sexta-feira, abril 15, 2011

Tudo é permitido?

HOUVE um tempo em que, para se andar de bicicleta na via-pública era preciso ter "carta" (além da "licença", a renovar anualmente). Isso implicava passar num exame, com componentes teórica (código) e prática (por exemplo, guiar fazendo um 8).

Hoje, isso parece-nos um exagero, mas não há dúvida que algumas coisas os ciclistas têm de saber e respeitar: as prioridades, a proibição de andarem lado-a-lado, etc - com particular destaque para os sinais de trânsito que lhes são dedicados. E um deles é o que refere a obrigatoriedade de circularem em ciclovias sempre que estas existam - como sucede nesta avenida de Lisboa (a Frei Miguel Contreiras).

O facto de o ciclismo ser uma actividade saudável e ecológica (e, sem dúvida, a incentivar) não deve significar que tudo é permitido a quem o pratica - e estou a pensar, também, nos que circulam nos passeios, por vezes em grupo e à velocidade que querem e lhes apetece. Pois se até os peões têm de respeitar o Código da Estrada, porque é que os ciclistas hão-de estar dispensados disso?

8 comentários:

Iletrado disse...

Isso não é uma ciclovia, é um passeio onde permitem que circulem ciclistas. Uma ciclovia é um caminho dedidado em exclusivo a bicicletas, que não é o caso. Aliás, essa parte vermelha do passeio costuma ser ocupada quer por peões quer por carros, o que dificulta imenso quem se locomove de bicicleta.
Quanto aos que circulam a par, é preciso ter em atenção que um carro com um tipo lá dentro ocupa mais espaço que quatro tipos de bicicleta a par. E é mais seguro para os ciclistas: o espaço que um tipo de carro precisa para ultrapassar é menor.
Os que andam no passeio, fazem-no porque os governantes bem pensantes estão a induzir toda a gente em erro, ao fazerem passeios partilhados entre peões e ciclistas. Quem começa a andar de bicicleta associa automaticamente o passeio a lugar de bicicleta.
Por outro lado, as hordas de ciclistas que andam no passeio incorrectamente são enlatados que aderem à recente moda das bicicletas. Para eles, que colocam bestamente as latas de 2 toneladas no passeio, haverá coisa mais natural que pedalar no dito?
Tenho licença de condução de velocípedes sem motor auxiliar, obtida na CMA em 1986. Não era necessário renová-la anualmente, talvez essa norma seja muito anterior. Mas é preciso não perder de vista os enlatados, que tiram a carta e nunca mais a renovam (é mentira, claro; mas o tempo que medeia entre a obtenção da carta e a sua renovação faz com que pareça eterna). Será por isso que se esquecem dos direitos dos peões?
Mas ainda bem que começam a aparecer umas cabeças bem pensantes a colocar este tipo de questões. É sinal que há cada vez mais ciclistas nas estradas, que é o lugar onde eles devem circular. Mais ciclistas na estrada, menos carros.
Boas pedaladas.

Anónimo disse...

É muito bom sinal para a intelijumência tuga que se tenha acrescentado mais um grau de bandalheira à que já temos.

É por essas e por outras que cá estará o FMI durante muitos, muiitos anos.

Carlos Medina Ribeiro disse...

1 - Respostas típicas dos ciclistas-infractores:

«Eu ando de bicicleta no passeio, mas tenho cuidado»
«Um atropelamento de um peão com bicicleta não é grave»

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2 - Eu andei, durante muitos meses, de bicicleta na Holanda e na Alemanha, onde há via próprias, e com fartura.
E, quando eu, indevidamente, andava na faixa de rodagem (como o da foto que aqui afixo), os automobilistas que passavam faziam-me sinal, indicando que eu tinha de passar para a ciclovia.

E, em tudo o resto, eu tinha de cumprir o código (encostar à direita ou à esquerda, fazer sinal com o braço, etc).

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3 - Já agora: a senhora que se vê na foto também está a infringir o Código da Estrada, pois há uma passadeira para peões ali ao pé, que ela não respeita.

Claro que, em princípio, ninguém é multado por isso (apesar de a multa estar bem definida). Mas se ela fosse atropelada ali, já o facto seria tido em conta.
E até poderia ter de indemnizar o condutor do carro (!!), como sucedeu com um amigo meu, atropelado fora da passadeira na Joaquim António de Aguiar: foi parar ao hospital (com o nariz e um dedo quebrados), mas teve de pagar a reparação do carro (um farol e o pára-brisas partido)!

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4 - Finalmente: ao contrário do que escreve "Iletrado", na Av. Frei Miguel Contreiras a ciclovia é preta (e não castanha). Tem 2 metros de largura e não costuma ter carros.
Já aqui foram afixadas várias fotos dela, pelo que se dispensa o link.

Anónimo disse...

Ainda hoje, uma sujeita, numa rua de sentido único e circulando pela esquerda, estava mesmo a pedir que a tivesse passado a ferro...

Além de que, paralela àquela e a curta distância, tinha outra onde podia circular nos conformes...

Carlos Medina Ribeiro disse...

Para pormenores desta ciclovia, ver imagens [AQUI] e as indicadas em 'link', nesse 'post'.

Autor do comentário das 15:13 de ontem disse...

A tal sujeita circulava em sentido proibido.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Claro que a senhora não tem grande interesse para o que aqui se refere.
O que se pretende realçar é que a ciclovia (que se pode ver por detrás dos carros estacionados) não tem ninguém, e o ciclista circula na faixa de rodagem.

Pior do que isso: nem sequer tem o cuidado de se chegar à direita (como, aliás, é obrigatório nas artérias onde não existem ciclovias). Vai no meio da rua, numa descida onde os carros e autocarros, em geral, circulam depressa (devido ao facto de, ali, haver pouco trânsito).

Mario Alves disse...

Caro Carlos,

Tem toda a minha solidariedade em relação ao combate do uso da bicicleta em passeios. Ainda por cima, é um problema que terá tendência a piorar, principalmente porque no Sul da Europa é infelizmente normal colocar ciclovias sobre o passeio e tolerar velocidades excessivas dos automóveis em meio urbano. Esta usurpação do espaço dos peões, deve ser repudiado por todos. Principalmente pelos próprios ciclistas. Não só é eticamente condenável, como também é perigoso para ciclistas e peões.

Onde nós podemos estar em desacordo é no seguinte:

a) este tipo de ciclovias, em vias urbanas deste tipo, nunca deviam ser obrigatórias, quanto mais não seja pelas razões que acabo de enunciar. De facto, nem sequer deviam existir.

b) os ciclistas deviam ser autorizados a circular a par. Porque, como disse o iletrado, assim circulam de forma mais segura (e é, por exemplo, a melhor forma de circular de bicicleta com uma criança). Por isso mesmo, Portugal, é um dos poucos países Europeus que não autoriza os ciclistas a circular a par.

c) Não deviam ser obrigados a circular junto ao lancil porque na generalidade das situações é uma posição extremamente insegura para o ciclista. Por isso mesmo esta regra nunca existiu, ou já foi retirada há muitos anos dos códigos da estrada europeus.

Para mais contexto sobre estas, e outras questões, sugiro que leia estes dois documentos e depois me escreva, caso não concorde com as propostas de alterações ao CE:

http://www.massacriticapt.net/?q=system/files/licenca_para_matar_v1.81.pdf

http://massacriticapt.net/files/AlteracoesaoCEV11.pdf

Abraços,
Mário