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NOTA: resta saber porque é que temos de pagar o ordenado a quem o recebe sem fazer aquilo para que é contratado. Privatizar a EMEL e pôr no olho da rua os responsáveis por cenas destas (a começar por cima, pois a hierarquia decerto sabe o que se passa e nada faz de concreto - neste e em tantos outros locais de Lisboa, e há anos!!) talvez fosse um bom começo.

segunda-feira, março 28, 2011

quinta-feira, março 24, 2011

À rasquinha

Lembro-me como se fosse ontem: a primeira manifestação de estudantes em Lisboa do pós-25 de Abril decorreu poucos dias depois da revolução ter estalado. O ponto de partida foi dado defronte à minha escola preparatória, a inolvidável Eugénio dos Santos, ao cimo da Avenida de Roma, paredes-meias com o morto e enterrado Cinema Alvalade. Organizada, ao que se dizia, pelos repetentes do 2º ano (talvez por serem mais velhos e mais fortes do que os outros…), tinha como motivo e «slogan», gritado até ficarmos sem fôlego, um muito ingénuo e respeitável anseio: “Não queremos aulas ao Sábado!”.

Mal sabiam os estudantes participantes naquele glorioso desfile (em que participei durante 500 metros … até casa), cujo objectivo seria alcançado logo nos meses seguintes (e como agora tudo é diferente…), que iriam ser cobaias de sucessivas e desconexas experiências administrativas e curriculares levadas a cabo pelas sumidades dirigentes do ministério respectivo, e não só, imediatamente no ano lectivo seguinte, de que talvez nunca virão a recuperar, mesmo que a autonomia financeira e administrativa do ensino particular tivesse remediado, e remediou no que me diz respeito, muito do regabofe (“rebaldaria” será o termo mais apropriado) então em experimentação.

Daí para cá tem sido um desnorte completo no Ensino e na Educação, base de tudo, suponho. Da “paixão” que certo Primeiro-Ministro teve, nem vê-la. O que se tem visto é uma descapitalização concertada e continuada, humana e financeira, do Ensino Primário estatal, deixado que está, basicamente, a quem não tem posses para abdicar dele, por mais que as estatísticas do Eurostat digam o contrário. Os manuais escolares, que têm vindo a ser nivelados pelo facilitismo, e o estado físico lastimável da maior parte das escolas fazem o resto.

Ao ensino técnico e politécnico, deram-lhe sumiço e por isso é comum ouvir-se “isso já ninguém faz nem conserta”, seguido de “é melhor deitar fora e comprar outro”. No ensino universitário, a fome deu em fartura e os doutores e engenheiros de verdade mandaram os “de mula russa” para os idos do antes do 25 de Abril, o que por um lado até é bom, embora a moda agora seja Prof. sem o ser de verdade. Juntem-se-lhes as malfadadas PGA, as remodelações e reformulações sempre que o executivo muda, de cor ou feitio, e eis as gerações “rasca” e “à rasca”, aparentemente sem futuro tal qual as que as precederam.

Há contudo um pormenor que escapa a esta lógica: o carreirismo partidário. Moral da história: aos futuros papás e mamãs, em vez de correrem a “matricular” os bebés ainda por nascer no Benfica ou no Sporting, ou no colégio X ou Y, o melhor que têm a fazer é inscrevê-los num qualquer partido, mesmo que pequenino, pequenino, porque é desde pequenino que se torce o pepino.



In JN

Sem paciência para cabeçudos

Muito sinceramente, deixei de ter paciência para cabeçudos, desde logo à custa de tanto sofrer por causa daqueles “cumes” que costumam obstruir o campo de visão a quem se deixa arrumar em cadeiras de salas de cinema mal concebidas (ambas), sofrimento que se agudiza quando se é de estatura mediana, como é o caso. Logo, rabujo quando vejo, geralmente na TV, o afã, direi mesmo, o frenesi, de populares das mais variadas regiões do país, na preparação dos tais de desfiles carnavalescos – e refiro-me ao Entrudo –, um frenesi que não esmorece, diga-se em abono da verdade.

Do Carnaval, verdade seja dita, ainda, que apenas recordo com saudade as sessões de cinema (sempre ele) do tempo da Primária – peço desculpas mas não alinho nessas coisas de escolas básica 1,2,3 ou demais siglas de fazer de conta que é estamos na crista da onda do ensino qualificado -, das matinés infantis com serpentinas e papelinhos coloridos pelo ar, com os meninos e as meninas quase todos de caraças (rijas e pesadas) pela cara, de bisnaga em punho e muito estalinho a rebentar pelo chão. Às garrafinhas de mau cheiro era “reservada” a … escola, para martírio dos professores. Das bombas sempre fugi, confesso.

Recordo isso e certos e já longínquos desfiles de carros alegóricos, um, Avenida da Liberdade abaixo; descendo a alameda lateral dos jardins do Casino Estoril e prosseguindo pela Marginal, outro. Mas talvez que as imagens retidas de um e outro, se de novo projectadas, não resistissem à erosão do tempo… tal qual um filme datado.

Um certo dia, até, pus-me a congeminar que, “quando fosse grande”, haveria de assistir a três carnavais lá por fora: Veneza, Nova Orleães e o Rio, obviamente. Mas nos últimos anos já só o primeiro continua a ter “projecto”, um dia que a crise o permita e a lagoa da Sereníssima também. É que o resto, passados todos estes anos e mais coisa menos coisa, parece-se demasiado com as imagens com que todo o santo ano nos bombardeiam, por alturas daquele feriado, perdão, tolerância de ponto, que um dia ameaçou fazer cair um governo inteiro:

Carros alegóricos mal amanhados, colados e pintados. Os inevitáveis homens orgulhosamente vestidos de mulher. As “sambistas” de riso forçado. As bandas mais ou menos alinhadas e afinadas. Reportagens de som e imagem deploravelmente reincidentes. E os cabeçudos, geralmente alusivos aos políticos, aos ídolos do futebol e aos colunáveis das revistas cor-de-rosa. Uns cabeçudos ainda mais deprimentes do que os respectivos modelos.

Triste a sina de quem tem que aturar estes dias “gordos” que sempre antecedem os jejuns da Quaresma, pelo menos os que ainda conseguem distinguir o porquê do simbolismo e o trigo do joio. É que por mais jejuns a que nos obriguem, estamos cada vez mais saturados dos cabeçudos.



In JN

segunda-feira, março 21, 2011

Hoje, 21 de Março - Dia da Árvore

Passeio do lado Norte da Av. da Igreja.
(Não confundir estas fotos com outras, aqui publicadas, e que são do lado Sul).

domingo, março 20, 2011

Na Terra do Faz-de-Conta

16h46m
Paragem da Carris junto ao n.º 21 da Av. João XXI, numa sexta-feira recente.
Depois de uma grande trabalheira (que implicou virar o carro infractor ao contrário...) um reboque da EMEL leva o prevaricador.
16h49m
No local agora vago, um outro carro estaciona.
Atrás dele, um outro (da PSP) faz o mesmo. Dele saem 3 agentes, que atravessam a avenida e vão a um estabelecimento.
17h00m
O carro claro vai-se embora, e um outro ocupa o seu lugar.
O da PSP continua no mesmo sítio.
17h02m
... e os agentes da PSP continuam na loja.
17h07m
Finalmente, os agentes policiais regressam ao carro-patrulha, vão-se embora, e tudo volta à normalidade. Ou seja: momentos depois, a paragem ficará, como sempre, atafulhada de carros particulares - uma imagem que já não se afixa, por ser tão conhecida de todos os que ali passam, que até já enjoa.
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NOTA: este local é o «Local D» dos Prémios António Costa - Ver [aqui].

sexta-feira, março 18, 2011

Divulgação - Agenda 21 Local de Lisboa

A Entrevista

Vale a pena determo-nos na entrevista de José Sócrates, terça-feira, em canal televisivo generalista. Primeiro, o tempo de antena: quase uma hora, seguido de uma série de perguntas à porta do estúdio.

E para dizer mais do mesmo! Sou o salvador da Pátria. Ou eu ou o abismo; ou a ajuda que eu consigo em Bruxelas ou o FMI; ou aprovam todas as medidas que levei, sem o vosso conhecimento, a Merkel, ou crise política. Repetiu a ‘cassete’, com os mesmos gestos, ensaiados ao pormenor, com ar manso, convincente, longe do ‘animal feroz’ que diz ser, um ‘lobo vestido com pele de cordeiro’. E no final, pasme-se, um ‘tesourinho deprimente’, como diriam Os Gato Fedorento, um coelho retirado da cartola: o "acordo entre camionistas e o Governo acaba de ser concretizado. Que pensa o sr. primeiro-ministro?"

Nem uma palavra de verdade: que o actual PEC era para vigorar até 2013 e o que sucedeu para ser agravado.

Não governa este senhor há seis anos? Não está já a viver com ajuda externa, com uma dívida e juros crescentes? Até quando pensa enganar os Portugueses? Quantas vezes pensa dizer que vai aumentar empregos, melhorar as pensões, aumentar ordenados da função pública, dar medicamentos gratuitos, como o fez em plena crise financeira, só para ganhar eleições e fazer o contrário?

Pensa Sócrates que os Portugueses não percebem que os seus sacrifícios de nada serviram até agora e que, com ele, continuarão a nada servir, a não ser para manter um Estado tão grande quanto a sua clientela, exigindo impostos e mais impostos como o ‘Sheriff de Nottingham’ na história de ‘Robin dos Bosques’? Até quando pensa Sócrates que os Portugueses vão ter medo do ‘papão’?: sem mim vem aí o PSD, que vos vai privatizar tudo e sacrificar o pouco que têm, o que sabe ser falso.

Sócrates sabe que, devido à situação que deixa, o PSD não pode prometer facilidades aos Portugueses. Mas o PSD pode prometer que os sacrifícios terão prioridades de desenvolvimento económico que não os TGV; outras opções na Saúde, que não passam por mais e mais hospitais, mas antes dar a cada Português um médico em quem confie, com mais qualidade; outras opções na Educação, que não passam pela guerrilha com professores e números forjados no sucesso escolar, sem onerar as famílias; outras opções na Justiça, fundamentais para todo o País; outras opções nas aposentações e reformas, em vez de atirar os trabalhadores, cada vez mais cedo, para a reforma... aumentando o deficit da Segurança Social. Sócrates agarra-se ao Poder de uma forma por ora inexplicável. Fará tudo.




In Correio da Manhã

Eles não querem isto

Trezentas mil pessoas a manifestar-se nas ruas do País devia suscitar alguma apreensão. O protesto dirigia-se, bem entendido, a quem nos governa. Mas, também, a quem nos vai governar e a quem nos tem governado. A noção de que algo está a dissolver--se, nos laços sociais que sedimentaram as nossas sociedades, emerge, aqui e além, com maior ou menor expressão de violência. Os por- tugueses que desfilaram, representando muitos mais outros, não querem "isto"; e "isto" é o sistema político-económico que se opõe à diferenciação, numa lógica que asfixia o pensamento progressista e permite as mais cruéis arbitrariedades.

A construção deste modelo de sociedade foi alegremente coadjuvada pelos partidos "de poder". E os partidos de "poder" são apoiados socialmente e sustentados financeiramente pelas forças que defendem interesses não muito claros. No século XIX, o "rotativismo" foi a expressão de um entendimento de classe que exercia o seu próprio império. Acabou com o regime. No nosso tempo, a "alternância" é o mimetismo, frequentemente arrogante, dessa política. Dá em desastre sem remissão, como está já a ver-se.

O protesto de sábado demonstrou que esta gente da "alternância" não serve, além de ser destinatária do maior dos desprezos e da mais pesada das execrações. E expressou, também, a positividade da afirmação de uma prática invulgar, que põe em causa os partidos e impõe uma "contraconduta". Numa sociedade onde as coisas estão organizadas para a partilha ser cuidadosamente dividida entre o PS e o PSD, os outros partidos não servirão, somente, como comparsas (cúmplices?) de uma atroz indignidade? O movimento de sábado introduziu, no contexto histórico, uma singularidade que interpela as relações de poder e exige novas formas de cidadania.

A situação portuguesa não pode continuar no violento constrangimento imposto pelo PS e pelo PSD, na complexa teia de estruturas sociais e políticas que desfiguram a democracia e delimitam os laços sociais. Os dois últimos discursos de José Sócrates e Pedro Passos Coelho constituem versões da mesma banalidade, como se a insatisfação permanente e impressionantemente exposta pela sociedade que criaram não exigisse novas formas de actuação. Mas ambos são notoriamente incapazes de provocar outras experiências democráticas. E vivem na estranha coincidência de desconfiar um do outro, o que seria bom se essa desconfiança conduzisse ao confronto de ideias. Impossível: eles não as têm, e agem consoante a paradoxal conjunção das incertezas do "mercado".

O problema do poder coloca-se, no caso português, como um jogo de interesses obscuros e não como uma disputa ética e política entre gente com elevado espírito de missão.



In Diário de Notícias

quinta-feira, março 17, 2011

Quando a incúria se junta à incompetência...

O PAVIMENTO pedonal em redor da Praça de Touros do Campo Pequeno está neste estado - não apenas há semanas ou meses... mas há anos! O caso chegou a ser objecto de um dos programas «Nós por cá...», da SIC, e teve direito a uma daquelas respostas-da-treta (que já só dão vómitos) e a uma curiosa solução:

Os 'cérebros de serviço' resolveram o problema da quebra das placas de calcário dividindo as tampas em 2 partes: de um lado, agruparam as que ainda estavam boas (são as brancas, da foto de cima); do outro, montaram umas novas, em ferro (são as escuras, da foto de baixo). O problema é que as "boas" continuam a quebrar-se, e o que hoje se vê é o que as imagens documentam.

domingo, março 13, 2011

Apontamentos de uma terra sem uma gota de auto-estima


Lisboa - ontem, nas "avenidas novas"
UMA situação recorrente: operários dão o melhor do seu esforço para reparar a tão apregoada calçada portuguesa enquanto outros (cada um à sua maneira...) tratam de a degradar. E já ninguém estranha...

NOTA: em relação ao que se vê na penúltima imagem, ver também [AQUI].

quarta-feira, março 09, 2011

Os reis do mundo

Largo do Camões
UMA cena a que assisti um dia destes: um eléctrico ficou bloqueado devido a uma carrinha. O motorista desta estava ao volante... e só se dignou desimpedir o caminho depois de muito instado pelas "campainhadas" do guarda-freio...

domingo, março 06, 2011

Há ciclovias e ciclovias...


Av. Duque d' Ávila


Av. Frei Miguel Contreiras

Rua João Villaret
AINDA bem que, na Av. Duque d' Ávila, não foi preciso fazer o mesmo que se vê nas imagens de baixo: nestas duas ruas (como se não fossem zonas residenciais e ali não houvesse peões), os passeios chegam a desaparecer, dando lugar, em exclusivo, a generosas ciclovias com 2 metros de largura...
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Actualização: em relação à da Frei Miguel Contreiras, sugere-se que se revejam [estas] fotos.

sábado, março 05, 2011

O A-B-C


A
B
C
QUEM passa regularmente pela Av. Sacadura Cabral, em Lisboa, tem podido apreciar, a 10 metros da finíssima Av. de Roma, a evolução estética deste pequeno recanto onde sobressai uma das muitas «caixas bêbedas» espalhadas pela cidade - Ver outras [aqui].

sexta-feira, março 04, 2011

Apontamentos de uma cidade caótica e desumana

Rua 1.º de Dezembro
Junto à Estação do Rossio

Petição contra a adulteração e mais construção na Piscina do Campo Grande


Assine e divulgue, S.F.F.:


http://www.gopetition.com/petition/43575.html

quinta-feira, março 03, 2011

Reforma Administrativa/divulgação de contributo dos OPRURB:


Há empresas e empresas

Aqui há semanas foi motivo de protesto de alguns, com mais ou menos histeria, a afirmação do líder do maior partido da oposição segundo a qual o Estado deveria reavaliar a existência das empresas e dos institutos públicos que apresentem prejuízo. Eu diria mais: é obrigação moral do próximo Primeiro-Ministro de Portugal avançar com a extinção, pura e simples, doa a quem doer, de uma série de organismos que nada mais fazem e têm feito do que … fazer de conta que fazem:

Há as que ajudam a fazer de conta, lá fora, que o Estado tem vindo a ganhar o combate ao prejuízo imenso das suas contas públicas, porque desatam a comprar a própria dívida daquele, por via de virtuosas ‘engenharias financeiras’, dignas do mais básico dos «vaudevilles», nas quais o Estado vende o seu património a empresas detidas por si próprio mas só contabilizar na coluna do haver. Há as que apenas são criadas para “agilizar” processos, leia-se, contornar a Lei e a obrigatoriedade do lançamento de concursos públicos, por exemplo, ou evitar os pareceres, tantas vezes incómodos, do Tribunal de Contas; ignorar convénios e leis como o Plano Director Municipal, encurtar prazos regimentais, etc. Resumindo, contra a burocracia e a bem da Nação, dirão os defensores de semelhantes práticas.

No sector empresarial das autarquias, é o regabofe institucionalizado, tal o vasto território de bizarrias, ubiquidades, confusões, incompetências, compadrios, sobreposições e tudo o mais que de mau se possa imaginar. Seria bom que o futuro governo procedesse ao extermínio de todas elas, ou quase todas. Não sendo directamente da sua competência, colheria fundo e rápido, creio, a ameaça do Governo em cortar a direito e de facto nas comparticipações anuais às digníssimas autarquias que não fizessem uma dieta eficaz nas suas empresas municipais.

Como há que começar por algum lado, daqui proponho ao líder da oposição a extinção de coisas como a ESTAMO (e a PARPÚBLICA por arrastamento), a FRENTE TEJO e a PARQUE ESCOLAR, mesmo sabendo que também o seu partido deu impulso determinante para a criação de semelhantes aberrações.

Em Lisboa, e na impossibilidade de encontrar justificação para a CML, em vez de seguir as boas práticas que os manuais aconselham, continuar a agir em contra-ciclo, participando financeiramente com milhões a FRENTE TEJO, “engordando” a EGEAC com competências na área dos museus de Lisboa (para que existe o Pelouro da Cultura?), e “blindando” a EMEL, uma empresa que, objectivamente, só pode dar lucro mas que nunca deu, que continua a não disciplinar o estacionamento automóvel e apenas sorve dinheiros públicos (quando não dos próprios moradores), proponho mais três e respectivas extinções.

A Nação saberá agradecer ao próximo Primeiro-Ministro, estou certo.




In Jornal de Notícias (3/3/2011)

quarta-feira, março 02, 2011

Petição "Telheiras a Freguesia de Lisboa"

Assine e divulgue, se achar por bem, evidentemente, AQUI.

Pessoalmente, acho uma causa justa

Para o Dia-da-Árvore, que vem aí

À PRIMEIRA vista, as fotos até parecem tiradas no mesmo local, mas não o foram. A de cima é da Av. da Igreja, e a de baixo é da Av. de Paris.

terça-feira, março 01, 2011

No Reino da Insensibilidade

Av. dos EUA - 1 Mar 11
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NOS Prémios António Costa, que hoje mesmo foram actualizados, dá-se destaque, logo a começar, ao bloqueio das paragens da Carris por carros particulares - são os chamados «Locais A e D». Ora, vendo o logótipo que ornamenta este vidrão (e que, portanto, identifica o seu 'dono'), talvez se perceba melhor porque é que a luta pela fluidez dos transportes públicos é, em Lisboa, uma guerra perdida.

Mais duas que foram salvas!

- Obrigada, amigos! Deus vos dê, também, uma longa vida!
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SE DEPENDER de quem nós sabemos, a lagosta nunca será um animal em vias de extinção! Ao bater da meia-noite de ontem, o número de crustáceos salvos (só em Lisboa!) atingiu o 70!! Ver explicação [aqui].